Para falar de bienais de artes plásticas em Portugal, teremos de referir alguns caminhos que foram abertos pela intensa actividade artística na década de 70 do século XX, ampliada com o 25 de Abril de 1974, com exposições retrospectivas, colectivas e salões. Em 1972 realiza-se a I Bienal de Jovens Artistas em Vila Nova de Famalicão e a exposição Do Vazio à Pró Vocação - AICA SNBA, de 1973 a 1974 a Sociedade Nacional de Belas Artes realiza os salões Exposição 73, Salão de Março e Perspectiva 74, em 1975 realizam-se na SNBA os salões-inquéritos Figuração-Hoje?, Abstração-Hoje? e Colagem e Montagem, organizaram-se os Encontros Internacionais de Arte entre 1974 e 1977 (Valadares, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e Caldas da Rainha), os salões Contra a Pena de Morte, a Tortura e a Prisão Política (1976, SNBA), em 1977 realizaram-se as exposições Artistas Portuguesas, Mitologias Locais, O Erotismo na Arte Moderna Portuguesa (Lisboa, SNBA) e a Alternativa Zero: Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea na Galeria Nacional de Arte Moderna em Belém, que «provocou uma viragem no discurso crítico corrente»1, como assinalou o crítico Rui Mário Gonçalves.
«As bienais de arte, que na sua grande maioria são organizadas ou apoiadas pelas autarquias, têm sido fundamentais para a divulgação dos artistas e das artes plásticas por todo o país, ocupando os mais diversos espaços culturais, contribuindo para uma maior descentralização das artes e da criação, constituindo uma oportunidade única para o contacto do público com as obras de muitos dos artistas de referência da nossa história de arte e para dar a conhecer os artistas emergentes»
Ainda em 1977 realizou-se uma grande exposição de artes plásticas na Festa do Avante!, em 1978 é organizada a I Bienal de Cerveira, seguindo-se a Bienal do Avante! em 1979, constituindo-se como marcantes e de referência para toda esta dinâmica que vem até aos nossos dias. Surgiram desde então novas bienais, tais como a Bienal Internacional de Desenho LIS-79, a Bienal de Escultura e Desenho das Caldas da Rainha (1985-1997), a Bienal Internacional do Montijo/Prémio Vespeira (1985-2008), a Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (desde 1991), a Bienal de Gravura da Amadora (1988- 2000), a Bienal de Arte AIP (1994-1998), a Bienal Salão das Artes da Vidigueira (desde 1998), a Bienal Internacional de Gravura do Douro (desde 2001), a Bienal de Coruche (desde 2003), a Bienal de Pintura de Pequeno Formato/prémio Joaquim Afonso Madeira, na Moita (desde 2003), a Bienal Internacional de Arte de Espinho (desde 2011), a Jov’arte – Bienal Jovem, em Loures (desde 2003), a Bienal de Arte Contemporânea da Maia (desde 2007), a Bienal de Artes Plásticas de Santa Catarina, em Leiria (desde 2001), a Contextile – Bienal de Arte Têxtil Contemporânea (desde 2012), a Bienal Arte Gaia (desde 2015), a Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra (desde 2015), a Bienal de Artes Plásticas – CPLP e Galiza do Distrito de Leiria (desde 2016), a Bienal de Desenho de Almada (desde 2016), a Boca Bienal (desde 2017), a Ci.CLO Bienal Fotografia do Porto e a Bienal da Fábrica (iniciadas este ano).
As bienais de arte, que na sua grande maioria são organizadas ou apoiadas pelas autarquias, têm sido fundamentais para a divulgação dos artistas e das artes plásticas por todo o país, ocupando os mais diversos espaços culturais, contribuindo para uma maior descentralização das artes e da criação, constituindo uma oportunidade única para o contacto do público com as obras de muitos dos artistas de referência da nossa história de arte e para dar a conhecer os artistas emergentes. As bienais criaram novos prémios de arte e novas formas de programação em diálogo com os locais. São espaços privilegiados para a legitimação, experimentação e criação artística, incentivando e promovendo novas práticas curatoriais, projectos inovadores e residências artísticas. Como plataformas de debate e reflexão, criaram espaço para a relação entre a crítica de arte e o público e têm permitido uma maior visibilidade e internacionalização dos artistas portugueses.
