O reconhecimento foi-lhes atribuído esta terça-feira, sob proposta da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo estudaram nos anos 1960 e iniciaram o percurso no teatro.
No final da cerimónia, Jorge Silva Melo afirmou aos jornalistas que a distinção lhes reconhece o percurso no teatro português, mas também os estudos académicos desta arte.
«Claro que é bom ser reconhecido. […] Claro que é bom ser "honoris". Espero que seja um reconhecimento do CET [Centro de Estudos de Teatro da FLUL], que seja reconhecido dentro da universidade como um centro importante de investigação, não só do passado. Não é uma aula de anatomia. Não estamos aqui para dar autópsia e dar o corpo à ciência», afirmou Jorge Silva Melo.
No discurso de agradecimento, Luís Miguel Cintra falou das saudades do que viveu na Universidade de Lisboa, do que aprendeu dentro e fora da sala de aula, citando professores como o padre Manuel Antunes e o pai, o filólogo Lindley Cintra, e das escolhas pela palavra e pela representação. «Troquei a cátedra pelo teatro», disse.
«Não sou doutor, é uma coisa fictícia. Só dou importância ao que me liga afectivamente à universidade e que é significativo de quanto a universidade era diferente. Para mim tudo começou na faculdade, as pessoas que conheci. E isso criava uma espécie de vida cultural», afirmou depois aos jornalistas.
Luís Miguel Cintra, que co-fundou o Teatro da Cornucópia com Jorge Silva Melo, estende este reconhecimento a quem faz teatro em Portugal e a quem se dedica à Cultura: «A Cultura é a maneira de as pessoas viverem, é aquilo que pensam. É de todos os cidadãos, não só dos que têm dinheiro para comprar cultura. A Cultura não é uma coisa que se compre, é uma coisa que se vive».
O encenador sublinhou que «as pessoas pensam que quando são atribuídos subsídios ao teatro, são para os artistas terem que comer e porque merecem um prémio pelo seu mérito. São subsídios à população, permitem que certos espectáculos existam e que sejam possíveis de ser vistos por pessoas a quem eles são úteis».
Na cerimónia de atribuição do grau de doutor «honoris causa», que teve lugar na Reitoria da Universidade de Lisboa, o elogio a Luís Miguel Cintra foi feito pela professora Maria João Brilhante, sublinhando um percurso que «inovou e marcou o seu tempo».
O «gesto» de atribuir esta distinção a duas figuras centrais do teatro em Portugal reconhece «o contributo do teatro e dos seus artistas para a realização de um objectivo partilhado, de despertar pela sensibilidade, pela imaginação, pela ousadia da criatividade e pelo conhecimento, gerações futuras de quem esperamos a construção de sociedades justas e solidárias», referiu.
O elogio a Jorge Silva Melo foi feito pelo professor José Pedro Serra, considerando que o encenador, fundador dos Artistas Unidos, «integra o grande caudal da tradição das Humanidades».
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