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Numa encosta de Caracas, o povo organizado combate o vírus

Na Comuna Socialista Altos de Lídice, no Bairro La Pastora, uma brigada de saúde e um médico comunitário, integrado na Misión Barrio Adentro, visitam os habitantes casa a casa para prevenir contágios.

O médico comunitário Douglas Gutierrez visita os seus pacientes na Comuna Socialista Altos de Lídice todas as terças e quintas-feiras
CréditosMichele de Mello / Brasil de Fato

«Na Venezuela, comunidades organizadas e o Estado unem esforços para combater a pandemia da Covid-19», afirma a jornalista brasileira Michele de Mello. Situada a norte do icónico Bairro 23 de Enero, a Comuna Socialista Altos de Lídice foi a primeira comuna fundada no Bairro La Pastora, há dois anos, e a centésima organização comunal na Grande Caracas. Ali, juntam-se 350 famílias e sete conselhos comunais.

Em cada conselho, uma pessoa é nomeada para integrar a brigada de saúde que presta cuidados na comuna. Luz Marina Viloria, representante do conselho comunal Vista Bela na brigada, explica que é necessário percorrer a comunidade para garantir «que não há ninguém com Covid-19».

A brigada de saúde faz um acompanhamento mensal de pacientes com doenças crónicas e envia alertas constantes sobre a prevenção do contágio do vírus, que depois são repetidos dentro de cada casa.

«Estou sempre a dizer-lhes que existe uma doença, a explicar tudo o que nos informam na escola e, às vezes, ele mesmo diz: "Mami, temos de colocar a máscara, por causa do coronavírus"», conta Genesis Europeza, moradora na comunidade, sobre as conversas que tem com o seu filho de três anos, Esneider Andrade.

A Venezuela tem menos de 12 mil casos confirmados e 112 falecidos pelo novo coronavírus. Na Comuna Socialista Altos de Lídice foram encontrados dois casos suspeitos no início deste mês. Quando há suspeitas, a brigada de saúde comunica-as de imediato às autoridades sanitárias municipais, que fazem testes massivos na região próxima da residência das pessoas suspeitas.

«Nunca tivemos um caso crítico. Tivemos dois casos identificados em despistagem massiva. Um jovem, que veio da Colômbia, tinha problemas respiratórios. Seguimos os protocolos e fizemos as provas, deu negativo e oferecemos-lhe tratamento para a sua doença respiratória e está bem. O outro caso foi o esposo da nossa enfermeira, que deu positivo. Trabalha no Palácio Presidencial de Miraflores e está internado num hospital aqui de La Pastora, assintomático», disse ao Brasil de Fato o médico comunitário Douglas Gutierrez.

Gutierrez trabalha há três anos na zona de Altos de Lídice, intregado na Misión Barrio Adentro [Missão Bairro Adentro], um programa social criado pelo presidente Hugo Chávez para criar unidades básicas de saúde e levar médicos aos bairros periféricos da Venezuela. Através deste programa, em 2011 foi construído o primeiro Centro de Diagnóstico Integral no bairro.

Com a formação da Comuna Socialista de Altos de Lídice, Gutierrez recebeu um consultório na zona de Vista Bela e outro na região da Redoma. Em ambas, foram os conselhos comunais que conseguiram o espaço e a estrutura para que os moradores pudessem ter um consultório básico na zona alta da comunidade.

Mudanças positivas com a organização comunal

O povo reconhece as mudanças positivas que a organização comunal trouxe ao bairro. «É muito bom, porque assim somos atendidos aqui dentro da comuna e não temos de sair, ainda mais agora com a pandemia. Podemos proteger mais as crianças. Muitas coisas mudaram, todos os sectores estão mais unidos. Temos acesso a medicamentos gratuitos aqui mesmo, além de outros benefícios», afirma Genesis Europeza, que nasceu e agora constitui a sua família em Altos de Lídice.

Uma das conquistas mais recentes foi a abertura de uma farmácia comunal, com doações recebidas de organizações sociais da Argentina, do Chile e do Brasil. No contexto da pandemia, para evitar aglomerações, uma das novas funções da brigada de saúde é recolher as receitas entregues pelo médico comunitário e levar os medicamentos disponíveis na farmácia comunitária até à casa dos moradores.


Com os problemas conhecidos de abastecimento de água na Venezuela – o serviço é intermitente em várias regiões do país e as áreas periféricas são as que mais sofrem –, uma das questões com que a comunidade se debatia era o de manter a prevenção ao coronavírus – que tem como uma das suas bases a lavagem das mãos.

Na Comuna Socialista Altos de Lídice, a comunidade construiu um reservatório no ponto mais alto da encosta para armazenar a água que corre da Cordilheira do Ávila, que contorna, a norte, toda a capital. Além disso, depois de pressão e diálogo, conseguiu que a empresa estatal Hidrocapital forneça mensalmente camiões-cisterna, que enchem outros reservatórios de água – colocados à disposição, sobretudo, das famílias que vivem nas partes mais baixas da encosta.

O médico Douglas Gutierrez reconhece a importância da articulação entre as estruturas públicas e o povo organizado. «Na Venezuela, se conseguirmos manter esse nível de consciência, prevenção e de educação, conseguiremos vencer a pandemia da Covid-19», frisou.

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