O projecto de construção de escolas no Iraque, agora formalizado entre o governo iraquiano e duas empresas chinesas, insere-se nas iniciativas de reconstrução de um país devastado pela guerra, cujos recursos e soberania foram pilhados na sequência da invasão das tropas norte-americanas.
Empresários chineses disseram ao Global Times que a retoma dos projectos de construção de escolas, há muito parados, representa o interesse crescente das empresas chinesas por um país que se situa na Iniciativa do Cinturão e Rota, onde «há mil coisas à espera de ser feitas», tendo por base o princípio de benefício mútuo.
A assinatura do acordo foi realizada na semana passada, revelou no Twitter o primeiro-ministro iraquiano, Mustafa al-Kadhimi, que esteve presente na cerimónia. O lado chinês foi representado pelo vice-presidente da Power China (empresa responsável pela construção de 679 escolas) e pelo director regional da Sinotech (que vai avançar com a construção de 321 infra-estruturas escolares).
Um Médio Oriente em pé de guerra é uma alternativa cultivada para afectar regimes e governos que não sejam submissos a Washington ou que tenham a ousadia de negociar hidrocarbonetos em outras moedas que não seja o dólar. Estimado leitor, se lhe disserem que os Estados Unidos são auto-suficientes em hidrocarbonetos e não precisam do petróleo do Médio Oriente, não acredite. A guerra sem fim montada pelo Pentágono através de toda a região e algumas extensões geográficas tem a ver com fontes de energia, o controlo das suas reservas, produção e distribuição. Portanto, o que tem acontecido nas últimas semanas, por exemplo a simultaneidade da desestabilização do Iraque e do Irão e a nova fase da guerra na Líbia tem, e muito, a ver com isso. Outra coisa em que o leitor não deve acreditar é nas promessas do poder globalizante de que vai reduzir o consumo de combustíveis fósseis para combater o aquecimento global e cumprir as metas da redução de emissões de dióxido de carbono. Nunca, como agora, esteve inventariada uma tão elevada quantidade de reservas de petróleo e gás natural. E serão para consumir enquanto existirem, até à última gota: o capitalismo alimenta-se delas. Quem as dominar controla o mundo – um conceito básico de qualquer geopolítica e geoestratégia bem actuais. O que se passa no Médio Oriente tem, portanto, a ver também com hidrocarbonetos. Hoje como ontem. A era do petróleo e do gás de xisto, caracterizada pela extracção através do método de fractura hidráulica (fracking) extremamente agressivo para o meio ambiente, alterou o ranking da produção de hidrocarbonetos e terá conduzido os Estados Unidos ao primeiro lugar entre os produtores. Segundo especialistas, porém, o período áureo dessa forma de exploração já terá sido ultrapassado na América do Norte, além de ser mais dispendiosa do que a efectuada a partir de reservas mais convencionais. Além disso, em termos norte-americanos, trata-se de mais um negócio com diferentes valências: o petróleo e o gás de xisto, mais caros, são para exportar – de preferência para os aliados europeus e de outras regiões – servindo para tentar combater produções rivais, sobretudo as russas, mesmo que através de manipulações grosseira das «leis do mercado»; e, por outro lado, os Estados Unidos importam hidrocarbonetos mais baratos de regiões onde mantêm domínio e controlo, entre elas o Médio Oriente. «Estimado leitor, se lhe disserem que os Estados Unidos são auto-suficientes em hidrocarbonetos e não precisam do petróleo do Médio Oriente, não acredite. A guerra sem fim montada pelo Pentágono através de toda a região e algumas extensões geográficas tem a ver com fontes de energia, o controlo das suas reservas, produção e distribuição» Domínio e controlo não se exercem apenas sobre os produtores, mas também sobre as reservas identificadas, a investigação de possíveis novas reservas e os circuitos de distribuição. Por isso as guerras têm na mira também as rotas de gasodutos e oleodutos e nem sempre são travadas com armas. As chantagens político-económico-diplomáticas envolvendo, por exemplo, os gasodutos sem participação norte-americana como o Turk Stream (agora inaugurado), o Nord Stream 2 e o South