«Os goyim (não-judeus) nasceram para nos servir, apenas para servir o povo de Israel; sem isso não teriam lugar no mundo.»
(Ovadia Yosef, fundador e chefe do partido governamental israelita Shas)
Os árabes e muçulmanos… Sempre os árabes e muçulmanos culpados por tudo de mau que acontece aos judeus, a começar por quererem manter-se numa terra que não lhes pertence, uma vez que, voltando a citar o ex-primeiro-ministro israelita Naftali Bennet em 2022, «ainda vocês trepavam às árvores já nós tínhamos um Estado». Esta é uma das essências do sionismo e do seu racismo fundamentalista. Não é que existam formas benignas de racismo mas, tal como o regime de apartheid – cujo ideólogo, Cecil Rhodes, foi tão enaltecido pelo fundador do sionismo –, a teoria e prática em que assentam o Estado de Israel são um caso extremo e psicopata de racismo cultivado num ambiente doentio em que se cruzam aberrações teológicas, a crueldade mística e sádica emanando do Antigo Testamento, os mitos do «povo escolhido» e da «terra prometida» encarados como preceitos divinos a respeitar acima de quaisquer leis terrenas e das decisões tomadas pelos humanos não-judeus, que afinal existem «apenas para nos servir».
À resultante desta mistela de elucubrações tonificadas por uma ficção delirante na qual o ser humano que não seja «judeu» é a menor das preocupações do deus do sionismo, chama o Ocidente colectivo «a única democracia do Médio Oriente».
A função de Israel como um «polo da civilização no meio da barbárie», ou seja, o argumento que está na base do papel colonial e imperial geostratégico que o regime de Telavive continua a desempenhar, com a crueldade inerente, vem dos primórdios do sionismo; isto é, a componente mística e a nova cruzada na Palestina tiveram também no bojo os interesses económicos, financeiros e o controlo de rotas comerciais e matérias-primas dos poderes mundiais dominantes, na altura o Império Britânico. Não é por acaso que este assumiu o mandato internacional da Palestina, preparando o terreno para que o papel de colonizador transitasse para o sionismo.
Theodor Herzl especificou, no seu trabalho fundador, que um Estado judaico construído pelo sionismo será «um muro de defesa da Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie (…) pelo que a Europa deverá garantir a nossa segurança». Herzl tinha, por certo, veia de «profeta», embora sem o mérito dos de antanho porque o desfecho era previsível perante um quadro de relação de forças tão definido como o da época, tal como o actual – embora este seja bem mais periclitante. Aliás, Joseph Biden parece ter herdado uma costela de Herzl: nos anos oitenta, quando ainda não era guiado pelos auriculares e pelo teleponto, dizia que «o Estado de Israel se não existisse teria de ser inventado».
O sionismo não tem legitimidade para se apropriar da dor, morte e memória de todas as vítimas do Holocausto, muito menos de todos os seres humanos que pereceram sob a máquina de morte nazifascista. «Este país existe para cumprimento de uma promessa feita pelo próprio Deus. Seria ridículo pedir-lhe que prestasse contas da sua legitimidade» [Golda Meir, primeira-ministra de Israel (1969-1974)] Não é possível conhecer com autenticidade o Estado de Israel nem identificar o que permite a este país artificial e colonial continuar impune, apesar de praticar há 75 anos o genocídio de um povo e os mais atrozes crimes contra a humanidade, sem aprofundar o conhecimento sobre a doutrina sionista, a ideologia confessional, racista e supremacista que lhe deu origem e o sustenta. O sionismo não representa os judeus de todo o mundo; não representa o semitismo; não representa sequer a globalidade dos cidadãos de Israel. O sionismo não tem legitimidade para se apropriar da dor, morte e memória de todas as vítimas do Holocausto, muito menos de todos os seres humanos que pereceram sob a máquina de morte nazifascista. No entanto, o sionismo, uma ideologia antissemita, consegue manter o mundo de mãos amarradas apesar de a sua obra com maior impacto ser um Estado com pouco mais de meia dúzia de milhões de habitantes – uma percentagem significativa dos quais não são judeus, israelitas e muito menos sionistas, embora sejam semitas. O sionismo é uma doutrina com quase 150 anos que assenta no expansionismo, na limpeza étnica e substituição das populações em territórios distribuídos por uma área indefinida do Médio Oriente que há três milénios um «deus» solitário reservou para o povo por si «escolhido» com o objectivo de o instalar depois de uma fuga do Egipto, onde supostamente era tratado como escravo por um faraó não identificado, e de vaguear 40 anos pelo deserto. Nada disto tem comprovação histórica factual, emana apenas do Antigo Testamento bíblico e da Tora hebraica. Esta é a base mística e mítica do sionismo, dogmatizada segundo ficções de um confessionalismo que, embora semi-escondido tacticamente nos tempos de criação da doutrina, fundamenta hoje, quase por inteiro, o regime terrorista de Israel. Existe, porém, outro lado da moeda; nos finais do séc. XIX o fundador do sionismo, o jornalista judeu austríaco Theodor Herzl, já considerava essencial construir «um muro de defesa da Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie». Ou, como diria o actual presidente dos Estados Unidos da América, Joseph Biden, nos anos oitenta do século passado, «se Israel não existisse teria de ser inventado». O sionismo é, portanto, uma doutrina criada com base em ficções religiosas para aplicar uma estratégia de colonização, de limpeza étnica e de genocídio dos «bárbaros», também eles semitas; além disso, cumpre uma missão civilizacional a realizar por um povo «escolhido por Deus», superior a todos os outros – que «existem para o servir». Povo esse que se guia apenas pelas leis divinas e só presta contas ao Senhor. Quando actualmente algum político ou diplomata deseja a saída de Benjamin Netanyahu da chefia do governo israelita como via para terminar a carnificina em Gaza não expressa mais do que um voto piedoso. Israel rege-se actualmente, talvez como nunca, pelo fundamentalismo religioso sionista, que determina a expulsão dos árabes da «Terra de Israel» – um território sem fronteiras estabelecidas onde os governantes não têm de obedecer às leis terrenas. «Sou contra o direito, o direito internacional, o direito em geral», explica a ex-ministra da Justiça israelita, a jurista Tzipi Livni. Netanyahu é, como se percebe, uma peça de uma engrenagem monstruosa que em nada depende dele para funcionar. Vamos então conhecer um pouco melhor esta doutrina, o sionismo, que mantém o mundo de mãos amarradas, apesar de lhe passarem à frente dos olhos as imagens do extermínio sistemático de um povo, e cujo papel na trágica realidade montada em Israel é frequentemente subvalorizado. A frase que se reproduz no início deste texto foi proferida pela antiga primeira-ministra de Israel e uma figura de culto do sionismo, Golda Meir, numa entrevista ao jornal Le Monde. Golda Meir não era religiosa, ou pelo menos assim se definia; foi fundadora da central sindical Histadrut em 1928 e chefiou durante anos o partido Mapai, depois Partido Trabalhista, a fracção dita socialista do sionismo. Considerada a primeira «dama de ferro» da política internacional, pois saiu de cena em Israel quando Margaret Thatcher entrou ao serviço no Reino Unido, Golda Meir foi transformada em mito pelo aparelho de propaganda sionista funcionando a partir de Hollywood através de um filme épico produzido em 2023, ano em que Israel iniciou em Gaza a maior expressão da selvajaria humana desde as carnificinas de Hitler. «Talvez possamos perdoar aos árabes por terem matado os nossos filhos, mas para nós será mais difícil perdoar-lhes por nos terem obrigado a matar os seus filhos», outra frase lapidar da antiga primeira-ministra de Israel que muito nos ajuda a entender a essência desumana e hipócrita do espírito sionista e, desde logo, permite estabelecer uma dissociação absoluta entre essa doutrina racista e genocida e o judaísmo enquanto povo, cultura e religião. Dizia ainda Golda Meir que «os palestinianos não existem», porque «existem apenas árabes»; e que, por isso, «como é que podemos devolver os territórios ocupados se não existe ninguém para recebê-los?» «Talvez possamos perdoar aos árabes por terem matado os nossos filhos, mas para nós será mais difícil perdoar-lhes por nos terem obrigado a matar os seus filhos.» Golda meir, antiga primeira-ministra de Israel Há poucos dias, o Knesset (Parlamento israelita) aprovou por larga maioria uma decisão segundo a qual Israel nunca permitirá a existência de um Estado palestiniano, desafiando assim o mundo e o direito internacional. Ontem como hoje, com a trabalhista Golda Meir ou o direitista (partido Likud) Netanyahu, o Estado de Israel, a imagem viva do sionismo, coloca-se numa plataforma acima das coisas terrestres, na qual vive «o povo eleito», ao qual compete interpretar e cumprir as ordens dos poderes divinos. «É verdade, há a justiça, mas depois existe a justiça hebraica», proclamava Golda Meir nos anos setenta do século passado. Uma formulação que, cinco décadas depois, foi retomada, usando outras palavras, por uma ex-ministra da Justiça de Ariel Sharon e Netanyahu, Tzipi Livni, muito querida de brilhantes palradores da nossa praça: «Sou jurista mas sou contra o direito, o direito internacional em particular, o direito em geral». Sobra, deste modo, o direito divino, «a lei de Deus», aquela segundo a qual se rege o Estado de Israel e que, em perfeita sintonia com a crueldade do Antigo Testamento – como acontece sob os nossos olhos – permite as limpezas étnicas, o extermínio e o genocídio. Os sionistas são quem melhor explica o sionismo. Não é uma aprendizagem fácil, porque a doutrina, sendo coerente nas suas finalidades e aplicação, está longe de ser linear devido às suas cambalhotas ideológicas; muitas vezes perdemo-nos entre a mistificação e a realidade, os princípios e o oportunismo, na deriva entre o determinismo religioso, a escatologia e a substância geoestratégica, mais prosaicamente, entre a verdade e a mentira. «Pode mentir-se no interesse de Israel», máxima proclamada por Isaac Shamir, operacional terrorista com responsabilidade em assassínios selectivos - designadamente do conde Folke Bernardotte, mediador entre árabes e israelitas em nome da ONU, nos anos 1947/48 – e que chegou a primeiro-ministro na segunda metade dos anos oitenta. «Os sionistas são quem melhor explica o sionismo. Não é uma aprendizagem fácil, porque a doutrina, sendo coerente nas suas finalidades e aplicação, está longe de ser linear devido às suas cambalhotas ideológicas (...).» Três das mistificações fundadoras do sionismo desenvolveram-se, e entranharam-se, ao longo do século XX e repercutem-se de forma agravada e intencionalmente irreversível nos dias de hoje, em que Israel está contra o mundo e o mundo tudo lhe permite. É falso que o sionismo seja uma doutrina secular; que tenha como princípio fundador promover o «regresso» do povo judaico à «terra prometida»; e que represente o judaísmo, a religião judaica, a etnia e cultura hebraicas. Essas três falsidades são, por sua vez, os pilares do monstruoso sistema de propaganda sionista manobrando nos principais centros de comunicação globalista e nas centrais de entretenimento, muito especialmente no império de Hollywood. Ainda que o trabalho teórico do jornalista judeu austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904), considerado o fundador do sionismo político, não admita abertamente o carácter religioso da doutrina, o mito bíblico da «terra prometida» alimentou a sua fundamentação desde os primeiros passos, pelo menos logo que em 1908 se iniciaram as compras de terras árabes no território da Palestina sob controlo otomano, designadamente para criar os tão «românticos» como expansionistas e colonizadores kibutz «socialistas». Os embriões das legiões e dos grupos terroristas que estiveram, posteriormente, na origem do Estado de Israel surgiram nessa altura, para forçar os árabes mais renitentes a «vender» as suas terras. O artifício propagandístico proclamando o objectivo de «regresso à terra prometida» foi idealizado na reunião sionista de Basileia em 1897, frequentada pelas elites judaicas endinheiradas da Europa – interligando então esse conceito com o da génese sionista, conferindo à doutrina um inquestionável conteúdo religioso. Na realidade não havia qualquer laivo de inocência ou de consciência progressista neste movimento. Theodor Herzl fora claro quanto às intenções de ocupação e expansão quando em 1900 recomendou que se «incitasse a população desfavorecida (da Palestina) a passar a fronteira, privando-a de trabalhar na nossa pátria». Herzl fez gala em identificar como uma das suas fontes de inspiração a figura de Cecil Rhodes, o criador das doutrinas de «desenvolvimento independente», eufemismo de apartheid, na África Austral, que ele qualificou como «um visionário». A associação entre sionismo e racismo vem, portanto, dos primórdios da doutrina e do edifício teórico-prático montado pelo seu fundador. «O artifício propagandístico proclamando o objectivo de "regresso à terra prometida" foi idealizado na reunião sionista de Basileia em 1897, frequentada pelas elites