|salário em atraso

Trabalhadores da revista Visão e JL sem salários à vista

Até ao dia 5 de Janeiro, apenas os jornalistas e trabalhadores da Revista Visão e do Jornal de Letras com remunerações mais baixas receberam o salário de Dezembro. É uma «turbulência» que dura desde 2022, assume o dono.

Luís Delgado, dono da Trust in News, comprou 12 títulos ao Grupo Imprensa em 2018, por mais de 10 milhões de euros. 
Créditos / meiosepublicidade

Em Janeiro, o atraso no pagamento dos salários na Revista Visão, detida por Luís Delgado, do Grupo Trust in News (que controla ainda a Exame, Jornal de LetrasActiva e outras publicações), já se repetia desde Novembro: os trabalhadores continuam a ser pagos com um atraso significativo, para lá dos limites legais, devido a problemas de tesouraria, segundo alega a empresa. No ano novo, os salários e o subsídio de Natal dos trabalhadores ainda não tinham sido pagos.

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PCP exige esclarecimento cabal sobre ameaça de despedimento colectivo na Global Media

A Global Media, dona do JN, DN e TSF, avisou as delegadas sindicais sobre um eventual despedimento colectivo de 150 trabalhadores (1/3 do total). PCP quer saber de que apoios do Estado português beneficiou o grupo.

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Através do despedimento de 150 trabalhadores (Um terço do total de trabalhadores do grupo: 500), o objectivo da Global Media Group (GMG), dona de títulos como o Jornal de Notícias (JN), Diário de Notícias (DN) e a rádio TSF, é «contrariar uma situação financeira muito complicada». Estas afirmações da empresa surgem apenas dias depois da a GMG ter concluído um processo de reestruturação accionista, com a entrada do fundo de investimentos World Opportunity Fund, sediada nas Bahamas.

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TSF. «Estamos aqui por toda a classe e pelo jornalismo»

Pela primeira vez, os trabalhadores da TSF desligaram os microfones por um dia. Exigem respeito, ou seja, melhores salários e trabalho digno. O AbrilAbril esteve na concentração de protesto, esta manhã, em Lisboa. 

Os trabalhadores da TSF realizaram concentrações em Lisboa e no PortoCréditos / AbrilAbril

Em 35 anos de vida, a rádio TSF (Telefonia Sem Fios) nunca tinha sido alvo de uma acção de luta como a desta quarta-feira. «Chegámos ao limite», afirmou Filipe Santa-Bárbara, porta-voz dos trabalhadores da estação, ao AbrilAbril, junto às Torres de Lisboa (sede da empresa), onde os manifestantes gritavam «Respeito».

«Atingimos um nível tal de saturação, de nos sentirmos desrespeitados, que hoje, desde a meia-noite, entrou uma notícia apenas: a de que os trabalhadores da TSF estão em greve», disse. A paralisação de 24 horas foi aprovada por unanimidade num plenário de trabalhadores realizado a 11 de Setembro. A emissão de música em loop, ao longo do dia, tem sido pontuada pela mensagem lida por Fernando Alves, voz carismática daquela estação: «A programação regular da TSF está condicionada devido a uma greve de 24 horas dos trabalhadores desta rádio.»

Entre palavras de ordem, cartazes a denunciar que «as notícias não escolhem hora certa, mas os salários precisam de um dia certo» e a reivindicar «salários dignos», enquanto se vai ouvindo a emissão da TSF através de colunas, Filipe Santa-Bárbara diz que os trabalhadores exigem um «grande pedido de respeito» por parte da administração da Global Media, detentora também do Diário de NotíciasJornal de Notícias, O Jogo e Dinheiro Vivo, entre outros títulos. 

Créditos

«Há três motivos principais para estarmos aqui», adiantou. «Sem qualquer justificação», os salários dos últimos dois meses foram pagos «fora de horas», dificultando a vida de quem tem prestações a cair no início do mês. Outra das razões que desencadeou o protesto liga-se com a valorização salarial. Durante meses foram realizadas negociações com a administração para ajustes salariais decorrentes da inflação. «A TSF não rejeitou essa proposta, ainda que ficasse aquém do pretendido, mas as outras marcas rejeitaram e desde aí que não sabemos rigorosamente mais nada», critica Filipe Santa-Bárbara.

