«O sertão é dentro da gente. E esse sertão não é feito apenas de aridez e provocação, mas também de veredas, de estações de alívio e beleza em meio à solidão.», dizia o escritor mineiro (1908-1967).
Seguindo a pé pelos vales dos rios Urucuia e Carinhanha – Norte e Noroeste do estado brasileiro de Minas Gerais –, durante uma semana, amantes da cultura, da literatura e da natureza têm oportunidade de mergulhar no universo de Guimarães Rosa.
Quem promove a experiência, colocando os caminhantes em contacto com os saberes dos povos da região, é O Caminho do Sertão, que na sua página resume o caminho como: «Uma imersão sócio-eco-literária no universo de Guimarães Rosa. Entre sol, areia, mitos, realidades, sorrisos, abraços e um encharcar-se de sertão.»
O portal explica que, desde 2014, a «jornada» busca, anualmente, gente interessada na «dinâmica do cerrado, suas questões socioambientais, aventureiros, e entusiastas da literatura roseana, prometendo uma experiência única na vida».
«Percorrendo parte do caminho realizado por Riobaldo, personagem central do livro Grande Sertão: Veredas, rumo ao Liso do Sussuarão», os participantes vão contactando as comunidades, ligando-se «aos saberes e fazeres do povo geraizeiro», anunciam os promotores.
Michael Douglas, membro da organização, disse ao Brasil de Fato que a rota surgiu na sequência de acções de desenvolvimento regional no início de 2000, tendo como base a necessidade de criar rendimentos e empregos no seio das comunidades.
Este ano, O Caminho do Sertão decorre entre 9 e 17 de Julho. A rota parte da Sagarana, no município de Arinos, e segue em direcção ao Parque Nacional Grande Sertão Veredas, na Chapada Gaúcha, quase na fronteira com o estado da Bahia.
Ao longo de sete dias, os participantes podem fazer parte do caminho feito pela personagem central do livro Grande Sertão: Veredas, além de conhecer a cultura dos sertanejos de Minas, entrando em «contacto com comunidades tradicionais e quilombolas, vilas, áreas de assentamento da reforma agrárias, áreas de posseiros e do agronegócio».
A obra de Guimarães Rosa «é o principal património imaterial da vasta região conhecida como sertão mineiro; como tal, se bem trabalhado, pode impactar positivamente no fortalecimento da identidade do território e ainda pode promover a melhoria da auto-estima do povo sertanejo, ao se perceber retratado com mestria numa obra literária que, literalmente, levou o sertão ao mundo. No caso particular do Caminho do Sertão a obra fundamenta, ilustra e promove o turismo de base comunitária», explicou Douglas.
João Guimarães Rosa, médico, diplomata e escritor, é autor de livros de contos e novelas conhecidos. Grande Sertão: Veredas, seu único romance (1956), é considerado uma obra-prima da literatura de língua portuguesa e universal.
«A obra de João Guimarães Rosa deu voz aos desvalidos do sertão, ao sertanejo, aos idosos, aos doentes, aos loucos, à mulher, aos bandidos, aos bêbados, à criança, aos animais e mesmo aos elementos da natureza», disse Michael Douglas.
E acrescentou: «A obra revela a percepção de que a tarefa para que o sertão e seu povo tenha voz e tenha vez ainda está inacabada.»
Rotas do Caminho do Sertão (2019)
«Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.» (João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)
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