judaicas endinheiradas da Europa – interligando então esse conceito com o da génese sionista, conferindo à doutrina um inquestionável conteúdo religioso.» Desde o início do século XX estava em campo, de maneira particularmente activa, a família de banqueiros Rothschild, de origem judaica alemã, que patrocinou a compra directa ou por interpostas pessoas e entidades, driblando as autoridades otomanas, de grandes áreas das terras palestinianas. Cerca de 20 mil hectares passaram para as mãos de imigrantes sionistas entre 1908 e 1914; algumas fontes afirmam que cerca de 20% das terras férteis da Palestina estavam em mãos dos colonizadores já em 1918. Em 1917, entretanto, o governo britânico, a quem a elite sionista pedira apoio para o processo de colonização, formulou a famosa Declaração de Balfour (do nome do ministro dos Negócios Estrangeiros, Arthur Balfour) prometendo o apoio de Londres à criação de um «Lar Nacional» judaico na Palestina. Lord Balfour era um assumido antissemita; não estamos, porém, perante uma ironia histórica: esse foi mais um passo da longa e entranhada cooperação entre o sionismo e o antissemitismo que contribuiu para moldar a fundação e desenvolvimento do Estado de Israel; e que teve um marco fundamental na colaboração comprovada entre organizações e dirigentes sionistas e estruturas ao mais alto nível do fascismo mussoliniano e do nazismo hitleriano, como iremos perceber. Theodor Herzl levantara o véu ao qualificar Cecil Rhodes, pai do apartheid, como um visionário. A pegada racista ficou registada na génese e desenvolvimento do sionismo e não mais se extinguiu, antes se foi reforçando ao longo das décadas pré e pós-Israel até chegarmos aos dias de hoje, afirmando-se como pilar fundamental do regime terrorista de Benjamin Netanyahu. Menahem Begin foi um dos mais renomados chefes de grupos terroristas como o Irgun e de milícias sionistas como a Betar – em seu tempo um batalhão da marinha fascista de Mussolini – que em 1977 chegou a primeiro-ministro do Estado de Israel. Uma vez no cargo, onde se distinguiu pela sangrenta invasão do Líbano, o cerco de Beirute e os massacres de Sabra e Chatila no Verão de 1982, apoiando-se no criminoso de guerra Ariel Sharon como chefe das forças armadas, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. A distinção deveu-se, oficialmente, à assinatura de um tratado com o Egipto de Anwar Sadat, em 1977, celebrado à custa dos interesses e direitos do povo palestiniano. «Os palestinianos são animais que caminham sobre duas patas», definiu o Nobel Menahem Begin, um dos mais históricos dirigentes do Estado sionista, esse nosso imprescindível «aliado», uma ilha do Ocidente entre os bárbaros do Médio Oriente, aliás a «única democracia» na região. Um sucessor de Menahem Begin, Naftali Bennet, primeiro-ministro nos anos de 2021 e 2022, cumprimentou os participantes palestinianos numa sessão de «negociações» informando-os de que «ainda vocês trepavam às árvores já nós tínhamos um Estado». O sionismo é uma forma de racismo. Não, esta asserção não é uma manifestação de antissemitismo. O racismo do sionismo começa dentro do próprio «semitismo» ao apropriar-se do conceito de semita em detrimento de todos os outros povos da mesma condição étnica, designadamente os árabes. O sionismo é racista e segregacionista dentro do próprio universo hebraico. A sociedade israelita está estratificada consoante a «pureza» das origens judaicas. À cabeça estão os asquenaze, oriundos da Europa Central e de Leste, os europeus inventores do sionismo e que o conduzem desde os primórdios, com repercussões praticamente totalitárias nos órgãos de decisão do Estado de Israel. A Assembleia Geral da ONU adoptou, de forma esmagadora, a resolução que a Rússia apresenta há vários anos contra a «glorificação do nazismo», que voltou a não contar com o apoio dos países da NATO. Por iniciativa da Rússia, a resolução «Combater a glorificação do Nazismo, Neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada» foi aprovada esta quinta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com 130 votos a favor, dois votos contra (EUA e Ucrânia) e 49 abstenções. Entre as abstenções, inclui-se a de Portugal, a dos estados-membros da União Europeia e dos países que integram a NATO. A resolução proposta pela Rússia apela aos estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que «eliminem todas as formas de discriminação racial por todos os meios adequados», incluindo a via legislativa, e expressa «profunda preocupação sobre a glorificação, sob qualquer forma, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS». De acordo com uma nota publicada no portal na ONU, o texto refere-se, também, à «construção de monumentos e memoriais», e à «celebração de manifestações em nome da glorificação do passado nazi, do movimento nazi e do neonazismo» – algo que ocorreu nos últimos anos em países como a Ucrânia, a Letónia, a Estónia, a Lituânia e a Polónia. Grigory Lukiantsev, director-adjunto do Departamento de Cooperação Humanitária e Direitos Humanos do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, disse que a adopção da resolução será um contributo real para a erradicação do racismo e da xenofobia, refere a TASS. Cerca de mil pessoas participaram no desfile do Dia do Legionário em homenagem aos mais de 140 mil letões que integraram unidades nazis. A diplomacia russa classificou a marcha como uma «vergonha». O Dia do Legionário, a 16 de Março, é assinalado na Letónia desde os anos 90, para homenagear e evocar aqueles que fizeram parte da Legião da Letónia na Waffen Schutzstaffel (Tropa de Protecção Armada, mais conhecida como Waffen-SS). A marcha deste ano, em Riga, contou com a participação de alguns veteranos legionários, que integraram a 15.ª e a 19ª divisões de Granadeiros da Waffen-SS, bem como de apoiantes e neonazis. O evento anual, que tem sido criticado a nível internacional como uma forma de «glorificação do nazismo», também mereceu oposição interna, com alguns manifestantes a exibirem cartazes em que classificavam a Legião como uma «organização criminosa» e a lembrar que «lutaram ao lado de Hitler», segundo refere o periódico Haaretz. A Embaixada da Rússia no país do Báltico condenou a marcha de homenagem aos legionários da Waffen-SS, que classificou como «uma vergonha». Na sua conta oficial de Twitter, a Embaixada afirmou, no sábado: «Que vergonha! Veteranos da Waffen-SS e apoiantes estão novamente a marchar com honra no centro de uma capital europeia. E isto acontece na véspera do aniversário dos 75 anos da libertação de Riga dos invasores nazis!» Também a Embaixada da Rússia no Canadá se manifestou no Twitter contra o desfile realizado em Riga: «Veteranos da Waffen-SS nazis e apoiantes marcham desafiantes e livremente no dia 16 de Março em Riga, Letónia, recohecidos pelas autoridades como heróis nacionais. Uma realidade ignorada por muitos no Ocidente que não pode ser descartada como "propaganda do Kremlin".» A Waffen-SS, que foi criada como um ala armada do Partido Nazi alemão, foi considerada uma organização criminosa nos julgamentos de Nuremberga, após a Segunda Guerra Mundial, pela sua ligação ao Partido Nazi e envolvimento em inúmeros crimes de guerra e contra a Humanidade. A Legião da Waffen-SS da Letónia foi fundada em 1943. Muitos dos seus membros viriam a integrar depois, juntamente com combatentes da Lituânia e da Estónia, os chamados Irmãos da Floresta, que até 1953 lutaram contra as tropas soviéticas nos países bálticos. Em Julho de 2017, a NATO publicou um vídeo que apresenta, com visível dose de heroísmo, essa guerrilha anti-soviética, sem mostrar grande preocupação pelo facto de, nessas forças, estarem integrados muitos legionários das SS nazis ou os que, nos países bálticos, haviam colaborado com as forças invasoras nazi-fascistas. Então, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, pediu que «se veja com respeito as páginas trágicas da história e se repudie tão repugnante acção da Aliança Atlântica». Disse ainda esperar que «não seja necessário recordar os assassinatos massivos perpetrados por muitos dos membros dos Irmãos da Floresta». Por seu lado, a representação da Rússia junto da NATO considerou que o material fílmico constitui uma nova tentativa de reescrever a história, para a colocar de acordo com os processos políticos nas ex-repúblicas socialistas do Báltico, onde prolifera o neofascismo e o nacionalismo. Moscovo tem reafirmado a sua preocupação sobre o surgimento de grupos neonazis e acerca de políticas que glorificam colaboradores com o nazismo na Ucrânia, na Polónia e nos Estados Bálticos – países onde, refere a agência Sputnik – são frequentes as marchas em louvor de destacadas figuras fascistas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Acrescentou que o texto sublinha a inadmissibilidade de «glorificar os envolvidos nos crimes do nazismo, incluindo o branqueamento de ex-membros da organização SS e das unidades Waffen-SS, reconhecidas como criminosas pelo Tribunal de Nuremberga». A representação diplomática dos Estados Unidos junto das Nações Unidas tem votado sempre contra a resolução apresentada pela Rússia, alegando que se trata de um documento que legitima as «narrativas de desinformação russa» e «denigrem os países vizinhos sob a aparência cínica de travar a glorificação do nazismo». No contexto da votação realizada há um ano, o embaixador norte-americano afirmou ainda que a resolução é contrária ao «direito de liberdade de expressão», a que também os «nazis confessos» têm direito, tal como estipulado pelo Supremo Tribunal dos EUA. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Os sefarditas são os judeus originários do Médio Oriente – designados «sabra» em Israel – do Norte de África e da Península Ibérica. Seguem-se os iemenitas, muito abaixo na escala; e os etíopes, os falacha, os «judeus pretos». Que são muito úteis, porém, quando integrados em sectores avançados das tropas e polícias de choque, encarregados dos «trabalhos» mais selváticos. Arthur Rupin, um eminente sionista que dirigiu a colonização da Palestina entre 1908 e os anos trinta do século passado, elaborou a estratificação social e étnica entre os judeus que ainda hoje é uma característica da sociedade israelita. Escreveu Rupin: «Como queremos desenvolver o que é judeu na Palestina é desejável que os judeus de raça venham para a Palestina». Nesse espírito, definiu a hierarquia da raça: «Europa Oriental, raça pura; iemenitas (na época também conhecidos por piolhosos) – para empregos subalternos; etíopes – a excluir». Arthur Rupin não é um marginal. A gestão da colonização da Palestina durante quase 30 anos não é tarefa que se entregue a um arrivista. Este teórico racista dá nome a ruas em várias cidades israelitas e a sua efígie foi estampada em selos postais. Além disso, as suas ideias segregacionistas foram cotejadas com as de outros credenciados teóricos insuspeitos quanto à genuinidade das teses. Em plenos anos trinta, Arthur Rupin deslocou-se à cidade alemã de Iena para se encontrar com Hans Gunther, o teórico nazi dos temas raciais, e ambos concluíram que tinham identidade de pontos de vista. Pode argumentar-se que a época era outra, os conceitos sobre «raças» foram evoluindo e dissolvendo-se ao ritmo de princípios e causas que os tornaram anacrónicos, principalmente depois da tragédia da Segunda Guerra Mundial. Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem a maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, posicionando-se acima da lei como um dom natural. «Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias» (Prof. Arnon Soffer, demógrafo sionista, conselheiro governamental, ícone das elites académicas de Israel) A primeira opção está em andamento; a segunda não pode ser descartada enquanto a ameaça de um ministro de Netanyahu sobre o lançamento de uma bomba nuclear em Gaza não for convincentemente desmentida e afastada. O comportamento do primeiro-ministro depois das palavras do seu ministro da Herança de Israel, Amichai Eliahu, não foi dissuasor, principalmente sabendo nós que está em campo uma horda de sociopatas que têm pela vida dos não-sionistas um olímpico desprezo. Não se pense, porém, que a hipotética queda do governo de Netanyahu, tão apregoada e aparentemente tão desejada, no exterior, mas longe de consumada – provavelmente amanhã não será a véspera desse dia – iria resolver o problema e pacificar a região ou, pelo menos, tolerar um cessar-fogo em Gaza. O que concluiremos se consultarmos um artigo do experiente Thomas Friedman no New York Times. Citando um «alto funcionário dos Estados Unidos», o subscritor do texto garante «que os líderes militares israelitas são agora, na verdade, mais agressivos do que o primeiro-ministro; estão vermelhos de raiva e determinados a dar um golpe no Hamas que toda a vizinhança nunca esquecerá». Tenhamos em conta, olhando para o que se passa em Gaza, o que os chefes militares sionistas entendem por «golpe no Hamas», que afinal se transformou numa catástrofe para centenas de milhar de civis. Se recuarmos um pouco no tempo, ao primeiro lustre deste século, encontraremos congeminações sobre a «solução final» para Gaza que nos aproximam da realidade em que vivemos. O prof. Arnon Soffer, um ícone da elite académica sionista, fundador da Universidade de Haifa, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, geógrafo, especialista em «ciências ambientais» e demógrafo, actuou como conselheiro do primeiro-ministro Ariel Sharon nos primeiros anos do século. Soffer foi um dos autores e defensores da política adoptada pelo governo sionista a partir de 2007: retirada dos colonos, cerco e bloqueio da Faixa de Gaza. «O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à "finalidade", podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da "solução final"» Os seus escritos de 2004, transcritos na imprensa israelita da época, são proféticos em relação aos dias de hoje e contêm implicitamente a necessidade de extermínio ou de limpeza étnica, tal como a que está em curso, para travar «um banho de sangue perpétuo». Escreveu o emérito prof. Arnon Soffer: «Quando 2,5 milhões vivem numa Gaza fechada» – uma ideia do próprio, como já vimos – «será uma catástrofe humana. Essas pessoas tornar-se-ão animais mais do que já são hoje. A pressão na fronteira será terrível. Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos, teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias. A única coisa que me preocupa é como garantir que os meninos e homens que terão de fazer a matança possam voltar a casa, para as suas famílias, e serem seres humanos normais». Assim foi a dissertação de um ilustre membro da academia sionista, conselheiro de primeiros-ministros, um qualificado demógrafo – é impossível pôr em dúvida a qualidade do seu saber na matéria – e, naturalmente, professor da Escola de Defesa Nacional. O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à «finalidade», podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da «solução final». Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo, sobretudo à medida que vai abandonando as ficções «seculares» para se fixar no carácter fundamentalista religioso e messiânico? Uma mentalidade transtornada dando origem a comportamentos inerentes a um regime confessional e de apartheid, considerando como animais todas as pessoas que estejam no exterior desta casta de eleitos ou, na melhor das hipóteses, seres humanos de segunda? Não se trata de casos isolados. Imediatamente antes do início da invasão de Gaza, os altos comandos militares sionistas escolheram um idoso militar, Ezra Yachin, para proferir uma alocução mobilizadora das tropas prestes a entrar em acção. Yachin, com 95 anos, foi membro do grupo terrorista Lehi que, por exemplo, em 9 de Abril de 1948 executou a tristemente célebre chacina da aldeia palestiniana de Deir Yassin, nos arredores de Jerusalém, da qual restou um monte de escombros. Mais de cem pessoas, sobretudo mulheres e crianças, foram exterminadas. Diz-se que a história não se repete, mas Israel é uma entidade com grandes poderes, inesgotáveis capacidades e insanidade de sobra para desmentir o aforismo: Deir Yassin e umas centenas de outras aldeias e cidades em 1948/49; Sabra e Chatila em Beirute em 1982; Gaza em 2023 são exemplos uma sucessão, uma extensa cronologia criminosa de mais de 75 anos onde o agente comum é o terrorismo de Estado sionista. «Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo (...)?» Ezra Yachin não desmereceu do seu passado e da sua fama. Na exortação às tropas incitou: «sejam vencedores, acabem com eles, não deixem ninguém para trás. Apaguem a sua memória, apaguem-nos a eles, às suas famílias, mães e filhos. Esses animais não podem continuar a viver. Todos os judeus deveriam empunhar uma arma e matá-los. Se têm um vizinho árabe não esperem, vão até casa dele e disparem.» Em boa verdade, esta linguagem é uma escola. Netanyahu disse mais ou menos o mesmo, embora escondido na simbologia dos ditos atribuídos ao profeta Samuel. Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia. São planos e programas emanados de entidades e pessoas da área governamental, revelando-nos que pelo menos a primeira fase da operação já está em curso, sob os olhares benevolentes – logo cúmplices – do «mundo ocidental». Benevolência que encontramos, por exemplo, no ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que, perante o assassínio em Gaza de três cidadãos luso-palestinianos, dois dos quais crianças, se limitou a manifestar o seu «desgosto» às autoridades israelitas. Só lhe faltou pedir desculpa pelo incómodo. «Alternativa para uma Directiva Política destinada à população civil em Gaza» é o título de um plano de limpeza étnica elaborado pelo Ministério da Inteligência de Israel. Propõe três alternativas num processo que permita ao Estado sionista «precaver-se através de uma mudança significativa da realidade civil». Duas delas, a A e a B, são liminarmente descartadas. Previam a «extensão da governança da Autoridade Palestiniana (‘Malévola para Israel’) a Gaza», medida recentemente defendida pelo presidente dos Estados Unidos mas para a qual Netanyahu e o seu governo têm orelhas moucas; ou «fomentar a governança árabe local». Nenhuma delas, segundo os autores, «garante a segurança de Israel», não são dissuasoras para o Hezbollah libanês e, sobretudo, representam uma «perda estratégica para Israel», porque a divisão entre Gaza e a Cisjordânia – razão pela qual o regime sionista apoiou a criação do Hamas – «é um dos principais entraves ao estabelecimento de um Estado Palestiniano». As hipóteses consideradas liminarmente sem viabilidade foram expostas para deixar a sensação de que os autores do documento reflectiram sobre outras perspectivas de «solução» além da limpeza étnica. Em relação à hipótese A, extensão do governo da Autoridade Palestiniana a Gaza, os autores do plano consideram-na «a mais arriscada» porque «seria uma vitória sem precedentes do movimento nacional palestiniano». A alternativa C propõe «a evacuação da população civil de Gaza para o Sinai». É a que «produz resultados estratégicos positivos e de longo prazo», exigindo, no entanto, «determinação diante da pressão internacional, com ênfase na importância de reunir apoio dos Estados Unidos e outros países pró-Israel». «Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia.» Sugere o Ministério da Inteligência que sejam erguidas «cidades de tendas» numa «área de reassentamento no Norte do Sinai». Também nessa fase deverá ser criado «um corredor humanitário» para «ajudar a população civil de Gaza» a chegar o destino traçado pelo terrorismo de Estado israelita. O processo prevê uma «zona de terra de ninguém» de vários quilómetros no interior do território do Egipto, de modo a que «a actividade e a residência perto da fronteira israelita (Gaza sob ocupação sionista) não sejam permitidas». No interior do «nosso território» (Gaza) «deverá ser estabelecido um perímetro de segurança». A primeira fase do «desenvolvimento operacional» da «opção C» do documento estabelece o «apelo à retirada da população» da zona de combate» entre Israel e o Hamas, reforçado com «operações aéreas focadas no Norte de Gaza de modo a permitir a manobra terrestre na zona evacuada sem obrigar a combates em zonas civis densamente povoadas». A semelhança desta recomendação com a realidade de hoje não é, portanto, uma coincidência. Na fase seguinte acontecerá a «ocupação total» do território, ao mesmo tempo que os bunkers e túneis «são limpos de combatentes do Hamas». «É importante», acrescenta-se no documento, que «sejam desobstruídas as rotas de transporte para sul, de modo a permitir a evacuação». Analisando este programa, deduz-se então que o primeiro passo da limpeza étnica já está em prática. A pressão terrorista e propagandística do sistema político-militar sionista tem como objectivo assumido a transferência das populações do Norte de Gaza para o Sul, onde ficam muito mais perto da passagem para o Egipto, no posto de Rafah. O que o documento não assume, no seu criminoso e asséptico cinismo, é que as pessoas em êxodo para o Sul continuam a ser bombardeadas como se estivessem ainda no Norte. Sob estas práticas assassinas, muitos milhares de pessoas nem sequer chegarão ao Sinai. Cerca de 46% das vítimas mortais registam-se entre deslocados em movimento para o Sul, ou mesmo já nesta região. Segundo os serviços da ONU, o número total de desalojados e deslocados ultrapassa já o milhão e meio de pessoas, entre 2,3 milhões de habitantes, cerca de 65% da população do território, isto é, aproximadamente dois terços. Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação. Existe mesmo uma «unidade encarregada de estudar como contornar o direito internacional». O chefe da entidade, David Reisner, explica que «estamos a ser testemunhas de uma revisão do direito internacional: se fizermos uma coisa durante o tempo suficiente, o mundo aceitá-la-á». E cita como exemplo o ataque terrorista cometido pela aviação israelita em 1981 contra o reactor nuclear de Osirak, no Iraque: «Então a atmosfera era a de que Israel tinha cometido um crime; hoje diz-se que foi um acto legítimo de defesa preventiva. O direito internacional progride através de violações», conclui. Embora não fosse essa a intenção, Reisner fez uma das melhores definições da «ordem internacional baseada em regras» pela qual se rege o chamado «mundo ocidental» e «civilizado». «Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação.» O Ministério da Inteligência propõe então que a transferência da população de Gaza seja apresentada como uma «migração em massa», tal como as que decorreram e continuam, por exemplo, nas guerras da Síria e do Afeganistão. Nessa perspectiva, «são um resultado natural e necessário, dados os riscos associados à permanência numa zona de guerra». São, igualmente, «um método aceite para salvar vidas». Estas migrações relacionadas com outros conflitos, porém, não eliminaram o direito dos refugiados ao regresso, quando existirem condições para isso; o que não acontece aos palestinianos: Israel proíbe-os de voltarem às suas terras de origem, violando o direito internacional, o que, como acabámos de ver, não é problema. Os autores do plano olham ainda para mais longe. Se os países citados no «Anexo A» do documento aceitarem os «refugiados» palestinianos de Gaza, a operação pode «ganhar maior legitimidade» porque passará a haver «uma população integrada em quadros estatais e com nova cidadania». A principal «vantagem», desde sempre pretendida por Israel, não a encontramos exposta no documento: a da esperança de que a nova cidadania de cada «deslocado» elimine a sua condição de «palestiniano». Assim, deixa de haver palestinianos na Palestina e também nos países do mundo onde forem recebidos e integrados. Fim da história para o problema israelo-palestiniano. O plano parece ter imensas «vantagens estratégicas»: uma «dissuasão significativa em toda a região», uma «forte mensagem ao Hezbollah», o «apoio dos países do Golfo» uma vez liquidado o Hamas, «um golpe significativo e inequívoco na Irmandade Muçulmana» e mais um piscar de olhos ao Cairo: fortalecerá «o domínio egípcio no Norte do Sinai» – o que parece um contra-senso, quando o que está em causa é o acolhimento de toda uma população estrangeira chegada de um outro território. Eis o «novo Médio Oriente» de que fala Benjamin Netanyahu ao transformar Gaza «numa ilha deserta». A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático. O que está em curso há mais de setenta anos contra o povo palestiniano é um genocídio. Bárbaro. Impune. Ignorado. Branqueado por uma «comunidade internacional» que repudia o próprio direito pelo qual deveria guiar-se; e por uma comunicação social absorvente e totalitária que tomou conscientemente o partido dos genocidas, pelo que chega ao comportamento perverso de acusar as vítimas de práticas terroristas. Os acontecimentos sucedem-se e atropelam-se em contínuo, muitos denunciados pelas próprias vítimas ou por aqueles que, desafiando as altas probabilidades de virem a ser acusados de antissemitismo ou de serem autores de execráveis delitos de opinião, não calam os crimes tornados banais e, sempre que possível, silenciados ou mistificados pelo sistema de censura mainstream. Há um sentido único na barbárie desde que, há 71 anos, foi proclamado o Estado de Israel como fruto de imigração em massa de populações oriundas de vários países, sobretudo da Europa e da América do Norte, muitas fugidas de um outro genocídio, o Holocausto, a generalidade invocando preceitos e direitos de índole antropológica, histórica e religiosa que não cabem na teia de normas e leis pelas quais seria suposto regerem-se os Estados, as nações e os povos. 