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Realidade paralela ou a esquizofrenia no poder

O conceito só não assenta que nem uma luva na classe política ocidental porque esta aperfeiçoou-o, transformou essa desconexão numa outra e paralela realidade na qual tenta convencer-nos a viver, nem que seja à força ou insistindo em truques de ilusionismo, manipulando os nossos cérebros.

Créditos / Pixabay

Na sua vertiginosa viagem em direcção ao fim da História, ao globalismo e ao capitalismo sem pátrias onde nada teremos e seremos felizes, o Ocidente colectivo, isto é, a nossa civilização superior e omnipotente, ascendeu a um olimpo extraterrestre, uma realidade paralela onde assume, agora sem rodeios, uma vocação messiânica. No fundo, uma transição escatológica onde se funde ou gemina com o misticismo sionista, uma doutrina de seres que repudiam e odeiam os seus semelhantes e não se consideram deste mundo, assim definidos por eles próprios como que predestinados por entidades místicas e divinas. 

Dir-se-ia, em termos psiquiátricos puros e duros, terra a terra, que a classe política ocidental – entendendo por isso os sectores ínfimos da sociedade global que atribuem a si mesmos o direito inquestionável de a governar ao serviço do dinheiro e do mercado – sofre de um transtorno colectivo que poderia qualificar-se, os psiquiatras que me perdoem o empirismo, como uma desrealização, e/ou então esquizofrenia.

O Ocidente e os seus instrumentos transnacionais de poder olham o mundo de cima dentro de uma bolha, uma espécie de satélite circunterrestre que inventaram e afinam quotidianamente para tentarem exercer um domínio global com base em leis exclusivas e flutuantes, em critérios arbitrários, com a força das armas, a manipulação gananciosa do dinheiro, o roubo das matérias-primas e outros bens colectivos do planeta, servindo-se dos seres humanos comuns segundo os seus interesses, ambições e delírios. Seres humanos que consideram, cada vez com maior desfaçatez, copiando os actuais exemplos tresloucados do sionismo, como sub-humanos, bárbaros, humanoides indignos de se misturarem com os civilizados, sob risco de contaminação da raça eleita, situação de que é exemplo flagrante a relação da União Europeia e dos Estados Unidos com os refugiados e imigrantes.

A esquizofrenia, de acordo com definições elementares, é um transtorno de perda de contacto com a realidade. O conceito só não assenta que nem uma luva na classe política ocidental porque esta aperfeiçoou-o, transformou essa desconexão numa outra e paralela realidade na qual tenta convencer-nos a viver, nem que seja à força ou insistindo em truques de ilusionismo, manipulando os nossos cérebros.

Um esquizofrénico sofre de delírios, alucinações e, obviamente, de disfunção social. Reflictamos por momentos em episódios envolvendo os nossos governantes nacionais e transnacionais – e também aqueles dirigentes que transitoriamente fazem o papel de oposição: nenhum diagnóstico poderia ser mais certeiro. Sobretudo na perspectiva da disfunção social, a definição perfeita da relação entre o poder ocidental e as sociedades ocidentais, mas também do resto do globo.

Se, por outro lado, olharmos o comportamento dessa casta na perspectiva do transtorno de desrealização, as afinidades continuam. Ela observa as nossas vidas e a nossa sociedade a partir de um universo próprio e exterior; olha-nos segundo a perspectiva externa de quem paira no interior de uma realidade virtual que tem de cultivar e fazer funcionar para que a sua propaganda, os seus discursos e práticas pareçam coerentes e se tornem credíveis e aceitáveis por rebanhos de maiorias condicionadas e conformadas.

Os membros da elite política estão desligados de sensações e sentimentos, agem como robots ou autómatos, desenraizados da essência humana como se estivessem num sonho ou uma nuvem. Ponto por ponto, os nossos dirigentes em acção.

Exemplos muito concretos

Abandonemos as teorias e cotejemos, porque delas são provas irrefutáveis, numerosos exemplos do que atrás se escreveu, repescados aleatoriamente aquém e além fronteiras.

