|Lisboa

Concentração esta segunda-feira em Lisboa contra horrores cometidos por Israel

A comunidade palestiniana em Portugal apela à participação numa manifestação às 18h, no Rossio, para exigir o fim da ocupação genocida e justiça para a jornalista Shireen Abu Akleh.

Uma violenta carga policial à saída do Hospital de São Luís dispersou a multidão que acompanhava o funeral da jornalista Shireen Abu Akleh, assassinada quando cobria uma acção repressiva das tropas israelitas em Jenin, na Cisjordânia, e não poupou os palestinianos que transportavam o féretro, cuja queda esteve iminente. Jerusalém, 13 de Maio de 2022  
CréditosAhmad Gharabli / AFP

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh, atingida com um disparo na cabeça pelo Exercito israelita na passada quarta-feira, quando cobria um raide das forças israelitas em Jenin, no Norte da Cisjordânia ocupada, foi uma das últimas vítimas de Israel, que nos últimos meses intensificou agressões, torturas, prisões e assassinatos indiscriminados ao povo palestiniano. Desde o ano 2000, mais de 50 jornalistas palestinianos foram mortos por Israel enquanto faziam seu trabalho.

Durante as cerimónias fúnebres da correspondente da Al-Jazeera, o exército israelita espancou deliberadamente os presentes, mesmo aqueles que seguravam o seu caixão enquanto este era carregado para a igreja. 

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Tropas israelitas «atiraram a matar», diz colega de jornalista assassinada

Shatha Hanaysha estava com Shireen Abu Akleh quando esta foi atingida por fogo israelita, em Jenin, e referiu-se ao facto como uma «tentativa deliberada» de matar os jornalistas.

Um jornalista segura um cartaz com a imagem de Shireen Abu Akleh durante um protesto contra o seu assassinato, em Gaza, dia 11 de Maio 
CréditosAshraf Amra / APA / Electronic Intifada

Em declarações ao portal Middle East Eye, a jornalista palestiniana relata os factos até ao assassinato a sangue-frio da sua colega Abu Akleh, de 51 anos, que trabalhava para a Al Jazeera. Afirma que foi um «franco-atirador israelita» que disparou contra elas.

Abu Akleh e Hanaysha – e as respectivas equipas de apoio – estavam a fazer a cobertura de uma operação israelita no campo de refugiados de Jenin. As forças israelitas tinham cercado a casa de Abdallah al-Hosari, morto no passado dia 1 de Março, com o objectivo de prender o seu irmão.

«Tornámo-nos visíveis aos soldados que estavam a centenas de metros de nós. Não nos movemos durante uns dez minutos, para garantir que eles sabiam que estávamos ali como jornalistas», disse.

Como não foram disparados tiros de aviso, o grupo, usando capacetes e coletes anti-balas com a indicação «imprensa», sentiu-se seguro para subir até ao campo, mas, «do nada, ouvimos o primeiro disparo», disse Shatha Hanaysha.

Seguiu-se o caos e os jornalistas – um dos quais, Ali Samoudi, tinha sido atingido nas costas – tentaram encontrar um local que os protegesse dos disparos.

Então, acrescentou Hanaysha, «uma outra bala atingiu Shireen no pescoço e ela caiu no chão mesmo ao meu lado».

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Jornalista da Al Jazeera morta a tiro durante ataque israelita a Jenin

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh faleceu esta quarta-feira, depois de ser atingida com um disparo na cabeça, quando cobria um raide das forças israelitas em Jenin, no Norte da Cisjordânia ocupada.

A jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh (imagem de arquivo) 
Créditos / WAFA

O Ministério palestiniano da Saúde afirmou em comunicado que Abu Akleh, repórter da Al Jazeera de 51 anos, foi levada de urgência para um hospital próximo, onde faleceu.

Ali Samoudi, produtor da mesma cadeia televisiva, foi atingido a tiro nas costas e encontra-se em situação estável, segundo referiu o ministério.

Em declarações à agência WAFA, Samoudi disse que se encontrava com Abu Akleh e outros jornalistas nas escolas do campo de refugiados de Jenin, e que todos usavam coletes à prova de bala com a indicação «imprensa» quando foram atacados por soldados israelitas.

O produtor da Al Jazeera acusou as forças israelitas de os terem atingido de forma premeditada, na medida em que sabiam que todos os que se encontravam naquele local eram jornalistas e que ali não havia elementos armados ou confrontos.

Desta forma, Samoudi desmentiu as declarações de um responsável do Exército israelita a uma rádio em que negava qualquer responsabilidade dos militares na morte da jornalista.

