A entrega dos prémios do Festival Internacional de Cinema Documental aconteceu este sábado à noite, no Centro Pompidou, e Leonor Teles foi distinguida na secção Competição Internacional, na qual concorriam 11 filmes.
A realizadora de 25 anos, que venceu o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem com Balada de um Batráquio, em 2016, contou à Lusa que ficou «muito surpreendida» com o prémio que carimbou a estreia internacional do filme.
«Estou muito feliz, como é óbvio, e estou muito surpresa porque não contava nada com isto, já me ia embora hoje. Então, foi muito bom. Na verdade, o filme, nas três exibições que teve, correu sempre muito bem, a aceitação foi muito boa, tivemos óptimas reacções e isso para mim foi sempre o mais importante», afirmou a cineasta.
Leonor Teles destacou que, «obviamente, um prémio destes é sempre importante também para dar continuidade à vida do filme, especialmente em Portugal», porque «parece que, quando uma coisa é falada internacionalmente, acaba também por ter mais peso em casa».
«Acaba por ser um festival com bastante prestígio, é uma janela na Europa que dá muita visibilidade aos documentários, sobretudo, ou então aos filmes que têm ligações com temas ligados ao real, com a actualidade, com cinema de urgência. Acho que especialmente para mim, sendo uma primeira longa [metragem], é assim um grande kick e um grande incentivo para continuar a trabalhar", comentou.
Produzido por Uma Pedra no Sapato, o documentário vai estar, em Maio, numa das secções paralelas do Festival de Cinema de Cannes, organizada pela Association du Cinéma Indépendant pour sa Diffusion (ACID), e vai estar, em Abril, no Festival Internacional de Documentário de Tui – Play-Doc.
«Um cowboy de um western a cavalgar o seu barco»
Terra Franca retrata a vida de um pescador, Albertino Lobo, e da sua família, tendo sido um dos filmes destacados pelo jornal francês Libération, na edição de sábado, que o descreve como «um vasto filme de família lírico e geracional, que se torna cada vez mais narrativo e empolgante».
Leonor Teles explicou que, de facto, o documentário «acaba por ser não só um retrato da vida do Albertino Lobo, que é o pescador» mas «mais do que isso é também o retrato de uma família e de uma família bastante portuguesa».
«Eu acho que é uma família típica portuguesa com as suas tradições e eu acho que qualquer português que veja o filme poderá identificar-se com as personagens, com as pessoas que estão ali representadas. Ao mesmo tempo, tenta também transmitir uma mensagem do que é que é isto da família, desta união, quais são as diferenças entre os pais e os filhos, a minha geração e a geração dos meus pais», continuou.
O filme também «retrata um estilo de vida de pessoas muito simples, muito genuínas, verdadeiras, maravilhosas», que «merecem estar figuradas no grande ecrã» e a terra da realizadora, Vila Franca de Xira «uma zona absolutamente incrível» pelo que «é importante o cinema devolver as imagens às pessoas e dar-lhes um novo olhar».
Graças a um avô varino, a realizadora cresceu «com esta ligação ao rio» Tejo e foi durante um trabalho, na escola de cinema, que conheceu o Albertino e ficou com a imagem de «um cowboy de um western a cavalgar o seu barco», uma pessoa «que pertencia àquele sítio».
«Terra Franca começou com estas duas premissas: um lugar e uma personagem. E depois com uma procura, com a intenção de passar um ano a filmar, mas ao mesmo tempo ver o que o próprio filme me devolvia a mim. O filme começou com a pesca e, depois, devagarinho, começou a abrir a porta para o outro lado do Albertino que era a família», acrescentou.
Terceiro prémio para o cinema português na última década
Leonor Teles licenciou-se na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e o seu filme de fim de curso, Rhoma Acans (2013) teve uma menção honrosa no IndieLisboa desse ano, venceu o Prémio Take One! no Curtas Vila do Conde, ainda em 2013, e teve uma menção especial do júri no FICUNAM - Festival Internacional de Cinema da Universidade Autónoma do México (2014).
Balada do Batráquio (2016) ganhou o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem na Berlinale de 2016, o Prémio Firebird para Melhor Curta-Metragem no Hong Kong International Film Festival, em 2016, a Melhor Curta-Metragem no Belo Horizonte International Short Film Festival, em 2016, e o Prémio Cervantes para Curta Metragem Mais Inovadora no Festival Medfilm, em Roma, em 2016.
Em 2010, Susana Sousa Dias venceu o Grande Prémio do Cinéma du Réel com o filme 48, e, no ano passado, Ico Costa venceu o prémio de melhor curta-metragem com o filme Nyo Vweta Nafta.
O Grande Prémio do festival foi para L. Cohen, do norte-americano James Benning, um documentário sobre uma paisagem do Oregon, nos Estados Unidos, atravessada, a dada altura, por uma canção de Leonard Cohen.
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