Mário Centeno falava na apresentação do boletim económico de março, no Museu do Dinheiro, em Lisboa, quando apelou para que se evitem pressões adicionais sobre os preços, apontando as margens de lucros, mas também os salários, que o Banco Central Europeu já admitiu não serem o elemento que justifica a inflação (mas antes os lucros).
O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu que «os salários devem evitar crescer acima da produtividade», alegando que significariam uma pressão sobre os preços e, portanto, sobre a política monetária.
«Não é pressão sobre bancos centrais, é pressão sobre todos nós», realçou.
Tendo em conta empresas, como as da grande distribuição, onde os salários da maioria dos trabalhadores estão longe de acompanhar o desempenho em termos de resultados, resta saber onde se enquadra a noção do antigo ministro das Finanças por «acima da produtividade». Veja-se a Jerónimo Martins, que em 2022 obteve um lucro de cerca de 600 milhões de euros, com salários cada vez mais desvalorizados. A título de exemplo, recordamos, um trabalhador que seja operador de caixa especializado em 2007 recebia 180 euros acima do salário mínimo e actualmente recebe apenas 70 euros.
Centeno defendeu que a fase difícil que os portugueses enfrentam «não se compadece com aumentos das margens de lucros», salvaguardando outras em que a vantagem das empresas surge à custa da exploração laboral.
«Um ponto percentual nos salários e nas margens de lucros vai reflectir-se nos preços, criar resistência a que a inflação desça, vai pôr pressão na política monetária e é um comportamento míope, que no médio prazo – e o médio prazo é amanhã – vai reverter qualquer ganho quer salarial, quer de margens de lucro», disse.
Para Centeno, este «é um problema de coordenação» e «credibilidade de política monetária». Para a maioria dos trabalhadores é um problema de pôr na mesa a comida que o salário não consegue comprar ou a prestação/renda da casa cada vez mais cara.
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