Na concentração de protesto, em Lisboa, esteve também Francisco Gonçalves, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT/CGTP-IN). «Estamos aqui para dar a nossa solidariedade e desejar que a luta atinja os objectivos centrais, que têm a ver com a falta de condições de trabalho e de pessoal, com a reorganização que está a ser feita sem conhecimento da comissão de redacção e pelo facto de não terem aumentos salariais há muitos anos, apesar do compromisso de haver negociações nesse sentido», disse. 

«Foi a TSF que criou uma comissão mista para desenvolver o processo dos aumentos salariais e está a ser penalizada porque, efectivamente, o JN e o DN não aceitaram a proposta, mas a TSF aceitou e entende que deve ser implementada o mais rápido possível, porque com o aumento do custo de vida, as pessoas estarem estagnadas há anos e anos, não é fácil», insistiu Francisco Gonçalves. 

Os trabalhadores pretendiam que a proposta tivesse entrado em vigor em Julho para agora retomarem negociações, por entenderem que ficava «muito aquém» do valor da inflação. Mais do que isso, diz Filipe Santa-Bárbara, falta comunicação e valorização da profissão. «Ao longo de todos os anos, processos de reestruturação, formulações, jornalistas a serem substituídos… quando é que pára?», desabafa. 

«Mesmo no osso, nunca fizemos greve, mas chegámos ao limite»
 

O jornalista de política da TSF admite que a equipa é obrigada a desdobrar-se «muitas vezes» e o exemplo desta secção retrata muito do que hoje se vive nas redacções. «Somos quatro pessoas para três órgãos de soberania, oito partidos políticos com representação parlamentar, ou seja, alguma coisa vai falhar, dá para ter essa noção. É uma agenda intensa», refere.

Mais do que pedir respeito pelas condições laborais daquela rádio, Filipe Santa-Bárbara assume que esta é também uma acção de luta em defesa do jornalismo. «Ao longo de todos estes anos, a TSF e outros meios de comunicação social têm sido depauperados, faltam recursos. Todos os dias ouvimos isto, não é? E mesmo nestas condições, mesmo no osso, nunca fizemos greve, mas chegámos ao limite, e acho que esta é uma altura fundamental porque estamos perto dos 50 anos do 25 de Abril e temos o Congresso dos Jornalistas no próximo ano». «Estamos aqui, em primeiro lugar por nós, mas por toda a classe, pelo jornalismo em Portugal», defendeu.

O afastamento do director Domingos Andrade, «ao arrepio da lei», é outro dos motivos que levaram à paralisação. «Soubemos por comunicado, logo não compreendemos, porque o estatuto do jornalista prevê que os conselhos de redacção tenham que ser ouvidos na destituição e na nomeação», disse Filipe Santa-Bárbara. «É por isso que, 35 anos depois da fundação desta rádio, desligamos o microfone pela primeira vez, lamentavelmente», acrescentou. 

Esta terça-feira, a administração da Global Media convocou o conselho de redacção e a comissão mista de trabalhadores (constituída por trabalhadores de várias áreas – jornalistas, animadores, técnicos –  e de sindicatos como o Sindicato dos Jornalistas e o STT/CGTP-IN) para uma reunião, que se realizará amanhã. A ordem de trabalhos não foi divulgada. 

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As delegadas sindicais a quem a GMG colocou esta possibilidade questionaram avisaram ainda a administração da «impossibilidade de se continuar a fazer um jornal como o JN com a machadada nos já parcos recursos que pode representar a anunciada intenção». Ao Público, José Paulo Fafe, administrador executivo da GMG, afirmou que o despedimento colectivo é apenas uma de várias soluções para estes títulos.

A saída recente de Marco Galinha, no seguimento da reestruturação accionista, levou à alienação, a seu favor (da empresa Palavras de Prestígio, do empresário Marco Galinha/Grupo Bel) das revistas Evasões, Volta ao Mundo e Mens Health. Por essa ocasião, a 13 de Novembro, o conselho de redacção do JN acusou a administração de uma «tentativa de ingerência externa em competências exclusivamente editoriais».

Em pergunta endereçada aos Ministérios da Cultura, das Finanças, da Economia e do Mar e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, PCP exige conhecer apoio do Governo português à Global Media

«É público que o empresário Marco Galinha, até há pouco presidente da GMG, pretendia alienar os 45,71% do capital da Lusa - Agência de Notícias de Portugal que controlava – 23,36% através da GMG e 22,35% via empresa Páginas Civilizadas, então pertencente ao Grupo Bel por si detido, mas que em Outubro passou a ser controlada (51%) pelo referido fundo WOF», refere o PCP.

