Num encontro com jornalistas no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança, que acolhe a exposição, a pintora revelou que vão poder ser vistas pela primeira vez 80 pinturas, numa mostra que não é exactamente comemorativa, mas simbólica. Ao todo, são cerca de 160 as obras expostas.
«Este é o ano das comemorações. Do 25 de Abril, muito bem. De Camões, muito bem. Eu não tenho de comemorar os 50 anos, tenho é de mostrar obras de qualidade, que realizei ao longo de 50 anos de vida artística. Mas não tem o carácter de uma exposição nem antológica nem retrospectiva», esclareceu a pintora.
As obras inéditas estavam «guardadas em gavetas e em pastas há 40 anos», descreveu Graça Morais, e delas procurou escolher o melhor – daí o nome da exposição.
O que fez com que as pinturas saltassem agora para as paredes, como Graça Morais continuou a explicar, foi a actividade do Laboratório de Artes na Montanha Graça Morais, do Instituto Politécnico de Bragança.
As pinturas mais antigas datam de 1975, vêm do período tumultuoso pós-revolução e foram feitas em Guimarães, cidade onde a artista transmontana estava a dar aulas de Educação Visual. As mais recentes são do ano passado.
«Procurei fazer um fio condutor entre obras que realizei a partir desta região no fim do século XX para o XXI», um século «que continua com cenas muito dramáticas que todos nós, infelizmente, temos assistido», afirmou, referindo-se a guerras, crises e conflitos, doenças e pandemias que afectaram as populações ao longo destas cinco décadas.
Está também patente a região de Trás-os-Montes, que Graça Morais conheceu primeiro através da sua aldeia natal, Vieiro, no concelho de Vila Flor, com a dureza da vida de antigamente, marcada pela emigração.
A sua pintura é, segundo a própria enfatizou, dramática, porque «a vida não é simples». Muitas vezes inspirada por fotografias dos jornais, que disse continuar a preferir em papel, frisou que as suas obras não se tratam de ilustrações, mas antes da realidade tratada pelos seus olhos.
«A minha pintura não tem nada a ver com ilustração. Mas tem a ver com o meu percurso de vida pessoal e com a grande reflexão que faço sobre o mundo. No fundo, é o meu testemunho», partilhou a autora.
Para a artista, as obras dialogam com quem as observa, e elas entre si também falam. «São obras que vão falar com as pessoas, tenho a certeza. Até porque vivemos numa Europa que está com muitos problemas políticos e sociais. E falo de migrações, de sofrimentos, de doenças. Estas obras falam muito sobre estas pessoas que vou encontrando também».
Na exposição, há representações de pietàs, a mãe com o seu filho morto nos braços, inspiradas em cenas reais, que permanecem constantes, com as guerras sempre em curso.
«A guerra na Ucrânia é uma grande preocupação para a Europa. Mas o que se está a assistir na Palestina é um massacre de inocentes, sobretudo de crianças. E não conseguimos que os donos da paz consigam vencer os donos da guerra», considerou a pintora.
A exposição «Obras Escondidas, Obras Escolhidas» é inaugurada hoje à tarde no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, e vai poder ser apreciada até 26 de Janeiro de 2025.
A primeira exposição individual de Graça Morais data de Janeiro de 1974, no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. Em 2008, foi inaugurado em Bragança o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais.
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