8 milhões de palestinianos recenseados, dos quais apenas 3 milhões vivem na Palestina Um genocídio – o Holocausto – acabou por servir de pretexto a outro – a Nakba, a «catástrofe», em árabe – por via dos que, invocando as vítimas do primeiro, se transformaram em algozes do segundo. Uma mistificação gigantesca de consequências arrasadores para os direitos humanos, com a particularidade perversa de se consumar em nome dos direitos humanos, da democracia, da liberdade e da civilização. A relação de causa e efeito entre o Holocausto e a Nakba não era automática, mas o primeiro ministro de Israel em funções, Benjamin Netanyahu, acabou por estabelecê-la, tornando-a oficial para os escritores da História na perspectiva dos vencedores. Foi ele quem afirmou que Hitler originalmente não defendia a «solução final» para os judeus, mas foi convencido a consumá-la pelo Grande Mufti de Jerusalém, a autoridade religiosa da comunidade muçulmana da Palestina. Moral da história: os palestinianos muçulmanos incentivaram a matança dos judeus pelo que é justo serem castigados. «O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de "autonomia" formal» O genocídio do povo palestiniano é praticado ao compasso de mistificações em cadeia aliando a política, a diplomacia, as próprias história e geografia, num discurso de propaganda como que hipnotizando a chamada «comunidade internacional». A qual, com uma espécie de consciência de culpa do Holocausto, permite que esta tragédia seja manipulada com múltiplos objectivos coloniais, mesmo os mais perversos e desumanos. A operação de genocídio é sistemática e decorre de maneira impune. Desde a mistificação básica do sionismo, «um povo sem terra para uma terra sem povo» – a Palestina, uma entidade com uma história longa e rica de quatro mil anos – que a limpeza étnica dos palestinianos é executada em contínuo por duas vias: em vagas, criando ou aproveitando oportunidades históricas; e passo-a-passo, dia-a-dia, através de uma teia elaborada de pretextos e medidas arbitrárias travestidas de leis que o sionismo internacional e o seu ramo que gere o Estado de Israel puseram em funcionamento à margem e contra o direito internacional. A primeira vaga aconteceu há 71 anos, quando as organizações terroristas das comunidades imigrantes derrotaram os exércitos árabes na Palestina e proclamaram o Estado de Israel. Mais de 700 mil palestinianos foram chacinados e expulsos de Israel, enquanto as suas comunidades funcionando em aldeias, vilas e cidades foram arrasadas, apagadas do mapa. Este massacre é assinalado como o início da Nakba. Com essa ofensiva terrorista, os dirigentes sionistas impuseram a primeira grande derrota às Nações Unidas na questão da Palestina, sabotando desde logo o «plano de partilha» de 1947, que previa a divisão do território em duas áreas étnicas – de maioria hebraica e de maioria árabe – ocupando Israel uma superfície da Palestina bastante superior à prevista no documento da ONU. Na guerra de 1967, ou dos «Seis Dias», Israel expulsou as administrações egípcia e jordana de Gaza, da Margem Ocidental do Jordão e de Jerusalém Leste, ocupando esses territórios; a própria guerra e as pressões terroristas provocaram um novo êxodo de populações palestinianas para os países vizinhos. «Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados» Israel deu então verdadeiramente início a um novo processo de anexação de territórios e de limpeza étnica sistemática, o da construção de colónias nos territórios ocupados. Com ela incentivou novas vagas de imigração hebraica, nas quais as correntes ortodoxas e fundamentalistas religiosas foram dominantes. As consequências da estratégia são cada vez mais visíveis nos dias de hoje pela maneira como essas correntes dominam a gestão sionista em Israel – não hesitando, sequer, em assumir constitucionalmente um regime de apartheid étnico e religioso. A colonização, conjugada com o carácter militar e terrorista da ocupação e com os meios de segregação físicos – o muro de Jerusalém e da Cisjordânia e a cerca de Gaza – está na origem de uma balcanização dos territórios ocupados e do êxodo constante de palestinianos. Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade. A transformação do Processo de Paz iniciado com as negociações de Oslo de 1993 num «processo de paz» eterno e de imposição da rendição da principal força nacionalista da resistência palestiniana, a Fatah, tornou ainda mais débil e menos organizada a oposição dos palestinianos à limpeza étnica. A partilha das funções administrativas da chamada «autonomia» palestiniana entre a Fatah e o Hamas, grupo que tem na sua génese histórica o veneno do patrocínio israelita para dividir os movimentos de resistência cívica (Intifadas), foi um golpe profundo assestado pelo sionismo em comunhão com o establishment norte-americano e beneficiando da cumplicidade da chamada «comunidade internacional» – neste caso actuando como um todo através de uma entidade farsante, o «Quarteto para a Paz no Médio Oriente», nova e flagrante derrota das Nações Unidas. A limpeza étnica da Palestina não se resume à substituição da população autóctone por contingentes imigrados. Tem uma componente menos abordada e que reforça a oposição ao retorno dos refugiados, um direito estabelecido nas normas da ONU: devastar comunidades de palestinianos nos países vizinhos. Não se trata de eliminá-las pura e simplesmente, mas de manter sobre elas a pressão terrorista e de instilar a convicção de que o regresso será impossível, por isso mais vale desistir e deixarem-se assimilar pelos países de acolhimento – tornando eternos os campos de refugiados. As invasões israelitas do Líbano desde o início dos anos oitenta do século passado visaram permanentemente as zonas habitadas por palestinianos – e dessa sanha ficou como símbolo o massacre de civis, sobretudo idosos e crianças, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos subúrbios de Beirute, em Setembro de 1982. O jornalista suiço Pierre-Pascal Rossi (1943-2016) teve a coragem de se comover em frente às câmaras, antes de conduzir os espectadores, durante dois longos e dolorosos minutos, pelo inferno dos massacres realizados em Sabra e Chatila pelas milícias fascistas (falangistas) aliadas de Israel, com a cumplicidade do exército israelita. «Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade» O novo modelo colonial instaurado pelos Estados Unidos no Médio Oriente, através das guerras iniciadas por George W. Bush, contém perseguições organizadas e chacinas em zonas de refugiados palestinianos tanto no Iraque como na Síria. Tratam-se de acções cometidas por interpostas entidades, grupos terroristas como o Estado Islâmico e a al-Qaida, apesar de serem «sunitas» como a maioria originária da Palestina. Já deixou de ser novidade a cooperação existente entre Israel e grupos terroristas islâmicos, sobretudo na guerra da Síria, pelo que é óbvia a definição do palestiniano como um inimigo comum. Ao reforço das correntes fundamentalistas religiosas e segregacionistas na gestão do sionismo correspondem passos ainda mais largos para a consumação do genocídio, da limpeza étnica da Palestina. Assim que Benjamin Netanyahu concluir a formação de um novo/velho governo está no horizonte o início da anexação progressiva da Cisjordânia, através da integração dos colonatos na estrutura administrativa de Israel. O reconhecimento pela administração Trump da anexação de Jerusalém Leste por Israel foi um balão de ensaio bem sucedido, uma tomada de pulso à «comunidade internacional» que, como é norma, permitiu que se atropelasse mais uma vez o direito internacional. Nem o eng. António Guterres acreditará na sua frase feita para a ocasião, segundo a qual «nada muda» no estatuto oficial de Jerusalém; como no dos Montes Golã; como dos colonatos a anexar. A velha política dos factos consumados a funcionar, como tem acontecido ao longo da limpeza étnica da Palestina. O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de «autonomia» formal. Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados. A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O «Anexo A» do plano de limpeza étnica de Gaza idealizado pelo Ministério israelita de Inteligência designa os países com os quais o regime sionista «deve trabalhar», porque estarão «dispostos a ajudar a população deslocada e capazes de a aceitar como migrantes». Estados Unidos, Canadá, Espanha, Grécia (como se não lhe bastassem os refugiados da Síria nas suas ilhas), Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia, Líbia (pessoas expulsas de Gaza seriam condenadas a hospedar-se num território que a NATO deixou em escombros) são os países citados no documento. Caso a Arábia Saudita levante dificuldades para «desenvolver esforços» no sentido de proporcionar a «transferência de migrantes para vários países», ou se recuse a «financiar a campanha que exponha os danos causados pelo Hamas», os Estados Unidos poderão agir através de pressões, designadamente «jogando com o guarda-chuva de defesa dos grupos de combate estacionados na área para ameaçar o Irão». Essa «pressão» norte-americana deverá também ser requerida, segundo os autores, contra os países europeus «para que assumam as suas responsabilidades na abertura da fronteira de Rafah», permitindo «a fuga para o Egipto»; e também para que «prestem assistência financeira à actual crise económica egípcia». O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da «transferência» sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que «promovam a operação no mundo ocidental» e «o esforço para resolver a crise sem insultar nem vilipendiar Israel». A parte da campanha virada para «o mundo não pró-Israel» deve focar a necessidade de «ajudar os irmãos palestinianos e a sua recuperação», mesmo ao preço de «condenações e até ofensas contra Israel», de modo a que os objectivos da operação «consigam chegar a populações incapazes de aceitar uma mensagem diferente». «O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da "transferência" sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que "promovam a operação no mundo ocidental"» Quanto à população de Gaza, a campanha para «a incentivar a aceitar o plano» deve sublinhar que «não há esperança de retorno ao Estado de Israel, que em breve ocupará o território (seja verdade ou não)». A mensagem que os autores sugerem é a de que «Alá decidiu que vocês perderam esta terra por causa da liderança do Hamas e a única opção é mudarem-se para outro lugar com a ajuda dos vossos irmãos muçulmanos». Por muito cínico, racista e sociopata que todo este articulado pareça, ele não é um delírio. É obra da nata de operacionais do ministério que tutela as políticas de espionagem do sionismo. Os autores levam-no a sério. E a chamada comunidade internacional deveria preparar-se para lidar com esse projecto de crime de guerra apresentado como programa para «salvar vidas», resolver um problema regional, solucionar crises económicas de países e comunidades e proporcionar novas e melhores condições de vida a pessoas que vivem que vivem sob «opressão terrorista». Outro dos projectos para consumar a limpeza étnica de Gaza que saiu dos bastidores governamentais sionistas, provavelmente muito mais um balão de ensaio para preparar a opinião pública do que uma fuga de informação, é o «Livro Branco» do Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista. O seu autor é Amir Weitman, chefe da bancada parlamentar «libertária» do Likud, o partido de Netanyahu, e professor da Escola de Defesa Nacional. Designou o trabalho como «plano para a recolocação e reabilitação definitiva no Egipto de toda a população de Gaza». Trata-se, segundo Weitman, de «um plano sustentável que se alinha com os interesses económicos e geopolíticos de Israel, Egipto, Estados Unidos e Arábia Saudita». Não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Enquanto o regime israelita continua a chacinar paulatinamente a população indefesa do campo de concentração em que transformou Gaza multiplicam-se os apelos ao «cessar-fogo» nesta suposta «guerra entre o Hamas e Israel», como afirma a comunicação social corporativa. É o habitual jogo de enganos que visa partilhar equitativamente responsabilidades numa situação de incomensurável desequilíbrio de forças e que pretende colocar no mesmo plano os criminosos e as vítimas. O que está a acontecer não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Tudo o resto significa o arrastamento da situação e o extermínio de um povo. «A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em “solução de dois Estados para a Palestina”» O chefe do governo de Portugal, a exemplo de outros colegas europeus, diz que é necessária a paragem dos ataques de Israel. Belas palavras. E depois? «Para que possamos regressar a um ponto onde o caminho para a paz seja possível», assegura Costa. Palavras muito bem-intencionadas também, reproduzidas de um texto da agência Lusa onde se lê que «existe uma escalada de violência entre israelitas e palestinianos». Qual «caminho para a paz»? O conduzido pelo «Quarteto» chefiado pelo aldrabão profissional Anthony Blair e de que fazem parte a Rússia – manietada pelo veto norte-americano no Conselho de Segurança e por muitas e evidentes cumplicidades com Israel – a complacente União Europeia, o seu aliado norte-americano, cúmplice objectivo do crime no mínimo através do Conselho de Segurança, e também a ONU, entidade que, a reboque de Washington, cultiva a guerra para que dela floresça a paz? Ora este «caminho para a paz», quase sempre «arbitrado» pelos Estados Unidos, aliado da parte agressora, está barrado há muito por acção de Israel, que acusa o lado palestiniano de não ceder às suas exigências de rendição total. Enquanto continua a falar-se de «processo de paz» para que nada de pacífico aconteça, Israel tem recorrido a todos os métodos para inviabilizar uma solução compatível com o direito internacional, isto é, através da criação de um Estado Palestiniano viável, soberano e pleno. O mecanismo mais utilizado e mais eficaz – porque pode ser aplicado sem operações militares que dêem muito nas vistas, sob o silêncio da comunicação social dominante – é o da colonização dos territórios palestinianos ocupados através de uma gradual limpeza étnica com expulsão das populações, destruição de casas, roubo de terrenos, edificação de muros e até prosaicos actos de banditismo como a destruição de colheitas agrícolas. Enfim, a institucionalização de um sistema de apartheid. «Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de “cessar-fogo” para regresso ao “caminho da paz” e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida» A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em «solução de dois Estados para a Palestina» sabendo perfeitamente – como não pode deixar de ser – que está a ser percorrido não «um caminho para a paz» mas uma via para liquidar o objectivo inscrito no próprio «processo de paz». A guerra que existe é verdadeiramente esta: a do regime sionista contra o povo palestiniano pela liquidação total dos seus direitos, se necessário através do extermínio físico. Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de «cessar-fogo» para regresso ao «caminho da paz» e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida. Num caso destes até o silêncio seria mais honesto. Acompanhando os ecos da comunicação corporativa sobre «a guerra entre o Hamas e Israel» ou a «escalada de violência entre israelitas e palestinianos» percebe-se que o conceito de «cessar-fogo» implícito é o da paragem dos bombardeamentos contra Gaza e também do lançamento de foguetes a partir da faixa cercada. Foguetes esses que são, na verdade, os únicos instrumentos através dos quais – perante a imobilidade internacional – sectores palestinianos fazem sentir a Israel que, apesar de tudo, não está completamente impune. Fisgas contra tanques ou foguetes contra tecnologia de guerra de última geração: estamos perante afirmações possíveis de existência e de resistência; nada que se pareça com um confronto entre dois exércitos. Sendo certo que cada vida perdida é uma vítima inútil de uma situação que as forças dominantes teimam em não resolver, a não ser através da aniquilação da outra parte, o cenário mediaticamente instituído de um falso equilíbrio permite-nos perceber até que ponto a comunicação social corporativa se deixou contaminar pelo conceito xenófobo cultivado pelo sionismo quanto à diferença de valor entre as vidas de cidadãos israelitas e árabes. «Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências» A guerra de Israel contra os palestinianos iniciou-se muito antes desta nova fase da barbárie contra Gaza, há mais de setenta anos, e irá prosseguir se o «cessar-fogo» determinar apenas que se calem agora as armas e não for além disso, impondo a Israel medidas completas para que se cumpra de uma forma viável e com um conteúdo plenamente soberano a solução de dois Estados na Palestina. Caso contrário, o fim da actual ofensiva contra Gaza significará a continuação da colonização, do cerco contra a pequena e sobrelotada faixa, da limpeza étnica, das expulsões em Sheik Jarrah e, uma após outra, em todas as comunidades palestinianas de Jerusalém ou da Cisjordânia. Até ao próximo ataque contra Gaza se os palestinianos ousarem exercer activamente o seu direito à existência e à resistência. Um exemplo de como Israel é completamente imune às palavras inconsequentes dos seus amigos e aliados sempre que as imagens da chacina tornam impossível o silêncio é a demolição premeditada do edifício da agência Associated Press (AP) em Gaza. A Israel não será difícil responder a Biden, forçado a perguntar sobre os motivos de tal atitude: o edifício daria acesso aos «túneis do Hamas» ou serviria até de «escudo humano» para o grupo fundamentalista islâmico palestiniano. Uma organização que ganhou vida – é oportuno recordá-lo – com apoio sionista quando se tornou importante dividir o movimento do primeiro Intifada, em finais dos anos oitenta, iniciado precisamente em Gaza. As forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Israel está a cometer mais um acto de apogeu da chacina a que tem vindo a submeter impunemente a população da Faixa de Gaza – e da Palestina em geral – durante as últimas décadas. Os alvos não são «os túneis do Hamas», como informa o regime sionista, mas dois milhões de pessoas que vivem enclausuradas num imenso campo de concentração do qual não podem escapar. Não se trata de um «confronto»: é uma barbárie. Algumas notas sobre o que está a passar-se. A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual, em que se misturam a prolongada indefinição governativa, a corrupção a alto nível do regime e a polémica gestão da pandemia – por sinal, insolitamente elogiada no plano internacional. «A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual» Os dirigentes sionistas não duvidam, nem por um instante, de que podem utilizar o instrumento da guerra contra Gaza porque sabem que a chamada comunidade internacional o permite. As instâncias internacionais, com a ONU à cabeça, e as grandes potências, com destaque para os Estados Unidos e a União Europeia, permitem tudo a Israel sem assumir uma única medida para conter a barbárie. Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel; e Israel aproveita-o consoante as suas conveniências sabendo que nada de mal lhe acontecerá e nenhuma reacção irá além do apelo à «moderação» e a um «cessar-cessar entre as partes». Isto é, entre uma «parte» que pode tudo e uma «parte» que sofre tudo. Os foguetes do Hamas são irrelevantes quando comparados com o aparelho de guerra usado pelo regime sionista. A actuação da comunidade internacional na questão israelo-palestiniana é o exemplo mais flagrante da sua permanente utilização do sistema de pesos e medidas variáveis. Isolada pela comunidade internacional em geral, a Palestina conta cada vez menos com a solidariedade do chamado mundo árabe. Sob a égide da administração Trump nos Estados Unidos, países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein juntaram-se recentemente ao Egipto na normalização das relações com Israel, o que significa abandonar a defesa dos direitos dos palestinianos. Acresce que existem, de facto, relações diplomáticas entre o Estado sionista e a Arábia Saudita, encimadas pela amizade e afinidades entre o primeiro-ministro Netanyahu e o herdeiro do trono wahabita, Mohammed Bin Salman. Uma aliança sobre os escombros da Palestina. «Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel» Na prática, a solidariedade árabe nunca desempenhou um papel que permitisse a criação de um Estado palestiniano, como determinam as normas e a doutrina estabelecidas pela comunidade internacional. O reconhecimento de Israel por cada vez mais países árabes, porém, reforça a ideia de que o problema palestiniano poderá ter outras «soluções» que não sejam a criação de um Estado palestiniano independente, viável e plenamente soberano. Por outro lado, as relações entre países árabes e Israel transformam cada vez mais o Estado sionista numa entidade plenamente integrada no Médio Oriente, dando assim forma ao arranjo pretendido pelos Estados Unidos de uma região com duas potências dominantes – Israel e Arábia Saudita –, ambas viradas contra o Irão. O novo pico de guerra de Israel contra Gaza não pode desligar-se dos permanentes esforços de Israel para tentar provocar uma guerra directa contra o Irão – à qual as administrações norte-americanas ainda têm resistido. A ofensiva supostamente «contra o Hamas» – grupo que Israel liga a Teerão apesar de ser sunita e não xiita – acontece no preciso momento em que a administração Biden ainda não definiu se regressa ou não ao acordo nuclear 5+1 com o Irão. A mensagem israelita é directa: apoiando grupos activos no Médio Oriente, como o Hezbollah no Líbano e na Síria e o Hamas na Palestina, o Irão terá de ser desencorajado de o fazer. E os acordos com Teerão têm de ser invalidados. Por muito que possam vir a proclamar verbalmente o contrário, os Estados Unidos e a União Europeia estão por detrás de mais esta chacina israelita em Gaza. Se em relação a Washington não existe qualquer dúvida, tanto mais que o aparelho do Partido Democrata no poder é o que está mais sintonizado com os interesses dominantes do sionismo, poderão levantar-se reticências em relação ao papel da União Europeia. «a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo» O que não tem qualquer razão de ser. Apesar de algumas declarações de distanciamento, como foi o caso por ocasião da transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém, a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo. Antes pelo contrário: Israel é um parceiro activo da NATO – que rege a União Europeia do ponto de vista militar – e está mesmo envolvido nos exercícios em curso na Grécia e no Mar Egeu no quadro dos jogos de guerra «Defender Europe». Isto é, as forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Uma aliança que dizima vidas e direitos humanos. A mensagem de Israel com esta nova operação de barbárie é directa: nada fará parar o sionismo no seu objectivo de limpar e submeter etnicamente a Palestina e de impedir qualquer tentativa, por débil que seja, de implementar a solução de dois Estados. O instrumento para concretizar esse objectivo é a colonização ininterrupta dos territórios da Cisjordânia – a par do cerco férreo a Gaza – de maneira a estender a ocupação, inviabilizar as possibilidades territoriais de instaurar um Estado e quebrar a resistência nacional palestiniana. «a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma» Nas últimas semanas o regime sionista expulsou mais famílias e arrasou as suas habitações no bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Leste, no quadro da «limpeza» de todos os palestinianos da cidade. Acontece que a ofensiva encontrou forte resistência da população atingida, sinal de que, apesar de isolados internacionalmente, os palestinianos não estão dispostos a abdicar dos seus direitos. Uma vez que Gaza respondeu à agressão e da Faixa de Gaza foram disparados foguetes contra território israelita, a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma. A nova fase da chacina contra Gaza e da limpeza étnica da Cisjordânia é, afinal, mais um passo no sentido de um desfecho que inviabilize de vez a solução de dois Estados na Palestina. Ao mesmo tempo que este princípio vai sendo invocado como um mantra cada vez mais vazio de significado pelos que insistem em dizer-se defensores das leis internacionais e dos direitos humanos. Enquanto isto, continuam a morrer inocentes indefesos e a Nakba, o holocausto palestiniano, prossegue, dia após dia, sob os olhos e a passividade do mundo. Até ao último dos palestinianos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Israel poderá ainda dizer que não fez nada que a NATO não tenha executado por exemplo em Belgrado, em 1999, quando bombardeou e destruiu o edifício da televisão jugoslava. É certo que a AP tem prestado permanentes e bons serviços ao regime sionista, tal como as outras principais agências internacionais de informação. E não será este aparentemente inusitado bombardeamento que irá interromper a sua fidelidade para com Israel. O governo israelita está seguro disso – é a ordem natural das coisas. Para interrompê-la de maneira favorável ao reconhecimento dos direitos dos palestinianos seria necessário muito mais do que as rotineiras palavras de inquietação e um «cessar-fogo» transitório. Nem tanto. Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências. De um ponto de vista objectivo, não haverá país tão merecedor de tais medidas como Israel, pelo menos tendo em conta palavras proferidas de quando em vez por alguns dirigentes europeus. Fazer sentir aos chefes sionistas que a barbárie tem um preço a pagar seria a maneira de lhes proporcionar um inesperado encontro com uma nova realidade e as consequências dos seus comportamentos cruéis. E seria, sobretudo, um caminho para o fim de uma tragédia humana, não apenas em Gaza mas também na Cisjordânia e até em Israel, onde os dirigentes se debatem com uma interminável crise governativa e mesmo – eles o dizem – com os riscos de «uma guerra civil». José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Tal como o projecto do Ministério da Inteligência, este documento é igualmente um concentrado de «vantagens» distribuídas em muitas direcções. Parte do princípio de que no Egipto «há dez milhões de unidades habitacionais desocupadas… que poderiam ser imediatamente preenchidas com palestinianos». Para que isso possa acontecer, Israel deveria comprar essas propriedades por um preço total entre cinco mil e oito mil milhões de dólares norte-americanos, quantia equivalente a uma percentagem do PIB israelita entre 1 e 1,5%. Diz Weitman: isto equivaleria a «comprar a Faixa de Gaza», «um investimento muito valioso». Apresentado também como «um gestor de investimentos e investigador», o autor explica que «investir milhares de milhões de dólares para resolver tão difícil questão é uma solução inovadora, barata e sustentável». Poderá atenuar ou até solucionar o problema da falta de habitação em Israel; para o Egipto será «um estímulo imediato» e representará «um benefício tremendo e imediato» para a região do Sinai. Além disso, o impacto demográfico no Egipto não será significativo, garante. Os habitantes de Gaza «constituem menos de dois por cento da população egípcia total, que hoje já inclui nove milhões de refugiados. Uma gota no oceano». Portanto, enquanto alguns responsáveis israelitas antevêem, numa primeira fase, transferir a população de Gaza para «cidades de tendas» no Sinai, a «solução» do Dr. Weitman garante, desde logo, a utilização de casas de habitação. Sublinha o autor que a Alemanha e a França, «os principais credores do Cairo», não deixarão de concordar com este processo, uma vez que «a economia egípcia será revitalizada» graças ao «investimento israelita». Também os países da Europa Ocidental «aceitarão a transferência de toda a população de Gaza para o Egipto» porque «reduzirá significativamente o risco de imigração ilegal…, uma tremenda vantagem». Neste aspecto, os planos do Ministério da Inteligência e do professor Amir Weitman parecem dissonantes, uma vez que o primeiro encara os países europeus como acolhedores de palestinianos; o segundo aposta firmemente no Egipto, o que, a acreditar nas sucessivas declarações do presidente Al-Sisi de que não abrirá a fronteira para permitir a limpeza étnica, pode deixar o projecto sem plano B. No entanto, como a actual fase do processo é ainda a chacina generalizada da população de Gaza, que os Estados Unidos e os seus satélites continuam a permitir recusando a imposição de um cessar-fogo, pode dizer-se que haverá tempo para acertar e fazer coincidir os mecanismos do projectado crime de guerra. «Será que o mundo assim ameaçado por "centenas de ogivas atómicas" (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza?» O Dr. Weitman continua a distribuir «vantagens» associadas ao seu programa. «A evacuação da Faixa de Gaza significa a eliminação de um aliado significativo do Irão»; o encerramento da questão de Gaza garantirá, por outro lado, «o fornecimento estável e crescente de gás israelita ao Egipto» – roubado nas águas palestinianas – «e a sua liquefacção». Por fim chega a «vantagem dos palestinianos»: «deixam de viver na pobreza sob o domínio do Hamas». Isto é, enquanto continuam a ser massacrados pelas tropas sionistas, afinal têm à sua frente um futuro risonho. O Dr. Weitman deixa um conselho: não há tempo a perder. «Não há dúvida de que para que este plano se concretize há muitas condições que devem ser reunidas simultaneamente. Actualmente essas condições estão reunidas e não está claro quando uma oportunidade destas voltará a surgir, se é que alguma vez surgirá. Este é o momento de agir». O jornalista israelita Gideon Levy, que escreve no diário Haaretz, costuma dizer que «o sionismo confunde o judaísmo com o mundo», no fundo uma expressão do racismo e dos atributos mitológicos, messiânicos, inerentes a esta doutrina. Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem essa maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, pondo e dispondo do mundo, posicionando-se acima da lei como um dom natural, uma escolha divina, recorrendo a todos os meios possíveis e impossíveis para afirmar a sua superioridade, que considera inquestionável. Ou, como em tempos disse o criminoso de guerra Ariel Sharon, «temos a capacidade de destruir o mundo e garanto-vos que isso acontecerá antes de Israel se afundar». Será que o mundo assim ameaçado por «centenas de ogivas atómicas» (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza? Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Puro engano quando se trata do sionismo e do Estado de Israel. Em 2019, o rabino Giora Redler, dignitário religioso de uma academia militar na Cisjordânia ocupada, afirmou que «a ideologia de Hitler estava cem por cento correcta, mas incidiu sobre o lado errado». Sem dúvida, uma maneira interessante de reflectir sobre o Holocausto, longe de ser um caso isolado. Moshe Feiglin, dirigente do Partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e dos atrás citados ex-primeiros-ministros Menahem Begin e Isaac Shamir, e vice-presidente do Parlamento entre 2013 e 2015, é um homem com ídolos no mínimo invulgares tratando-se de um judeu sionista e, certamente, a par da barbárie do Holocausto. Na opinião deste dirigente do partido no poder no Estado de Israel, «Hitler era um chefe militar inigualável; o nazismo fez passar a Alemanha de um nível baixo a um nível económico e ideológico fantástico. A Alemanha dispôs de um regime exemplar, de um sistema de justiça adequado e de ordem pública. Hitler gostava de boa música, os nazis não eram um bando de arruaceiros». Algumas décadas antes, Isaac Tabenkin, considerado o pai espiritual do movimento de ocupação de terras palestinianas através dos kibutz e quadro das milícias terroristas Hashemer, enumerara «os ideais de Hitler» de que dizia gostar: «homogeneidade étnica, possibilidade de troca de minorias étnicas, transferência de grupos étnicos em benefício de uma ordem internacional.» «Em 2019, o rabino Giora Redler, dignitário religioso de uma academia militar na Cisjordânia ocupada, afirmou que "a ideologia de Hitler estava cem por cento correcta, mas incidiu sobre o lado errado".» Não houve esforços políticos e mediáticos nos sectores afectos ao governo para desautorizar os conceitos de Feiglin. O próprio primeiro-ministro Netanyahu, em plenas funções, teve o cuidado de ilibar Hitler de grande parte do terror do Holocausto, pondo em causa a sua responsabilidade na adopção da «solução final». Segundo Netanyahu, ponta de lança do racismo sionista na carnificina e limpeza étnica que há mais de 150 dias decorre em Gaza, «Hitler não queria exterminar os judeus. Foi o mufti de Jerusalém (dignitário político-religioso islâmico) quem soprou a Hitler a ideia de exterminar os judeus em vez de os expulsar da Alemanha porque eles viriam para a Palestina». Ainda de acordo com a narrativa de Netanyahu, Hitler, atónito, «perguntou o que fazer. Queime-os», respondeu o mufti. Foi então que o führer, conhecido pela sua disponibilidade para ouvir opiniões e sugestões de outros, se decidiu pela matança. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
O sionismo explicado pelos sionistas. Doutrina racista e de limpeza étnica
Introdução
«Os palestinianos não existem»
Teia de mistificações
O racismo como marca genética
«Os nazis não eram arruaceiros»
Internacional|
Combate à glorificação do nazismo volta a não contar com o apoio de EUA e aliados
Internacional|
Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga
Glorificação do nazismo e reescrita da história
Repúdio da Rússia
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Opinião|
Uma limpeza étnica sob os nossos olhos – 3
«Matar, matar, matar e matar»
Limpeza étnica ou extermínio colectivo?
«Esses animais não podem continuar a viver»
Como fintar o direito internacional
Opinião|
Até ao último dos palestinianos
Cadeia de mistificações
Colonização igual a anexação
A punição dos refugiados
Anexação da Cisjordânia
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Limpeza étnica «barata e sustentável»
Opinião|
A matança, o cessar-fogo e a solução de dois estados
Da colonização ao extermínio
Contaminação xenófoba
Por que não carregar onde dói?
Opinião|
Gaza, notas sobre uma chacina
1) O principal responsável pelo massacre não é Israel: é a chamada comunidade internacional
2) O mundo árabe isola cada vez mais a Palestina
3. Um massacre com o Irão na mira
4. O papel dos Estados Unidos, União Europeia e NATO
5. A causa próxima: colonização e limpeza étnica
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Impossível?
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Não é por acaso que o actual presidente dos Estados Unidos se define como «um cristão sionista». O sionismo assegura os interesses terrenos dominantes; a religião, que afinal pode não ser apenas a judaica, garante a mistificação da História e das realidades próprias do colonialismo, quando não do fascismo, independentemente das épocas. Um singelo exemplo doméstico: D.ª Lucinda Ribeiro Alves, uma fundadora do Chega, diz-se uma «evangélica cristã sionista», além de seguidora de Bolsonaro.
O sionismo é uma doutrina doentia, aberrante, oportunista e violenta que não pode, nem deve, ser confundida com o judaísmo e a cultura hebraica, muito menos com os povos semitas. O sionismo, seguindo a teoria e a prática dos seus mentores, é uma ideologia antissemita. David Ben Gurion, considerado o fundador do Estado de Israel, que se considerava laico e trabalhista, não deixou dúvidas quanto a isso ao afirmar que «as considerações sionistas prevalecem sobre os sentimentos judaicos e quando o digo não faço mais do que ter em conta os preceitos sionistas».
Os conceitos de «raça pura» e «povo escolhido» elevam, porém, o Estado de Israel para um patamar transcendente; são conceitos assustadores a todos os níveis e sob quaisquer perspectivas porque sustentam uma entidade supostamente dotada de imunidade, impunidade e de uma missão escatológica associada ao fim do mundo, o Armagedão, a luta final entre o bem e o mal biblicamente programada para o lugar de Meggido, por sinal no interior do território israelita. Não se creia que estamos apenas perante delírios místicos. Ariel Sharon, criminoso de guerra com o sangue dos mártires de Sabra e Chatila nas mãos e ex-primeiro ministro de Israel, garantiu numa entrevista ao jornal britânico Guardian que, em caso de confrontação limite no planeta, «temos capacidade para destruir o mundo e garanto que isso acontecerá antes de Israel se afundar».
Sharon nunca foi conhecido por ter muita garganta e ser um fanfarrão.
«Um projecto nacionalista, mais nada»
Sionismo e racismo são indissociáveis. Assentam na ficção mística e têm como objectivo terreno a expansão do poder judaico de origem europeia, dotado de um estatuto civilizacional e humanista de que o Ocidente colectivo se declarou proprietário, através de vastas zonas de influências económicas, estratégicas e, sobretudo, militares do Médio Oriente.
Pode dizer-se que o Estado de Israel é um pequeno território. Pode até acrescentar-se um desabafo da antiga primeira-ministra sionista Golda Meir: «A única coisa que tenho contra Moisés é ele ter andado 40 anos no deserto para nos conduzir ao único lugar no Médio Oriente que não tem petróleo. Se Moisés tivesse virado à direita em vez de ter virado à esquerda teríamos petróleo e os árabes areia».
O errado palpite geográfico de Moisés, no entanto, é uma coisa que se corrige. Segundo a mesma Golda Meir, «a fronteira de Israel é onde os judeus vivem, não onde existe uma linha no mapa».
Considerações afins já tinham sido proferidas por Ben Gurion vinte a trinta anos antes ao enunciar o dogma de que «a pedra de toque do sionismo é a verdadeira colonização conduzida por judeus em todas as regiões da Terra de Israel», um conceito que então ainda deixou em aberto. Posteriormente o primeiro primeiro-ministro de Israel avançou na especificação dessa ideia, embora sem desvendar ainda totalmente o jogo, ao declarar que «o Estado será apenas uma etapa na realização do sionismo e a sua tarefa é preparar a expansão; o Estado deverá preservar a ordem não apenas pregando a moralidade mas também com metralhadoras, se necessário».
«A única coisa que tenho contra Moisés é ele ter andado 40 anos no deserto para nos conduzir ao único lugar no Médio Oriente que não tem petróleo. Se Moisés tivesse virado à direita em vez de ter virado à esquerda teríamos petróleo e os árabes areia.»
Golda Meir, antiga primeira-ministra de israel
Dito e feito. No «protocolo de governo» quando se tornou primeiro-ministro, em 1948, Ben Gurion estabeleceu que «devemos partir para a ofensiva com o objectivo de esmagar o Líbano, a Transjordânia (actualmente Jordânia) e a Síria». Citado pelo Times of Israel, o lendário dirigente sionista e israelita desvendou a sua estratégia militar: «quando bombardearmos Amã eliminaremos também a Cisjordânia e então a Síria cairá; sem qualquer esforço militar especial que ponha em perigo as outras frentes, apenas usando as tropas já designadas para essa tarefa, poderemos limpar a Galileia», no norte do território actual de Israel até à fronteira com o Líbano, o que implicou a expulsão de pelo menos 100 mil palestinianos. Ben Gurion «limpou» a Galileia, é certo, mas outras alíneas do programa continuam por cumprir – percebendo-se, no entanto, que não foram retiradas do pacote de ambições sionistas.
Num conselho ao então jovem oficial Ariel Sharon, dado no seguimento do massacre na aldeia de Qibya em 1953 – chacina de 70 pessoas, dois terços das quais eram mulheres e crianças, não faltaram mestres aos genocidas de agora em Gaza – Ben Gurion disse que «a única coisa que interessa é podermos existir aqui na terra dos nossos antepassados; e que mostremos aos árabes que há um alto preço a pagar pelo assassínio de judeus». «Existir» nesta terra, de acordo com o pensamento do primeiro chefe de um governo israelita, significa «que devemos aceitar as fronteiras de hoje, mas os limites das aspirações sionistas são uma questão do povo judaico e nenhum factor externo será capaz de limitá-lo». Palavras que são todo um inequívoco programa político-militar genocida, ignorando deliberadamente o direito internacional.