Atentemos nos discursos habituais dos governantes ou dos membros da oposição transitória. São concebidos como se estivessem em campanha eleitoral permanente uma vez que, para eles, as pessoas não passam de votantes úteis a quem é preciso martelar na cabeça a cada minuto de forma a que acreditem na existência daquilo que não existe: a prioridade dada ao bem-estar das populações e, cinismo absoluto, uma democracia a funcionar.

Das suas palavras emergem sempre os sintomas da realidade paralela: mentiras ao ritmo das necessidades e polémicas de cada momento, promessas que jamais fazem ideia de cumprir, estatísticas à la carte, sondagens com resultados encomendados, práticas de ilusionismo predador com os nossos salários, pensões e subsídios; veneração e submissão escusada a dívidas soberanas, barganhas e chantagens com os orçamentos do Estado para que os patrões – os grandes, claro – saiam sempre a ganhar, e cada vez mais. A classe política ocidental inventa inimigos e guerras para poder expandir o seu espaço vital de influência e rapina; dá golpes de Estado, coloridos ou sangrentos, sempre que os seus interesses omnipresentes sejam postos em causa; macaqueia a democracia chegando a troçar dos cidadãos quando os deixa K.O. uma vez concluído cada acto eleitoral; define automaticamente como viciadas as eleições cujos resultados não correspondem aos seus desejos; faz prestidigitação xenófoba e sangrenta com os direitos humanos; envenena o ambiente e troca a produção de riqueza para o bem comum pelos casinos financeiros privados e restritos enquanto promete salvar o planeta das ameaças climáticas e impõe vagas cruéis de austeridade à generalidade dos seus cidadãos; multiplica exponencialmente os pobres, a fome, a desertificação, os assaltos para roubar os bens planetários enquanto riquezas obscenas caem a cada segundo nas mãos de meia dúzia de bandidos sem lei a quem devemos adoração – por indução dos chamados meios de comunicação social – por se tratar do gangue dos predestinados para governar o mundo apátrida idealizado sob o conceito de globalismo.

Fruto dos transtornos psíquicos da casta dirigente, desapareceram os mais elementares limites comportamentais, desnecessários na realidade paralela onde as leis são costuradas segundo as conveniências ocidentais sob a pomposa designação de ordem internacional baseada em regras.

A senhora Von der Leyen aponta o dedo ameaçador exigindo-nos que apenas demos crédito à voz da União Europeia como a única e verdadeira, porque pensar de outra maneira é o mesmo que estar ao lado dos inimigos. Aliás, a presidente da Comissão Europeia acaba de receber na sua equipa uma tal Maria Luís, ex-ministra de Portugal e da troika, que tem a virtude – bastante vulgarizada até em relação à Constituição da República – de saber «contornar as leis», por exemplo no processo de privatização da TAP, maneira criativa de qualificar a prática de corrupção, o roubo dos bens públicos. Condená-la para quê? Limitou-se a agir de acordo com a verdade única da chefe e a citada ordem internacional.

«A senhora Von der Leyen aponta o dedo ameaçador exigindo-nos que apenas demos crédito à voz da União Europeia como a única e verdadeira, porque pensar de outra maneira é o mesmo que estar ao lado dos inimigos.»

O sr. Borrell, socialista como os socialistas devem ser, exorta-nos a cuidar do «nosso jardim» ocidental porque tudo o mais é selva, isto é o antro dos bárbaros, sub-humanos e outros humanoides invejosos e ressabiados com a nossa superioridade rácica.

O socialismo cor-de-rosa, aliás, sofre de uma fatal crise de identidade desde que emporcalhou a fachada social-democrata com os detritos produzidos pelo neoliberalismo.

De tal maneira assim é – exemplo recente – que o Bloco de Esquerda, «esquerda radical» amigada com a social-democracia, convidou para debater «o socialismo» o «socialista» Santos Silva, que, enquanto ministro português dos Negócios Estrangeiros, foi um dos patronos do fascista apátrida Juan Guaidó, em tempos transformado em «presidente» (e ladrão dos bens) da Venezuela pelo divino espírito Trump. É o que acontece quando nos querem fazer crer que se constrói o «socialismo» fazendo o jogo do capitalismo, inclusive na sua versão mais desumana.  

