Uma autobiografia brasileira
Certas vidas davam um romance. Seguramente um ou mais daria a da roqueira Rita Lee Jones (n. 1947), filha de imigrantes (pai de origem norte-americana, mãe de ascendência italiana). Mas a cantora brasileira optou por escrever «uma» autobiografia (não «a» autobiografia – será que poderia escrever uma outra, diferente desta?). Uma Autobiografia (Contraponto, 2017) cuja leitura é difícil abandonar, por boas e diversas razões.
Conhecimento obrigatório, em primeiro lugar, para quem se interesse pela história da música popular brasileira (em especial o movimento tropicalista e o rock brasileiro ou o «roquenrou», para usar o termo de Rita) e pelo quadro sociocultural que envolveu toda uma plêiade de artistas emergentes nos anos 60 e 70, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Bethânia, Jorge Ben Jor, Os Mutantes, Raul Seixas (para não falar nos inevitáveis Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Elis…). No centro de tudo, a cena paulista, ou não fosse Rita Lee paulistana, mas alude-se obviamente a outros núcleos geoculturais de relevo, começando pelo Rio.
O texto seduz também pela vida rocambolesca e ousada que narra, a de uma personalidade irreverente e bem-humorada, capaz de rir de si própria, determinada e corajosa (mesmo na assunção de erros e vícios, imoralidades e desmandos), «bom coração», defensora da sua condição de mulher em todas as dimensões que ela comporta, advogada incondicional dos direitos dos animais, fiel ao rock e ao seu contraditório universo sociocultural.
Recorde-se, a propósito, que diversas canções da cantora e compositora foram proibidas pela censura durante a ditadura brasileira; e que, em Agosto de 1976, foi presa, durante a primeira gravidez, por posse e uso de maconha. Para alguns, o episódio terá sido sobretudo um acto do regime ditatorial com o propósito de servir de exemplo à juventude da época. Para Rita, foi uma vendetta policial armadilhada e motivada.
A cantora foi conseguindo, pois, libertar-se da mera condição de mulher-imagem, backing vocals, acabando por construir um caminho musical próprio, de evidente influência anglo-saxónica – ainda que condicionado pelo sistema mediático e pela poderosa indústria musical brasileira, bem como pela trajectória da cultura pop anglo-americana, indissociável da própria evolução da economia capitalista.
E isto num período histórico em que tanto aconteceu: por um lado, o ascenso da Guerra Fria, a guerra do Vietname, a Revolução Cubana, a guerrilha do Che, a resistência às ditaduras latino-americanas, os movimentos anti-colonialistas e anti-racistas; por outra parte, o surgimento dos Beatles, dos Rolling Stones e de Dylan, o movimento hippie e os grandes festivais de Woodstock e da ilha de Wight, a luta dos afro-americanos pelos direitos cívicos e a contestação estudantil tanto nos Estados Unidos e na Europa, como na América do Sul, para lembrar apenas alguns acontecimentos.
Nestes convulsos anos 60 e inícios de 70, Rita Lee emerge do grupo Os Mutantes, banda cuja importância relativa – nomeadamente pela introdução da instrumentação eléctrica, pela aproximação aos ritmos e melodias da pop inglesa e americana e pelo culto duma imagem não convencional – é hoje reconhecida na cena musical do Brasil (não falta quem os tenha considerado os Beatles brasileiros).
Na autobiografia, a história de Rita com Os Mutantes é também o relato de um processo de maturação pessoal, uma história de afectos e desafectos que a autora narra sem condescendência, com algum distanciamento, assinalável sentido de auto e hetero-crítica e, sobretudo, boas doses de humor. Hoje, é evidente também que tanto Rita Lee como Os Mutantes ficarão para sempre ligados a uma das mais inesquecíveis canções da MPB, para eles composta por Caetano Veloso / Gilberto Gil, e que dá pelo título de «Panis et Circenses» [sic].