Também a jornalista Shatha Hanaysha, que estava perto de Abu Akleh quando esta foi atingida, confirmou que os soldados israelitas dispararam contra eles, mesmo estando bem identificados.

Palestinianos denunciam assassinato

Governo palestiniano, partidos políticos e diversas organizações condenaram os factos ocorridos em Jenin.

O primeiro-ministro, Mohammad Shtayyeh, afirmou que Abu Akleh foi morta «quando exercia o seu dever jornalístico de documentar os crimes horrendos cometidos pelos soldados da ocupação contra o nosso povo».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros acusou Israel de ter atingido Abu Akleh e Ali Samoudi de forma «intencional e deliberada», e relacionou o facto com a implementação da política do governo israelita de matar a tiro os palestinianos.

Por seu lado, o responsável da pasta dos Assuntos Civis, Hussein al-Sheikh, disse que «se voltou a cometer o crime de silenciar a palavra, e a verdade é silenciada por balas da ocupação».

Responsáveis da Al Jazeera manifestaram-se «chocados e tristes», e o chefe do canal nos territórios ocupados, Walid al-Omari, afirmou que aquilo que se passou em Jenin «foi um assassinato premeditado por parte do Exército de ocupação».

Em Janeiro deste ano, a WAFA afirmou que, em 2021, foram registadas 384 situações de abuso por parte das forças israelitas contra jornalistas que trabalhavam nos territórios ocupados da Palestina.

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«Chamei por ela mas não se mexeu. Quando tentei esticar o braço para chegar até ela, outra bala foi disparada e tive de ficar escondida atrás de uma árvore», disse.

«Não fomos apanhados num fogo cruzado com combatentes palestinianos, como o Exército israelita alegou. O local do incidente fica numa zona relativamente aberta, longe do campo onde os combatentes palestinianos podem operar, porque ali estariam em situação de grande desvantagem», acrescentou.

A cortina de fumo lançada por Israel

O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse ser «provável» que a repórter da Al Jazeera tenha sido morta por tiros palestinianos e uma fonte do Exército israelita, que confirmou ter conduzido uma operação esta quarta-feira no campo de refugiados de Jenin, negou que as suas forças tenham visado jornalistas de forma deliberada: «O (Exército), claro, não visa os jornalistas.»

Israel publicou ainda imagens de vídeo para sustentar a tese de que havia fogo palestiniano na zona onde Abu Akleh foi morta, mas o B’Tselem, grupo israelita de defesa dos direitos humanos, foi rápido a desmontá-lo.

Esta versão foi também desmentida por Ali Samoudi, o produtor da Al Jazeera que acompanhava Shireen, que disse não haver presença de combatentes palestinianos armados no local.

Por seu lado, Hanaysha afirmou que os palestinianos usam habitualmente armas semi-automáticas, que disparam balas continuamente, enquanto as balas disparadas contra os jornalistas eram diferentes, «esporádicas» e «precisas», «uma de cada vez» e apenas quando se moviam.

«Aquilo que se passou foi uma tentativa deliberada de nos matar. Quem quer que tenha disparado contra nós atirou a matar», disse, frisando que «Israel não distingue entre velhos e novos, homens e mulheres, jornalistas civis e combatentes. Todos são alvos».

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«Até quando estas acções de Israel ficarão impunes? Por quanto tempo o mundo ficará parado enquanto Israel pratica os seus crimes com total impunidade?», indaga a comunidade palestiniana em Portugal num apelo à participação na concentração desta tarde, contra os «horrores da ocupação da Palestina por Israel, à contínua desapropriação e limpeza étnica do povo palestiniano e a décadas de impunidade».

Para que a comunidade internacional «acabe com sua cumplicidade e silêncio, devemos unir-nos e exigir justiça para a Palestina e que Israel seja responsabilizado por todos estes crimes», lê-se no documento. 

Que posição tomou a Comissão Europeia?

Na sexta-feira, dia das cerimónias fúnebres de Shireen Abu Akleh, o deputado do PCP no Parlamento Europeu endereçou uma pergunta à Comissão, no sentido de averiguar a posição tomada face aos assassinatos de jornalistas por parte de Israel e à escalada de agressão contra o povo palestiniano. 

«Que medidas está a tomar no quadro das relações com Israel e do respectivo acordo de associação (tendo em conta a respectiva cláusula de suspensão), na sequência destes acontecimentos que confirmam uma grave e reiterada violação de direitos humanos por parte de Israel?», acrescenta João Pimenta Lopes no documento dirigido à Comissão Europeia. 

Em 2021, segundo a agência WAFA, foram registadas 384 situações de abuso por parte das forças israelitas contra jornalistas que trabalhavam nos territórios ocupados da Palestina.

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