«[As Bienais] são espaços privilegiados para a legitimação, experimentação e criação artística, incentivando e promovendo novas práticas curatoriais, projectos inovadores e residências artísticas. [...] Estes novos centros de circulação e legitimação artística, que têm emergido, não podem, contudo, desviar-se do que é essencial, que é serem conduzidos primeiro pela arte»
No seguimento do que se tem proposto como alternativa às denominações de «arte global» e «arte mundial», que continua a predominar nos mercados e circuitos de arte, para pensar a contemporaneidade, Terry Smith detecta como uma das três correntes2 surgidas a partir de 1989, a que está «aberta a explorações experimentais de temporalidade, lugar, afiliação e afecto, condições incertas da vida dentro de um frágil planeta», e no fundo aquela que «resulta do grande aumento do número de artistas por todo o mundo e as oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias comunicativas e informais a milhões de usuários»3. Estes novos centros de circulação e legitimação artística, que têm emergido, não podem, contudo, desviar-se do que é essencial, que é serem conduzidos primeiro pela arte.
A Bienal Internacional de Arte Gaia4 desenvolve este ano a sua 3.ª edição e pode ser visitada até 20 de Julho na Quinta da Fiação de Lever, em Gaia, com 14 exposições; na Casa-Museu Teixeira Lopes/Galerias Diogo de Macedo, no Mosteiro de São Salvador de Grijó e em mais 8 locais-pólos: Alfândega da Fé, Gondomar, Viana do Castelo, Seia, Estremoz, Braga, Monção e Vigo (Espanha). A Bienal de Gaia é organizada pela Artistas de Gaia-Cooperativa Cultural, uma cooperativa fundada em 1985 por artistas plásticos de Gaia que assumiram incentivar a criação artística, tem actualmente cerca de 400 sócios e desenvolveu diversas exposições, debates, concursos, edições e homenagens a muitos artistas. No âmbito do «Projeto Onda Bienal», a cooperativa Artistas de Gaia tem vindo a desenvolver exposições e debates durante todo o ano de 2018 e 2019, referindo-se as exposições de desenho de Álvaro Siza Vieira, a coletiva Homenagem à Gente do Mar, a exposição Fogo, de Albuquerque Mendes e a exposição Paulo Neves – Escultura. A Bienal de Gaia tem como destaque para este ano a literatura e assume-se como uma BIENAL DE CAUSAS, tendo nos seus debates e exposições temas como «Mulheres e Cidadania», «Paz e Refugiados», «Não faças da Violência o Teu Género» ou «(sub) Missão», entre muitos outros. A Bienal de Gaia homenageia o escultor Zulmiro de Carvalho com uma exposição antológica e atribui três prémios de arte, e a Exposição Internacional do Concurso, além dos premiados, vai ter mais de duas centenas de artistas de 14 países.
A Bienal de Arte Contemporânea da Maia5 apresenta 24 novas criações de 40 artistas nacionais e internacionais instaladas em 16 contentores, que poderão ser visitadas até 27 de Julho. A Bienal da Maia realiza-se desde 2007, a edição deste ano tem a designação de «Import/Export», os seus 33 eventos (workshops, happenings, performances, conversas, visitas ou apresentação de livros) acontecem por diversos locais do município de Maia (Praça do Doutor José Vieira de Carvalho, Parque Cidade Desportiva, Maninhos, Mandim, Estação do Metro do Castêlo da Maia, Feira de Pedras Rubras e Parque da Pícua). Os curadores (Andreia Garcia, Diogo Aguiar, Javier Peña Ibáñez, Luís Albuquerque Pinho, Luís Pinto Nunes, Sara Orsi e Vera Sacchetti) privilegiam nesta bienal «uma reflexão urbana, social e cultural a partir da expressão artística».