Uma melodia célebre em que ecoa o estilo de Lennon & McCartney, expressando uma crítica à desatenção ao mundo, característica de uma pequena-burguesia em estado de alienação.
(Recorde-se ainda que Os Mutantes estiveram no Teatro Villaret, em Lisboa, em 1969.)
Existem, contudo, outros ingredientes que tornam cativante o livro de Rita Lee: a gestão do ritmo narrativo e da tensão entre essencial e pormenor, a consistência dos principais retratos (destaque para o impagável pai, Charles, e para os mais próximos, começando pelos irmãos Arnaldo e Sérgio, d’Os Mutantes, e acabando no marido, o guitarrista e compositor Roberto de Carvalho), o colorido dos ambientes e o gosto pela revelação picante, mesmo assim comedida e sem pisar o risco do mau gosto…
Há ainda toda a fluência da palavra e o investimento estilístico na linguagem; a graça do que é dito e do modo como é dito; a espirituosa utilização da hipérbole; a graça do «rockês» da autora e o sabor coloquializante do seu português-do-Brasil; o recurso, com saber e jeito, ao termo estrangeiro, sobretudo inglês; a soma de inventivos neologismos, mots-valises e outros jogos linguísticos («defensora dos frascos e comprimidos», «trocentos», «meio trêbado», «hilário», «roquenrou», «ozmano» – ou seja, os manos –, «tropicanalhada» e muitos outros).
Todos estes traços e outros tornam a leitura desta autobiografia de Rita Lee um exercício de diversão e inteligência. Saibamos lê-la com um olhar despreconceituoso, como instrumento de compreensão de um tempo e de uma personagem da pop que vale a pena conhecer e situar no respectivo contexto (a sua auto-definição, «hippie-comunista-com-um-pé-no-imperialismo» (p. 162), assenta-lhe como uma luva).
Uma canção ilustrada
Mantenhamos um pé no Brasil e na música, outro em Portugal e na ilustração. Certas canções gosto de as qualificar como perfeitas-ou-quase (demoraria muito tempo a argumentar). Uma delas, para mim, é «A banda», saborosa melodia em ritmo de marchinha popular, bem brasileira, com uma letra em heptassílabos, no refrão, que se lhe ajusta como nenhuma outra.
Data de 1966 e o genial compositor, letrista e firme homem de esquerda que a criou é Chico Buarque de Hollanda (também não resisto, é claro, à belíssima interpretação de Nara Leão). Pois bem, não sei se foi Afonso Cruz (a colecção leva o seu nome como… director, curador?) se foi o editor, se foram os próprios ilustradores; certo é que estes, talentosíssimos, enquadraram o texto da canção num álbum narrativo e poético, dando a ver os muitos e prodigiosos efeitos da passagem de uma banda de música pelas ruas de uma cidade magnificamente desenhada.
O estilo é geometrizante, com algo de cubista, sendo sobretudo os seres vivos aqueles que assumem outras formas, que não os rectângulos, os quadrados ou os triângulos dos edifícios. Os ilustradores em causa são Tiago Albuquerque (n. 1982), co-autor de Almada Negreiros, viva o Almada, Pim! (texto de José Jorge Letria), e Nádia Albuquerque. O álbum intitula-se A Banda (2017) e traz a chancela da Alfaguara (editora do grupo Penguin Random House, a operar em Portugal).
As imagens criam uma narrativa simples, breve, mas cheia de ritmo, só em parte paralela à das palavras, e que repousa na exploração da figura da gradação (progressiva e regressiva), tal como a canção o faz, sendo o crescendo emotivo sugerido sobretudo pelos rosas, pelos ocres, pelos vermelhos e pelos castanhos, e o elemento mais disfórico (início e fim) pelo branco, pelos cinzas e pelo azul escuro.
