|Artes Visuais

A fotografia no domínio das artes visuais e na preservação da memória

Exposição coletiva no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, Guilherme Carmelo na Galeria Serpente no Porto, Susana Mendes Silva no Fórum Arte Braga e Victorino García Calderón no Museu da Guarda.

A exposição de fotografia «Memoria en la Raya», do espanhol Victorino García Calderón, pode ser visitada no Museu da Guarda, até 18 de junho
Créditos / Victorino García Calderón

O Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE)1 está atualmente a apresentar a exposição que tem como título «Contravisões – A Fotografia na Exposição António Cachola. Parte 1», até 18 de junho, iniciando a 30 de junho a Parte 2, que decorre até janeiro de 2024.

O curador, Sérgio Mah, refere que «…a mostra não segue uma linha cronológica nem está organizada por autores, temas ou géneros fotográficos. A disposição das obras procura privilegiar o confronto produtivo, as afinidades e as tensões entre as diferentes expectativas e atitudes que a fotografia assume no imaginário de cada um dos cerca de quarenta artistas que integram as duas partes deste projeto expositivo...».

Luís Campos, Série TRANSURBANA, 1994-2008.Ilfochrome clássic montado em alumínio, 124,5 x 462 cm. Exposição «Contravisões – A Fotografia na Exposição António Cachola. Parte 1» no Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE), até 18 de junho, a Parte 2 inicia a 30 de junho e decorre até janeiro de 2024 Créditos

No texto de apresentação da mostra o curador assinala ainda que a fotografia nesta coleção cobre diversos géneros e tipologias através de obras de Jorge Molder, João Maria Gusmão & Pedro Paiva, Julião Sarmento, Nuno Cera e Salomé Lamas e coexistem exemplos de «um campo mais estritamente fotográfico» com outros de «articulação e de hibridação da fotografia com outras artes visuais», assim como «temáticas e posturas conceptuais e estéticas» que têm marcado a fotografia contemporânea. André Cepeda, António Júlio Duarte, Augusto Alves da Silva, Catarina Dias, Daniel Barroca, Daniel Blaufuks, Fernanda Fragateiro, Filipa César, Jaime Welsh, José Maçãs de Carvalho, Miguel Palma, Patrícia Garrido e Pedro Barateiro são outros dos autores que aqui vão estar representados.

Lembramos que o MACE promove, nacional e internacionalmente, a arte contemporânea produzida por artistas portugueses, acolhendo em depósito a Coleção António Cachola, dedicada, em exclusivo, à produção artística portuguesa2, focando nesta exposição a sua atenção nos artistas que pretendem «mostrar muitas das questões importantes que a fotografia tem no domínio das artes visuais, e encontramos um panorama abrangente dos artistas que usam a fotografia enquanto arte», acrescenta o curador.

No âmbito das «Inaugurações Simultâneas» de Miguel Bombarda no Porto, podemos agora ver na Galeria Serpente3 mais um dos seus projetos expositivos, apresentando a exposição «Aparições» do fotógrafo Guilherme Carmelo, até 22 de junho.

No texto da exposição, António Gonçalves, assinalou que «...não se pode deixar de referir que Guilherme Carmelo teve, ao longo do seu percurso, um trabalho muito direcionado para a fotografia de obras de arte, muitas foram as obras fotografadas, muitas foram as conversas com artistas, galeristas e curadores, o que lhe confere uma sensibilidade e uma habilitação da compreensão das obras de arte muito singular. Neste seu percurso, a deriva para outras possibilidades da fotografia, levaram-no a criar outros núcleos de trabalhos e a procurar outros enquadramentos que, de uma forma distinta, o remetem para outras possibilidades da fotografia...»

Exposição «Aparições» do fotógrafo Guilherme Carmelo na Galeria Serpente, Porto, até 22 de junho Créditos

A Galeria Serpente iniciou a sua atividade em 1998 e tem como objetivo promover os artistas com quem trabalha e ser um espaço aberto a todas as questões ligadas à criação e ao «confronto de ideias, modos de procedimento artístico e alinhamentos estéticos» da arte contemporânea e desenvolve exposições das mais diversas áreas artísticas, embora pretendam dar algum destaque à instalação/site specific e fotografia. De referir ainda que este espaço artístico é orientado pelos artistas Isabel Cabral e Rodrigo Cabral e que através de «acções com amplo carácter transversal e experimental, incentiva o aparecimento de projectos que quebram por vezes o quadro que é tido como o de funcionamento normal de um espaço desta natureza.»

O Fórum Arte Braga4 apresenta a exposição «TU & EU» da artista Susana Mendes Silva (Lisboa, 1972), com um conjunto de obras em depósito na Coleção de Serralves e trabalhos da coleção da artista, abrangendo o seu percurso desde a década de 1990 até à atualidade. Esta exposição tem a curadoria de Joana Valsassina e decorre até 25 junho.