Durante o mês de Julho poderá ainda assistir, no dia 13, aos seguintes eventos: palestra-performativa Diet plan for the Western man (Solo), de Carlos Azeredo Mesquita (14h, Cinema Venepor); performance de Arte Sonora (D:)atáraio, de Francisco Oliveira (15h, Cinema Venepor); workshop Construir e Brincar com Insufláveis Envio de Postais Infláveis, pelo coletivo Popticum (15h30, Castêlo da Maia); performance de coreografia computacional Indispensable Blue (Offline), de Bryana Fritz (16h, Cinema Venepor); performance audiovisual Cantus Viscous, de Mark Ijzerman (18:00, Parque Cidade Desportiva) e no dia 17 de Julho, além de outras atividades poderá assistir ao «Encerramento e Lançamento do Catálogo» (18h, Parque Cidade Desportiva) e participar numa visita pelos sete locais de implantação (15h, partida da Praça Dr. Vieira de Carvalho).
A Ci.CLO Bienal'19 Fotografia do Porto6 apresenta diversas exposições até 2 de Julho, no centro do Porto. Tendo como tema «Adaptação e Transição», os trabalhos dos 53 artistas nacionais e estrangeiros focam-se essencialmente nas actuais crises sociais e preocupações ambientais. Na sua primeira edição apresenta 16 exposições, que podem ser visitados nos seguintes locais: Jardins do Palácio de Cristal, Casa Tait, Reitoria da Universidade do Porto, Paços do Concelho da Câmara Municipal do Porto, Mira Fórum, Palácio de Belomonte, Centro Português de Fotografia, Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Palacete dos Viscondes de Balsemão, Casa do Infante, Estação de Metro São Bento e Aliados, Salut au monde! e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Além das exposições a Ci.CLO propõe ainda um programa de oficinas sobre o tema da bienal, residências, simpósios, encontros e concertos.
- 1. «Entretanto, a crítica internacional falava das crises das vanguardas. Sob o ponto de vista sociológico, fez-se reparar na sua perda de poder contestatário. Em parte, essa perda derivava da circulação mercantil dos objectos de arte. Essa circunstância foi um dos factores que levou à intensificação da arte conceptual. Outros factores mais determinantes do conceptualismo enraízam na auto-reflexidade, comum a toda a modernidade. Sob o ponto de vista estritamente estético, a crítica de arte denunciou a falsidade da inovação gratuita, banalizada como mero fenómeno de moda, como uma paradoxal “tradição de novidade” tivesse sido instaurada e socialmente aceite» (Rui Mário Gonçalves, A Arte Portuguesa do Século XX, Círculo de Leitores, Lisboa, 1998, p. 102).
- 2. Terry Smith, «Arte contemporânea: correntes mundiais em transição para além da globalização», em PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, vol. 7, n.º 13, Maio de 2017.
- 3. Ibidem.
- 4. BIENAL DE GAIA: Quinta da Fiação de Lever (antiga Companhia de Fiação de Crestuma, CFC), Rua das Hortas, 370, União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, Vila Nova de Gaia; GPS: 41.064783, -8.485807; Horário: de terça a sexta-feira, das 14h30 às 19 horas; sábados e domingos, das 11h às 20 horas. Casa-Museu Teixeira Lopes e Galerias Diogo de Macedo.
- 5. BIENAL DA MAIA: aberta ao público de terça a sexta-feira, das 14h às 19h; aos sábados, domingos e feriados das 10h às 13h e das 14h às 19h (contacto: 229408643); as visitas de autocarro são gratuitas, mediante reserva para o e-mail [email protected].
- 6. Ci.CLO Contactos: Rua Conde Vizela, nº12 4050-639 Porto; Tel. 223 233 873; [email protected].
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