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Ministra diz querer «libertar a gestão das ULS da prisão» para promover saque ao SNS

Insistindo na tese de que os problemas do SNS não se resolvem a «despejar dinheiro», Ana Paula Martins usou o modelo de gestão das ULS como bode expiatório, defendendo para o serviço público um funcionamento como o dos privados.

CréditosMiguel A. Lopes / Lusa

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, foi hoje à Assembleia da República participar numa audição sobre o alegado uso abusivo do SNS por estrangeiros. Sobre este tema, a responsável pela tutela considera «inviável» a cobrança a estrangeiros, salientando que estes são uma parte muito reduzida dos serviços prestados pelo serviço público de saúde.

Apesar deste tema, a discussão acabou por desaguar nas unidades locais de saúde (ULS) e no modelo de gestão aplicado. Numa falsa equiparação, não tendo em conta tanto a natureza como a missão, Ana Paula Martins afirmou que o objectivo do seu Governo é dar aos gestores dos hospitais públicos «a mesma capacidade que têm os gestores no privado ou no social».

Desta forma, a ministra acabou mesmo por dizer que «é preciso libertar a gestão das ULS da prisão e da captura que elas hoje têm», escudando-se numa suposta «eficiência» dos privados e defendendo que «não precisamos de atirar mais dinheiro para cima do sistema para ter menos resultados, que foi o que fizemos durante oito anos e isso não vamos fazer».

Desta forma, a ministra acabou por sugerir que pode ser necessário recuperar os modelos de gestão público-privada na saúde, dando como exemplo o Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), dizendo que desde que este deixou de funcionar nesse registo, «nunca mais se endireitou».

Como se já não fosse clara a vontade do Governo PSD-CDS/PP, com as suas palavras, Ana Paula Martins apresentou, então, a receita para colocar em prática os planos privatizadores do SNS e o caso do Amadora-Sintra o reflexo desses. Na prática, a ministra defendeu o subfinanciamento do hospital, culpou a gestão e apresentou como solução entregá-lo aos grupos privados do negócio da doença. 

Se tal não fosse evidente, e ante todo o caos verificado nos serviços de urgência, a ministra da Saúde continuou a defender as chamadas «urgências referenciadas». «Vou defender até ao fim da vida as urgências referenciadas, até que a voz me doa, porque na verdade é aquilo que nós vemos nos países mais desenvolvidos e que têm um sistema público forte», defendeu.

Ana Paula Martins lançou ainda um desafio: «peço encarecidamente que chamem aqui, um a um, os directores da urgência, os directores clínicos e os presidentes dos conselhos de administração das ULS e perguntem se são a favor ou contra a urgência referenciada. Se eles forem contra neste hemiciclo, eu comprometo-me a rever a urgência referenciada»

Ainda este mês a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reuniu o seu Conselho Nacional e vincou que «é evidente a ineficácia da triagem feita por linhas telefónicas, que remetem para médicos de família que não existem. De modo redundante, casos não urgentes são referenciados para os já sobrecarregados serviços de urgência hospitalares, e os utentes chegam a esperar 30 horas para serem atendidos».

Naturalmente, a ministra não sabe desta avaliação feita pela FNAM porque, segundo Joana Bordalo e Sá, presidente desta federação médica, Ana Paula Martins recusou sentar-se à mesa das negociações com a estrutura sindical. 
 

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