Um objecto precioso para qualquer adulto e qualquer criança verem, lerem e explorarem à medida que vão escutando a cantiga de Chico Buarque. A prova de que esta nova tipologia literário-editorial (não quero chamar-lhe género), em tempo de omnipresença da imagem, poderá apontar hoje, em certos casos, para uma potencial recepção transgeracional («crossover fiction», lhe chamou Sandra L. Beckett). Mais um título à disposição daqueles que, como eu, estudam os laços da literatura com a música e outras artes.
Porto e Caldas – grande música, por um notável pianista: Fausto Neves
Aos leitores do norte e do centro não posso deixar de recomendar os próximos concertos em que é possível escutar o notável pianista clássico (e reconhecido conhecedor e intérprete da obra de Lopes-Graça, por exemplo) que é Fausto Neves. Apontem: PIANOPORTO2017 – a 2.ª maratona de 24 horas de piano em Portugal, com organização do Conservatório de Música do Porto, no palácio Balsemão, na Invicta, a 12 de Julho de 2017, pelas 11 horas. Obras de Mozart e Debussy.
Mais adiante, não se perca, a 9 de Agosto, 21h, no Centro Cultural das Caldas da Rainha, na Semana Internacional de Piano de Óbidos (SIPO), o recital de piano, em que Fausto Neves interpretará obras de Mozart, Prokofiev, Lopes-Graça, Ravel e Debussy.
Zeca, sempre, no Porto (e preparação para os Manhattan Transfer…)
A 4 de Julho, o espectáculo «Zeca Afonso – 30 anos depois» é algo a não esquecer. Terá lugar no Porto, no belo edifício da Casa das Artes, pelas 21h30, e conta com a participação do Consort de Flautas do Bonfim (direcção de João Rocha), do Bando dos Gambozinos (direcção de Suzana Ralha) e dos colectivos Vox Populi e Uma Vontade de Música (direcção de Guilhermino Monteiro).
Se tenciona estar no Porto, ou visitar a cidade, em Julho, vá-se preparando: a 22 de Julho, na sala Suggia, da Casa da Música, actuarão os excelentes e excitantes Manhattan Transfer. Prevê-se lotação esgotada, claro.
Vila do Conde: as Curtas e a música dos Mão Morta, entre outras
De 8 a 16 de Julho de 2017, decorre o 25.º Festival de Curtas (Metragens) de Vila do Conde. Confira a programação desta notável realização cultural. No presente ano, celebra-se o 25.º aniversário, pelo que o programa é diversificado e envolve, além de muito cinema, de publicações e de outros eventos, toda uma convidativa agenda de espectáculos musicais.
Dela permito-me destacar o dos Mão Morta, a 15 de Julho, com o seu principal mentor, Adolfo Luxúria Canibal, artista conhecido por ser uma voz livre e crítica, no plano público, não enjeitando compromissos cívico-culturais com o tempo histórico que é o seu (coisa rara…). Cito o programa: «No ano em que também assinalam o 25.º aniversário de Mutantes S.21, os Mão Morta sobem ao palco do Teatro Municipal, no sábado 15 de julho, para uma apresentação integral do mítico álbum.
A banda de Adolfo Luxúria Canibal regressa, assim, ao festival, onde atuou há nove anos, para um concerto de celebração do disco que colocou os Mão Morta no radar do rock português. Este concerto vai revisitar todos os temas de Mutantes S.21 e uma selecção de outros trabalhos da banda.»
Em Espinho, o FIME, com grande música: Bach e música de câmara
Está já a decorrer (30-6 a 22-7) o 43.º Festival Internacional de Música de Espinho, evento prestigiado e antigo com oferta plural e de grande qualidade (veja a programação). Proponho, no entanto, dois concertos para mim especialmente dignos de atenção: a 7 de Julho, 22h, actua o Coro Gulbenkian, a direcção é do maestro Michel Corboz e será possível escutar Fernando Miguel Jalôto, no órgão, Sofia Diniz, na viola da gamba, e Marta Vicente, no contrabaixo barroco. Local: Igreja Matriz de Espinho; entrada livre sujeita a levantamento do convite. O programa é fascinante: prelúdios corais, de Johann Sebastian Bach.
