Stiglitz enquadra os problemas do euro na matriz a partir do qual foi criado, ou seja, a regra de o défice não ir além dos 3% do PIB e a eliminação dos dois mecanismos de ajustamento: as taxas de juro e de câmbio. Esclareceu que os visionários da criação do euro «confiaram apenas na política orçamental limitada e disseram que o Banco Central Europeu, uma instituição central, teria de se fixar na inflação e não no emprego e no crescimento económico».
Segundo Joseph Stiglitz, «para o euro funcionar, no sentido de uma moeda única permitir a um leque de diferentes países atingirem todos o pleno emprego e crescimento económico, teríamos de romper essas regras básicas, mudá-las». Por isso sugere que a Europa comece a pensar «num divórcio amigável com alguns países, para estes pensarem em formas para lidar com a saída». O economista, que em 2001 foi distinguido com o Nobel, esclarece que o processo não será imune a dificuldades, mas há que reconhecer que «o actual sistema é extraordinariamente prejudicial» e que Portugal sabe disso porque «foi uma década perdida», com custos enormes tanto para as famílias (devido ao fenómeno da emigração) como para a economia.
Simultaneamente, afirma não existir vontade política para mexer no «projecto do euro», por parte das instituições europeias, apesar de os resultados não serem, aparentemente, os esperados. O economista reconhece que em vez da prosperidade e da solidariedade política anunciadas à entrada do euro, o que resultou da adesão foi uma falta de solidariedade, estagnação e discriminações.
«Se o euro tivesse sido criado em 2008, veríamos agora que os mercados privados não são fortes nem estáveis, e o que precisamos é de uma forte regulação dos governos. A falha foi não terem regulado o suficiente.»
Joseph Stiglitz
Enfatiza também que a ideologia económica que sustentou a criação da moeda única estava errada, como alguns afirmaram na altura, sustentada na ideia de que bastaria aos governos manter baixos o défice e a inflação, e que o sector privado trataria do resto. «Se o euro tivesse sido criado em 2008, veríamos agora que os mercados privados não são eficientes nem estáveis. O que precisamos é de estrita e forte regulação dos governos, a falha foi não terem regulado o suficiente», denuncia.
O economista é ainda peremptório a afirmar que a receita da austeridade prescrita pela Alemanha vai continuar «mesmo que a teoria económica e até o Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstrem, claramente, que a austeridade nunca irá funcionar».
Face à caricatura dos preguiçosos países do Sul, repetidamente usada pela imprensa alemã, Stiglitz recordou dados da OCDE que afirmam que os gregos trabalham mais do que os alemães, uma informação que a Alemanha se recusa a aceitar.
No entender de Joseph Stiglitz, caso Portugal permaneça no euro «está condenado», salientando que a Europa «não tem, nem vai ter condições políticas para fazer as mudanças necessárias». Para o economista, a Europa «corre demasiados riscos, saltando de crise em crise».
A saída do euro, reconhece, daria a Portugal condições para crescer, criar emprego e implementar um processo de reestruturação da dívida. Alerta que o caminho não seria fácil mas que, com a dívida estruturada, a economia cresceria.
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