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O radicalismo económico de fachada jornalística

Quem assistiu à gala do 30.º aniversário da TVI pode, por breves instantes, ter acreditado que ali se celebrava o Jornalismo. Havia uma segunda intenção: limpar a imagem de Mário Ferreira, dono da estação e patrão.

Mário Ferreira, dono da Douro Azul, arguido num caso de corrupção e principal accionista da Media Capital (TVI), na gala do 30.º aniversário da estação privada. 
Créditos / 7dias

Não foi apenas um momento. Ao longo de várias horas de emissão da gala do 30.º aniversário da TVI, sucederam-se as ocasiões em que administradores, jornalistas, apresentadores e actores se revezaram na exaltação pouco subtil da figura de Mário Ferreira: o novo patrão.

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Agora é que vão falar verdade?!

Foi uma afirmação repetida ao longo da cerimónia de lançamento da CNN Portugal. Ouvir jornalistas da TVI a dizer que agora é que se vai falar verdade na estação com a marca americana é tão surpreendente quanto inacreditável. 

CréditosAntónio Pedro Santos / Agência Lusa

Era tudo «novo», mas afinal não. As caras, salvo as dos americanos que foram passando pelo ecrã e pela festa que se fez no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, que contou com a presença do Presidente da República e do primeiro-ministro, eram as costumeiras e nalguns casos as de sempre, como é o caso de Judite de Sousa e de Júlio Magalhães, a quem coube fazer a entrevista que foi o grande (e único) destaque de lançamento do canal, que graficamente mais parece uma CMTV 2.0. 

A entrevista a João Rendeiro é a típica receita para angariar audiências, seja pelo facto de se tratar de um fugitivo à Justiça dos ricos, seja pela leveza da argumentação do arguido, que diz fazer uma vida «normal» e que aproveitou para deixar a notícia de que vai pedir uma indemnização ao Estado de 30 milhões de euros. 

Tão impressionante quanto a ligeireza com que o ex-banqueiro diz não voltar a Portugal, foi a forma como se falou do «rigor» e «credibilidade» da emissora norte-americana, que ainda nas últimas eleições presidenciais foi acusada por um funcionário de elaborar uma estratégia a favor de um dos candidatos, e da qual foram transmitidas ontem imagens de propaganda dos EUA, designadamente da Guerra do Iraque, onde todos reconhecem agora que não havia armas de destruição maciça. 

Ao mesmo tempo, não deixa de ser curiosa a forma como jornalistas e convidados falaram da «verdade» como novidade do projecto, com Nuno Santos a dizer inclusive que a marca vai contribuir para «tornar a nossa democracia mais robusta», como se a TVI não andasse a dizer sempre a verdade. E a verdade é que não andou.

Recorde-se a campanha de notícias falsas (as tão vulgarizadas fake news) que a estação da Media Capital, agora liderada por Mário Ferreira, preparou no último ano de eleições legislativas. Reconhecida pela ERC como um exercício de «enviesamento» e «falta de isenção», a desinformação articulada então pela TVI constituiu a antítese da velha afirmação, que ontem se exibia no vídeo de lançamento da cerimónia: factos não são interpretações.

E mesmo assim não chega.

Quando milhares de pessoas vão para a rua manifestar-se no nosso País contra a precariedade que colaram às suas vidas e a estação de Barcarena opta por abrir o noticiário com protestos na Áustria, e noutros países da Europa (contra o confinamento), fica clara a necessidade de separar o acto de informar da agenda de interesses dos seus accionistas. 

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Até aqui nada de novo. A constrangedora submissão à figura patronal já vem sendo praxis no mundo do entretenimento privado. Celebra-se o dinheiro do patrão, ao qual todos estão subjugados. Tornou-se até uma storyline recorrente em séries e novelas: o miúdo rico que se faz rodear por uma trupe de yes-man, dispostos a concordar com tudo (desde que o dinheiro e as vantagens continuem a circular).

