Jean-Claude Junker Honoris Causa – Onde está a honra?

Jean-Claude Junker é, pois, aceitando a melhor hipótese, «um caçador furtivo» que não vê nada, não sabe nada, um distraído útil, por baixo do qual passam atentados bombistas e fuga aos impostos.

CréditosOlivier Hoslet/EPA / Agência Lusa

O Presidente da Comissão Europeia foi, há poucos dias, homenageado com o doutoramento «honoris causa» pela Universidade de Coimbra. Figura controversa e desprestigiada, Junker, antes, durante e depois da crise (se considerarmos que já passou…) foi dizendo qualquer coisa e o seu contrário, enquanto obedecia às orientações neoliberais que a Alemanha e a União Europeia impunham através do Eurogrupo, salvando os grandes bancos e agredindo os «preguiçosos» PIGS do Sul, como a Grécia, Espanha e Portugal.

Como primeiro-ministro do Luxemburgo (1995-2013), Jean-Claude Junker negociou, à socapa, escandalosas facilidades fiscais dadas a centenas de multinacionais que chegaram a ser taxadas a menos de 1%, tornando o Luxemburgo no Estado com maior PIB per capita do mundo, roubando receitas a países como Portugal, a quem, enquanto presidente do Eurogrupo (2005-2013), exigia um brutal aumento de impostos.

A aldrabice, que ficou a ser mundialmente conhecida sob o nome de «LuxLeaks», criou algum incómodo nos meios políticos e da alta finança sem, contudo, levar a qualquer mudança substancial nos seus procedimentos ou regras.

Envolvido também no escândalo dos serviços secretos luxemburgueses (Service de Renseignement de L’Etat Luxembourgeois - SREL), – acusados de corrupção, proxenetismo, pedofilia, tráfico de droga, venda de carros de estado e atentados à bomba nos anos 80, falsamente atribuídos aos comunistas –, Junker justificou-se dizendo que não ligava ao que se passava no SREL, estava distraído com a Europa, não tinha tempo, etc…, o que fez com que a revista Der Spiegel afirmasse que «a imagem de Junker balança entre Mister Euro and Mister Idiot» (Spiegel Online, 15-7-13)

Um artigo de Jean-Pierre Stroobants, correspondente em Bruxelas do Le Monde, intitulado «Fragilisé par un scandale touchant les services secrets du Luxembourg, Juncker démissionne», refere com mais pormenor outros dados conhecidos com a abertura de um processo a dois polícias de uma unidade de elite implicados, nos anos 80, na «vintena de bombas que explodiram provocando um traumatismo nacional, criando a ideia que o pequeno Grão-Ducado era como a Itália ou a Bélgica, vítima de uma 'estratégia de tensão' favorecendo a emergência de um poder autoritário depois de posta em evidencia a 'fraqueza' do estado.»

O artigo acrescenta ainda que, «para os advogados dos dois arguidos, era uma rede da organização 'Stay Behind', financiada pelos serviços secretos americanos, que estava na origem dos atentados». (Le Monde de 10-7-2013).

O escândalo das bombas atingiu outros responsáveis políticos e da polícia luxemburguesa, nomeadamente Luc Frieden, ministro das finanças e previsto sucessor de Junkers, acusado de ter dificultado a investigação do caso.

O relatório do inquérito aos SREL, assim como estas e outras notícias sobre o assunto, podem ser facilmente consultados na net, (basta ir ao Google e escrever Junker SREL) pelo que a Universidade de Coimbra não os pode ignorar.

Eleito para Presidente da Comissão Europeia com os votos do Grupo Socialista Europeu, a eurodeputada Ana Gomes (PS), reconhecendo algum embaraço criado a Junker com o LuxLeaks – «ficou terrivelmente descredibilizado uma semana após ter tomado posse como presidente da Comissão Europeia» – justificou com alguma originalidade as enviesadas razões do apoio à sua eleição e manutenção no cargo:

«Pedir a demissão de Juncker agora só atrasa a tomada de medidas: o que importa é forçá-lo a arrepiar caminho, na lógica de que nada melhor do que um caçador furtivo para dar caça aos caçadores furtivos.» (Público 14-11-14).

Jean-Claude Junker é, pois, aceitando a melhor hipótese, «um caçador furtivo» que não vê nada, não sabe nada, um distraído útil, por baixo do qual passam atentados bombistas e fuga aos impostos.

Não é, por isso, merecedor de qualquer honra, e a Universidade de Coimbra desprestigiou-se com esta injustificada iniciativa.

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