Stream (ainda bloqueado) são exemplo dos longos braços estendidos sobre o planeta de quem se diz auto-suficiente em termos energéticos. Domínio e controlo são ainda mais do que isto: exercem-se também tentando prejudicar e inibir a concorrência. O que está a acontecer através da desestabilização alargada no Médio Oriente tem muito a ver com esta guerra multifacetada. E o assassínio do general iraniano Qasem Soleimani, em particular, também. Todos ainda estamos lembrados de que, há algumas semanas, o presidente dos Estados Unidos anunciou a retirada de parte das tropas ocupantes na Síria, mas deixando militares no terreno «a tomar conta do petróleo». De falta de franqueza, nestas circunstâncias, ninguém pode acusar Donald Trump. A Síria tem vindo a ganhar a guerra que lhe foi movida internacionalmente, mas a restauração da soberania ainda tem limites impostos pelos poderes que governam em Washington: as zonas ricas em hidrocarbonetos, a propósito das quais, aliás, há notícia da existência de grandes reservas de gás natural – por sinal no «Rojava», o «Estado curdo» criado por Estados Unidos e Israel em parte do Norte da Síria. Durante muito tempo quase não se ouviu falar do Iraque. Apesar de se tratar de um país em grande parte destruído pela invasão e a guerra, dividido entre bolsas de poderes exercidos por comunidades étnico-religiosas e ocupado militarmente, deixou praticamente de ser notícia. As condições de vida desumana a que estão sujeitas milhões de pessoas deixaram de chamar a atenção da comunicação social corporativa. O silêncio e a «estabilidade» prevaleciam, uma vez que em Bagdade estava em funções um governo subordinado às forças de ocupação. «Durante muito tempo quase não se ouviu falar do Iraque. Apesar de se tratar de um país em grande parte destruído pela invasão e a guerra, dividido entre bolsas de poderes exercidos por comunidades étnico-religiosas e ocupado militarmente, deixou praticamente de ser notícia. As condições de vida desumana a que estão sujeitas milhões de pessoas deixaram de chamar a atenção da comunicação social corporativa. O silêncio e a «estabilidade» prevaleciam, uma vez que em Bagdade estava em funções um governo subordinado às forças de ocupação. A situação alterou-se. Não muito, mas o suficiente para incomodar Washington» A situação alterou-se. Não muito, mas o suficiente para incomodar Washington. O governo do primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, descontente com as imposições apresentadas pelos Estados Unidos para se envolverem na reconstrução das infra-estruturas do país arrasadas pela invasão e a guerra – receberem em troca metade das receitas de petróleo iraquianas – estabeleceu um acordo com outro parceiro: a China. O céu caiu em cima da cabeça de Abdul Mahdi. Donald Trump exige-lhe que revogue o acordo e, segundo o teor de um discurso feito pelo chefe do governo no Parlamento, está por detrás das manifestações e episódios de violência que têm como objectivo a dissolução do executivo. Acresce que Abdul Mahdi teve outro acto imperdoável para os ocupantes. Estava a servir de mediador numa aproximação feita pela Arábia Saudita em direcção ao Irão para reduzir o nível de tensão em todo o Médio Oriente. Um passo que poderia beneficiar a região, designadamente estabelecer pontes para acabar com a guerra que martiriza o Iémen. O general Qasem Soleimani ia a Bagdade entregar a resposta do governo iraniano à iniciativa saudita, em 3 de Janeiro, quando foi assassinado por ordem do presidente dos Estados Unidos. De uma assentada, os Estados Unidos crêem ter abortado uma iniciativa pacificadora que se desenvolvia, portanto, em sentido contrário à estratégia de guerra sem fim; e activaram um clima de desestabilização que abrange simultaneamente o Iraque e o Irão e se junta ao ambiente de guerra latente que permanece na Síria. O que se passa no Iraque é um golpe contra o governo, dado pela potência ocupante de modo a poder contar novamente com um executivo absolutamente dócil, que revogue o acordo com a China e assegure a pretendida metade das receitas petrolíferas para o Tesouro de Washington. Aliás, Trump já definiu muito bem as cartas do jogo depois da decisão do