Noite adentro, após sucessivos, desinspirados e intermináveis momentos musicais e humorísticos, de maneira a que ao espectador já tudo lhe pareça um sonho mau, vários jornalistas, conhecidos pivots da estação, ergueram-se dos seus lugares na plateia para defender a sua profissão. Segundo estes, sem individualizar, o jornalismo permite «que os outros tenham voz; que os outros possam contar as suas histórias; partilhar, revelar, contar, mudar o mundo».

Trava-se, na TVI, uma «guerra pela verdade». A estação é um espaço de «coragem – ouviram esta palavra – coragem», afirmou o jornalista que, dois dias depois, ilustraria uma notícia com uma montagem de António Costa vestido de Pai Natal: «cada pessoa é uma história e essas histórias merecem que nós, os jornalistas, nunca desistamos. Nós na TVI não desistimos nunca! Escolhemos exercer a coragem!».

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Postos de trabalho ameaçados na TVI/CNN

O STT assume a defesa dos trabalhadores do Grupo Media Capital, perante a denúncia da preparação de um despedimento colectivo encapotado na TVI/CNN.

Foto de arquivo.
CréditosAntónio Cotrim / Agência LUSA

O Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicação Audiovisual (STT) esclarece em comunicado que, depois de intervir «na tentativa da transferência de 76 trabalhadores da TVI para a EMAV, foi confrontado com a denúncia de trabalhadores relativa à «preparação de um despedimento colectivo encapotado na TVI/CNN», nomeadamente «através da antecipação do fim de contratos a prazo, da não renovação de outros contratos a prazo» e da tentativa de reduzir o ordenado a alguns trabalhadores.

O STT assume a defesa da salvaguarda de todos «os postos de trabalho nas empresas da Media Capital» e, «neste combate contra a prepotência», manifesta a intenção de «pedir a colaboração de outros sindicatos do sector», nomeadamente dos sindicatos dos Jornalistas e dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA/STE).

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Proteger os mais fracos, defender os ofendidos e humilhados, atacar a corrupção e qualquer abuso, desmascarar os poderosos. Quem naquele momento tiver mudado de canal (evitando com sucesso as danças e as cantatas), quase se convenceria que não tínhamos acabado de assistir a um exercício de mais baixa retórica. Felizmente, nem a TVI teve  coragem suficiente para fingir que acreditava genuinamente no que ali se dizia.

Segundos após a intervenção dos jornalistas, dois colegas sobem ao palco e aliviam a tensão: «Ser jornalista é, digamos assim, amar a verdade, ser-lhe fiel todos os dias da nossa vida». 20 segundos depois ribomba a buzina de um barco. «oioioioioi! está a chegar o Mário Ferreira! Está a estacionar a viatura [é dono da Douro Azul, empresa de cruzeiros no Rio Douro]. Não se riam, daqui a uns anos [ele chega] de nave espacial!».

A plateia aplaude, efusiva, os jornalistas abrem grandes sorrisos amarelos e Mário Ferreira, na primeira fila, contempla, satisfeito, a excelente prestação dos seus funcionários, que parece ter adquirido com a compra da estação de televisão privada. Seria de esperar que jornalistas, pelo menos em teoria, cientes do seu papel na sociedade, não vendessem as suas convicções ao primeiro empresário que lhes batesse à porta.

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Milionários no espaço, e nós explorados cá na terra

Se milionários têm dinheiro para ir ao espaço é porque não os estamos a taxar convenientemente.

Protesto junto à mansão de Jeff Bezos, dono da Amazon, em Washington
CréditosJonathan Ernst / REUTERS

Há uns anos, o jornalista Carlos Santos Pereira explicava como a multiplicação dos canais de informação e a concorrência entre televisões e, sobretudo agora, nos media digitais, tem um efeito de afunilamento. «Nunca a informação foi tão uniforme, tão igual. A resposta à concorrência não é tentar fazer diferente do vizinho. É garantir que eu não deixei de dar aquilo que ele também deu», disse em 2016.

Toda a informação se tornou igual: a agenda é a mesma para todas as redacções, condicionada pelas agências e, depois, reflectida pelas redacções no osso, sem pessoal, dependentes de takes da Lusa ou de jornais internacionais. Jornais esses que os jornalistas (em Portugal também) lêem e citam com regularidade: o The Guardian, a BBC, o The New York Times, o Washington Post, o El País e, para os que ainda lêem francês, o Le Monde. E as agências AP e Reuters. Uma leitura atenta dos mesmos, todos os dias, revela que também eles se lêem e se citam entre si, afunilando ainda mais aquilo que poderia ser a cobertura do espaço mediático.

