Especula-se que esta seja a última viagem oficial de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos da América. O périplo, que inclui paragens na Alemanha e no Peru, começou com dois dias de visita à Grécia.
As palavras do ainda presidente norte-americano em Atenas devem ter caído como sopa no mel nos círculos tsiprianos e outros à sua beira. Logo na terça-feira, Obama defendeu que a «austeridade por si só não gera prosperidade» e que não haverá crescimento sem algum «mecanismo de alívio da dívida», embora tenha igualmente defendido a necessidade das reformas, «para tornar a Grécia mais competitiva».
Palavras bonitas, a que o primeiro-ministro grego não falhou, lembrando que, apesar das dificuldades e dos sacrifícios, a Grécia conseguiu manter-se de pé, e que espera que o «trabalho duro» tenha uma resposta positiva nas negociações da dívida.
Não menos belas e significativas foram as palavras de Obama sobre a NATO: «A maior aliança do mundo está forte e pronta como nunca esteve», disse, acrescentando que «as nossas democracias mostram que somos mais fortes que os terroristas, fundamentalistas e absolutistas, que não toleram a diferença, que tentam alterar o modo de vida dos povos através da violência e nos querem afastar dos nossos valores». Barack Obama disse isto. E também se referiu aos refugiados, um «fardo» que não deve ser só um país a enfrentar.
Tsipras terá ficado contente com estas alusões e, segundo refere a comunicação social, terá esperanças de que Obama possa fazer pressão sobre a Alemanha, a União Europeia e alguns dos credores no sentido de que a Grécia possa reestruturar uma parte da sua dívida. Fora dos encontros e das recepções oficiais, o ambiente foi hostil a Obama, muito pela percepção existente de que tanto os EUA como a União Europeia defendem a necessidade da austeridade que tem trazido o desemprego e a miséria ao povo grego.
Apesar de o Governo de Tsipras ter proibido as manifestações no centro de Atenas, milhares de pessoas vieram para as ruas protestar contra a presença do chefe de Estado norte-americano na Grécia, tendo-se registado fortes confrontos com as forças policiais, que haviam sido destacadas em grande número. Também houve protestos em Salónica.
Nas mobilizações, em que participaram anarquistas, a Frente Militante de Todos os Trabalhadores (PAME) e o Comité Grego pela Distensão e a Paz (EEDYE), os manifestantes denunciaram a proibição do governo Syriza-Anel e acusaram-no de apresentar Obama como um «campeão da paz», quando tem no seu currículo a destruição da Líbia e da Síria, o bombardeamento do Iémen, o ascenso dos neonazis na Ucrânia, toda uma acção de ingerência e agressão que vai do Mar do Sul da China à América Latina, passando pelo Iraque, o Afeganistão e as fronteiras da Rússia.
Na antevéspera do 43.º aniversário da Revolta dos Estudantes, que ajudou a pôr fim à ditadura da Junta militar apoiada pelos EUA, a secretária-geral do EEDYE, Elpida Pantelaki, disse em Atenas que, entre os verdadeiros motivos da visita de Obama, se contavam o aprofundamento dos interesses da NATO no Mediterrâneo Oriental e um maior envolvimento da Grécia nas guerras e intervenções imperialistas.
Esse não é o interesse do povo grego – sublinhou –, que exige: o não envolvimento do país nas guerras do imperialismo; o encerramento das bases e comandos da NATO no país; a NATO fora do Egeu; o regresso dos militares gregos envolvidos em operações da Aliança Atlântica e da União Europeia.
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