Discursando perante milhares de apoiantes que se juntaram frente à sede do seu partido, Perú Libre, Castillo agradeceu as felicitações recebidas por parte de partidos políticos e organizações sociais, bem como de governadores e autarcas, que assim reconheceram a vontade expressa pelo povo.
«Nessa mesma linha, peço às autoridades eleitorais que de uma vez por todas deixemos de adiar e continuemos a pôr o povo peruano em perigo, e que seja respeitada a vontade popular do país», disse, citado pela Prensa Latina.
Agradeceu o apoio dos manifestantes e felicitou-os por defender de forma pacífica «o voto dos homens humildes que estão nas terras mais esquecidas, porque o voto do povo peruano é um voto digno».
Aludiu deste modo aos pedidos realizados pela candidatura da neoliberal Keiko Fujimori ao Júri Nacional Eleitoral para anular muitos milhares de votos de regiões pobres que apoiaram maioritariamente o candidato da esquerda, numa tentativa de reverter uma derrota eleitoral que não aceita.
Com 99,935% do escrutínio eleitoral realizado, Pedro Castillo tem uma vantagem superior a 49 mil votos, impossível de reverter, mas a candidata neoliberal, Keiko Fujimori, insiste na «fraude». A segunda volta das eleições presidenciais no Peru realizou-se no passado dia 6 de Junho e, no portal do Gabinete Nacional de Processos Eleitorais, com 99,935% do escrutínio efectuado, o candidato da esquerda, Pedro Castillo, aparece à frente de Fujimori, com 8 883 185 votos (50,14%) contra 8 783 765 (49,86%). A estratégia da fujimorista passa por tentar reverter o resultado denunciando fraude e anulando centenas de actas eleitorais com votos das regiões andinas, onde a votação foi amplamente favorável a Castillo. Num encontro que promoveu com a imprensa estrangeira, Fujimori disse que pretendia chamar a atenção da comunidade internacional para «factos graves recentes» e insistiu na acusação de uma alegada fraude nas mesas de voto, pela qual acusa o Perú Libre, partido de Castillo. O candidato Pedro Castillo garantiu uma vantagem de 63 441 votos na contagem oficial, impossível de ser superada, mas não foi ainda proclamado por causa das acusações de fraude da sua rival Keiko Fujimori. O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) divulgou esta quinta-feira que Castillo tem 8 791 778 votos e Fujimori 8 720 337, o que corresponde a 50,2% e 49,7%, respectivamente, com 99% das urnas contadas. O Júri Nacional de Eleições (JNE), de acordo com a lei, pode proclamar o vencedor ao final da contagem ou quando a diferença entre os votos daquele que está em primeiro lugar for maior do que aqueles das urnas que falta verificar, como é o caso. No entanto, a contestação a 802 urnas que contêm aproximadamente 500 mil votos, especialmente nos territórios andinos onde Castillo ganhou por uma ampla margem, impedem que o professor da escola rural seja proclamado o novo presidente. Fujimori anunciou quarta-feira à noite que contestava esses votos por «irregularidades», as quais terá de provar com fundamentos específicos na lei eleitoral, para conseguir anular mesas de voto depois de o acto eleitoral estar completado. Os especialistas eleitorais consideram a maioria das insinuações de fraude inconsistentes. Por sua vez, o candidato de esquerda lançou uma mensagem nas redes sociais na qual agradeceu aos seus apoiantes, que continuam a resistir nas ruas em defesa da decisão popular, pediu calma e exortou-os a não cair em provocações «daqueles que querem ver este país no caos». Um especialista em trâmites eleitorais e um ex-procurador concordaram hoje, ao advertir que é juridicamente impossível anular a acta da última votação no Peru, como afirma a candidata Keiko Fujimori. O advogado Jorge Jáuregui, especialista em direito eleitoral, que no domingo passado assegurou à RPP Notícias que o sistema de processamento de actas no Peru «é muito e fiável», descartou a viabilidade dos mais de 800 recursos de anulação apresentados pelo Fuerza Popular, partido de Fujimori, por a legislação actual estabelecer que esse procedimento é para ser apresentado durante e não depois do pleito. Acrescentou que a justiça eleitoral estabelece motivos muito limitados para anular uma acta, como pressão violenta, suborno e outras acções externas durante a votação, e exige provas múltiplas e conclusivas do momento da infracção. O ex-procurador Ronald Gamarra, jurista que faz parte da equipa que defende os votos de Castillo, afirmou estar confiante de que todas as impugnações serão rejeitadas e que o voto do cidadão é inatacável. Considerou inadmissível e um abuso do direito a tentativa de roubo ou sequestro dos votos de 200 mil eleitores, especialmente das populações pobres das regiões andinas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Questionada sobre os problemas de legitimidade que teria um governo seu com base