O exclusivo transformou-se num «quem dá primeiro a notícia», abrindo a porta à falta de precisão, de mínimos de investigação, ausência de contraditório, disseminação de informação incompleta, errónea e fake news. Isto quando esse exclusivo de «última hora» ou «ao minuto» não se transforma, enfim, numa massa uniforme e acrítica de notícias iguais reproduzidas, mais ou menos à letra, traduzidas para variadíssimas línguas no mundo inteiro. Basta procurar no Google News e perceber como um qualquer assunto é coberto em todo o país ou todo o mundo: uma imensidão de copy-paste que não nos permite saber mais ou para além daquilo que o take de uma agência nos proporcionou. O problema não é a agência em si: ela existe para reportar factualmente, e, quase sempre, ao minuto (ou de acordo com a sua agenda). O problema é que há, nas redacções, cada vez mais pouquíssima iniciativa, e a que resta é quase sempre olhada com desconfiança por um «quem mais está a falar sobre este ponto de vista?».

«O exclusivo transformou-se num “quem dá primeiro a notícia”, abrindo a porta à falta de precisão, de mínimos de investigação, ausência de contraditório, disseminação de informação incompleta, errónea e fake news. Isto quando esse exclusivo de “última hora” ou “ao minuto” não se transforma, enfim, numa massa uniforme e acrítica de notícias iguais reproduzidas, mais ou menos à letra, traduzidas para variadíssimas línguas no mundo inteiro»

Só isso pode explicar que o Público e o Observador tenham, por exemplo, acompanhado em directo, ao minuto, a viagem do multimilionário Richard Branson ao espaço no passado domingo. Não se pense que por estarmos a falar de Branson, de Elon Musk, Jeff Bezos, ou dos milionários que os media gostam de vender como os últimos Steve Jobs do deserto, os que «começaram do nada» e, a pulso, com muitos sacrifícios, chegaram às estrelas (à custa de muita exploração laboral e inúmeras ajudas dos estados em que operam), essa cobertura, afinal, seja muito diferente da cobertura mediática da prisão de Luís Filipe Vieira pela CMTV.

Enquanto redacções acompanham em directo aquilo que podemos simplesmente ver na internet (aliás, o próprio Branson transmitiu ao vivo), ou no The Guardian e na BBC (que, na verdade, têm o «seu» milionário de serviço coberto mediaticamente), há inúmeras histórias por contar e para as quais nunca há «espaço» ou «dinheiro» (nos media, espaço é dinheiro). Até a análise do momento fica por fazer com profundidade e relevância – e não, não é o Nuno Rogeiro na SIC que vai explicar como isto «é bom para economia».

É fácil chamar Luís Filipe Vieira de ladrão e depois aplaudir a «conquista do espaço» pelo Richard Branson. Lembro-me sempre dos dois mil milhões de compensação pela gestão ruinosa da linha de comboio Edimburgo-Londres ao fim de míseros três anos de concessão à Virgin Trains (que teve de ser renacionalizada em 2018). Ou dos processos de falência da companhia Virgin Atlantic, sediada nos EUA, que precisou de ajuda pública para pagar uma dívida de 93 milhões de dólares e estabelecer um plano de reestruturação, vendendo dois aviões Boeing 787 da sua frota. A Sky News reportava em Novembro que a venda dos aviões serviria para pagar parte da dívida de 170 milhões que a Virgin tinha ao fundo de investimento norte-americano Davidson Kempner Capital Management. A Virgin Australia também foi reestruturada. E no Reino Unido, o Supremo Tribunal permitiu um bail-out de 1.2 mil milhões de libras (de fundos privados, vá lá) para salvar o império de Richard Branson, que pediu ajuda ao governo logo no início da pandemia.

«Aquilo que nos foi vendido como um passo na “investigação científica” não foi mais do que um devaneio exótico pago (no meu caso, que vivo no Reino Unido) com os nossos impostos. Dizer que uma viagem onde nem sequer iam cientistas foi um passo para a “inovação aeroespacial” é atirar areia para os olhos dos que ficámos cá em baixo a ser explorados na terra»

Que isto não se leia, de todo, como uma defesa de Vieira; pelo contrário, apenas a análise da proporção entre a cobertura glamourosa das «excentricidades» de multimilionários estrangeiros, comparada ao sensacionalismo bacoco do «sultão dos pneus». Ao contrário de Vieira, nem casa para palheiro Branson ofereceu como hipoteca. Nem as suas inúmeras propriedades. Nem os balões. Nem os jets privados. Nem a sua companhia de telefone-internet-televisão por cabo. Nem a produtora de cinema e audiovisual. Nem a empresa de comboios. Nem a sua ilha no Caribe. Esta «burguesia do teletrabalho» na ilha privada das Caraíbas é que o(s) governo(s) não foram taxar.

