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Israel, um Estado réprobo

Israel é um país fascista que pratica uma criminosa política de apartheid. Os sionistas carimbam de anti-semita quem o afirme, mesmo que o seu subscritor seja judeu ou descendente de judeus. É falso.

Forças de segurança israelitas carregam sobre manifestantes palestinos que protestam contra a decisão de reconhecimento unilateral pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel. 15 de Dezembro de 2017, Jerusalém.
CréditosThomas Coex / AFP/Getty Images

Quando Israel, fundado em 14 de Maio de 1948, comemora 70 anos de existência, os palestinianos manifestam-se na Grande Marcha do Retorno, na Faixa de Gaza, assinalando a data em que começaram a ser violentamente despojados das suas terras, casas e locais de trabalho para que esse estado artificial fosse implantado.

Israel: um regime de apartheid

Quando os EUA deslocalizam a sua embaixada para Jerusalém, em rompimento do consenso internacional sobre o estatuto dessa cidade, bem patente no boicote generalizado aos festejos de Trump & companhia; quando Benjamin Netanyahu celebra esse sucesso e a vitória no Festival da Eurovisão, com uma canção e encenação parvóides, anunciando a próxima edição nessa cidade, numa declaração circense em linha com o número televisivo em que colocou em causa o acordo nuclear com o Irão – que o tem cumprido rigorosamente, como os inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica comprovam, sem margem para qualquer dúvida excepto para a dupla Trump / Netanyahu, que à verdade dizem nada com a regularidade dos dias se sucederem às noites – há que afirmar e sublinhar, com todas as letras, que Israel é um país fascista que pratica o apartheid e uma política criminosa. Há que o afirmar sem tergiversações sabendo-se que os sionistas, de forma cobarde, cínica e hipócrita, como é seu timbre, vão carimbar de anti-semita, de anti-judeu quem faça essa afirmação, mesmo que o seu subscritor seja judeu ou descendente de judeus. Nada mais falso. Têm uma bem implantada rede de cumplicidades para que essa mentira faça caminho.

Dos guetos judeus aos guetos palestinos foi um passo

Israel, país que desde a sua origem é um regime conservador e anti-democrático, nasce de um genocídio em que mais de 800 mil palestinianos foram violentamente excluídos das suas terras, das suas casas, para serem confinados – os que sobreviveram – em dois guetos, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Dois guetos que tem sido sistematicamente reduzidos territorialmente por uma delinquente política de colonatos internacionalmente condenada. Nunca Israel esteve disposto a aceitar que, naquela zona geográfica existissem dois Estados, como era intenção dos promotores do Estado de Israel. O seu objectivo foi sempre, continua a ser, a imposição do Grande Israel, a «pátria histórica» dos judeus, baseado numa interpretação do Génesis, da aliança entre Deus e Abraão, com fronteiras que ultrapassam mesmo a dos países limítrofes.

O sionismo, o nazismo e a «pátria histórica» dos judeus

Essa «pátria histórica» dos judeus foi, desde a origem do Movimento Sionista, defendida por um dos seus fundadores, Theodor Herzl, apoiando-se numa eficaz indústria cultural, bem sustentada numa rede comunicacional mercenária, que desde o início não teve apoio de toda a comunidade judaica, mas sim da sua burguesia e de importante sectores da burguesia não-judaica. São muitas as variantes dessa propaganda, vão-se afinando com os tempos, a começar pelo milagre económico do estado de Israel, adubado pelos 92 biliões de dólares dados pelos EUA como ajuda directa, quando a população de Israel era de uns três milhões, continuando a subsidiá-lo com verbas da ordem dos 10 biliões de dólares anuais. Outra das grandes vigas desse edifício de propaganda é a exploração do Holocausto, que transformaram numa rentável marca comercial, denunciada num estudo bem documentado de Norman Finkelstein, judeu filho de sobreviventes do Gueto de Varsóvia, que rasga as virginais vestes de putativas vítimas do holocausto envergadas pelos empresários da indústria do Holocausto1. O poder do lóbi judaico nos EUA actuou rapidamente como é sua norma, Finkelstein foi irradiado das universidades norte-americanas onde era professor.