A 9 de Julho, 18h, acontecerá outro concerto no Auditório de Espinho – Academia. Tocará um conjunto de jovens músicos premiados: Alena Baeva, violino; Vadym Kholodenko, piano, e o Hanson Quartet. O núcleo programático é música de câmara, austríaca e francesa: Erich Wolfgang Korngold (1897 – 1957), Quinteto com piano, em Mi Maior, op. 15; Ernest Chausson (1855 – 1899), Concerto para Violino, Piano e Quarteto de Cordas, em Ré Maior, op. 21. Entrada: 7 euros.
Lisboa e Gaia – Venezuela; e Memória da Espanha Republicana
Aponte: a 5 de Julho, celebra-se o Dia da Independência da Venezuela. Às 11h30, junto à estátua de Simon Bolívar, na Av. da Liberdade, em Lisboa, haverá uma acção de solidariedade com o povo da Venezuela promovida pelo Conselho Português para a Paz e a Cooperação.
Não resisto a citar parte do esclarecedor texto do CPPC: «A Venezuela está a ser alvo de uma acção de ingerência e desestabilização que, explorando reais problemas económicos, visa paralisar a acção do seu legítimo governo, confrontar a Constituição venezuelana e atacar o processo bolivariano e as suas realizações.
Não são os interesses do povo venezuelano que estão por detrás do boicote económico, açambarcamento e especulação. Não são os valores democráticos que estão por detrás dos actos de violência com que grupos reaccionários e de extrema direita tentam lançar o caos naquele País. Não é a verdade que se defende quando se apresenta como opressor um governo democraticamente eleito que tenta manter a ordem e assume a defesa da lei e da Constituição. Não são os interesses da Venezuela e os valores da paz que estão por detrás das acções de uma "oposição" que instiga à agressão externa contra a Venezuela.
O que está verdadeiramente em causa na Venezuela é uma tentativa de golpe de Estado contra um país soberano, contra a sua Constituição e o seu legítimo governo. Um golpe antidemocrático, atentatório da soberania e independência da Venezuela bolivariana, direccionado contra todos aqueles que continuam empenhados em construir um futuro de progresso social, de afirmação soberana e de cooperação entre os Estados da América Latina visando o interesse dos trabalhadores e povos daquela região.
O verdadeiro objectivo que preside às manobras de ingerência e desestabilização contra a Venezuela e às campanhas de mentira e manipulação que as acompanham, é o da tentativa de recuperação do domínio dos EUA posto em causa com os processos progressistas na América Latina.»
Neste dia, se fosse a si, iria ainda escutar, na Internet, a voz do saudoso cantor revolucionário venezuelano Alí Primera (1941-1985) ou as do colectivo Lloviznando Cantos. Vale a pena. Pelo menos, sempre limpa os ouvidos da intoxicação televisiva nacional no que à Revolução Bolivariana diz respeito. Deixe-me sonhar e rir um pouco: para quando um Prós-e-Contras na RTP sobre a luta de classes actual no Brasil e na Venezuela?
A 14 de Julho, a Casa-Museu Teixeira Lopes, em Gaia, albergará, por seu lado, uma sessão político-cultural que promete: «Memória da Espanha Republicana», com intervenções de Jorge Sarabando, Miguel Ramalhete Gomes e José António Gomes, designadamente em torno dos 80 anos do bombardeamento nazi-fascista de Guernica e do célebre quadro de Picasso, e ainda sobre os 80 anos do histórico II Congresso Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura, que teve lugar, em Julho de 1937, em Valencia, Madrid e Barcelona, e no qual participaram dezenas de escritores de todo o mundo: Neruda, Huidobro, Paz, Vallejo, Jaime Cortesão, Ilya Ehrenburg, Alexis Tolstoi, Langston Hughes, Tzara, Malraux, Auden, Nicolás Guillen, Heinrich Mann, Machado, Alberti, Bergamín, María Teresa León, León Felipe, Emilio Prados, María Zambrano, muitos e muitos outros.
