|50 anos do 25 de Abril

O 25 de Abril visto da embaixada norte-americana: o golpe Palma Carlos

O AbrilAbril vai disponibilizar um livro em suporte digital, na próxima semana, com a tradução de um conjunto de telegramas da Embaixada dos EUA, desde o 25 de Abril até ao dia 18 de Julho de 1974, data da tomada de posse do II Governo Provisório.

Créditos / AbrilAbril

Há hoje muita documentação disponível para melhor conhecer a realidade do processo revolucionário português. E, ainda assim, o que predomina é uma abismal ignorância, onde a caricatura e a mentira dominam.

Uma dessas fontes de documentação, disponível no site Wikileaks, nos «Kissinger cables» ou mesmo no Arquivo do Departamento de Estado dos EUA, são os telegramas  enviados (vários por dia) da embaixada norte-americana em Lisboa para o Departamento de Estado, embora não estejam todos disponíveis. Alguns continuam sujeitos a um segredo de Estado que nem mesmo a Wikileaks conseguiu romper. 

Apesar de estes telegramas serem assinados pelo embaixador dos EUA em Portugal ou por quem na Embaixada o substitui, a sua leitura dá um quadro mais realista da Revolução Portuguesa que muitos manuais de história e a maioria da muita tralha ideológica publicada.

Na próxima semana, disponibilizaremos o livro O 25 de Abril visto da embaixada norte-americana. O golpe Palma Carlos, em suporte digital, com a tradução de um conjunto de telegramas da Embaixada que percorrem o período entre o dia 25 de Abril de 1974 e o dia 18 de Julho de 1974, data da tomada de posse do II Governo Provisório, que consuma a derrota do golpe Palma Carlos.

A sua leitura permitirá perceber a total ignorância da Embaixada dos EUA em Lisboa sobre o 25 de Abril de 1974. Não só o desconhecia, como ninguém lhe pediu apoio. Aliás, apenas se apercebeu do verdadeiro papel da Junta de Salvação Nacional e do Movimento das Forças Armadas (MFA) quase um mês depois do 25 de Abril. O MFA não só soube esconder a informação, como foi capaz de lançar o processo revolucionário sem sentir a necessidade de pedir autorização à Embaixada dos EUA. 

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Por outro lado, mostra o carácter anti-nacional da contra-revolução, que sentiu sempre a necessidade de informar ou mesmo subordinar-se a uma embaixada estrangeira. Numa situação em que, por exemplo, o governo não consegue conter as reivindicações laborais, há pedidos de intervenção militar estrangeira directa e conspirações múltiplas que levarão ao golpe Palma Carlos – uma tentativa de instaurar a ditadura unipessoal de Spínola e afastar o MFA, como a própria Embaixada reconhece. 

Apesar de se saber que os telegramas mais comprometedores não são públicos, é espantoso ver a forma como alguns se desnudam perante o poder imperial: generais que um dia alertam o povo português contra «os traidores da pátria» e no dia seguinte pedem que uma potência estrangeira intervenha em Portugal, inclusivamente por meios militares; políticos a pedir aos EUA orientações sobre a forma como devem conduzir as questões nacionais e internacionais e gente que negoceia com uma potência estrangeira a pensar primeiro na sua promoção pessoal.

A leitura destes documentos permite também olhar para as preocupações da Embaixada com a Intersindical, que a leva a criar um departamento só para intervir no seio dos sindicatos. Mas também a dar passos para criar uma segunda central, «verdadeiramente livre» porque submetida aos seus interesses. 

Por fim, a clareza com que a Embaixada dos EUA tem consciência de que o PCP é «o inimigo». Ela não está preocupada com o que o PCP faz, e muitas vezes até reconhece que não fez aquilo de que é «acusado», mas sim com o que é. Não se organiza para que haja eleições justas, mas mobiliza-se para garantir que os comunistas tem a menor influência possível. 

No fundo, a Embaixada intervém para garantir a defesa dos interesses das classes dominantes dos EUA, como é natural. E o seu verdadeiro inimigo é o povo português, na medida em que pretenda prosseguir um caminho soberano. 

E tudo isto, escrito pelo seu próprio punho. Fiquem atentos!

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