Na última semana da campanha eleitoral das eleições legislativas regionais na Madeira, o PSD/Madeira tem apostado no apelo à estabilidade. Não deixa de ser caricato que o apelo venha do partido que criou a instabilidade. Importa questionar: que estabilidade pede o PSD?
Durante uma visita à Associação Casa do Voluntário, Miguel Albuquerque classificou como «experimentalismo político» o derrube do seu Governo, acrescentando que «as pessoas querem estabilidade, não é para brincar aos partidos políticos». O presidente do Governo Regional optou por ignorar que a queda do seu Governo se deve ao facto de o PSD ter tido o pior resultado da sua história na Madeira, tendo apenas alcançado 19 deputados.
Há 49 anos que o PSD vence as eleições ininterruptamente e entre 1976 e 2015 venceu-as sempre com maioria absoluta. O resultado está à vista de todos, com 18 000 trabalhadores com vínculos precários, 8000 trabalhadores a recibos verdes, 3500 trabalhadores em situação de sub-emprego e mais de 3000 trabalhadores integrados nos programas de ocupação de desempregados. Ou seja, 49 anos de PSD resultaram em mais de 25% dos trabalhadores numa situação laboral sem estabilidade.
Segundo dados de 2023, um quarto dos madeirenses vive em risco de pobreza, isto é, com menos de 551 euros mensais. Importa ter em conta que os dados referentes a 2021 indicavam que a Madeira é a quarta região com maior PIB per capita do País, mas simultaneamente tem uma produção de riqueza por habitante inferior em 5,6% à média nacional. O que isto nos revela é que a riqueza está concentrada num punhado de milionários que beneficiaram com a «estabilidade» dos últimos 49 anos.
Durante todos este anos, o PSD podia ter combatido as assimetrias que hoje se aprofundam. Persistem profundas desigualdades entre os meios urbanos e os rurais, em particular, na correlação com as zonas de interioridade e de montanha, onde se registam abismais desvantagens no acesso a bens e serviços públicos.
A Madeira destaca-se como a região insular com a maior percentagem de novas construções (61%), simultaneamente o preço das casas na Região Autónoma da Madeira subiu 12,6% em 2024, passando para os 3251 euros por metro quadrado, um aumento de 2121 euros face a Janeiro de 2015 e estão seis mil famílias madeirenses à espera de habitação.
Para Miguel Albuquerque, o reforço do seu partido é sinónimo de estabilidade e desenvolvimento. O que todos os indicadores demonstram é que o desenvolvimento só existe para quem lucra com a exploração e a estabilidade. É um chavão criado para alimentar o medo da mudança.
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