The Sleeping Thousand é uma sátira, uma efabulação sobre a situação de Israel e dos territórios ocupados da Palestina, que se inscreve no lote de obras com as quais o compositor israelita Adam Maor procura traduzir um «ponto de vista sobre o contexto cultural e político» em que cresceu, como escreve na sua própria página.
A ópera conta a história de milhares de prisioneiros palestinianos, detidos sem julgamento, que entram em greve de fome. À medida que a situação se deteriora e a pressão internacional aumenta, o Estado de Israel decide anestesiar os detidos (os milhares adormecidos do título), mantendo-os num dormitório de alta segurança, na sede do governo.
A aparente solução, no entanto, tem efeitos secundários. E conforme os palestinianos dormem, os israelitas passam a ter o sono cada vez mais perturbado, ameaçados por insónias e um pesadelo colectivo recorrente, no qual se vêem devorados por árabes. O pesadelo tem origem nos temores dos próprios israelitas, não nos palestinianos, que, nos seus sonhos lúcidos, acabam por fundar uma pátria independente do espaço e do tempo.
Concebida no âmbito da Rede Europeia de Academias de Ópera (ENOA, na sigla inglesa), que envolve a Fundação Gulbenkian, entre outras 12 salas europeias de concerto, a ópera The Sleeping Thousand foi estreada em Julho passado no Festival de Aix-en-Provence, em França, e tem libreto do dramaturgo e encenador israelita Yonatan Levy.
Adam Maor afirma que a política é «uma parte importante» da sua vida e, como compositor, tem a preocupação de «definir uma linguagem pessoal» que transmita o seu «ponto de vista sobre o contexto cultural e político» em que cresceu, «no actual [território] Israel-Palestina». «Faço isso através [da música] contemporânea ocidental, (...) na qual incluí, progressivamente, elementos da tradição musical árabe, que também representa parte da minha herança e que constitui uma fonte contínua de investigação», prossegue o compositor.
The Sleeping Thousand é, segundo o compositor, uma ópera política em que aborda «a questão da liberdade». Maor não tem a certeza de a poder apresentar num palco israelita, na actualidade, tendo em conta «a pressão do governo sobre os artistas».
Nascido em Haifa, em 1983, Maor iniciou os estudos musicais no conservatório local, e a formação em composição com Eitan Steinberg, antigo discípulo de Luciano Berio, Peter Maxwell Davis e Franco Donatoni.
Em 2002, aos 19 anos, depois de se recusar a cumprir o serviço militar obrigatório no seu país, por considerar «imoral a ocupação da Palestina», Maor foi condenado a dois anos de prisão. Libertado em 2004, prosseguiu a formação no Conservatório de Música de Genebra e no Instituto de Investigação e Coordenação Acústica/Música (IRCAM), em Paris.
Com agência Lusa
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