na anulação dos votos de 200 mil cidadãos, apenas respondeu que o Júri Nacional de Eleições se deve pronunciar sobre as acusações para confirmar quem ganhou as eleições de domingo passado, tendo acrescentado que trava «uma batalha contra o comunismo» e, segundo refere a Prensa Latina, deixando no ar a possibilidade de uma «intervenção estrangeira», que não fundamentou. No sábado, participando numa mobilização em Lima com milhares de apoiantes, Keiko Fujimori acusou ainda o actual presidente peruano, Francisco Sagasti, de interferir no processo eleitoral para alegadamente favorecer Castillo. Já o candidato do Perú Libre, em declarações à imprensa, pediu «paciência» e «serenidade» à população, instando-a a «não cair na provocação» e lembrando que «a campanha eleitoral já terminou», sendo agora «o momento da cerimónia». Fernando Tuesta, ex-presidente do GNPE, disse à imprensa que os pedidos de anulação dos votos fazem parte de «uma estratégia legal, política e mediática» e que, sem eles, o Peru já teria um presidente proclamado. Acrescentou que as denúncias carecem de fundamentação legal, uma vez que são alheias às quatro causas específicas que podem conduzir à anulação de uma acta eleitoral após a jornada eleitoral, pelo que os juízes devem fazer prevalecer a validade do voto, que expressa a vontade popular, refere a Prensa Latina. Como exemplo, referiu que uma das alegações – de que dois membros de uma mesa de voto têm o mesmo apelido e seriam parentes – seria válida para impugnar a acta antes ou durante a eleição, mas não para dar lugar à eliminação dos votos de 250 eleitores da mesa. Por seu lado, o analista Martín Tanaka considerou «pouco responsável falar de fraude sem ter provas conclusivas», acrescentando que apenas existiram irregularidades ou erros normais, e não uma máquina capaz de armar uma operação fraudulenta, como alega Fujimori. Também a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou o processo eleitoral de 6 de Junho «limpo» e «sem graves irregularidades», indica a TeleSur. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Uma semana depois das eleições, o Peru continua sem presidente proclamado
Internacional|
Ainda sem proclamação, a vitória no Peru é de Castillo
Descartada a possibilidade de anulação de eleição
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Pedidos de anulação sem fundamento
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«O povo peruano levantou a cabeça para dizer que vamos democraticamente salvar esta pátria, este país e que o voto de La Molina, Miraflores e San Isidro [zonas ricas de Lima] tem o mesmo peso cidadão e cívico que o do povo do recanto mais distante», frisou ainda Castillo, que fez um apelo à unidade e disse que não pode haver «ilusões», uma vez que «a batalha para acabar com as grandes desigualdades do país começa agora».
Também disse ser necessário estar atento «contra a desestabilização, a divisão e os golpes contra a democracia», referindo-se a políticos e antigos comandantes militares alinhados com Fujimori que pretendem levar por diante um plano de anulação da segunda volta das eleições presidenciais, prolongando os recursos contra o processo eleitoral até 28 de Julho, quando o novo governo deve tomar posse. Se não houvesse então um presidente proclamado, o Parlamento podia convocar novas eleições.
Fujimori, ao perder por pouco mais de 44 mil votos, trava «uma batalha contra o comunismo»
Ao concluir o escrutínio – nove dias depois da jornada eleitoral, celebrada a 6 de Junho –, o Gabinete Nacional de Processos Eleitorais (GNPE) informou que Castillo obteve 8 835 570 votos (50,125%) e a sua adversária 8 791 521 (49,875%).
Também ontem, a candidata neoliberal à Presidência do Peru discursou perante apoiantes reunidos frente à sede do seu partido, Fuerza Popular, para afirmar que se recusava a aceitar a derrota e que a conclusão do processo de escrutínio pelo GNPE não era o mais importante.
Isso, defendeu, são os pedidos de anulação de actas eleitorais por alegadas irregularidades, que mais uma vez não fundamentou. Disse, no entanto, estar segura de que o JNE lhe irá dar razão.
Ontem, Fujimori anunciou que a equipa de advogados com que procura anular as actas de algumas das regiões onde se registou uma votação amplamente favorável a Castillo tinha sido reforçada com o ex-titular do Tribunal Constitucional Óscar Urviola.
Outro plano da ofensiva que Fujimori diz travar «contra o comunismo» é levado a efeito pelos seus apoiantes, que, refere a Prensa Latina, têm assediado as casas dos membros dos organismos eleitorais, para os pressionar.
Para dar força à estratégia de Fujimori, junto às instalações do seu Fuerza Popular, ontem não faltaram palavras de ordem «anti-comunistas» e Castillo foi acusado de «representar o terrorismo».
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