A União Europeia e a NATO, entretanto, cortejam, alimentam e armam em bloco o nazismo ucraniano, o do báltico em geral, o sionismo na Palestina ocupada e outras expressões de terrorismo como o Isis, a al-Qaida e os seus muitos heterónimos como bastiões da nossa civilização, guarda-costas da democracia liberal.

A publicidade como arma governamental

Elucidativos igualmente em relação ao fenómeno da realidade paralela são os cartazes usados por agremiações da classe política, no âmbito da sua campanha eleitoral permanente. O actual governo português sente necessidade de dizer que se preocupa «com as pessoas», o que é, sem dúvida, de mau agoiro, pois sentindo a necessidade de afirmá-lo em megacartazes de maneira tão enfática confirma o prenúncio de que, como sempre, são as pessoas comuns a pagar as consequências do transtorno psico-patronal da clique governante.

«De tal maneira assim é – exemplo recente – que o Bloco de Esquerda, «esquerda radical» amigada com a social-democracia, convidou para debater "o socialismo" o "socialista" Santos Silva, que, enquanto ministro português dos Negócios Estrangeiros, foi um dos patronos do fascista apátrida Juan Guaidó, em tempos transformado em "presidente" (e ladrão dos bens) da Venezuela pelo divino espírito Trump. É o que acontece quando nos querem fazer crer que se constrói o "socialismo" fazendo o jogo do capitalismo, inclusive na sua versão mais desumana.»

O que ficou escrito é válido, com rigoroso decalque, para a oposição de pousio.

Antes desse cínico grito humanista propagandístico da clique de Montenegro já o Partido Socialista glosara o mote de «servir as pessoas» na propaganda para a campanha das eleições europeias. Reforçando agora a mensagem, pôs a circular através do país um outdoor bíblico no qual o seu chefe de turno, em trânsito para algum cargo nos órgãos autoritários e não-eleitos que gerem a democracia liberal e a ordem internacional ocidental, está representado como um Messias pregando a uma multidão de apóstolos e apóstolas, seguidores e seguidoras (haja respeito pelas quotas da igualdade de género); distribuídos pelo exaltante quadro os caucasianos e não-caucasianos estão presentes em paridade, como manda a inclusão social. Contemplemos o cartaz: uma enternecedora encenação da sociedade tal como não existe, um exemplo da realidade paralela produzido por uma empresa de marketing publicitário, por certo um dos templos do modernismo onde se desenha o mundo virtual, isto é, a autorizada, pujante e tão premiada promoção da mentira.

Mérito aos sobredotados

No âmbito das sinergias essenciais para sustentar com o máximo de eficácia a esquizofrenia dirigente, avulta o papel da teia mediática. 

Num escrito anterior sublinhei a acção fundamental desenvolvida pela corporação do comentariado. Porém, não quero deixar passar em claro os méritos insubstituíveis de alguns denominados jornalistas e comentadores, exemplos seniores e sobredotados a seguir pelo resto da troupe dos saltimbancos da palavra.

«Antes desse cínico grito humanista propagandístico da clique de Montenegro já o Partido Socialista glosara o mote de "servir as pessoas" na propaganda para a campanha das eleições europeias.»

José Rodrigues (JR) dos Santos é um ícone, pregando na cadeira do Telejornal onde se senta há quase tanto tempo como Salazar no seu trono. Este ficcionista de notícias da televisão público-privada, caricatura de uma televisão pública, aconselha-nos num piscar de olhos a frequentarmos apenas o que ele diz, porque tudo o resto «é fake». Apesar desta exaltação obsessiva com a posse da verdade única, existe um mérito inquestionável de JR no desempenho do papel: domina a arte de fazer funcionar uma relação biunívoca sem solavancos entre o universo ficcional da trama dos seus livros e a realidade de faz-de-conta exposta no Telejornal.

Desconheço as reacções da concorrência, principalmente aquela onde, sob a bênção dos serviçais de Bilderberg, actuam uns comentadores gémeos, espécie de Dupond e Dupont a que algumas vozes ainda mais maléficas chamam «os irmãos Marretas». Isso é coisa que não se faz, porque assim o dr. Guedes seria o Sapo Cocas e a dr.ª Clara a Miss Piggy, o que parece exagerado quando se assiste ao seu desempenho como figurantes fazendo de âncoras independentes e objectivos. Os bonecos da série The Muppets representam bem melhor.

