Manuel Jorge Veloso, músico, compositor, realizador de rádio, crítico musical e de televisão, cronista, pioneiro da televisão e do jazz em Portugal, morreu esta madrugada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O corpo de Manuel Jorge Veloso estará, a partir das 17h, em câmara ardente na Igreja de São Francisco de Assis, em Lisboa, de onde partirá amanhã para o funeral no cemitério do Alto de São João, que se realiza às 19h.
Nascido em Lisboa, em 21 de Maio de 1937, Manuel Jorge Veloso teve formação musical clássica (violino e composição) no Conservatório Nacional. Nos anos 60 e 70 foi baterista de jazz amador. Foi director do Hot Clube de Portugal (1962-1963) e membro fundador do Quarteto do Hot Clube de Portugal, o primeiro grupo português com actividade jazzística exclusiva e regular, com o qual actuou em Portugal e no estrangeiro. Em 1971 integrou o Quarteto de Dexter Gordon, no I Festival Internacional de Jazz de Cascais. Tocou individualmente com inúmeros músicos de jazz portugueses e estrangeiros, entre os quais Sahib Shihab, Julius Watkins, Chet Baker, Gerry Mulligan ou Jean Sarbib.
Compôs a música para as longas-metragens Belarmino (1964) e Uma Abelha na Chuva (1968), ambas de Fernando Lopes, e Pedro Só (1971), de Alfredo Tropa, bem como para cerca de uma dezena de curtas-metragens de Fernando Lopes, Faria de Almeida e António Macedo. Foi professor da cadeira Construção e Análise da Banda Sonora, na Escola de Cinema do Conservatório Nacional (1971-1973) e fez o mestrado em Realização pela Escola Superior de Cinema e TV de Babelsberg-Potsdam (1978-1984).
Foi membro da direcção da Juventude Musical Portuguesa (1966-1968) e secretário-geral, entre 1985 e 1994, da Academia de Amadores de Música.
Fez parte da Comissão de Espectáculos da Festa do Avante!, onde teve um papel determinante na concepção e organização das noites de música clássica do palco 25 de Abril e na programação de jazz no Auditório 1.º de Maio.
Em 2014 criou, com o crítico e programador António Curvelo, o ciclo «Histórias de Jazz em Portugal», com o objectivo de divulgar «o momento único» que o jazz português está a viver, com várias gerações de músicos no activo.
Realizou regularmente conferências sobre jazz e foi autor de notas para folhas de sala de concertos de jazz, para várias instituições. Foi autor do blog O Sítio do Jazz.
Na edição discográfica, foi produtor (EMI/VC, Sassetti-Guilda da Música, Caminho) nas áreas da música popular, erudita, jazz e discos literários (1971-1974).
Pioneiro da televisão em Portugal, entre 1958 e 1971 foi produtor de programas de música clássica e de jazz (designadamente o programa «TV Jazz») na Rádio Televisão Portuguesa (RTP) e assistente de produção da série «O Povo que Canta», de Michel Giacometti. Com a Revolução dos Cravos foi membro da Comissão Directiva de Programas da RTP e Chefe do Departamento de Programas Musicais (1974-1975).
Radialista desde os anos 60, foi autor e apresentador de vários programas de jazz na ex-Emissora Nacional (EN), ex-Rádio Clube Português (RCP) e Rádio Renascença (RR), integrou a equipa do Programa «Tempo ZIP» da RR (1971/1972) e apresentou a rubrica «Os Clássicos no Jazz» no espaço de emissão matutino «Opus 8/11» da Antena 2. Também na Antena 2 foi, a partir de 1993, autor e apresentador do programa «Um Toque de Jazz».
Entre 1985 e 1987 fez parte dos quadros da Telefonia de Lisboa, uma rádio local dirigida por Ruben de Carvalho, onde realizou vários programas de jazz e música clássica.
Nos anos 60 e 70 , escreveu artigos de divulgação sobre jazz em vários jornais e revistas e, já nos anos 90, no jornal A Capital e na revista Já. Entre 1998 e 2007 colaborou no suplemento «DN Música» do Diário de Notícias e foi crítico de jazz (concertos, festivais) no mesmo jornal.
Militante do PCP, fez parte da redacção do Avante!, órgão central do Partido Comunista Português, de 1991 a 2000, onde se notabilizou pelas crónicas de crítica e análise televisiva assinadas com o pseudónimo Francisco Costa.
É coordenador e autor de várias entradas no domínio do jazz para a «Enciclopédia da Música Portuguesa do Século XX» (Temas e Debates, 2010), dirigida pela professora Salwa el-Shawan Castelo-Branco, do Instituto de Musicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Traduziu O mundo da música, de Leonard Bernstein (Livros do Brasil), e colaborou na entrada «Jazz» para o volume Música (Enciclopédia Meridiano/Fischer, 1968).
Aqueles que o conheciam de perto sublinham «a sua cultura, o seu humanismo, o seu humor, a sua inteligência, a sua fraternidade, o seu sólido e inabalável empenho na construção de um país mais justo e de um mundo melhor» – afirmou hoje Vítor Dias, no blogue O tempo das cerejas.
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