Desde 2010 que a VICARTE-Unidade de Investigação em Vidro e Cerâmica para as Artes, instalada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa na Caparica tem organizado exposições em Almada, com uma regularidade anual e em parceria com a associação de artistas plásticos IMARGEM, onde se expõe alguns dos últimos trabalhos de professores, ex-alunos e alunos do mestrado em arte e ciência de vidro e cerâmica.
Como refere Robert Wiley, professor da VICARTE, “este ano ... teremos oportunidade de observar alguns resultados da investigação em progresso, sobre práticas criativas com vidro e cerâmica, que tem vindo a ser realizada por artistas, cientistas e designers”, referindo ainda que, “embora se possam encontrar diversos materiais nas obras de arte apresentadas, o calor do forno desempenha um papel central nesta exposição”.
Na exposição Nascido de Chama participam artistas de diversos países: Amélie Girard (Canadá), Carolina Soares (Portugal), Covadonga Casado (Espanha), Fernanda Guerreiro (Portugal), Fernando Quintas (Portugal), Gregorik Bermudez (Venezuela), Kwan Tse (Hong Kong), Marika S. Brandt (Finlândia), Robert Wiley (EUA), Sneh Hazra (India), Valeria Montaña (Colômbia) e Yukie Satoh (Japão), tendo alguns deles já participado em exposições anteriores da VICARTE.
De referir duas características principais que podemos observar nesta exposição, o experimentalismo das técnicas utilizadas e, à exceção de dois desenhos, serem na sua quase totalidade obras de escultura. O experimentalismo com que os artistas intervêm, é visível pela forma como exploram as possibilidades expressivas e plásticas no diálogo entre materiais tão diversos como o vidro e a cerâmica, o cimento, o gesso, a madeira, a pedra ou a cortiça, que pela sua condição de “elementos reais” são também, sempre, uma presença objetual1, e da qual não nos podemos abstrair.
A escultura contemporânea tem vindo a transformar-se no género artístico mais difícil de definir, ampliando as suas possibilidades de intervenção espacial, característica esta já assinalada por Rosalind Krauss quando afirmou a noção de “campo expandido”2, na relação e diálogo da escultura com o espaço, com o corpo e com a arquitectura.
Na exposição da VICARTE deste ano podem ser vistas formas abstratas, esculturas como paisagens ou “objetos” flutuantes”, como objectos simbólicos ou fragmentos, suportes para inscrições ou impressão de imagens, assim como, na criação de “ambientes”. De salientar também a importância de se utilizarem os materiais e técnicas do vidro e da cerâmica, técnicas estas, ainda identificadas, de forma incorrecta, pelo público em geral, como sendo específicas do artesanato e não das artes plásticas e muito menos como práticas artísticas em grande afirmação na escultura contemporânea.
A VICARTE organiza também um ciclo de exposições, “Mind, Matter, and Emotion: Recent works from the Master of Glass and Ceramics Art and Science”, na Biblioteca FCT Nova – Campus da Caparica, que poderá ser visitado até 7 de Junho.3
Ainda em Almada, e à distância de um passeio a pé da Imargem, poderá também visitar a exposição Água d'Alto, de Maria Ana Vasco Costa, na Galeria Municipal de Arte4 (até 22 de junho). Nas peças expostas, a artista utiliza a cerâmica, o gesso e o esferovite para apresentar as suas esculturas como “.... objetos-paisagem, metáforas visuais que despoletam em cada visitante uma imaginação romântica”5, podem ainda ver-se nesta exposição algumas aguarelas.
- 1. Robert Morris, “Notes on Sculpture”, Artforum, fevereiro de 1966.
- 2. Rosalind Krauss, October, vol.8, (Spring, 1979).
- 3. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Caparica, 2ª a 6ª feira das 9h00 às 20h00.
- 4. Galeria Municipal de Arte de Almada, Av. D. Nuno Álvares Pereira, 74 A 2800 – 177 Almada. Horário: Segunda a sexta:10h - 12h30 e 14h - 18 h; Sábados: 14h - 18 h. Encerra aos domingos e feriados.
- 5. Filipa Oliveira, texto da exposição Água d'Alto.
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