«A notícia da morte de José Duarte, divulgador, crítico de jazz, e autor de programas de rádio, televisão e livros essenciais para o conhecimento desse fenómeno musical em Portugal, incluindo a primeira História do Jazz escrita por um autor português, não entristece apenas os seus familiares, amigos e admiradores, mas também todos os que recordam nele um homem que, através da intervenção cultural, pugnou e contribuiu para a difusão de ideais democráticos de liberdade de expressão, justiça social e antirracismo, que a própria música que ele tanto amava, na sua génese, corporizam e que o 25 de Abril, há quase 50 anos, institucionalizou em Portugal», reconheceu o jornalista Pedro Tadeu, em declarações ao AbrilAbril.
Nascido em 23 de Junho de 1938, José Duarte começou a escrever sobre jazz em 1958 no boletim do Clube Universitário de Jazz e, a partir de 1960, de forma permanente, na imprensa de grande difusão.
Nessa mesma época, recorda o jornalista que integra a Comissão de Espectáculos da Festa do Avante!, «Jazzé», como gostava de ser chamado, «começou a realizar programas de rádio e manteve até hoje aquele que era o mais popular programa de jazz em Portugal, o Cinco Minutos de Jazz, cuja primeira edição ocorreu a 21 de Fevereiro de 1966 e era, por isso, o programa mais antigo da rádio portuguesa, que a Antena 1 emitia diariamente, de segunda a sexta-feira».
No seu livro, Cinco Minutos de Jazz, saído em 2001 e inspirado no histórico programa, José Duarte escreve sobre o início do programa, em pleno fascismo: «cada simples Cinco foi outro pauzinho na engrenagem / cada um uma oportunidade arriscada / para deixar mensagens implícitas / contra o poder ditatorial», lembra Tadeu.
Outros aspectos mais relevantes da sua carreira incluíram a integração da direcção do Hot Clube de Portugal na segunda metade da década de 1970, a produção do primeiro fonograma de jazz gravado em Portugal (um disco de 1972 do concerto do quinteto de Steve Lacy), a organização de concertos, festivais, edição de discos, e inúmeras palestras e conferências, dadas em escolas, universidades e associações de todo o país.
Na televisão e na rádio, José Duarte foi ainda co-autor de programas muito populares, fora do âmbito do jazz, como 1,2,3 e Pão Com Manteiga, nas décadas de 1970 e 80.
Pedro Tadeu assinala que, com o desaparecimento de José Duarte, mas também de Luís Villa-Boas (1999), Manuel Jorge Veloso (2019) e Duarte Mendonça (2021), «desaparece também o quarteto mais influente em Portugal, a partir da década de 1960, na divulgação, através dos meios de comunicação de massa, do fenómeno jazz».
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