Num comunicado enviado hoje às redacções, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof/CGTP-IN) começa por saudar todos os docentes que, desde o início do ano, vêm lutando pela profissão, designadamente contra as intenções da tutela de rever o regime de concursos, e pela abertura de negociações para resolver problemas de carreira, como o envelhecimento, precariede, condições e horários de trabalho, e mobilidade por doença.
A estrutura sindical reafirma o dia 10 de Janeiro como prazo limite para o Ministério da Educação «abandonar as suas intenções» e reitera que o período entre 3 e 13 de Janeiro será dedicado a reuniões com os professores e à concretização de acções específicas de cada organização. Anuncia, entretanto, que as acções específicas de dia 13 serão suspensas para, a partir do dia 16 de Janeiro, darem lugar a uma greve por distritos, que se prolongará até 8 de Fevereiro, com a manifestação nacional de professores e educadores a realizar-se no sábado seguinte (11).
Está lançado o ultimato. Sem resposta do Governo PS até 10 de Janeiro, os professores partem para greves de 18 dias, a realizar, uma por uma, sucessivamente, em todos os distritos do País, avisa a Fenprof. Até 10 de Janeiro, o Ministério da Educação tem tempo «para recuar nas suas intenções, apresentar novas propostas para a revisão do regime de concursos e iniciar processos negociais relativos a outras questões, como a recuperação do tempo de serviço congelado, o fim das quotas na avaliação docente, um regime específico de aposentação ou o fim da precariedade», defende a plataforma sindical representativa dos professores que junta a ASPL, Fenprof, PRÓ-ORDEM, SEPLEU, SINDEP, SPLIU e SIPE. De outra forma, as organizações sindicais avançam para uma«greve por distritos, ao longo de 18 dias, com início a 16 de Janeiro», estando ainda previstas outras formas de luta, «cujo ponto alto será a manifestação nacional do dia 4 de Março em defesa da profissão docente». Não é a primeira vez que é dito, mas vale a pena repetir: sem a valorização da profissão docente, o reconhecimento da sua importância social e cultural, todas as soluções serão frágeis. Há um tempo que se mede e se estrutura, não ao ritmo do calendário civil, mas com a abertura das escolas, com os cadernos em branco, com a antecipação dos reencontros e das descobertas. Os anos principiam, para professores e alunos, com o início do ano letivo. Neste recomeço, encontramos salas de aulas vazias. E o que fazemos com estas salas vazias? Este contexto não é uma surpresa – faltam docentes nas escolas e não há possibilidade de suprir esta necessidade de forma rápida. A resposta não pode, contudo, passar por medidas avulsas. Mas a escola, com tudo o que significa na sua multiplicidade de funções, não pode prescindir, também, de todos os trabalhadores não docentes, como, por exemplo, assistentes operacionais. Há cerca de uma década que várias vozes, de investigadores a professores, vêm alertando para esta questão. No Estado da Educação de 2020 afirmava-se com clareza que «A evolução da percentagem de docentes, por grupo etário, mostra o envelhecimento progressivo desta classe profissional, em todos os níveis e graus de ensino, em Portugal. A educação pré-escolar e os ensinos básico e secundário registavam, em 2019/2020, uma percentagem superior a 50% de docentes com 50 e mais anos de idade e uma percentagem residual (1,6%) dos que tinham idade inferior a 30 anos. No ensino superior, essas percentagens eram de 45,8% e 4,0%, respetivamente.» O problema também se punha a montante, quando se olhava para a procura dos mestrados em ensino, que não se constituía como a estratégia profissional mais atrativa. Durante muito tempo, as múltiplas dificuldades, como a de entrada na profissão, a efetivação num quadro de zona pedagógica, a progressão na carreira, funcionaram como um dissuasor. Mas não podemos esquecer, além destas questões materiais, uma narrativa de desvalorização da classe docente que tem vindo a fazer o seu curso na sociedade. Em rigor, e de uma forma mais genérica, podemos falar de um desinvestimento no ensino. Sabemos que não queremos e não podemos ter as salas vazias, sem docentes. Sabemos que não queremos e não podemos ter alunas e alunos sem aulas. Não parece disputada a ideia de que a escola e as múltiplas literacias se constituem como essenciais para a sociedade. Mas, apesar dos diagnósticos que conhecemos há anos, falta reflexão e ação, além de medidas de «emergência». Tem de ser feito mais do isto. Melhor do que isto. É preciso tempo para uma reflexão profunda, para implementar soluções, que devem ser tomadas levando em linha de conta um debate amplo com todos os envolvidos. Não é a primeira vez que é dito, mas vale a pena repetir: sem a valorização da profissão docente, o reconhecimento da sua importância social e cultural, todas as soluções serão frágeis. «Não parece disputada a ideia de que a escola e as múltiplas literacias se constituem como essenciais para a sociedade. Mas, apesar dos diagnósticos que conhecemos há anos, falta reflexão e ação, além de medidas de "emergência". Tem de ser feito mais do isto. Melhor do que isto.» Imaginem