Segundo o texto da curadora «a prática de Susana Mendes Silva desenvolve-se em torno do desenho, da performance, do trabalho de arquivo e, sobretudo, do encontro — com o público, com o espaço, com a história e com os seus pares. A sua obra parte de subtis transformações do que nos rodeia, gestos mínimos de subversão de regras e códigos. Com irreverência e humor, a artista relaciona intimidade e violência, corpo e linguagem, sexualidade e libertação», acrescentando que «tomando como ponto de partida a dimensão relacional da sua prática, esta mostra extravasa a definição convencional de exposição individual e apresenta a obra de Susana Mendes Silva em diálogo com o trabalho de artistas nacionais e internacionais que se destacam enquanto importantes referências no seu universo criativo e afetivo…», como Ana Hatherly, Maria José Aguiar, Dara Birnbaum e Hannah Wilke.

Susana Mendes Silva, Polaroid, 2004. A exposição «TU & EU» da artista Susana Mendes Silva no Fórum Arte Braga, decorre até 25 junho Créditos

Acerca do vídeo «Polaroid» de Susana Mendes Silva, do qual mostramos uma imagem, James Westcott escreveu no catálogo5 que este trabalho «desloca a investigação da artista do campo do abandono e da desincorporação para a desmaterialização. Uma figura surge gradual, mas inexoravelmente do puro vazio branco de uma fotografia em revelação…. No final, é-nos negado qualquer espécie de contacto visual com a figura e, de certa forma, o vazio permanece.»

Na Guarda, podemos visitar a exposição de Fotografia «Memoria en la Raya» do espanhol Victorino García Calderón, que reúne um conjunto de fotografias de vários projetos do autor, nomeadamente «La Memoria y las Cosas, Memoria en la Raya e La Raya Rota». Esta exposição está integrada no programa do 6.º Encontro Imagem & Território, e pode ser visitada no O Museu da Guarda6até 18 de junho

Acerca desta exposição, Calderón, chama-nos a atenção de que «entre a primeira e a última fotografia destas duas séries há um intervalo de mais de 50 anos. Hoje não passam de uma pequena amostra da vida passada e presente de ambos os lados do que chamamos de territórios fronteiriços, ou seja, aquela faixa fronteiriça dos dois lados da linha imaginária que liga Portugal a Espanha, dois países irmãos que longe dos acontecimentos de séculos passados estão destinados a entender-se. Entendem-se e convivam em paz e harmonia.»

Quando Calderón terminou a licenciatura passou pelos institutos de Alba de Tormes, Toro, Coslada (Madrid) e Salamanca e colaborou na associação de Salamanca, Memoria y Justicia. A fotografia levou-o à arquitetura popular, ao folclore, às culturas rurais, mais especificamente ao seu interesse pela celebração da máscara Los Carochos em Rio-frio de Aliste (Zamora).

A longa lista das suas preocupações sociopolíticas e culturais passou pela luta contra a instalação da mina de urânio de Retortillo, pela falta de apoio aos artistas locais, contra o abate de árvores e a deterioração do património de Salamanca. Calderón já fez parte da Associação Fronteira Tod@vía, que sonha em ver aberta a linha internacional La Fuente de San Esteban-Barca d'Alva. Diz-nos Calderón que «o seu livro La Raya Rota, publicado há mais de 20 anos, foi uma tentativa de chamar a atenção para este património abandonado e declarado Bem de Interesse Cultural (B.I.C.) (…). O imenso trabalho da Associação Tod@vía para tentar preservar a linha é imensurável e de um altruísmo e amor à ferrovia fora do lugar. Essa falta de reconhecimento é gritante.» 


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. MACE-Rua da Cadeia 7350 – 146 Elvas. Horário: terças-feiras: 15h às 18h; quarta-feira a domingo: das 10h às 13h e das 15h às 18h.
  • 2. Projeto MACE já publicado no Abrilabril em junho de 2020.
  • 3. Galeria Serpente - Rua de Miguel Bombarda, 558, 4050-379 Porto. Horário: quinta-feira a sábado, das 15h às 19h.
  • 4. Fórum Arte Braga - Av. Dr. Francisco Pires Gonçalves, 4715-558 Braga. Horário: segunda - sexta: das 10h às 18h; sábado e domingo: mediante abertura do Fórum.
  • 5. James Westcott, «Fragmentos Desincorporados» in Life-cage, catálogo da exposição, Cristina Guerra Contemporary Art.
  • 6.  Museu da Guarda - Rua Alves Roçadas, 30 – 6300-663 Guarda. Horário: segunda a domingo: 9h–12h30, 14h–17h30.

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