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Inquietações e reflexões sobre a atualidade

Graça Morais e Xosé Luís Otero, em Bragança, Bienal «Anozero», em Coimbra, Margarida Botelho e Mário Rainha Campos e Círculo Artur Bual, em Santiago do Cacém, e Cristina Troufa, nas Caldas da Rainha.

Fotografia de Mário Rainha Campos. Exposição «Yara/Iara» de Margarida Botelho e Mário Rainha Campos na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca em Santiago do Cacém, até 27 de janeiro
Créditos / Mário Rainha Campos

No Centro de Arte Contemporânea Graça Morais1em Bragança, podemos visitar a exposição «Inquietações» de Graça Morais, até 23 de janeiro de 2022. Esta exposição vem no seguimento de outras exposições de Graça Morais, apresentadas desde 2017, como «A Coragem e o Medo», onde a artista apresentou obras que nos interrogaram sobre «a dimensão de um ciclo dominado pelo medo, a perversão, a violência física e ideológica ou a crueldade…», ou como na exposição «Metamorfoses da Humanidade», chamando a atenção para as «maiores tragédias humanas do nosso tempo», como a pobreza extrema, os refugiados, assim como toda a repressão, violência e morte que os conflitos e guerras arrastam, sobre os quais devemos continuar a refletir no sentido de construir novas realidades.

Exposição «Inquietações» de Graça Morais, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança até 23 de janeiro Créditos

Na exposição «Inquietações» é assumido «como ponto de partida vários acontecimentos internacionais, como a trágica morte de Georges Floyd, episódio que reacendeu o historial da violência policial contra os negros americanos, o crescente drama dos refugiados e dos migrantes que tentam chegar às fronteiras da Europa ou dos EUA, na expectativa de uma vida melhor, ou ainda as incertezas das causas e consequências de uma pandemia vivida à escala mundial. A estes dramas externos associam-se outras inquietações, mais pessoais e até íntimas», como podemos ler no texto apresentado pelos curadores Joana Baião e Jorge da Costa.

Refere-se ainda no referido que, «a par dos desenhos e pinturas, Graça Morais intervém diretamente numa das salas inteiramente revestida por páginas de jornais, testemunhas da atualidade e fontes privilegiadas do seu trabalho, proporcionando ao visitante experiências diferenciadas no contacto com a sua obra».

No âmbito das exposições temporárias do CACGM podemos ainda ver a exposição «Distopia», de Xosé Luís Otero, até 27 de fevereiro. Os trabalhos apresentados pelo artista caracterizam-se essencialmente pela experimentação e reutilização de diversos materiais, «maioritariamente recolhidos na natureza ou de elementos arquitetónicos, como velhas portas e janelas de madeira», e, quanto às formas apresentadas, «muitas vezes como arquétipos de casas, colmeias ou ninhos, mas também de edifícios em ruína, cidades desabitadas ou extensos areais cobertos de algas, ao mesmo tempo que carregam referências muito concretas, apropriadas aos bosques, às atmosferas ou às paisagens marítimas da Galiza».

A Bienal de Coimbra «Anozero'21-22», na sua quarta edição, tem como título «Meia-Noite» e decorre em duas partes: a Parte1 começou em 27 de novembro de 2021 e vai até 15 de janeiro de 2022, e a Parte 2 inicia em 9 de abril e termina a 26 de junho de 2022. Esta bienal tem como curadoras Elfi Turpin e Filipa Oliveira e apresenta-se à cidade de Coimbra «como um espaço de trocas e de convivência criativa sobre temas como diversidade, igualdade, justiça social, produção de conhecimentos, relações poéticas entre espécies e a noite como espaço de resistência».

Como nos transmitiu a curadora Filipa Oliveira no vídeo de apresentação, a Bienal foi desenvolvida a partir da ideia da «Meia Noite» como «um espaço fluído onde "todos os gatos são pardos", onde os limites se diluem das coisas, onde é mais difícil perceber se é um homem ou uma mulher, ou um animal... esta zona cinzenta é um motivo para pensarmos ou questionarmos como é que o mundo pode ser menos dualístico, menos certo ou errado, menos preto ou branco...»

Vista geral da exposição «Descolonizar o pensamento», de Carlos Bunga, na Sala da Cidade em Coimbra, integrada na Bienal «Anozero», até 15 de janeiro Créditos

«Meia-Noite.Parte1» é uma exposição-conversa que decorre na Sala da CidadeSala da Cidade – R. Olímpio Nicolau Rui Fernandes 54, 3000-274 Coimbra. Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados e domingos, das 10h às 13h. e integra a instalação Descolonizar o pensamento (2013-2021), do artista Carlos Bunga (Portugal, 1976), e os vídeos «Les Mains Négatives» (1978), de Marguerite Duras, «La cabeza mató a todos», de Beatriz Santiago Muñoz, «À Bissau, le Carnaval», de Sarah Maldoror, e «Shadow-Machine», de Elise Florenty & Marcel Türkowsky2, que introduzem os temas que serão desenvolvidos na Parte 2, que irão permitir «convocar por meio da arte reflexões que tocam um mundo onde as desigualdades sociais são estimuladas, entre outros, pelas diferenças entre as pessoas e as culturas».

