Dizeres o meu nome
Dizeres o meu nome era a tua melhor carícia,
não que gostasses
do som e o escolhesses para um filho.
Era apenas o meu nome,
quando na sombra o vulto passava e quando ao sol contava
pulsações.
Assim, projectando lazeres nos ramos das árvores,
lembrei-me como era possível voltar a escrever na casca.
E com o canivete fui rasgando corações, depois todo contente
fui fazer uma salada.
À tarde apalpei-te e tu deste um gritinho.
Os leitores, dizias a rir,
que vão achar os leitores dos pormenores
da tua vida íntima,
secreta e privada?
Tudo tem de ter
uma lógica, sabes bem,
nem que seja a mentira de eu existir.
Mesmo num filme sério quando a imagem
era cortante de beleza
o teu riso ecoava na sala e
a gente culta fazia chiu e voltava
a cabeça para trás.
Eu, muito envergonhado, jurava para dentro
de mim que nunca mais te levaria ao cinema.
Contudo, ao mesmo
tempo, achava graça de haver uma pessoa
que achava graça a tudo.
Na cama tu nunca disseste o meu nome,
um dia falei-te nisso
e respondeste que era melhor do que gritar
é tão bom zé manel.
Afasta portanto as tuas pernas tensas
para que eu possa passar por inventor
e julgar que ninguém faz o que eu faço.
Ou então
faz-te difícil
para que me sinta campeão da poesia mais boçal.
Helder Moura Pinheiro
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