Desde a divulgação do despacho do Ministério Público que o nome de Ricardo Salgado não sai dos espaços informativos enquanto arquitecto de um esquema corrupto, com consequências que os portugueses conhecem bem.
Fulanizar o problema, deixando a salvo quem teve competências para o travar e quem lhe deu azo politicamente, e são vários os governos a quem podem ser assacadas responsabilidades no caso do Banco Espírito Santo (BES), não é bom para a democracia e muito menos pode aliviar o povo português de futuros «encargos», geralmente fruto de gestões ruinosas que em nada servem o interesse nacional.
Neste sentido, a notícia de que o Ministério Público arquivou todos os «eventuais» crimes que poderiam ser imputados a titulares de cargos políticos no âmbito do principal inquérito à queda do BES, no Verão de 2014, deixando o Banco de Portugal e, por exemplo, Cavaco Silva à sombra de um processo enlameado em promiscuidades, é só mais uma acha para a fogueira de um sistema em que a financeirização da economia serve de alimento à corrupção sistémica.
A inoperância do Banco de Portugal, a quem o relatório saído da Comissão de Inquérito à gestão do BES e do GES atribui uma intervenção «assente na persuasão moral», mas a quem compete proteger o interesse da insígnia que enverga, não deveria sair incólume deste processo.
Porque, e exemplos não faltam (BPI, BPN, BPP, Banif), este não é um problema de mau funcionamento da banca privada. Este é o registo em que se movem as instituições financeiras privadas, com a complacência do regulador e a benevolência de quem nos tem governado.
Tanto mais que, em 2001, um relatório do auditor externo já identificava a existência de um desencontro no balanço do BES que fazia com que os capitais fossem negativos. A informação foi ignorada e a bomba rebentou nos bolsos dos portugueses.
Acreditam os advogados das pessoas directamente lesadas pelo banco que «a procissão ainda vai no adro» no que toca à investigação desta teia tentacular, onde surgem personagens bem conhecidas e com responsabilidades ao mais alto nível em áreas estratégicas nacionais, como Zeinal Bava, António Mexia e Miguel Frasquilho.
Mas há um ponto em que não restam dúvidas. Estes esquemas só terminam quando houver controlo público da banca, que tanto prurido faz aos que pretendem manter o Estado a pagar os buracos da iniciativa privada.
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