A ruptura com a «desobediência» aos «sacrifícios em nome do euro», posição com que o BE se apresentou às últimas eleições legislativas, é consumada na resolução da Mesa Nacional de ontem.
No documento, os bloquistas apontam a necessidade de «preparar o País para o cenário de saída do euro ou mesmo de fim do euro». A formulação, idêntica à que o PCP colocou no seu programa eleitoral às legislativas de 2015, é muito diferente do que se lia igualmente no manifesto com que o BE se apresentou às eleições para o Parlamento Europeu de 2014.
Na altura, sob o mote «nem mais um sacrifício pelo euro», o que se defendia era «recusar a austeridade e reestruturar a dívida». Parecendo tempos longíquos, foi há menos de dez anos que o Bloco se definia como «europeísta» e propunha a redacção de um novo tratado da União Europeia pelo Parlamento Europeu, que substituísse o Tratado de Lisboa – no compromisso eleitoral para as eleições ao Parlamento Europeu de 2009.
Em vésperas das eleições legislativas de 2011 e da assinatura do acordo com a troika, Francisco Louçã afirmou que «a hipótese de saída do euro é inaceitável», em entrevista à Lusa. Já em Novembro do mesmo ano, o então coordenador do Bloco de Esquerda, classificou a saída de Portugal do euro como um «projecto macabro», num debate em Coimbra.
No livro A Dividadura, que Louçã lançou com a deputada Mariana Mortágua em 2012, com apresentação do actual Presidente da República, o cenário de saída do euro era apresentado como «a pior de todas as soluções».
Mas esta não é a única novidade introduzida pelo documento que apresenta «democracia» como «a resposta da esquerda à desagregação europeia»: também o «controlo público da banca e dos sectores estratégicos». Se no manifesto eleitoral de 2015 o BE propunha a nacionalização dos sectores bancário e energético, nada se disse em relação aos restantes.
Na resolução aprovada pelo órgão dirigente do Bloco, é defendida também a «reestruturação da dívida soberana», uma proposta que vem sido defendida pelo partido após a chamada da troika, em 2011. Sobre o grupo de trabalho constituído com o Governo sobre a dívida, Catarina Martins revelou que está agendada uma nova reunião para esta semana para «afinar o relatório», ainda que admita que subsistem divergências.
Os bloquistas destacam ainda a realização da cimeira «Por um plano B para a Europa», em Outubro. A primeira edição realizou-se em Janeiro de 2016, em Paris, cujo manifesto tinha como primeiros signatários vários ex-ministros de países europeus, uns mais recentemente, como Yannis Varoufakis (Grécia), Stefano Fassina (Itália), assim como outros no início dos anos 2000, como Jean-Luc Mélenchon (França), ou no final dos anos 90, como Oskar Lafontaine (Alemanha).
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