O «problema» arrasta-se há anos e reflecte a situação de pobreza extrema que atinge as comunidades indígenas na província, nomeadamente nos departamentos de Orán, Ribadavía e San Martín, perto da fronteira com a Bolívia e o Paraguai. Ali foi agora decretado o estado de emergência, que implica o reforço dos programas sociais e de cuidados médicos por um período de 180 dias.
Ao longo deste mês, em pleno Verão austral, seis crianças com idades entre seis meses e três anos, pertencentes à comunidade indígena Wichi, morreram, com sintomas de deficiências alimentares crónicas, vómitos e diarreias, refere a RT, acrescentando que estão internados pelo menos outros 20 menores, dez dos quais com um quadro clínico grave e os outros com perspectiva de recuperação.
Pela parte do governo central argentino, Daniel Arroyo, ministro do Desenvolvimento Social, anunciou esta semana que vai apoiar o executivo de Salta com a entrega de alimentos, água potável e reforço dos serviços de saúde.
Região empobrecida e contaminada por agrotóxicos
Em declarações recolhidas pelo portal Movimiento Político de Resistencia, David Torres, representante do povo Lule, sublinhou que a região «está terrivelmente empobrecida»: há falta de trabalho, dificuldade de acesso à saúde, à educação, aos alimentos e à água potável, além de que as comunidades indígenas são discriminadas e alvo de racismo.
Deu como exemplo destas dificuldades o facto de uma das duas ambulâncias ao serviço do hospital de Tartagal estar fora de serviço por problemas técnicos, e lembrou que, apesar de na província de Salta existir «o único Ministério de Assuntos Indígenas do país», a maior parte dos médicos do Estado se foi embora, até por causa da política recente de austeridade.
Torres disse ainda que a população rural, de baixos recursos – na sua maioria indígena –, acaba por consumir água contaminada por agrotóxicos, que são usados no agronegócio (sobretudo agropecuária) que invadiu a região.
As mortes por destrunição existem há muito
Na peça «El lento genocidio wichí: catástrofe humanitaria», publicado no portal Resumen Latinoamericano, sublinha-se precisamente a dimensão da «catástrofe» de povos que vêem, há anos, a fronteira do agronegócio avançar sobre o seu modo de vida – sustentável – e trazer a fome, a sede e a contaminação.
Contundente, o médico Rodolfo Franco afirma que estão a matar os indígenas «à fome, com má educação, com má saúde» e sublinha que, sendo necessário um médico para cada 600 pessoas, ele presta cuidados a duas localidades, uma com 4000 e outra com 2000 habitantes.
Os números que agora chocam, em 2020, seguem-se a outros registados em 2011, 2016, 2017, em que crianças morreram desnutridas e doentes ou já nasceram mortas, porque as suas mães tinham demasiada fome e sede, «cercadas pelo abandono e a incúria», refere a reportagem.
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