A promiscuidade entre o nazismo de Hitler e o sionismo de Theodor Herzl tem a mesma raiz ideológica. Hitler, que afirmava e decretava a supremacia racial da raça ariana, que concretizou um dos piores massacres da história, com milhões de vítimas em que se destacam os judeus, era um apoiante do sionismo que, por seu turno, pratica uma política segregacionista, de forma diversa mas igualmente condenável, na base da raça judia e da nação judia, que já massacrou mais de seis milhões de palestinianos. Em 1933, a Federação Sionista da Alemanha enviou uma declaração ao Congresso do Partido Nacional-Socialista em que afirmava que «um renascimento da vida nacional como o que está a acontecer na vida alemã (…) deve também acontecer na nação judaica. A base de um novo Estado Nazi deve também ocorrer na formação de um Estado Nacional Judaico. Com os princípios de um novo Estado Nazi fundado no princípio da raça, devemos enquadrar a nossa comunidade com natureza similar para que se possa estruturar e desenvolver uma Pátria Judaica». A pátria judaica era Israel, nos territórios históricos de fronteiras redescobertos na leitura do Génesis.

«Se os judeus tivessem o seu próprio Estado, onde encontrariam o seu próprio lar, o problema judeu poder-se-ia considerar resolvido já no dia de hoje e pelos próprios judeus. Os verdadeiros sionistas são os que menos se têm oposto às ideias básicas das leis de Nuremberga»

Federação Sionista da Alemanha

São muitos e bem documentados os textos que evidenciam ambas as ideologias como análogas, centradas na etnicidade e no nacionalismo. Os interesses entre o Nacional Socialismo da Alemanha Nazi e o Sionismo Judaico cruzam-se, interceptam-se. Hitler não os desdenhava, tinha entre os seus primeiros financiadores bancos maioritariamente de capitais judeus. A relação entre o sionismo, apartheid e nazismo tem um longo historial que os sionistas de hoje, empurrados pelos ventos da história, procuram por todos os meios ao seu alcance ocultar, mas que é revelado, contundente e diariamente, nas suas práticas e pelos conúbios calhordas e sornas que plantam. Bastante eficazes mas sem poderem apagar nem escusar, ainda que sejam pertinazes em negar, todas as evidências: que na introdução às leis raciais proclamadas pelos nazis em Nuremberga, em 1935, tenha sido escrito: «Se os judeus tivessem o seu próprio Estado, onde encontrariam o seu próprio lar, o problema judeu poder-se-ia considerar resolvido já no dia de hoje e pelos próprios judeus. Os verdadeiros sionistas são os que menos se têm oposto às ideias básicas das leis de Nuremberga, sabem que estas leis são a única solução válida para o povo judeu». Nem rasurar o que Reinhardt Heydrich, chefe dos Serviços de Segurança das SS, depois nomeado Protector dos territórios checoslovacos incorporados no III Reich, escreveu em O Inimigo Visível: «Devemos dividir os judeus em duas categorias: os sionistas e os partidários da assimilação. Os sionistas defendem uma concepção de estado rigorosamente racial, mediante a emigração para a Palestina, prontos para construir o seu próprio Estado (…). Os nossos melhores votos e a nossa melhor boa vontade oficial para que o consigam».

«Devemos dividir os judeus em duas categorias: os sionistas e os partidários da assimilação. Os sionistas defendem uma concepção de estado rigorosamente racial, mediante a emigração para a Palestina, prontos para construir o seu próprio Estado (…). Os nossos melhores votos e a nossa melhor boa vontade oficial para que o consigam»

Reinhardt Heydrich, O Inimigo Invisível

Encapotam que em 1941, o Herut. partido político de Itzhak Shamir, hoje Likud, concluiu um pacto militar com o 3.º Reich alemão com objectivo de fundar um Estado, mesmo que fosse sob a sua égide colonial. A colaboração já vinha do Imperador Guilherme II que os tinha apoiado financeiramente. Em 1944 o movimento sionista faz um acordo com Adolf Eichmann. David Ben Gurion, do movimento sionista, enviou um seu representante, Rudolph Kastner, para se encontrar com Eichmann na Hungria e concluir um acordo em que os sionistas concordaram em manter silêncio sobre os planos de exterminação de 800 mil judeus húngaros e anular resistências, como tentaram sem êxito no gueto de Varsóvia. A moeda de troca era 600 líderes sionistas serem libertados pelos nazis e enviados para a Palestina. Um historial sórdido de acordos e colaboração entre sionistas e nazis, enquanto os nazis exterminavam milhões de judeus no Holocausto. Mais tarde, para lavar essas suas cumplicidades e traições aos judeus, a Mossad, a polícia secreta israelita, andou pelo mundo a caçar nazis como se os nazis não fossem seus comparsas ideológicos e como se durante o nazismo os sionistas não mantivessem com eles pontuais conivências.

