|Função Pública

Governo «está a empurrar» trabalhadores para a luta

Após nova reunião, Sebastião Santana, coordenador da Frente Comum de Sindicatos, denuncia que o Executivo «insiste numa proposta que vai manter os trabalhadores a empobrecer».

CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

A Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (CGTP-IN) voltou hoje a considerar insuficiente a proposta de valorização salarial do Governo, considerando que está a «empurrar os trabalhadores para a luta».

«Não nos parece que o Governo esteja a querer fazer outra coisa que não seja empurrar os trabalhadores para a luta e disso eles não têm medo», afirmou o líder da Frente Comum, Sebastião Santana, à saída de uma reunião com a secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires, na Presidência do Conselho de Ministros, em Lisboa.

O líder sindical considerou que nesta segunda reunião com o Governo sobre a valorização salarial da função pública não houve avanços significativos e que o executivo «insiste numa proposta que vai manter os trabalhadores a empobrecer», mas que a Frente Comum não aceita.

Esta sexta-feira, o Governo apresentou um aumento do subsídio de refeição dos actuais 4,77 euros por dia para 5,20 euros, em 2023, que fica longe da proposta de nove euros apresentada pela Frente Comum.

«O Governo acrescentou 43 cêntimos ao subsídio de alimentação e voltámos a convidar o Governo a descobrir como é que se consegue fazer uma refeição com aquele subsídio», disse o dirigente.

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CGTP convoca um mês de luta pelo aumento dos salários e das pensões

De 15 de Setembro a 15 de Outubro haverá plenários, concentrações e greves, e uma acção convergente, no último dia, com manifestações em Lisboa e no Porto, porque Governo «não compensa perda de rendimento».

CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

A decisão foi tomada esta quinta-feira, na reunião do Conselho Nacional da CGTP-IN, em Lisboa, tendo em conta que o «plano de resposta ao aumento dos preços» apresentado pelo Governo «não responde aos problemas estruturais que o País enfrenta e é muito insuficiente para resolver as dificuldades do dia-a-dia com que os trabalhadores e pensionistas estão confrontados». Ao mesmo tempo, refere a central sindical num comunicado, o programa do Executivo «deixa intocáveis» os lucros das grandes empresas e grupos económicos e financeiros, não revertendo a «brutal transferência» de rendimentos do trabalho para o capital em curso no presente ano. 

«Os lucros apresentados pelas grandes empresas e grupos económicos e financeiros são a demonstração da brutal transferência da riqueza criada pelos trabalhadores para o capital, enquanto os trabalhadores empobrecem e continuam a perder poder de compra, uma vez que os seus salários não acompanharam a subida dos preços que, no mês de Julho, atingiu 9,4% em termos homólogos», lê-se na nota, onde de sublinha que a maioria dos postos de trabalho criados no segundo trimestre (72%) tinha vínculos precários, padrão que se vem repetindo desde o ano passado.

Para a CGTP-IN, tanto os 125 euros como o valor de 50 euros por criança são insuficientes para compensar as perdas de rendimento acumuladas nos primeiros dez meses deste ano e ficam muito aquém dos aumentos verificados nos preços, por exemplo, dos materiais escolares, alimentação ou vestuário.

Acresce a isto o «logro» das pensões. A Inter realça que a fixação antecipada das taxas de actualização das pensões para 2023 equivale a uma alteração da fórmula de cálculo da actualização das pensões prevista na lei em vigor (e que foi sempre utilizada quando a inflação era baixa), quando se regista um aumento brutal dos preços dos bens essenciais.

«Sem prejuízo da necessária compensação que tem de ser feita desde já no valor das reformas, é inconcebível promover uma alteração da fórmula de cálculo das pensões para o próximo ano, provocando assim uma erosão permanente na base a partir da qual se fixam os aumentos vindouros», critica a CGTP-IN.

Neste sentido, defende medidas imediatas para aumentar os salários e pensões, travar a especulação, a exploração e a degradação das condições de vida, mas também para proteger e reforçar os serviços públicos e as funções sociais do Estado, rejeitando as «infundadas justificações da "escalada da inflação», utilizadas pelo Governo, patronato e partidos (PSD, CDS-PP, IL e Chega) para travar e recusar a tão necessária e urgente reposição do poder de compra e valorização salarial.

Um mês de luta

O Conselho Nacional da CGTP-IN decidiu mobilizar toda a estrutura sindical para aprofundar a acção reivindicativa e a intervenção nas empresas, locais de trabalho e serviços, afirmando a liberdade sindical e o exercício dos direitos sindicais na sua plenitude. 

Sob o lema «Aumento dos salários e pensões – emergência nacional! Contra o aumento do custo de vida e o ataque aos direitos», aquele órgão convoca um mês de «mobilização e luta», de 15 de Setembro a 15 de Outubro, a partir dos locais de trabalho, empresas e sectores, com a realização de plenários, concentrações, manifestações e greves, e a realização de uma acção convergente no dia 15 de Outubro, com manifestações em Lisboa e no Porto. 

Na base das reivindicações está a exigência da resposta urgente a reivindicações como o aumento dos salários de todos os trabalhadores em 90 euros, aumentos extraordinários, mesmo dos salários que foram actualizados, mas cuja revisão já foi absorvida pela inflação, o aumento extraordinário do salário mínimo nacional, fixando-o nos 800 euros, com efeitos imediatos e o aumento extraordinário também de todas as pensões e reformas que reponha o poder de compra e assegure a sua valorização.

A Intersindical exige ainda o aumento das prestações de apoio social, a revogação das normas gravosas da legislação laboral, fixação de limites máximos nos preços dos bens e serviços essenciais e a aplicação de um imposto que incida sobre os «lucros colossais» das grandes empresas.

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Sebastião Santana afirmou ainda que, ao dissecar a proposta apresentada na segunda-feira pelo Governo, a Frente Comum descobriu «incongruências absolutas» sobre a questão da valorização dos assistentes operacionais.

Segundo explicou, o Governo propõe-se a fazer uma alteração de posições remuneratórias para os assistentes operacionais que têm mais de 15 anos ou 30 anos de serviço «apenas no momento da sua promoção por antiguidade». Ou seja, acrescentou, para «um trabalhador que em Janeiro tenha apenas dois pontos [da avaliação de desempenho], faltam-lhe oito para mudar de posição», o que significa que no próximo ano poucos beneficiarão da medida, disse.

O sistema de avaliação de desempenho da administração pública (SIADAP) obriga a que o trabalhador tenha dez pontos para poder progredir.

Na segunda-feira, o Governo propôs aos sindicatos da Administração Pública aumentos salariais entre 8% e 2%. Para o dia 15 de Outubro, a CGTP-IN tem marcadas manifestações nacionais, em Lisboa e no Porto, contra o aumento do custo de vida e pelo aumento dos salários e das pensões. 


Com agência Lusa

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