Momento memorável, em suma, de unidade de intelectuais e artistas muito diversos num concreto e impactante acto de resistência ao fascismo. Já reparou na actualidade da temática?
Pois bem, a actriz Olga Dias lerá ainda o conhecido poema de Carlos de Oliveira, «Descrição da Guerra em Guernica», e haverá momentos musicais com Fausto Neves e Manuel Pires da Rocha. A não perder, esta iniciativa do Sector Intelectual do Porto do PCP, em que será também evocada, por momentos, a figura de García Lorca, o poeta assassinado pelos fascistas em 1936, e onde será possível adquirir a 2.ª edição da sua magnífica Alocução ao Povo da Aldeia de Fuentevaqueros (versão em português).
Mais algumas sugestões de leitura, a terminar
Ensaio – George Steiner em The New Yorker (Relógio d’Água, 2017), de George Steiner – um conjunto de magníficos e desafiadores ensaios sobre grandes obras e criadores literários.
Vislumbres da Índia (Relógio d’Água, 2017), de Octavio Paz: um livro importante do grande poeta e ensaísta mexicano, prémio Nobel da Literatura. Impecável, competentíssima versão de um dos maiores tradutores portugueses contemporâneos, sobretudo do italiano e do castelhano: José Colaço Barreiros.
Carnaval no Fogo: Rio de Janeiro (Tinta da China, 2017), de Ruy Castro – mais um título a não perder, desta feita sobre o Rio (misto de ensaio, História, guia de viagem…), do brasileiro Ruy Castro, o autor do imprescindível Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova (2016). (2016).
Desobedecer às Indústrias Culturais (Deriva, 2017), de Regina Guimarães. Da contracapa: «As "indústrias culturais" e "criativas" estão por todo o lado e moldam os produtos artísticos de modo a que eles respeitem os padrões e imperativos comerciais. Nas nossas cidades, as indústrias ditas cul... e cria... transformam vento em evento e mostram-se aptas a enquadrar a mega operação de gentrificação do edificado que, na sequência de décadas de abandono e de especulação imobilária, ainda não tinha sido conquistado e/ou investido pelas classes abastadas.»
Revista – «Delphica», n.º 4, edição da Crescente Branco, com muitíssima matéria susceptível de atrair o amante e estudioso de literatura. A pedra-de-toque são os clássicos greco-latinos, mas não só; incluem-se traduções e textos inéditos de vários contemporâneos. E diversos ensaios. Píndaro, Petrarca, Baudelaire, Virginia Woolf, Bataille, Armando Silva Carvalho, Vasco Graça Moura e os poetas norte-americanos – eis apenas alguns dos muitos motivos de interesse deste número.
Obras completas – Obras Completas de Mário-Henrique Leiria: Ficção (E-Primatur, 2017), de Mário-Henrique Leiria. Com introdução, organização e notas de Tania Martuscelli, eis um trabalho de enorme mérito e oportunidade que estava por fazer: a edição digna, estudada, necessária, da obra integral de um dos mais marcantes surrealistas portugueses, mestre do conto breve e do micro-conto (neste 1.º volume, incluem-se apenas as narrativas, o teatro, os guiões). Essencial (re)ler. Faz bem toda esta imaginação e irreverência crítica.
Uma Faca nos Dentes (Antígona, 2017), de António José Forte – a reedição de toda a obra (ou quase, pois falta o livro de poesia para crianças, mas mesmo assim incluem-se textos que se encontravam dispersos) deste excelente poeta associado também ao surrealismo e ligado ao grupo do café Gelo. Mantém-se o prefácio de Herberto Helder.