que estamos numa escola, neste recomeço cíclico, neste novo ano. Abrem-se os portões e as portas. As alunas e os alunos vão entrando para a primeira aula da manhã e este som toma o edifício que se enche e se torna vivo. Porque, independentemente do trabalho que é sempre feito, a escola só é, verdadeiramente, a comunidade escolar, quando se abrem as portas para os estudantes. E, como se percebeu durante os tempos da pandemia, a partilha de um espaço não virtual é essencial para estudantes e docentes. E, de entre várias consequências desse período, há ainda aprendizagens a recuperar. Ao som do toque, à hora marcada, a entrada para as salas. O ruído das cadeiras a serem arrastadas, as múltiplas vozes que ainda se ouvem. Depois o som diminui – até ao próximo intervalo. A professora cumprimenta as alunas e os alunos. Sorri. Há muitos anos que vive este momento, este recomeçar. Parece igual, mas, na verdade, é sempre diferente. Há trabalho a fazer, muito além da sala de aula – tantas vezes ignorado e invisibilizado nas narrativas acerca do que se constitui como trabalho docente. A professora tem uma longa carreira no ensino, feita de muitas escolas diferentes, de muitas alunas e muitos alunos, de diferentes níveis de ensino, até estabilizar nesta, onde está agora. Perguntem-lhe há quantos anos não é aumentada. «Há trabalho a fazer, muito além da sala de aula – tantas vezes ignorado e invisibilizado nas narrativas acerca do que se constitui como trabalho docente.» O professor fecha a porta da sala depois da entrada dos estudantes. Diz o seu nome, para que o conheçam. Nunca deu aulas nesta escola, mas já passou por tantas. Teve de se adaptar, de se inserir nas dinâmicas próprias de cada estabelecimento de ensino. Está longe de casa. Antes de entrar nesta sala de aula, fez as malas, procurou um sítio para arrendar, organizou a sua rotina no novo espaço. Ainda não está efetivo num quadro de escola. Perguntem-lhe se foi fácil correr o país, sempre em escolas diferentes. A professora é jovem, talvez ainda um pouco inexperiente. Mas está ali preparada, de corpo inteiro. No início de setembro ainda não sabia em que escola ia estar, que níveis ia leccionar. Concorreu às ofertas de escolas. Não tem um horário completo. Perguntem-lhe como vai viver com aquele salário? O dia 5 de Outubro é o Dia Mundial do Professor – tempo para lutar pela valorização da carreira docente. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A Federação Nacional de Professores, em comunicado, começa por saudar as mais diversas manifestações do descontentamento da classe docente nas últimas semanas, que vão desde «a forte participação em reuniões de escola a vigílias, protestos de rua junto do ministro João Costa, à presença de milhares de professores junto à Assembleia da República no dia 17 de Dezembro». Não deixa, no entanto, a Fenprof de alertar para os fortes ataques que tem proliferado na comunicação e redes sociais por sectores anti-sindicais, «mas também da de outras organizações sindicais, com a circulação de mentiras sobre posições actuais e passadas, tentativas de distorção da sua história na luta e nos ganhos da profissão docente e, simultaneamente, a proliferação de insultos, ameaças e falsidades sobre os seus dirigentes». Para garantir que estas «mentiras» não fiquem sem resposta, comprovando o carácter de quem as profere, a Federação sindical já requereu a divulgação das «actas e gravações das reuniões realizadas nas quatro mesas negociais, tornando-se, assim, publicamente conhecidas as posições e propostas do Ministério da Educação, bem como as posições e propostas apresentadas por cada organização nessas reuniões, em defesa dos direitos dos professores». 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Opinião|
Novo ano, velhos problemas
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A paralisação conta com a adesão do Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), da Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU), do Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados pelas Escolas Superiores de Educação e Universidades (SEPLEU), do Sindicato Nacional dos Profissionais da Educação (SINAPE), da Pró-Ordem dos Professores e do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE).
Para além destas, a Fenprof apela a todas as organizações sindicais para que se unam a partir do dia 16 de Janeiro na greve por distritos, bem como nas restantes acções anunciadas, designadamente na concentração/manifestação junto ao Ministério da Educação, no dia em que forem retomadas as negociações para revisão do regime de concursos.
A Federação convoca todos os docentes e apela às suas organizações sindicais para que, «participando, tornem esta manifestação nacional uma das maiores de sempre». Simultaneamente, destaca a importância da divulgação das actas das reuniões negociais, bem como das gravações áudio dessas negociações, na posse da tutela, de forma a «desfazer dúvidas» quanto às posições e propostas das organizações no processo negocial, repudiando «ataques», assentes, segundo a Fenprof, em insinuações, mentiras e acusações falsas.
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