A exposição coletiva «No sonho do homem que sonhava, o sonhado acordou» decorre no Circulo Sede3, até 17 janeiro, onde participam os alunos do segundo ano do mestrado em Estudos Curatoriais do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Esta exposição propõe-se refletir sobre os «círculos viciosos do pensamento e convoca à noite – que oculta e revela – a partir de trabalhos de Alberto Carneiro (Arquivo do CAPC), Bárbara Bulhão, Clara Imbert, Héctor Zamora, Marilá Dardot, Margarida Alves, Pedro Pedrosa da Fonseca, Rita Gaspar Vieira e Zé Ardisson». 

Na programação da Anozero podemos ainda visitar a exposição «Pharmakon: Remédio-veneno-bode expiatório, Jorge das Neves», no Círculo Sereia4, até 17 de janeiro, que pretende fazer uma reflexão acerca da arquitetura e do espaço urbano da cidade de Coimbra em tempo longo, desde os tempos romanos até à contemporaneidade.

Em Santiago do Cacém podemos visitar duas exposições: a exposição «Yara/Iara», de Margarida Botelho e Mário Rainha Campos, na Biblioteca Municipal Manuel da FonsecaBiblioteca Municipal Manuel da Fonseca - Rua Engenheiro Costa Serrão 25, 7540-185 Santiago do Cacém. Horário: segunda a sexta-feira – 09h30 às 18h30; sábado – 13h30 às 18h30., até 27 de janeiro de 2022, e a exposição Círculo Artístico e Cultural Artur Bual na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal5, até dia 31 de janeiro de 2022.

Segundo o texto da exposição «Yara/Iara», «em agosto de 2012, a ilustradora Margarida Botelho e o fotógrafo Mário Rainha Campos viajaram até Kararaô, uma aldeia indígena Kayapó na bacia do rio Xingu na Amazónia. O livro Yara/Iara nasceu a partir das vivências dos dois na aldeia Kararaô, num período de conflito social e ambiental. Na exposição, seguindo as páginas do livro Yara/Iara, uma sucessão de ambientes interativos irá contaminar o ecossistema da biblioteca, do chão para o teto e de fora para dentro; cenários de livros vão viajar para além do papel, (…) entre diálogos com ilustração tridimensional, fotografia e narrativa, serão sugeridas várias rotas para ler, sentir, fazer e pensar!».

Assinalamos ainda que o fotógrafo Mário Rainha Campos venceu em 2013 o concurso internacional de fotografia «Indigenous Peoples of the Américas», promovido pelo Art Museum of the Americas, em parceria com o Departamento de Direito Internacional da Organização dos Estados Americano. A fotografia premiada é uma menina Nhokotorô, a ser pintada pela mãe com tinta vegetal, em preparação para a festa de celebração da natureza, da qual publicamos uma imagem.

Exposição «TODOStemosASAS», de Cristina Troufa no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, até 16 de janeiro Créditos

Com mais esta exposição em Santiago de Cacém, os artistas do Círculo Artístico e Cultural Artur Bual dão continuidade ao ato de criar como um legado precioso deixado pelo artista Artur Bual, um dos grandes artistas plásticos portugueses, que influenciou de forma determinante a arte em Portugal na segunda metade do século XX. A exposição reúne 80 obras entre pintura, escultura e fotografia de 69 artistas.

«TODOStemosASAS», de Cristina Troufa6 é a exposição que vai estar no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha7 até 16 de janeiro.

Nesta exposição a artista apresenta vários trabalhos realizados durante e após o confinamento, e «expressa os desafios, dúvidas e medos que a pandemia despoletou em cada um de nós». Acrescentando-se ainda no texto de apresentação da exposição que os trabalhos «questionam a nossa vida laboral, as nossas relações, as escolhas feitas ao longo da vida e pomos em causa a nossa existência no Mundo. Com a nossa inatividade, constatamos que a Natureza começava a recuperar da poluição, dos nossos excessos. A natureza mostrou-nos que nós é que somos o vírus e que se não tomarmos atitudes urgentes, as alterações climatéricas levar-nos-ão à extinção.»


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Centro de Arte Contemporânea Graça Morais – Rua Abílio Beça, nº 105 5300 – 011 Bragança. Horário: terça-feira a domingo: 10h – 18h30.
  • 2. Ver datas de projeção no Programa da Bienal Anozero.
  • 3. Círculo Sede – Rua Castro Matoso, 18, Coimbra. Horário: terça-feira – sábado, 14h –18h.
  • 4. Círculo Sereia – Rua Pedro Monteiro, Casa Municipal da Cultura, piso -1, Coimbra. Horário: terça-feira – sábado, 14h –18h.
  • 5. Museu Municipal de Santiago – Praça do Município. Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 12h e das 14h às 16h30; sábados das 12h às 18h.
  • 6. Cristina Troufa nasceu no Porto em 1974. Em 1998 concluiu a Licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e em 2012 o Mestrado em Pintura na mesma Faculdade. Desde 1995 que participa em exposições colectivas e individuais em Portugal, Itália, Espanha, Austrália, Canadá, Dinamarca, Taiwan, França, Inglaterra e EUA.
  • 7. Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha – Rua Dr. Leonel Sotto Mayor, 2500-227, Caldas da Rainha. Horário: segunda e terça-feira, 10h-13h e 14h-18h; quarta a sexta-feira, 10h-13h e 14h-21h; sábado e domingo, 14h-18h (sábado e domingo. Em dia de espetáculo à tarde 10h-13h abre duas horas antes do espetáculo).

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