Parlamento de Bagdade ordenando a saída das tropas de ocupação: ou os militares norte-americanos permanecem ou os Estados Unidos bloqueiam a conta do Ministério iraquiano do Petróleo na Reserva Federal de Nova York, através da qual Bagdade movimenta quase todo o seu comércio petrolífero. Não há dúvidas, portanto, que é de petróleo que se trata. «Dizem-nos a história e a experiência que a diplomacia não é o forte dos Estados Unidos e que o método de negociações mutuamente vantajosas é absolutamente desconhecido em Washington. Não surpreende, pois, que a generalização da guerra seja a opção tomada pela administração Trump para proteger os interesses do império, no quadro da acarinhada teoria do "caos criativo"» É de mudança de governo – e de regime – a trama desenvolvida por Washington contra o Irão. As sanções que asfixiam o povo e a economia do país, a aposta cada vez menos velada nas divisões entre o presidente Rouhani e a chefia religiosa de Ali Khamenei e a instabilidade nas ruas, tudo sob um clima de ameaça militar permanente, têm como fim último o regresso de Teerão à esfera de Washington. Iraque e Irão são os dois maiores exportadores de petróleo mundiais a seguir à Arábia Saudita. A administração Trump, como as anteriores, exige um governo de confiança no Iraque para poder continuar a usar o país como base da agressão ao Irão, além de preservar a hostilidade entre Riade e a Teerão. O assassínio do general Soleimani serviu estes objectivos. Um Médio Oriente em pé de guerra é uma alternativa cultivada para afectar regimes e governos que não sejam submissos a Washington ou que tenham a ousadia de negociar hidrocarbonetos em outras moedas que não seja o dólar, como está a acontecer entre a China e o Irão, com a agravante de o fazerem contrariando as sanções impostas unilateralmente pelos Estados Unidos. Neste momento, em relação ao Médio Oriente, pode constatar-se que a China tem em curso investimentos de um milhão de milhões de dólares no Irão, acaba de assinar um acordo de reconstrução com o Iraque e importa da Arábia Saudita a maior parte dos hidrocarbonetos que consome; e a Rússia é uma potência determinante na Síria. Dizem-nos a história e a experiência que a diplomacia não é o forte dos Estados Unidos e que o método de negociações mutuamente vantajosas é absolutamente desconhecido em Washington. Não surpreende, pois, que a generalização da guerra seja a opção tomada pela administração Trump para proteger os interesses do império, no quadro da acarinhada teoria do «caos criativo». O cenário dos últimos tempos nesta região, um concentrado dos interesses que comandam a globalização neoliberal, é o exemplo mais flagrante da agudização da guerra civil que se trava no sistema capitalista. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
O petróleo, o Médio Oriente e a guerra civil imperialista
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De acordo com o Global Times, trata-se de uma «ajuda imediata» ao Iraque, um país onde a falta de oportunidades na Educação dificultou muito o desenvolvimento e o esforço de reconstrução. Cerca de 3,2 milhões de crianças e jovens em idade escolar não têm acesso ao ensino, refere a Unicef.
Hassan Mejaham, funcionário do Ministério iraquiano da Habitação, disse à Iraqi News Agency que o país precisa de 8000 escolas «para preencher a lacuna no sector da Educação». De acordo com a imprensa iraquiana, a China vai construir ainda mais 7000 escolas no país, em duas fases.
«O investimento da China provém da ajuda humanitária. As escolas espalham-se por todo o Iraque, o que significa que as despesas com a segurança são enormes, num contexto de instabilidade política persistente, e que o lucro para as empresas estatais chinesas é magro», disse Chen Xianzhong, um empresário que investe há muito no país do Médio Oriente, ao Global Times.
Em declarações ao periódico, Zhou Rong, investigador no Instituto Chongyang de Estudos Financeiros, da Universidade Renmin da China, destacou que as trocas entre a China e o Iraque têm tendência a crescer, num momento em que Washington está a perder gradualmente influência no Médio Oriente.
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