A edição dos Dias da Música, no Centro Cultural de Belém (CCB), pode ser a última possibilidade de se escutar a Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) e a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), alertou o maestro titular e fundador, Pedro Carneiro.
A JOP, sob a direcção de Pedro Carneiro, toca no próximo sábado, no CCB, em Lisboa, no âmbito do Festival Dias da Música, destinado aos jovens, e que antecede os quatro Dias da Música, a decorrer de 26 a 29 deste mês.
A OCP, sob a batuta de Carneiro, abre os Dias da Música, na quinta-feira da próxima semana, com o coro Voces Caelestes
«Este concerto da JOP, ao que tudo indica, será o último concerto, e o da OCP também parece que será o último», disse o maestro à Lusa, justificando esta suposição pelo facto de as orquestras não terem sido abrangidas, segundo os resultados provisórios do Programa de Apoio Sustentado às Artes (2018-2021), e não terem tido qualquer contacto do secretário de Estado da Cultura.
O maestro acusou o Governo de «um jogo de demagogia muito impressionante», ao ter anunciado um reforço de 2,2 milhões de euros por ano, das verbas de apoio às artes, que, distribuídos pelas 43 entidades que passaram a aceder a apoios, «deve dar pouco mais de 50 mil de euros [anuais] a cada uma».
«Estes Dias da Música, para nós, são assim uma espécie de 'ante luto' de onze anos de actividade, que parece que vão ficar por aqui», declarou.
O maestro considerou a situação «irónica», pois em Setembro passado, numa reportagem da RTP-Antena 2, o actual secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, «disse que seria impensável que a OCP ou a JOP não tivessem subsídio [estatal], tal é o mérito que lhes reconhece».
Segundo o músico, Portugal e a Roménia eram, até 2014, os únicos Estados da União Europeia sem uma orquestra nacional de jovens, sem apoio sustentado, «ora, a partir de agora, Portugal será o único», pois a Roménia criou um organismo para a Orquestra Nacional Jovem da Roménia, que tem diferentes orquestras, que actualmente estão a celebrar por todo o mundo o centenário da unificação do país.
A não atribuição de apoio à JOP levou já a cancelar uma digressão a Macau e à China, este ano, e, «pela mesma razão, a digressão, em 2019, à Roménia e à Alemanha, não se vai realizar».
Face à falta de notícias da Direcção-Geral das Artes (DGArtes), entidade responsável pelos concursos, Pedro Carneiro afirmou: «Nós morremos a 31 de Dezembro de 2017, porque foi aí que acabou o apoio».
Os concursos do Programa de Apoio Sustentado da DGArtes, para os anos de 2018-2021, partiram com um montante global disponível de 64,5 milhões de euros, em Outubro, subiram aos 72,5 milhões, em Março, perante a contestação no sector, e entraram em Abril com um total de 81,5 milhões de euros, depois de o Governo ter anunciado novo reforço, que permitiu alargar a possibilidade de apoio a 183 candidaturas, contra as 140 iniciais.
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