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Patrões voltam a pedir contrapartidas pelo aumento do salário mínimo

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) defendeu a compensação dos «sectores mais fragilizados e expostos à concorrência» pelo aumento do salário mínimo nacional para... 705 euros.

António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal
CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

«Há sectores mais fragilizados, mais expostos à concorrência internacional, com estruturas de pessoal mais debilitadas e há que acautelar o emprego dessas tipologias», disse o presidente da CIP, António Saraiva, à entrada da reunião da concertação social onde está a ser discutida a actualização do salário mínimo nacional (SMN) para 2022 com a meta dos 705 euros fixada pelo Governo. 

A atribuição de uma compensação às empresas pelo aumento do salário mínimo é uma prática iniciada em 2014 pelo governo do PSD e do CDS-PP, que o Governo do PS retomou em 2016 com vista a «apoiar o emprego», alimentando a campanha neoliberal de que o aumento dos salários afecta a competitividade das empresas.

A medida voltou a ser implementada este ano. Para compensar as empresas do aumento de 30 euros do salário mínimo, o Governo avançou com uma solução que passou por devolver aos empregadores uma parte da Taxa Social Única (TSU), e que António Saraiva admite poder replicar-se no próximo ano.

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Patrões contra «aumento irracional» do salário mínimo

Sem surpresas, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) afirma que o aumento para 705 euros proposto pelo Governo, aquém do que os trabalhadores reivindicam, deve ser revisto. 

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, António Saraiva afirmou que não faz sentido manter a meta do Governo para o salário mínimo nacional (SMN), de chegar aos 750 euros apenas em 2023. 

«Sou contra qualquer aumento irracional», declarou o representante dos patrões, insistindo no gasto argumento de que um aumento do SMN «tem que atender à inflação, ao crescimento económico e aos ganhos de produtividade, factores perfeitamente mensuráveis».

A história tem demonstrado que não existe uma correspondência directa entre os ganhos das empresas e os salários de quem cria a riqueza. Veja-se o exemplo da Jerónimo Martins, que em 2015 registou lucros de 333 milhões de euros, mas os quase 90 mil trabalhadores recebiam então um salário médio pouco acima dos 680 euros.

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Aumento do salário mínimo volta ao Parlamento esta quinta-feira

O projecto de resolução do PCP propõe aumentar o salário mínimo nacional (SMN) de 665 para 850 euros. Em Abril de 2019, mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores auferia o SMN.  

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Desde 2015 que o salário mínimo vem conhecendo aumentos sucessivos, fruto da luta dos trabalhadores, como observa o PCP no preâmbulo do diploma que será discutido esta tarde na Assembleia da República, mas ainda assim aquém do que seria necessário para baixar a taxa de risco da pobreza e do que objectivamente seria possível, não fosse a injustiça na distribuição da riqueza. 

Cerca de 56% da riqueza total do nosso país é detida por 1% da população, sendo que a fortuna que é acumulada pelos 50 mais ricos em Portugal equivale a 12% do Produto Interno Bruto (PIB).

Apesar de ser remuneração de referência para centenas de milhares de trabalhadores, foi ao longo dos anos objecto de uma profunda desvalorização por parte de sucessivos governos. Veja-se o exemplo dos últimos quatro anos de governação do PSD e do CDS-PP, em que o SMN esteve estagnado nos 485 euros. Desde então, foram-se realizados aumentos (ver caixa), embora insuficientes e aquém do necessário para acabar com a pobreza dos trabalhadores, com os patrões a reclamar contrapartidas.

O argumento do peso das remunerações na estrutura de custos das empresas é facilmente desmentida, quando se percebe que apenas representa um peso de 18%, muito inferior a um conjunto de outros custos, designadamente com a energia, combustíveis, crédito ou seguros. «Convém, aliás, referir que este conjunto de custos estão sujeitos à estratégia de lucro máximo de um conjunto de empresas e sectores que, depois de privatizadas, passaram a penalizar fortemente a economia nacional», refere-se no diploma.

De acordo com o último Inquérito à Situação Financeira das Famílias, em 2017, cerca de 70% da riqueza total é detida pelas famílias pertencentes ao grupo das 20% com maior riqueza, enquanto as famílias do grupo dos 20% com menor riqueza dispõem tão só de 0,1%. Também o último Inquérito Anual às Condições de Vida, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2019, dava conta de que cerca de 10% da população empregada era pobre e que 40,7% dos desempregados eram pobres, apontando esse mesmo documento para que cerca de dois milhões de pessoas se encontrassem em risco de pobreza (19,8%).

Significa isto que o seu rendimento mensal não chega para satisfazer as despesas básicas familiares, com o valor do SMN a ser uma das principais causas de pobreza no nosso país.

Actualmente, o salário mínimo em Portugal, conquista da Revolução de Abril, é de 665 euros e, tal como no ano passado, em que o valor do SMN era de 635, os comunistas recomendam ao Governo um aumento para os 850 euros, medida que integra também a política reivindicativa da CGTP-IN para 2022. Em Outubro de 2020, PS, PSD, CDS-PP e IL chumbaram um projecto de resolução pelo aumento do salário mínimo nacional para 850 euros. 

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O presidente da CIP advoga que «não há condições» para aumentar o salário mínimo para os 705 euros no próximo ano, conforme proposta do Governo, apoiado na «significativa perda de receitas e de empregos» do último ano e meio. Mas nem mesmo em períodos de maior fulgor económico os patrões se mostram disponíveis para proceder ao aumento dos salários. Para tal podemos recuar a 2019, com os patrões a recusarem uma subida do salário mínimo acima dos 600 euros

Com o aumento do SMN seria possível tirar muitos trabalhadores da pobreza e dinamizar a economia, uma vez que os seus salários vão estimular o consumo, a procura e o mercado interno, servindo também para alavancar o aumento dos salários médios. Por outro lado, é também condição de reforço da Segurança Social, assegurando melhor protecção social e pensões de reforma mais altas. 

Esta sexta-feira, o Parlamento chumbou o aumento do salário mínimo para 850 euros, com o voto contra de PS, PSD, CDS-PP, CH e IL. O valor está em sintonia com a proposta reivindicativa da CGTP-IN para 2022. A UGT reivindica um aumento do SMN para 715 euros.

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O pagamento do Estado pela actualização do salário mínimo, além de onerar as contas públicas e ameaçar a sustentabilidade da Segurança Social, desvirtua o direito ao aumento do salário, que o representante dos patrões quer fazer depender de «critérios objectivos». Entram aqui conceitos como os da produtividade e do crescimento económico, insistindo na velha ideia de que é pelos baixos salários, e não através do investimento (designadamente em maquinaria), que as empresas conseguem ser mais produtivas.

Entretanto, no final da reunião desta manhã, o ministro da Economia afirmou que o Governo está disponível para encontrar formas de compensar as empresas pela subida do salário mínimo.

A actualização do SMN deve ter em conta as necessidades dos trabalhadores e respectivas famílias, mas também a evolução do custo de vida, pressuposto que uma subida para 705 euros não acompanha. O salário mínimo está actualmente fixado nos 665 euros, o que significa que o trabalhador leva para casa, depois de pagar a contribuição para a Segurança Social, uns míseros 592 euros. Com a proposta do Governo (705 euros) para o próximo ano, este valor sobe para cerca de 630 euros.

Por outro lado, coloca-se a necessidade de actualizar os salários médios, sob pena de virem a ser engolidos pelo salário mínimo. Um estudo recente dava conta de que, graças à evolução do SMN nos últimos seis anos, este já atinge cerca de 70% da remuneração média. 

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