Os trabalhadores da construtora Soares da Costa voltaram a Lisboa em protesto contra os salários em atraso, manifestando-se até ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, onde a Comissão de Trabalhadores reuniu com representantes do Governo. O protesto contou com 130 participantes.
Existem trabalhadores a laborar em Angola com oito salários em atraso, enquanto em Portugal e Moçambique os atrasos vão dos três a cinco meses. Para além disto, têm a haver subsídios de férias e Natal. Os trabalhadores também se confrontavam com a tentativa da empresa proceder a um despedimento colectivo de cerca de 500 trabalhadores.
Da reunião no Ministério houve o compromisso de monitorização da situação e foi exposta a ideia de que, sendo uma empresa privada, não havia mais a fazer. Quanto ao despedimento colectivo, foi informado que não deu entrada no Ministério.
José Martins, da Comissão de Trabalhadores, apontou que a Soares da Costa tem um universo de 4000 trabalhadores que estão sem receber. O representante dos trabalhadores afirmou que esperava da parte do Governo uma «tomada de medidas mais enérgicas», embora reconhecendo que desta reunião resultou uma porta aberta para comunicar com o executivo.
«Não vamos esmorecer nesta luta, nem que tenhamos de passar dias e noites amarrados à empresa»»
Manuel Almeida, trabalhador da Soares da Costa
Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP-IN, presente no local em solidariedade com os trabalhadores, defendeu a criação de um fundo de caução para as empresas, para evitar situações como a da construtora Soares da Costa. Sobre a reunião lamentou que não tivesse havido uma resposta. «O Governo tem de ter uma intervenção junto da entidade patronal e saber se a empresa tem ou não condições para assegurar as condições laborais destes trabalhadores», sublinhou.
O líder da CGTP-IN defendeu ainda a intervenção do Governo junto de Angola e Moçambique pelas vias diplomáticas, salientando que tem de alertar estes países para o problema da Soares da Costa, que não consegue transportar as divisas para Portugal, sendo a razão apontada pela empresa para que existam salários em atraso.
Antes de voltarem às suas casas, os trabalhadores decidiram passar pela sede da empresa em Lisboa e não saíram enquanto não reuniram com a administração. «Assim não pode ser, trabalhar sem receber» e «está na hora dos salários cá p'ra fora» eram palavras de ordem gritadas enquanto decorria o encontro.
Na reunião, a administração afirmou que existe uma auditoria pedida pelos três maiores credores da empresa (entidades bancárias) para verificar se tem a viabilidade necessária, e só no final poderia ser dada resposta. Os trabalhadores assumiram estar dispostos a continuar as acções de protesto até receberem os salários e subsídios em atraso.
Os testemunhos dos trabalhadores
Membro da Comissão de Trabalhadores, Manuel Almeida trabalha na empresa há 42 anos, e refere que há famílias a enfrentarem uma situação muito difícil, «das mulheres, dos filhos», alguns com os estudos em risco. O trabalhador lamenta que da parte da empresa não haja feedback, «não há respostas para a Comissão de Trabalhadores, para a Comissão Sindical». Mas acrescenta imediatamente que os trabalhadores não vão «esmorecer nesta luta, nem que tenhamos de passar dias e noites amarrados à empresa». Sobre o despedimento colectivo, o trabalhador considera que «é uma forma de pressionar os trabalhadores, tentando que eles se despeçam sem receberem os direitos aos anos que têm».
«A situação na Soares da Costa já se arrasta há mais de dois anos. A empresa, com esta administração, começou estrategicamente por não pagar os salários ao dia 30. Começou a pagar ao dia 14, 15, 16, mas pagava o salário. Há um ano deixou de pagar, isto é, começou a retrair os pagamentos dos salários», explicou Manuel Almeida.
Hélder Costa, que trabalha na empresa há 15 anos, refere que os trabalhadores estão há mais de uma ano «a ouvir a mesma coisa», que «estão retidos no banco Banco de Fomento de Angola 17 milhões, para pagar os salários dos trabalhadores», mas que «não os conseguem converter de kwanzas para euros».
António Guedes afirma que não recebe o salário há três meses e estava a receber desde Fevereiro apenas uma parte dos salários.
Já José Braga não recebe há cinco meses o salário e revela que em várias famílias já existe a situação dos filhos terem que deixar de estudar.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui