A vergonha dos nossos dias

As imagens que nos chegam do drama vivido pelos refugiados são uma vergonha e espelham o modo como a União Europeia (UE) lida com o «problema» que ela ajudou a criar e a potenciar, identificando no direito à sobrevivência de milhões de seres humanos uma ameaça, abrindo campo ao racismo e à xenofobia, e às acções criminosas de grupos fascistas.

imigrantes sofreram intempéries nos campos de refugiados da ilha de Lesbos, na Grécia, no inverno de 2017.
CréditosStratis Balaskas/EPA / Agência Lusa

Onde está a «Europa dos direitos» perante a quantidade de provações, sofrimento e condições desumanas a que os refugiados são sujeitos? A par dos naufrágios em pleno Mediterrâneo, junta-se agora a crise resultante do rigoroso Inverno que assola a Europa. Temperaturas abaixo de zero, tendas – que fazem lembrar os estábulos de outros tempos – ocupadas pela neve, falta de água quente e doenças que aproveitam as propícias condições para o seu desenvolvimento, fazem parte do quotidiano do campo de Moria, na ilha de Lesbos.

Nestas circunstâncias tentam sobreviver crianças, mulheres e homens, que fugiram da morte e do que é seu, em virtude da fome e da guerra, na esperança de conseguirem abrigos seguros na Europa. Em vez disso, encontraram um continente murado física e ideologicamente, onde o discurso anti-refugiados é usado para disseminar o medo e canalizar o descontentamento popular perante crescentes desigualdades, desemprego e concentração da riqueza sem precedentes.

Um discurso que angaria votos, como exemplifica o nacionalista e primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, o primeiro a construir um muro para impedir a entrada de refugiados, segundo o qual «cada migrante representa um risco de segurança pública e de terrorismo».

Regressando à ilha de Lesbos, onde o frio representa um sério risco à sobrevivência de todos quantos aí foram depositados, nunca é demais recordar o acordo firmado com a Turquia, em Março do ano passado, pelos líderes europeus, cujo objectivo passava pela concentração dos requerentes de asilo nas ilhas gregas na expectativa de poder «devolvê-los» a Erdogan. Porém, o facto de as coisas não correrem como previsto conduziu à sobrelotação e à asfixia de quem não tem para onde fugir.

O que faz falta para que a UE coloque as vidas humanas em primeiro lugar e envide esforços no sentido de estes refugiados serem transferidos para outros países europeus? Neste sistema perverso, os refugiados revelaram-se uma arma de arremesso de países como a Alemanha ou a Turquia – país que tem servido de tampão da Europa a troco da adesão à UE, entre outras contrapartidas.

Não sendo um fenómeno novo, os movimentos migratórios para a Europa densificaram-se no seguimento da agressão à Líbia, disfarçada de «intervenção humanitária» (pretexto usado pelo imperialismo para violar a soberania dos estados e sorver recursos naturais), da guerra e ingerência na Síria, e da situação no Médio Oriente. Intervenções patrocinadas pelas potências imperialistas da NATO que são o denominador comum destas calamidades.

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