«Apesar desta exaltação obsessiva com a posse da verdade única, existe um mérito inquestionável de JR no desempenho do papel: domina a arte de fazer funcionar uma relação biunívoca sem solavancos entre o universo ficcional da trama dos seus livros e a realidade de faz de conta exposta no Telejornal.»

Seria uma injustiça sem nome não dedicar algumas linhas a d.ª Helena, militante exemplar da realidade paralela, valente «domadora de camaleões», como se autodenomina, autora emérita do ensaio brilhante intitulado «a falácia do pacifismo», uma dissertação acutilante que põe na ordem os energúmenos defensores da paz na Ucrânia e se desdobram em manobras insidiosas para tentar evitar que os nazi-banderistas de Kiev acabem com aquela maldita Rússia sempre por converter, assim defendendo heroicamente a nossa civilização. D.ª Helena teve a dita de o seu matrimónio ser abençoado pelo Papa João Paulo II, o santíssimo pontífice que conseguiu devolver o catolicismo à Idade Média e que nas infindáveis peregrinações missionárias, reavivando a piedosa mensagem colonial junto dos bárbaros cafres, não se esqueceu de prestar tributo ao devoto Pinochet; na visita ao palácio de La Moneda pisou solenemente a varanda, salas e corredores por onde correu o sangue do assassinado presidente Salvador Allende, em boa verdade um desprezível ateu por acaso eleito democraticamente pela população chilena.

Democraticamente se pronunciaram domingo passado os alemães dos Estados da Turíngia e da Saxónia, mas os eleitores enganaram-se, segundo d.ª Helena, para quem a extrema-direita «é igual» à extrema-esquerda, apenas «a economia» as separa. Pois com certeza, a diferença entre defender o sistema desumano do capitalismo selvagem e o sistema socialista, que tem o humanismo como referência, é uma minudência. D.ª Helena, uma encarnação como poucas da tríade Deus, Pátria, Família, que adquiriu os devidos skills jornalísticos e como comentadora numa relíquia da guerra fria, o universo propagandístico da Deutsche Welle, sabe tudo sobre a Alemanha. Fruto de uma natural evolução na continuidade, hoje a sua casa é a versão lusa da principal televisão oficiosa do regime americano, a CNN.

«Democraticamente se pronunciaram domingo passado os alemães dos Estados da Turíngia e da Saxónia, mas os eleitores enganaram-se, segundo d.ª Helena, para quem a extrema-direita "é igual" à extrema-esquerda, apenas "a economia" as separa.»

E, actuando como comentadora, acha que os eleitores dos territórios da antiga RDA estão saudosos dos «ocupantes russos» – daí «terem dado a vitória a Putin» – e, consequentemente, do «regime autoritário» daquele desmantelado país. Traduzirão os resultados o desespero dos eleitores que se sentem desprezados, mergulhados na pobreza, no desemprego e no deserto de direitos sociais depois de terem sofrido um takeover da Alemanha ainda ocupada pelos norte-americanos? Nada disso: d.ª Helena lamenta que seja um caso de ingratidão e um equívoco da maioria dos votantes. Por vezes as suas opiniões coincidem com as dos serviços secretos alemães, mas isso não passa de uma inesperada e pontual obra do acaso.

Todos os episódios descritos são casos de esquizofrenia, como tal incuráveis. Mergulhados numa situação de degeneração humana em alto grau, estes chefes ocidentais e respectivos acólitos deixaram de ter hipóteses de gerar antídotos por si mesmos. 

Perante a irreversibilidade da mistificação em que tudo isto se tornou, designadamente a democracia a que chamam liberal, é essencial que conservemos a lucidez, que defendamos os cérebros das manipulações inquisitoriais, que não nos deixemos arrastar para dentro da bolha da realidade paralela. Esse será um caminho essencial para a fazer explodir, um objectivo imperioso só possível de atingir através de muito trabalho, muita resistência organizada, muita luta, muita unidade e a noção de que com civilizações como «a nossa» não há que recear qualquer invasão de bárbaros. Eles já nos governam.

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