«Sob os sedimentos escavados percebeu-se que o painel tem mais de seis metros de comprimento. Verificou-se ainda que o traço que se observava à superfície fazia parte da garupa de um grande auroque (boi selvagem), com mais de três metros e meio de comprimento. Trata-se da maior figura da arte do Vale do Côa e da toda a Península Ibérica, e uma das maiores do mundo, apenas comparável com os auroques da gruta de Lascaux [França]», lê-se num comunicado da Fundação Côa Parque enviado ao AbrilAbril.
A descoberta de um novo painel gravado, com mais de 20 novas gravuras paleolíticas que se encontravam cobertas por camadas arqueológicas, acaba de ser publicada na revista de referência da actualidade.
«No seu interior identificaram-se outros animais gravados por picotagem e abrasão: uma fêmea de veado, uma cabra e uma fêmea de auroque, seguida pelo seu vitelo. No sector direito do painel identificou-se um outro conjunto de gravuras, contendo várias representações de auroques, veados e cavalos, todos sobrepostos, que se encontram ainda parcialmente sob sedimentos», refere-se na nota, sublinhando que as figuras parecem fazer parte da fase mais antiga da arte do Côa, datada de há mais de 23 mil anos.
A equipa de arqueologia revela que a descoberta foi motivada pela identificação de um traço gravado junto à rocha 9 do Fariseu, um dos principais núcleos de arte rupestre do Vale do Côa, classificados como Monumento Nacional e inscritos na Lista do Património Mundial da agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), «que prosseguia sob o solo actual, numa superfície então visível de menos de um metro de comprimento».
Para além da importância do achado em si, os arqueólogos afirmam que o facto de o painel ter sido encontrado sob camadas arqueológicas permite atribuir-lhe uma data mínima, sendo esta «a única forma de datar objectivamente a arte do Côa, uma vez que é impossível de datar directamente por Carbono 14».
A escavação surgiu no contexto do estudo do contexto arqueológico da arte paleolítica do Vale do Côa, que se vem desenvolvendo há 25 anos. Recorde-se que, já em 1999, se havia identificado a rocha 1 do mesmo sítio coberta por sedimentos arqueológicos, tendo então sido possível datar o início e o fim da arte paleolítica do Vale do Côa.
«A continuação dos trabalhos e as datações físico-químicas a realizar permitirão datar de forma científica estas camadas que cobrem as gravuras, mas a sua comparação com o registo da rocha 1 permite dizer que as mais antigas datarão das primeiras fases do Paleolítico Superior», afirma a equipa de arqueólogos.
Sublinham ainda que os dados preliminares agora publicados «reafirmam a importância» da continuação dos estudos arqueológicos, «demonstrando uma vez mais que grande parte da sua riqueza patrimonial se encontra no subsolo, onde se deverão ir buscar as respostas para as perguntas que subsistem, sobre porquê e quando foi feita a arte paleolítica do Vale do Côa».
Os trabalhos de escavação arrancaram no início deste ano e deverão prosseguir assim que as actuais medidas de contenção devido à pandemia de Covid-19 o permitam.
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