O rabino Yeuda Leib Maimon, da Agência Judaica, foi mais explícito do ponto de vista geográfico ao depor perante as comissões de inquérito da ONU relacionadas com o processo de criação de Israel, no fim dos anos quarenta do século passado; traçou então o mapa genérico do Grande Israel como objectivo nacionalista do projecto sionista: «A terra prometida estende-se do Nilo ao Eufrates – integra parte da Síria e do Líbano», e também do Egipto e do Iraque, se olharmos o mapa mais atentamente.
Através de declarações como estas cai por terra o argumento tantas vezes invocado e segundo o qual a necessidade de um «lar judaico» e a emigração judaica para a Palestina surgiram como consequência da violência contra os judeus na Europa, designadamente os pogroms em massa e a carnificina realizada pelo nazismo hitleriano. Chaim Weizman, o primeiro presidente do Estado de Israel, foi um modelo de pragmatismo ao confirmar essa falsidade perante a Organização Sionista Mundial: «O sionismo não é resposta a uma opressão, mas um projecto nacionalista, mais nada».
«Através de declarações como estas cai por terra o argumento tantas vezes invocado e segundo o qual a necessidade de um "lar judaico" e a emigração judaica para a Palestina surgiram como consequência da violência contra os judeus na Europa, designadamente os pogroms em massa e a carnificina realizada pelo nazismo hitleriano.»
Houve confirmações deste raciocínio um pouco mais dramáticas porque revelam até que ponto o projecto nacionalista deu prioridade aos interesses do sionismo, a colonização da Palestina pela elite asquenaze da Europa, e secundarizou o respeito pelas massas judaicas, olhadas como peões dentro de uma estratégia para alcançar o objectivo expansionista pretendido.
Ben Gurion foi claro ao assumir que «se tivesse sido possível salvar todas as crianças judaicas na Alemanha e transferi-las para Inglaterra ou salvar metade e transferi-las para Israel escolheria esta última hipótese». A «preferência» enunciada, embora apenas conjectural, diz-nos que o sionismo estaria disponível para sacrificar a vida de alguns milhões de crianças judaicas ao objectivo colonial.
Para que não ficassem dúvidas em relação ao significado destas palavras, Ben Gurion insistiu posteriormente: «A catástrofe dos judeus europeus não é directamente um assunto meu; a destruição dos judeus europeus é uma sentença de morte do sionismo»; ou seja, menos judeus asquenaze poderiam instalar-se na Palestina, o que iria subverter o carácter elitista e segregacionista do projecto nacionalista.
Não encontramos nada de inovador nas práticas actuais de Israel em relação ao passado do sionismo, mesmo quando recuamos até aos primórdios da doutrina. Nas palavras e nos actos dos teóricos, teólogos, ideólogos, dirigentes e operacionais que durante décadas desenvolveram e apuraram aquilo a que pode chamar-se «a essência do Estado de Israel» deparamo-nos permanentemente, sem quaisquer preocupações autocríticas e respeito por opiniões alheias, com as práticas de genocídio, racismo, limpeza étnica e desprezo pela vida humana como pilares de um expansionismo colonial ao serviço de poderes imperiais entendidos como expressão natural e necessária da cultura e civilização superiores do Ocidente.
O «povo de Deus» é puro e intocável
«Quando uma raça tem um carácter tão marcante, não deve fundir-se nas outras», aconselhou, em 1900, o fundador da Organização Sionista Mundial, Max Nordau.
Essa raça deve ser «pura», logo incompatível com misturas. Quase 120 anos depois de Nordau, em 2019, o ex-chefe do Partido Trabalhista e ministro da Economia e Indústria de Israel, Isaac Peretz, ficou alarmado durante uma visita aos Estados Unidos. De regresso a Israel declarou que «a assimilação de judeus no mundo, sobretudo nos Estados Unidos, é um segundo holocausto; com os casamentos mistos, o povo judeu perdeu seis milhões de pessoas durante os últimos 70 anos».
À luz do sionismo deve entender-se o terror de Peretz perante tal hecatombe. Abraham Kook, que foi o grande rabino asquenaze da Palestina entre 1919 e 1935, explicou que «a diferença entre uma alma de Israel (…) e a alma de todos os não-judeus é maior e mais profunda do que a diferença entre a alma de um homem e a de um animal». Ou seja, existem «as almas de Israel» e, a grande distância, praticamente no mesmo patamar mas bem lá no fundo, estão os homens e os animais. Em 1948 foi entregue a Avraham Kook o monopólio dos assuntos civis no recém-nascido Estado «laico» de Israel.
O rabino Ovadia Yosef, que chefiou até à morte, em 2014, o partido governamental sefardita Shas, enriqueceu com numerosas expressões o carácter racista do regime. Uma das mais citadas ensina-nos que «Os goyim (termo que designa gentios ou não-judeus) nasceram para nos servir, apenas para servir o povo de Israel; sem isso não teriam lugar no mundo».
«À luz do sionismo deve entender-se o terror de Peretz perante tal hecatombe. Abraham Kook, que foi o grande rabino asquenaze da Palestina entre 1919 e 1935, explicou que "a diferença entre uma alma de Israel (…) e a alma de todos os não-judeus é maior e mais profunda do que a diferença entre a alma de um homem e a de um animal".»
Este conceito foi muito recentemente inserido na Constituição israelita. Como recordou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, «Israel não é um Estado de todos os cidadãos, é um Estado-nação do povo judeu e unicamente do povo judeu».
A inclusão deste preceito na lei fundamental do Estado sionista é consequência natural do pensamento de Vladimir Jabotinsky, considerado fundador do movimento «revisionista» do sionismo em 1925, corrente que deu origem ao espectro de direita e extrema-direita absolutamente dominante em Israel desde meados dos anos noventa do século passado. Jabotinsky, que o próprio Ben Gurion definiu como «fascista», foi um ucraniano muito bem relacionado ideologicamente e operacionalmente com Mussolini, além de ter sido um inspirador do nacionalismo e do nazismo na Ucrânia tanto entre 1918 e 1920, através da figura de Simon Petliura, um antissemita responsável pela morte de centenas judeus em pogroms por ele organizados, como proporcionando, durante os anos trinta, a ascensão de Stepan Bandera e outros colaboracionistas nazis que são hoje as figuras de referência do regime filonazi de Kiev.
O secretário pessoal de Jabotinsky foi Benzion Netanyahu, pai do actual primeiro-ministro de Israel. Inspirando o conceito recentemente introduzido na Constituição israelita, aquele que é considerado «o segundo sionista mais importante depois de Herzl», Vladimir Jabotinsky, definiu que «nação absoluta é um espectro social original, um território contínuo e claramente delimitado desde tempos imemoriais com uma língua original, uma religião autóctone e sem qualquer minoria estrangeira», formulação que recomenda inequivocamente a realização de limpezas étnicas para purificar o Estado.
Vladimir Jabotinsky defendeu a tese de que «o Estado deve ser constituído pela força e de uma só vez» e, para isso, «não há alternativa: os árabes devem dar lugar aos judeus no Grande Israel».
Jabotinsky, «pai» da direita israelita no poder e defensor confesso da limpeza étnica, como acabámos de ver, conviveu ideologicamente com o nazifascista alemão Leo Strauss que, uma vez nos Estados Unidos, se transformou na referência ideológica dos neoconservadores que actualmente controlam o aparelho político do complexo militar-industrial-tecnológico. O secretário de Estado Anthony Blinken, o conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, e a secretária de Estado adjunta demissionária, Victoria Nuland, todos eles ferozmente sionistas e envolvidos no golpe de Maidan em Kiev, rastilho da guerra na Ucrânia, são discípulos convictos do fascista Leo Strauss.
Há os sionistas e os animais
Se a doutrina sionista se caracteriza pela definição de um judaísmo estratificado em camadas, por exemplo desde a «raça pura» asquenaze até aos falachas de origem etíope, «a excluir», podemos deduzir, sem o risco de sermos imprecisos, que os povos árabes, igualmente semitas, são mais do que «impuros» ou inoportunos ocupantes da «Terra de Israel»: o sionismo considera-os como animais a abater – os acontecimentos actuais e as práticas terroristas permanentes ao longo de três quartos de século demonstram-no sem equívocos desde que haja olhos para ver, isenção, espírito humanista e respeito pelos direitos humanos, de todos os seres humanos.
Ezra Yachin, um veterano terrorista com mais de noventa anos que foi membro do grupo exterminador Lehi, autor dos massacres em várias aldeias palestinianas, o mais conhecido dos quais é o de Deir Yassin, em 1948, foi escolhido para exortar os militares encarregados da chacina em curso em Gaza. E disse: «Esses animais não podem continuar a viver; todos os judeus devem empunhar uma arma e matá-los.»
Todos os entes que não são sionistas ou são animais ou andam lá próximos, é um dogma da doutrina expansionista e genocida fundada por Herzl. Como vimos, os goyim, os não-judeus, têm uma «alma» mais próxima dos animais do que de uma «alma de Israel». E existem «para servir os judeus», especificam proeminentes figuras do regime israelita.