Aquilo que nos foi vendido como um passo na «investigação científica» não foi mais do que um devaneio exótico pago (no meu caso, que vivo no Reino Unido) com os nossos impostos. Dizer que uma viagem onde nem sequer iam cientistas foi um passo para a «inovação aeroespacial» é atirar areia para os olhos dos que ficámos cá em baixo a ser explorados na terra. Aliás, tudo pode ser resumido na frase do próprio Branson: «Estamos aqui para tornar o espaço mais acessível a todos». Todos quem? Centenas de passageiros já compraram os bilhetes para o(s) próximo(s) voo(s) (não se lhes pode propriamente chamar «expedições»). E quem são? Ler jornais que não sejam do arco noticioso, ajuda. Por exemplo, a revista Semana, da Colômbia, revelava que o primeiro colombiano a ir ao espaço será provavelmente David Mendal, empresário bogotano em Miami, chairman de uma empresa de aviões privados e férias de luxo para executivos. Aqueles que conseguiram acumular riqueza e para quem 250 mil dólares por um bilhete «ao espaço», num ano de contracção económica em plena pandemia, é um valor insignificante.

A Jacobin Brasil trazia um interessante artigo sobre a colonização e privatização do espaço por Bezos, Musk e Branson, entre outros, dizendo «sim à exploração espacial e não ao capitalismo espacial». E na Salon, a escritora de ficção científica Sim Kern, que conhece por experiência própria o trabalho na NASA, explicava que a «corrida ao espaço» dos milionários é apenas um concurso de egos. «Branson e Bezos não estão a investir dinheiro para inovar na ciência ou expandir os limites da possibilidade humana. Estão a fazê-lo para serem o primeiro homem rico a brincar no espaço, por oposição aos astronautas da NASA que fazem ciência. E depois de brincarem por ali inutilmente, esperam convidar os seus amigos obscenamente milionários para fazerem o mesmo.» O turismo espacial é pago pelos milhões de trabalhadores que têm dificuldade em sobreviver aqui na terra. Se Bezos, Branson e Musk têm dinheiro para ir ao espaço é, talvez, porque não os estamos a taxar convenientemente.

Nada disto é discutido na cobertura mediática, bastante medíocre, até, deslumbrada por carros eléctricos (Tesla) ou comboios/aviões/telecomunicações (Virgin) que, como sabemos, serão sempre mais glamourosos do que o saloio rei dos pneus.

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A subserviência do jornalismo ao poder económico tem consequências. Desde que Mário Ferreira se tornou o accionista principal da Media Capital, dona da TVI, em 2020, o corajoso e determinado jornalismo da TVI tem "optado" por não dar relevância às suspeitas de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais que recaem sobre Mário Ferreira, ou os casos que decorrem em tribunal por assédio laboral aos trabalhadores da Douro Azul.

De Mário Ferreira, na TVI, os jornalistas apenas têm a dizer coisas boas, é claro: que o patrão ficou muito satisfeito com os 5 minutos que passou no espaço (gravaram mesmo um documentário sobre a ida ao espaço de Mário Ferreira), com direito a uma entrevista com o Goucha, para falar da sua vida privada, dos seus amores, das dificuldades que enfrentou. No que toca aos muitos casos duvidosos de Mário Ferreira, a coragem jornalística da TVI é frouxa. Evapora-se.

«Isto é como se fosse a sua casa», disse-lhe o apresentador e comentador Cláudio Ramos, na gala. É mesmo. É o seu castelo com vista para a corte de serviçais e – roubando a expressão aos brasileiros - "agradistas".

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Considerando «a situação na GMG e a evolução accionista da Agência Lusa», os comunistas exigem um cabal esclarecimento sobre as intenções do Governo PS em recuperar as participações da agência noticiosa entregues aos privados (que noutras empresas perspectivam despedimentos desta envergadura).