Poesia – A Mulher do Casaco Vermelho, da norte-americana Jane Hirshfield, e Antes de o Tigre se Abrigar, do paquistanês Arvind Krishna Mehrotra, ambos de 2017 e da editora Eufeme, em excelentes traduções do poeta e professor universitário Francisco José Craveiro de Carvalho.
Árvore de Diana (sem indicação de editor, 2017), da inesquecível argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972), em tradução de João Paulo Esteves da Silva.
A Luz que se Escondeu no Escuro (Crescente Branco, 2017), de Alberto Lacerda (1928-2007), recolha de inéditos em boa hora trazida a lume, pela mão sempre amiga (saudosa do seu amigo) que tem sido a de Luís Amorim de Sousa.
Vasos Comunicantes (Poética, 2017), de António Ramos Rosa e Gisela Gracias Ramos Rosa: 2.ª edição, agora bilingue (português e castelhano) do belo livro que o poeta de Ciclo do Cavalo escreveu com a sua sobrinha Gisela.
Odes Olímpicas (Abysmo, 2017), de Píndaro – um clássico com tradução e apresentação de António de Castro Caeiro, e prefácio de María José Martín Velasco.
Literatura para crianças e jovens – A Trote e a Galope: Poesia para a Infância (Letras & Coisas, 2017), de Nuno Higino. Um livro maravilhoso de um grande poeta para crianças (e também para o público adulto).
Neste volume, Higino reúne todos os títulos que até agora editou nesta área, juntando-lhe inéditos e dispersos. Ilustrações (a técnica é a gravura) lindíssimas de Alberto Péssimo. Para mim, e no domínio da literatura para crianças e jovens, trata-se de um acontecimento.
Basta Imaginar (Afrontamento, 2017), de João Lóio, com ilustrações de Maria João Castro. Um pequeno mas indispensável pilar do cancioneiro contemporâneo para crianças, da autoria de um compositor e cantor conhecido: João Lóio (em tempos idos, membro activo do GAC Vozes na Luta, companheiro de aventuras musicais de José Mário Branco e de outros músicos).
A obra inclui um CD com as canções. Um material precioso para professores de Educação Musical, professores de Língua Portugueses e, é claro, para o público infantil.
Palavras-Chave (Trinta por Uma Linha, 2017), de João Manuel Ribeiro, com ilustrações de Constança Araújo Amador. Um bonito livro de poesia para jovens, com reflexões por vezes penetrantes e sedutoras sobre a palavra e os seus sortilégios.
Coisas Boas de Contar (Poética, 2017), de Lídia Borges, poeta, professora e estudiosa de literatura para a infância. Neste livrinho ilustrado pela própria autora, propõe-se uma série de curtos poemas muito centrados nos animais e no brincar, que certamente atrairão os mais pequenos para o universo da poesia, recorrendo à via, sempre segura e encantatória, do jogo de palavras, da rima e do ritmo, em suma: de um investimento estilístico preferencial no plano das sonoridades. Lúdico e bem-humorado, sem dúvida.
Na Boca do Lobo (apcc, 2016), de Sara Monteiro – um conjunto de poemas para crianças, sensível e divertido, de uma autora estimulante, desafiadora e com obra consolidada nesta área. Ilustrações de Susana Carvalhinhos.
Há Vozes no Charco (apcc, 2016), de Raul Malaquias Marques, com ilustrações de Pierre Pratt; Cidade em Forma de Assim (apcc, 2016), de João Paulo Cotrim, com ilustrações de Rui Rasquinho (e ecos o’neillianos); e ainda Vincos (apcc, 2016), de Inês Fonseca Santos, com ilustrações de Nicolau – um conjunto de pequenos livros, visualmente muito cuidados e com textos narrativos de qualidade para os mais novos, resultantes da louvável iniciativa, que prossegue, da Associação para a Promoção Cultural da Criança.
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