Não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Enquanto o regime israelita continua a chacinar paulatinamente a população indefesa do campo de concentração em que transformou Gaza multiplicam-se os apelos ao «cessar-fogo» nesta suposta «guerra entre o Hamas e Israel», como afirma a comunicação social corporativa. É o habitual jogo de enganos que visa partilhar equitativamente responsabilidades numa situação de incomensurável desequilíbrio de forças e que pretende colocar no mesmo plano os criminosos e as vítimas. O que está a acontecer não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Tudo o resto significa o arrastamento da situação e o extermínio de um povo. «A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em “solução de dois Estados para a Palestina”» O chefe do governo de Portugal, a exemplo de outros colegas europeus, diz que é necessária a paragem dos ataques de Israel. Belas palavras. E depois? «Para que possamos regressar a um ponto onde o caminho para a paz seja possível», assegura Costa. Palavras muito bem-intencionadas também, reproduzidas de um texto da agência Lusa onde se lê que «existe uma escalada de violência entre israelitas e palestinianos». Qual «caminho para a paz»? O conduzido pelo «Quarteto» chefiado pelo aldrabão profissional Anthony Blair e de que fazem parte a Rússia – manietada pelo veto norte-americano no Conselho de Segurança e por muitas e evidentes cumplicidades com Israel – a complacente União Europeia, o seu aliado norte-americano, cúmplice objectivo do crime no mínimo através do Conselho de Segurança, e também a ONU, entidade que, a reboque de Washington, cultiva a guerra para que dela floresça a paz? Ora este «caminho para a paz», quase sempre «arbitrado» pelos Estados Unidos, aliado da parte agressora, está barrado há muito por acção de Israel, que acusa o lado palestiniano de não ceder às suas exigências de rendição total. Enquanto continua a falar-se de «processo de paz» para que nada de pacífico aconteça, Israel tem recorrido a todos os métodos para inviabilizar uma solução compatível com o direito internacional, isto é, através da criação de um Estado Palestiniano viável, soberano e pleno. O mecanismo mais utilizado e mais eficaz – porque pode ser aplicado sem operações militares que dêem muito nas vistas, sob o silêncio da comunicação social dominante – é o da colonização dos territórios palestinianos ocupados através de uma gradual limpeza étnica com expulsão das populações, destruição de casas, roubo de terrenos, edificação de muros e até prosaicos actos de banditismo como a destruição de colheitas agrícolas. Enfim, a institucionalização de um sistema de apartheid. «Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de “cessar-fogo” para regresso ao “caminho da paz” e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida» A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em «solução de dois Estados para a Palestina» sabendo perfeitamente – como não pode deixar de ser – que está a ser percorrido não «um caminho para a paz» mas uma via para liquidar o objectivo inscrito no próprio «processo de paz». A guerra que existe é verdadeiramente esta: a do regime sionista contra o povo palestiniano pela liquidação total dos seus direitos, se necessário através do extermínio físico. Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de «cessar-fogo» para regresso ao «caminho da paz» e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida. Num caso destes até o silêncio seria mais honesto. Acompanhando os ecos da comunicação corporativa sobre «a guerra entre o Hamas e Israel» ou a «escalada de violência entre israelitas e palestinianos» percebe-se que o conceito de «cessar-fogo» implícito é o da paragem dos bombardeamentos contra Gaza e também do lançamento de foguetes a partir da faixa cercada. Foguetes esses que são, na verdade, os únicos instrumentos através dos quais – perante a imobilidade internacional – sectores palestinianos fazem sentir a Israel que, apesar de tudo, não está completamente impune. Fisgas contra tanques ou foguetes contra tecnologia de guerra de última geração: estamos perante afirmações possíveis de existência e de resistência; nada que se pareça com um confronto entre dois exércitos. Sendo certo que cada vida perdida é uma vítima inútil de uma situação que as forças dominantes teimam em não resolver, a não ser através da aniquilação da outra parte, o cenário mediaticamente instituído de um falso equilíbrio permite-nos perceber até que ponto a comunicação social corporativa se deixou contaminar pelo conceito xenófobo cultivado pelo sionismo quanto à diferença de valor entre as vidas de cidadãos israelitas e árabes. «Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências» A guerra de Israel contra os palestinianos iniciou-se muito antes desta nova fase da barbárie contra Gaza, há mais de setenta anos, e irá prosseguir se o «cessar-fogo» determinar apenas que se calem agora as armas e não for além disso, impondo a Israel medidas completas para que se cumpra de uma forma viável e com um conteúdo plenamente soberano a solução de dois Estados na Palestina. Caso contrário, o fim da actual ofensiva contra Gaza significará a continuação da colonização, do cerco contra a pequena e sobrelotada faixa, da limpeza étnica, das expulsões em Sheik Jarrah e, uma após outra, em todas as comunidades palestinianas de Jerusalém ou da Cisjordânia. Até ao próximo ataque contra Gaza se os palestinianos ousarem exercer activamente o seu direito à existência e à resistência. Um exemplo de como Israel é completamente imune às palavras inconsequentes dos seus amigos e aliados sempre que as imagens da chacina tornam impossível o silêncio é a demolição premeditada do edifício da agência Associated Press (AP) em Gaza. A Israel não será difícil responder a Biden, forçado a perguntar sobre os motivos de tal atitude: o edifício daria acesso aos «túneis do Hamas» ou serviria até de «escudo humano» para o grupo fundamentalista islâmico palestiniano. Uma organização que ganhou vida – é oportuno recordá-lo – com apoio sionista quando se tornou importante dividir o movimento do primeiro Intifada, em finais dos anos oitenta, iniciado precisamente em Gaza. As forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Israel está a cometer mais um acto de apogeu da chacina a que tem vindo a submeter impunemente a população da Faixa de Gaza – e da Palestina em geral – durante as últimas décadas. Os alvos não são «os túneis do Hamas», como informa o regime sionista, mas dois milhões de pessoas que vivem enclausuradas num imenso campo de concentração do qual não podem escapar. Não se trata de um «confronto»: é uma barbárie. Algumas notas sobre o que está a passar-se. A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual, em que se misturam a prolongada indefinição governativa, a corrupção a alto nível do regime e a polémica gestão da pandemia – por sinal, insolitamente elogiada no plano internacional. «A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual» Os dirigentes sionistas não duvidam, nem por um instante, de que podem utilizar o instrumento da guerra contra Gaza porque sabem que a chamada comunidade internacional o permite. As instâncias internacionais, com a ONU à cabeça, e as grandes potências, com destaque para os Estados Unidos e a União Europeia, permitem tudo a Israel sem assumir uma única medida para conter a barbárie. Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel; e Israel aproveita-o consoante as suas conveniências sabendo que nada de mal lhe acontecerá e nenhuma reacção irá além do apelo à «moderação» e a um «cessar-cessar entre as partes». Isto é, entre uma «parte» que pode tudo e uma «parte» que sofre tudo. Os foguetes do Hamas são irrelevantes quando comparados com o aparelho de guerra usado pelo regime sionista. A actuação da comunidade internacional na questão israelo-palestiniana é o exemplo mais flagrante da sua permanente utilização do sistema de pesos e medidas variáveis. Isolada pela comunidade internacional em geral, a Palestina conta cada vez menos com a solidariedade do chamado mundo árabe. Sob a égide da administração Trump nos Estados Unidos, países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein juntaram-se recentemente ao Egipto na normalização das relações com Israel, o que significa abandonar a defesa dos direitos dos palestinianos. Acresce que existem, de facto, relações diplomáticas entre o Estado sionista e a Arábia Saudita, encimadas pela amizade e afinidades entre o primeiro-ministro Netanyahu e o herdeiro do trono wahabita, Mohammed Bin Salman. Uma aliança sobre os escombros da Palestina. «Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel» Na prática, a solidariedade árabe nunca desempenhou um papel que permitisse a criação de um Estado palestiniano, como determinam as normas e a doutrina estabelecidas pela comunidade internacional. O reconhecimento de Israel por cada vez mais países árabes, porém, reforça a ideia de que o problema palestiniano poderá ter outras «soluções» que não sejam a criação de um Estado palestiniano independente, viável e plenamente soberano. Por outro lado, as relações entre países árabes e Israel transformam cada vez mais o Estado sionista numa entidade plenamente integrada no Médio Oriente, dando assim forma ao arranjo pretendido pelos Estados Unidos de uma região com duas potências dominantes – Israel e Arábia Saudita –, ambas viradas contra o Irão. O novo pico de guerra de Israel contra Gaza não pode desligar-se dos permanentes esforços de Israel para tentar provocar uma guerra directa contra o Irão – à qual as administrações norte-americanas ainda têm resistido. A ofensiva supostamente «contra o Hamas» – grupo que Israel liga a Teerão apesar de ser sunita e não xiita – acontece no preciso momento em que a administração Biden ainda não definiu se regressa ou não ao acordo nuclear 5+1 com o Irão. A mensagem israelita é directa: apoiando grupos activos no Médio Oriente, como o Hezbollah no Líbano e na Síria e o Hamas na Palestina, o Irão terá de ser desencorajado de o fazer. E os acordos com Teerão têm de ser invalidados. Por muito que possam vir a proclamar verbalmente o contrário, os Estados Unidos e a União Europeia estão por detrás de mais esta chacina israelita em Gaza. Se em relação a Washington não existe qualquer dúvida, tanto mais que o aparelho do Partido Democrata no poder é o que está mais sintonizado com os interesses dominantes do sionismo, poderão levantar-se reticências em relação ao papel da União Europeia. «a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo» O que não tem qualquer razão de ser. Apesar de algumas declarações de distanciamento, como foi o caso por ocasião da transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém, a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo. Antes pelo contrário: Israel é um parceiro activo da NATO – que rege a União Europeia do ponto de vista militar – e está mesmo envolvido nos exercícios em curso na Grécia e no Mar Egeu no quadro dos jogos de guerra «Defender Europe». Isto é, as forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Uma aliança que dizima vidas e direitos humanos. A mensagem de Israel com esta nova operação de barbárie é directa: nada fará parar o sionismo no seu objectivo de limpar e submeter etnicamente a Palestina e de impedir qualquer tentativa, por débil que seja, de implementar a solução de dois Estados. O instrumento para concretizar esse objectivo é a colonização ininterrupta dos territórios da Cisjordânia – a par do cerco férreo a Gaza – de maneira a estender a ocupação, inviabilizar as possibilidades territoriais de instaurar um Estado e quebrar a resistência nacional palestiniana. «a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma» Nas últimas semanas o regime sionista expulsou mais famílias e arrasou as suas habitações no bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Leste, no quadro da «limpeza» de todos os palestinianos da cidade. Acontece que a ofensiva encontrou forte resistência da população atingida, sinal de que, apesar de isolados internacionalmente, os palestinianos não estão dispostos a abdicar dos seus direitos. Uma vez que Gaza respondeu à agressão e da Faixa de Gaza foram disparados foguetes contra território israelita, a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma. A nova fase da chacina contra Gaza e da limpeza étnica da Cisjordânia é, afinal, mais um passo no sentido de um desfecho que inviabilize de vez a solução de dois Estados na Palestina. Ao mesmo tempo que este princípio vai sendo invocado como um mantra cada vez mais vazio de significado pelos que insistem em dizer-se defensores das leis internacionais e dos direitos humanos. Enquanto isto, continuam a morrer inocentes indefesos e a Nakba, o holocausto palestiniano, prossegue, dia após dia, sob os olhos e a passividade do mundo. Até ao último dos palestinianos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Israel poderá ainda dizer que não fez nada que a NATO não tenha executado por exemplo em Belgrado, em 1999, quando bombardeou e destruiu o edifício da televisão jugoslava. É certo que a AP tem prestado permanentes e bons serviços ao regime sionista, tal como as outras principais agências internacionais de informação. E não será este aparentemente inusitado bombardeamento que irá interromper a sua fidelidade para com Israel. O governo israelita está seguro disso – é a ordem natural das coisas. Para interrompê-la de maneira favorável ao reconhecimento dos direitos dos palestinianos seria necessário muito mais do que as rotineiras palavras de inquietação e um «cessar-fogo» transitório. Nem tanto. Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências. De um ponto de vista objectivo, não haverá país tão merecedor de tais medidas como Israel, pelo menos tendo em conta palavras proferidas de quando em vez por alguns dirigentes europeus. Fazer sentir aos chefes sionistas que a barbárie tem um preço a pagar seria a maneira de lhes proporcionar um inesperado encontro com uma nova realidade e as consequências dos seus comportamentos cruéis. E seria, sobretudo, um caminho para o fim de uma tragédia humana, não apenas em Gaza mas também na Cisjordânia e até em Israel, onde os dirigentes se debatem com uma interminável crise governativa e mesmo – eles o dizem – com os riscos de «uma guerra civil». José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
A matança, o cessar-fogo e a solução de dois estados
Da colonização ao extermínio
Contaminação xenófoba
Por que não carregar onde dói?
Opinião|
Gaza, notas sobre uma chacina
1) O principal responsável pelo massacre não é Israel: é a chamada comunidade internacional
2) O mundo árabe isola cada vez mais a Palestina
3. Um massacre com o Irão na mira
4. O papel dos Estados Unidos, União Europeia e NATO
5. A causa próxima: colonização e limpeza étnica
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Impossível?
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O professor Arnon Soffer, fundador da Universidade Hebraica de Haifa, destacada figura da elite académica sionista e que foi conselheiro de Ariel Sharon na estratégia de confinar os mais de dois milhões de cidadãos de Gaza num campo de concentração a céu aberto, admitiu que as pessoas cercadas nesse território «tornar-se-ão animais mais do que já são hoje».
O primeiro-ministro Netanyahu chamou-lhes «bestas humanas», enquanto o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, assegurava que em Gaza «estamos a lutar contra animais humanos e agindo em conformidade».
Estas concepções sobre a singularidade de um «povo escolhido» reinando sobre as restantes «almas» do mundo que não foram agraciadas pelo sopro divino percorrem a história do sionismo desde os primórdios e são assumidas por todas as camadas da elite asquenaze – e algumas ortodoxias sefarditas – sejam descendentes direitistas dos «revisionistas» de Jabotinsky, sejam socialistas ou trabalhistas, patrões ou membros da central sindical Histadrut.
David Hacoen, proeminente dirigente desta agremiação, estipulou após a sua fundação, em finais dos anos vinte do século passado, que «nunca aceitarei árabes no meu sindicato» porque «o sionismo é um sistema de desenvolvimento separado». O regime segregacionista da África do Sul assumiu este conceito como a definição de apartheid.
«Não admito que o cão no estábulo tenha o direito final sobre o estábulo mesmo que nele tenha dormido durante longo tempo». A frase lapidar é de David Ben Gurion, trabalhista, «laico», fundador do Estado de Israel e seu primeiro primeiro-ministro.
Esta figura de referência sionista e israelita «não admitia» que «os peles vermelhas tenham sofrido uma grande injustiça na América, nem os negros na Austrália. «Não admito que tenha sido cometido um erro com esses povos», insistiu, «porque uma raça mais forte, uma raça de maior qualidade, mais sofisticada, tenha vindo tomar o seu lugar».
Talvez não haja uma definição única do conceito de limpeza étnica. Esta, porém, deve ser das mais inspiradas e sinceras.
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