Sobre a ameaça de despedimento destrutiva no JN, DN e TSF, o PCP exige que o Governo PS esclareça que acompanhamento «está a fazer, ou tenciona fazer, do anunciado despedimento coletivo? E que diligências pretende tomar para salvaguardar os postos de trabalho e os direitos dos trabalhadores».

Sindicato dos Jornalistas define decisão da Global Media como «impensável, inacreditável e ignóbil»

Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que despedir jornalistas em títulos já carenciados de recursos humanos é impensável, inacreditável e ignóbil, e torna o exercício do jornalismo inviável». É  um contrassenso, afirmam, «quando a medida é anunciada menos de duas semanas depois do reforço do Diário de Notícias, outro título do grupo, com vários jornalistas».

Numa reunião realizada há pouco mais de duas semanas, entre o SJ e os novos administradores da GMG, o patronato garantiu que a sua entrada no grupo era sinónimo de investimento: é uma atitude impensável ainda há menos de um mês, quando a administração, em reunião com o SJ, disse que estava aqui para investir e fazer crescer: exactamente o contrário do que é agora tornado público.

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Numa mensagem endereçada à redacção da Visão, a que o AbrilAbril teve acesso, enviada a 22 de Dezembro e poucos dias antes de a empresa falhar um novo prazo de pagamento, Luís Delgado desejou um «Bom e Feliz Natal – por irónico que seja – e um 2024 juntos e unidos» aos trabalhadores.

«2024 vai ser um ano de mudanças e de consolidação. Seguir o que foi bem feito, acelerar o que está a fazer-se, e mexer no que está parado». A primeira experiência, no entanto, não está a correr bem, já que a maior parte dos trabalhadores começou o ano sem receber a justa retribuição pelo trabalho produzido. «Ninguém vai deitar a toalha ao chão. E não há Estratego, ou Fundo, ou Chinês, ou Russo, ou Angolano, que faça o que a nós compete». De salientar que, nos últimos dois anos, a Visão perdeu os cronistas Ricardo Araújo Pereira e Joana Marques, o Grande Repórter Miguel Carvalho (vencedor, em 2023, do Prémio Gazeta), a directora da revista Visão História Cláudia Lobo e a directora da Visão, Mafalda Anjos.

A Trust in News Unipessoal, propriedade de Luís Delgado, adquiriu, em 2018, a revista Visão e outras 11 revistas do Grupo Imprensa: Activa, Caras, Caras Decoração, Courrier Internacional, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, TeleNovelas, TV Mais, Visão História e Visão Júnior. O negócio custou 10,2 milhões de euros ao jornalista e comentador.

«Só falta dizer que os responsáveis são os jornalistas»

É o segundo grupo de comunicação social portuguesa a não pagar salários em Dezembro, depois da situação conhecida na Global Media Group (Diário de Notícias, Jornal de Notícia e TSF), onde se adivinham despedimentos colectivos e o encerramento de vários importantes e históricos títulos.

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Jornalistas convocam greve em solidariedade com colegas da Global Media

A administração da Global Media (GMG) «incumpre, de forma reiterada, os mais elementares deveres e obrigações legais». Jornalistas portugueses realizam 1 hora de greve solidária a 10 de Janeiro, dia de greve geral no GMG.

CréditosInácio Rosa / Lusa

«Apesar dos esforços desenvolvidos ao longo das últimas semanas no sentido de assegurar em tempo útil o processamento dos salários referentes ao mês de Dezembro, a Comissão Executiva vê-se obrigada a informar todos os trabalhadores do Global Media Group (GMG) não existirem, à data de hoje, condições que permitam o pagamento dos salários deste mês». Para além dos salários, também o subsídio de férias dos trabalhadores da JN, DN, TSF, O Jogo e outras publicações da Global Media está em atraso.

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Global Media: Administração informa trabalhadores que não pagará salários de Dezembro

A falta de respeito do patronato continua e tem novo capítulo. Depois de atrasos nos salários e no subsídio de Natal, depois de ameaças de despedimento colectivo e do convite à saída, agora a administração da Global Média informa que não pagará salários. 

CréditosEstela Silva / Lusa

Na altura dos lucros as administrações dividem-nos entre os accionistas e igualmente privatizados são os louros. O regozijo pela acumulação de capital é acompanhado de odes a um alegado brilhantismo na gestão de uns poucos que se sentam em confortáveis cadeiras almofadadas no conforto de uma ampla sala de um escritório.

