Os 325 subscritores dizem não estar surpreendidos com a decisão de encerrar o Teatro da Cornucópia, lembrando que, nos últimos anos, «são muitos os programas que ficam por cumprir, os espectáculos que têm ficado por fazer, os filmes que não são produzidos, os projectos que não chegam a realizar-se. São muitos os trabalhadores e trabalhadoras que têm ficado sem trabalho, que têm emigrado, que têm desistido de fazer aquilo que sabem fazer. São milhões aqueles que ficam impossibilitados de ver, ouvir, experimentar e sentir de outro modo».
«Quem seguiu o trajecto de desinvestimento público na criação artística sabia bem que os actos resultariam em empobrecedoras consequências, o encerramento da Cornucópia é uma das mais visíveis», lê-se na carta aberta lançada por Pedro Penilo (artista plástico), André Albuquerque (actor), Joana Manuel (actriz) e João Barreiros (técnico de luz).
A questão que se deve colocar, afirmam, é «como foi possível, décadas a fio, sucessivos governos desrespeitarem a Constituição e terem activamente contribuído para o definhamento do tecido social da criação artística em Portugal». Lembram que há «um cada vez maior consenso» sobre a «necessidade de reforço substancial do financiamento da actividade artística» e que só assim é possível combater a mercantilização da criação artística e cumprir o direito constitucional à criação e fruição cultural.
A carta aberta é hoje enviada aos vários órgãos de soberania, «véspera da entrega à DGArtes dos Planos de Actividades para a extensão dos contratos de apoio às artes». Mas o seu apelo é também «dirigido a todas as pessoas que ao lerem esta carta aberta se recusem a aceitar o fim prematuro de tantos projectos artísticos, para que exijam a possibilidade de ver nascer, crescer e consolidar todos os projectos que a arte deste país lhes puder oferecer. Que se recusem a aceitar que a precariedade, os baixos salários, o trabalho não-remunerado e a negação de tantos direitos laborais sejam a forma de sustentar a actividade artística. Que se recusem a aceitar que o país continue a querer desenvolver-se sem respeitar um dos vectores mais decisivos para a sua democratização, a Cultura».
«Não há tempo a perder. 1% do Orçamento do Estado salva mil cornucópias. Lutemos por isto. Exijamos este compromisso», concluem os 325 subscritores, onde se contam «profissionais das mais diferentes áreas artísticas e geográficas». A lista completa de subscritores pode ser consultada no blogue da carta aberta «1% salva mil cornucópias».
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