O mito de «uma terra sem povo» e um «povo sem terra»

O mito original de Israel é a Palestina ser uma «terra sem povo» e os judeus um «povo sem terra», «eleito por Deus» com «direito histórico sagrado». A Palestina, era apresentada, por esses falsificadores da história e da geografia, como uma terra vazia, habitada por populações nómadas. Terra vazia à espera dos judeus, um povo sem terra, originário de uma Palestina do Antigo Testamento, que teriam o direito de ocupar. Contrariando essa versão, os primeiros núcleos de colonos, promovidos pelo movimento sionista, expulsaram manu militari a população palestiniana autóctone que aí vivia e trabalhava. É esse mito que leva à partilha da Palestina pela ONU, em 1947, feita sem nenhuma consulta à população local, com o objetivo de formar dois Estados, o que nunca esteve nas cogitações dos sionistas os quais, tendo obtido um grande apoio económico – recursos financeiros de empresários judeus e não-judeus – e político – apoio nacional e internacional de governos – nunca respeitou os direitos básicos dos palestinianos. Começaram a sua organização militar com grupos paramilitares/terroristas que espalharam o pânico entre a população árabe-palestiniana, grupos esses que, depois de 1948, se transformam nas Forças Armadas de Israel, continuando a disseminar o terror, apesar das resistências internas de grupos pacifistas judeus que se opõem a essas políticas iníquas e da deserção de soldados das Forças Armadas de Israel, até significativa no quadro político-social que se vive em Israel.

Israel: o mito da democracia

O outro mito é Israel ser uma democracia. O governo de Israel é composto inteiramente por sionistas, que negam discutir o direito do retorno dos refugiados palestinianos às suas terras de origem. Israel é um estado confessional, como são muitos dos estados árabes do Médio-Oriente. Pela legislação existente em Israel, é necessário provar, por critérios religiosos ortodoxos judeus, a ascendência judaica por linhagem materna até à quarta geração, para poder possuir terra, trabalhar na terra ou mesmo sublocá-la. A Suprema Corte em Israel ratificou que Israel é o Estado do povo judeu e que, para participar da vida política israelita, organizar um partido político, uma organização política ou mesmo um clube público, é necessário afirmar que se aceita o carácter exclusivamente judeu do Estado de Israel. É um Estado colonial racista. Um Estado com paralelos na Alemanha Nazi, suportado na supremacia e pureza da raça ariana ou na segregação racial das leis Jim Crow nos EUA, na extinta Rodésia ou na África do Sul até 1990.

Israel impôs-se como o braço armado do imperialismo no Médio-Oriente, aliando-se aos estados árabes mais ditatoriais e reaccionários. É o instrumento através do qual qualquer hipótese de revolução árabe progressista é esmagada e com o qual se controla qualquer país do Médio-Oriente, seja qual for o seu regime, que tentar escapar à órbita do imperialismo norte-americano, como é bem verificável nos sucessos dos últimos anos2.

É um estado criminoso e terrorista que impõe uma política de terra queimada na Palestina desagregando os territórios em que tinham sido confinados os palestinianos com a política de colonatos, contra o direito internacional, rasgando com grande descaramento e o silêncio complacente do ocidente as Resoluções da ONU que o condenem. O cúmulo da doblez, da dissimulação, da insolência e da arrogância de Israel, 59.º membro da ONU reconhecido em 1949, é ter conseguido que a narrativa sionista, em 2005, numa sessão especial da Assembleia Geral, fosse adoptada numa resolução pela Recordação Anual do Holocausto. Suprema ironia da história, um estado xenófobo e racista, em que os seus fundadores colaboraram, do primeiro ao último minuto, com os nazis, ser o promotor de uma iniciativa em que se recorda e condena um crime maior contra a humanidade, que vitimou milhões de judeus, crime que muitos ainda persistem em negar. Assim se branqueia a história com uma eficácia exemplar.

Os judeus tem um historial de séculos em que foram perseguidos, por toda a Europa, sofrendo ataques violentíssimos que lhes destruíram vidas e modos de vida, casas e centros religiosos. Foram acções espontâneas ou premeditadas com um rasto de milhões de vítimas. Isso gerou um ethos entre os judeus, sem que isso significasse uma comunidade coesa. Inclusivamente fez germinar um movimento judaico que, inspirado em ideias marxistas e anticolonialistas, aspirava a um estado judaico socialista. Os sionistas, ao contrário do querem fazer crer, nunca representaram os judeus como Max Weber assinala, referindo-se à comunidade judaica alemã: «no caso dos judeus, por exemplo, excepto pelos círculos sionistas e a acção de certas associações promovendo especificamente interesses judaicos, portanto, existem apenas relações solidárias apenas para uma parte relativamente pequena; certamente, judeus frequentemente repudiam a existência de uma “comunidade” judaica»3. Os sionistas subverteram e sepultaram todos essas esperanças. Enterraram-nas bem fundo manipulando sem vergonha e da forma mais despudorada a heróica história de resistência dos judeus.

Têm os judeus direito a um país, ainda que a solução mais justa fosse radicar na Palestina um país multi-étnico, multi-religioso, completamente desmilitarizado. Um território onde convivessem judeus, muçulmanos, cristãos, outros crenças religiosas e não crentes, em igualdade de direitos como muitos prestigiados intelectuais, como o historiador judeu Ilan Pappe, expatriado para Inglaterra, tem defendido4.

Um projecto invalidado por Israel, um estado artificial, fautor de inúmeros crimes; pelo ocidente e também pelos estados árabes, igualmente desenhados a régua e esquadro pelas potências coloniais; todos movidos por interesses económicos e militares a mando do imperialismo norte-americano que é capaz de tudo para sobreviver.

Israel, que pratica uma política terrorista desde a sua fundação, cola o selo de terrorista a quem lute ou se oponha a essa sua política, seja ou não seja terrorista. Também o fazem às organizações que têm espalhado o terrorismo pelo mundo sendo que muitas dessas organizações são seus aliados objectivos e até chegam a receber um vasto leque de apoios como se tem vindo a assistir na Síria. Nada que provoque admiração num país que pratica, dessa a sua fundação, políticas dúplices bem ao estilo do sionismo, que desde sempre utilizou em seu proveito o imenso sofrimento dos judeus em séculos de bárbaras perseguições, enquanto os traía com um dos seus piores carrascos, os nazis. Conta com a cumplicidade da plutocracia que domina os media e com a indulgência dos poderes políticos para manter uma bem activa e oleada máquina de propaganda que lhes permite ser um dos estados mais violadores do direito internacional, sem sofrer qualquer sanção. Gozam de uma escandalosa impunidade à sombra das enormes mentiras que têm propalado sendo capazes de trair tudo e todos, como os sionistas sempre fizeram, a começar pelos judeus, não recuando perante nada que entrave o que resulte em proveito próprio e das classes que são o seu suporte político.

Condenar Israel e o sionismo, é estar ao lado dos judeus e dos semitas, como o fazem diversos movimentos por todo o mundo e a rede internacional de judeus anti-sionistas na sua página na internet.

Boicotar Israel é uma exigência de todos os que acreditam nos valores humanistas, nos direitos do homem, na dignidade humana.

Outra bibliografia

Braia, Nathaniel. Apartheid em Israel, Editora AlfaOmega (2002)

Buzetto, Marcelo. A Questão Palestina, Guerra, Política e Relações Internacionais, Expressão Popular (2016)

Martinez, Brandon. Grand Deceptions, Zionist Intrigue in the 20th e 21st Centuries, Create Espace (2016)

Schoerman, Ralph. The Hidden History of Zionism, Veritas Press (1998)

  • 1. Ver Finkelstein, Norman. A Indústria do Holocausto, Antígona (1998).
  • 2. Sobre a ambição imperial americana, nesta região mas também a nível global, ver, de Chomsky, Noam; Gagnon, Bruce; Kelly, Kathy; McKinney, Cynthia; Pappe, Ilan; Pilger, John; Ramsay, Robin; Terrell, Brian (Authors); Coles, T. J. (Editor), Voices for Peace: War, Resistance, and America’s Quest for Full-spectrum Dominance, Clairview Books (2017).
  • 3. Ver Weber, Max. Sociologia das Religiões, Relógio d’Água (2007).
  • 4. Ver, do autor, Limpeza Étnica da Palestina, Edições Sudermann, São Paulo (2016) e The Biggest Prison on the Earth, A History of Occupied Territories, Oneworld Publications (2016).

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