Na altura dos prejuízos dá-se a socialização dos mesmos. Os que outrora puxavam para si todos os méritos e mais alguns, nos tempos de aperto descobrem no seu léxico, numa primeira fase, palavras que apelam ao colectivo. De repente surge o ideal de partilha de sacrifícios que são vendidos como se iguais fossem para todos quando não o são. 

Os que estiveram sempre a acumular capital estão bem com a privação momentânea, na medida em que criaram as condições para de nada se privarem. Os que vivem do seu trabalho, têm filhos, casa e contas para pagar vêem nessa privação o avolumar de dificuldades. 

Este é o retrato da Global Media, a empresa detida por um fundo abutre com sede num paraíso fiscal. A história tem sido atribulada, o clima no grupo está longe de ser o mais calmo. Entre salários em atraso, ilegalidades no modelo de pagamento do subsídio de Natal, ameaças de despedimento e convites a demissões, quando parecia que pior não podia ficar, eis que piorou. 

A administração da Global Media informou os trabalhadores que não pagará os salários de Dezembro. A justificação é velha e tem sido a mesma que tem justificado todo o ataque a quem trabalha: «não existirem, à data de hoje, condições que permitam o pagamento dos salários deste mês», segundo o que se pode ler num comunicado interno.

O patronato responsabiliza o Estado pelo «inesperado recuo» «no negócio já concluído para a aquisição das participações que o grupo possui na agência Lusa», por «uma “injustificada suspensão da utilização de uma conta caucionada existente no Banco Atlântico Europa há cerca de 6 anos».

Sobre a «delicada» situação do grupo empresarial, ainda ontem, talvez já antevendo todo o tipo de dificuldades, Comissão de Trabalhadores da TSF lançou uma  nota dando conta que «o plenário dos trabalhadores decidiu, por unanimidade, recomendar aos trabalhadores a suspensão dos trabalhos extra que fazem para a TSF, caso estes trabalhos não sejam pagos até dia 15 de Janeiro» e pediu ainda acesso à contas da empresa. 

Ainda na semana passada, o Conselho de Redação da TSF acusou a administração da Global Media de «ingerência» pela suspensão de «todos os programas» com participação de colaboradores externos».

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Desde a mais recente reestruturação accionista da GMG, que consagrou a entrada no grupo do fundo de investimentos World Opportunity Fund, com sede nas Bahamas e uma gestão nebulosa, todas as soluções para os alegados problemas financeiros da Global Media passam pelas revogações de contratos de trabalho, despedimentos de trabalhadores e incumprimento dos prazos de pagamento, denuncia o Sindicato dos Jornalistas (SJ).

Em resposta ao plano de despedimento de 150 trabalhadores, a suspensão de vários programas de comentário (ultrapassando aos decisões editoriais) e os salários em atraso, as redacções do Jornal de Notícias, TSF, O Jogo e Diário de Notícias, aprovaram, nos últimos dias de Dezembro, por unanimidade, a realização de uma greve geral na Global Media para o dia 10 de Janeiro de 2024.

O Sindicato dos Jornalistas considera que os profissionais não podem ser penalizados por comportamentos que são unicamente imputáveis à nova administração, «responsável por muitos dos prestadores de serviço que para si trabalham terem de recorrer à solidariedade de jornalistas para poderem sobreviver».

O pré-aviso de greve geral na Global Media abrange ainda todos os jornalistas, independentemente do órgão de comunicação social, entre as 14h e as 15h do dia 10 de Janeiro, «para que possam expressar a sua solidariedade para com os colegas do GMG e, também, de modo a alertar o poder político e a sociedade civil para a situação do sector».

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Na 38.ª edição de entrega dos Prémios Gazeta, realizada a 5 de Janeiro, em Lisboa, o Presidente da República, «considera que isto não está mal, está muito mal». «É fundamental olhar enquanto é tempo e para o ano nos encontremos sem estes despedimentos, sem estes não pagamentos de salários, sem esta indefinição em que ninguém é responsável, não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, morreu solteira a culpa».

«Às tantas só falta dizer que os responsáveis são os jornalistas. Para que quiseram ser jornalistas e escolheram a porta errada». Os trabalhadores da Global Media vão fazer uma greve geral no grupo no dia 10 de Janeiro.

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