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Montenegro invoca soberania para alimentar a guerra num país refém da UE e Euro

Na abertura do Land Defence Industry Day, evento do Exército Português, Luís Montenegro, de forma a alimentar a narrativa da guerra, alertou para os ataques à soberania nacional «que não se vêem». Num país subjugado aos ditames da UE, o primeiro-ministro demonstra preocupações selectivas.

CréditosOlivier Mathis / EPA

Para incitar ao belicismo, quem o promove tem recorrido a todos os meios para alimentar o medo. Se na passada semana Ursula Von der Leyen recorreu a um «kit de emergência» para criar um ambiente de alarmismo e um iminente cenário de guerra, hoje, Luís Montenegro lembrou-se da soberania nacional para sustentar a narrativa criada. 

«A nossa própria estrutura de funcionamento político e social está hoje em causa todos os dias, com ataques que não se vêem, com ataques que circundam e invadem o nosso espaço e a nossa soberania», disse o primeiro-ministro. 

Esta parte do discurso é particularmente interessante. Luís Montenegro diz que o ataque à nossa soberania nacional coloca em causa o funcionamento político e social e isso levanta questões. Estará o líder do executivo a falar do espantalho criado para financiar a indústria de guerra ou da actual arquitectura da União Europeia?

Afinal de contas, os constrangimentos da União Europeia estão presentes no dia-a-dia dos portugueses, con­di­ci­o­nando me­didas que podiam alavancar o de­sen­vol­vi­mento da ca­pa­ci­dade pro­du­tiva e a ele­vação das con­di­ções de vida. É o Pacto de Estabilidade e Crescimento, que se impõe aos Estados-membros com um limite máximo para o défice orçamental de 3% do PIB, que impede o aumento do investimento nas funções sociais do Estado, como a saúde, educação, protecção social e infra-estruturas.

É também a Comissão Europeia que, em última instância, aprova o Orçamento do Estado e caso o défice orçamental seja superior a 3%, é accionado um Procedimento por Défice Excessivo que implica a aplicação de sanções de forma a promover cortes na despesa.

A par de Bruxelas, que avaliza o Orçamento do Estado português, com a ameaça de sanções e cortes na despesa se o défice orçamental for acima dos 3% criados em França, também o Banco Central Europeu (BCE) define a política monetária dos países, impulsionando a política de desigualdades. Veja-se o aumento das taxas de juro decretado pela instituição de Lagarde, que penalizou fortemente Portugal e levou a um aumento brutal das prestações do crédito à habitação. Não coloca isso em causa o tal funcionamento social?

Para estimular o complexo militar-industrial, Luís Montenegro lembrou-se agora de falar de soberania, mas não para colocar em causa tudo o que leva a que Portugal esteja subjugado a ditames externos que condicionam o desenvolvimento do país e o colocam numa posição subalterna.

Disse o primeiro-ministro que «a guerra hoje é uma guerra tecnológica, uma guerra digital, uma guerra de manipulação, uma guerra que muitos chamam híbrida, uma guerra que ataca os fundamentos dos regimes democráticos, que ataca o próprio funcionamento das democracias». Mas não será a tecnocracia europeia a primeira a atacar a democracia, fazendo tábua rasa de todo e qualquer direito social e político a pretexto de supostas «contas sãs»?

Para os bons alunos do neoliberalismo cada vez mais radicais, os mercados são sagrados, as agências de rating santas, o BCE angelical e a União Europeia divina. Sobre tudo isto, o que verdadeiramente coloca em causa a soberania nacional e a democracia, nada se pode dizer. Já pelo negócio da guerra, tudo se pode fazer, até ser hipócrita.

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