Com a sua segunda edição, o IMAGO - Festival Internacional de Fotografia Contemporânea em Lisboa, com o tema de «Novas Visões na Fotografia Contemporânea», foi inaugurado no dia 1 de outubro nas Carpintarias de São Lázaro1 e vai decorrer até 8 de novembro. Neste Centro Cultural são apresentados nomes de fotógrafos nacionais e estrangeiros como Catarina Osório de Castro, Cristina Dias de Magalhães, Krisztina Erdei, Marco Godinho, Maxim Ivanov, Paola Paredes, Pasha Raffiy, Patrick Galbats, Paulo Catrica, Silja Yvette, Sophia Ioannou Gjerding, «dando a conhecer onze diferentes trabalhos que revelam a riqueza da expressão fotográfica atual». Chamo a atenção para a instalação de Krisztina Erdei (Hungria), «The Birth of Vénus and Others Stories», que investiga a situação atual dos ex-moradores do bairro de Dzsumbuj em Budapeste, depois de eles terem sido realojados, chamando a atenção para problemas como a pobreza e a desigualdade social desta comunidade extinta.
No programa do IMAGO, podemos acompanhar outras exposições: «House Hunting + Bright Black World» de Todd Hido no MNAC- Museu Nacional de Arte Contemporânea2 (até 3 de Janeiro de 2021), em que encontramos trabalhos de Adél Koleszár, Arko Datto, Éva Szombat e Mariya Kozhanova; no Reservatório da Mãe D’ Água das Amoreiras3, de Daniel Blaufuks e Graça Sarsfield; no Arquivo Municipal de Lisboa-Fotográfico4, Cláudia Florêncio, Francisco Osório, Irina Konova, Isabel Romero e Rui Delgado Alves; no Atelier de Lisboa5 e ainda trabalhos de André Príncipe, Mia Dudek, Karlos Gil e Luís Ramos e Cristina H Melo em diferentes galerias de Lisboa.
Todd Hido (n. 1968), é um artista americano que nasceu em Kent, no Ohio, e é professor assistente na California College of Art em São Francisco. A imagem de marca de Hido são imagens de habitações nos Estados Unidos, muito detalhadas e luminosas. Mostram a desolação, o anonimato dos subúrbios, o desespero e a perda do mercado imobiliário em queda. Refere-se ainda na nota biográfica que «cada fotografia conta uma história de esperança, memórias perdidas e sonhos falhados que se tornam particularmente comoventes após o aumento das execuções de hipotecas de casas. O seu trabalho de 2009 no periódico Witness “mostrou fotografias de casas fechadas e mostrou que, enquanto as fotos eram de casas abandonadas e vazias, a verdadeira história é sobre as pessoas.» Uma das séries que é apresentada na MNAC é «House Hunting» (2001)6, em que o artista viajou de carro pela América e capturou «um lugar economicamente oprimido, casas escuras e vazias com a roupa suja mal embalada, ou casas com as luzes acesas mas não irradiando calor». Segundo A. M. Homes, que o acompanhou nessa viagem, o fotógrafo terá dito: «Eu tiro fotos de casas à noite porque pergunto-me sobre as famílias dentro delas - Eu pergunto-me sobre como as pessoas vivem, e o ato de tirar aquela fotografia é uma meditação.»
Uma meditação, que não deixa também de estar ligada às interrogações a que nos leva a situação que vivemos, com a atual pandemia, que veio expor situações, já existentes, de uma enorme crise social. Para além desta «vida confinada» e da «espera que a pandemia acabe», interessa interrogar-nos sobre os equilíbrios necessários para prosseguirmos sem os medos, sem as desigualdades e sem a insegurança, a que os diversos agentes do atual sistema político e económico chamam de «voltar à normalidade». Como afirmou José Gil, «resta-nos, ver mais longe, e prepararmo-nos, com o máximo das nossas forças de vida: esta crise não é independente da crise ecológica, que estamos já a viver e que em breve atingirá um patamar irreversível. Aí teremos todos de pôr radicalmente em questão o tecno-capitalismo e os seus modos de vida, se quisermos ter um (outro) destino na Terra»7. Afirmando ainda este ensaísta, que «um outro modo de conceber a criação e o trabalho artístico» e «um outro tipo de prazer de fruição» nascerão8.
Na Galeria Municipal do Porto podemos visitar a exposição «Waves and Whirlpools» de Luís Lázaro Matos, até 15 de novembro. Esta exposição é inspirada na forma triangular do espaço da mezzanine da Galeria Municipal, como uma metáfora do Triângulo das Bermudas. A nova série de obras criada por Luís Lázaro Matos transporta-nos para um remoinho de imagens suspensas no espaço. Com curadoria de Martha Kirszenbaum, o projeto expositivo nasce do fascínio do artista pela mitologia do mar. Sendo a música uma das principais componentes da sua prática, Luís Lázaro Matos inspirou-se nos sete temas do seu mais recente álbum, Waves and Whirlpools, para criar os sete dípticos que constituem a exposição homónima. As composições pictóricas e musicais, concebidas a partir de camadas sobrepostas de tinta e de sons, convidam a uma imersão em universos místicos, românticos e perturbantes, onde se distingue uma fantasia suprema de domínio sobre o oceano e as suas ondas incontroláveis.
Na Galeria Municipal do Porto pode-se ver ainda uma exposição da 2.ª edição do Prémio Paulo Cunha e Silva, até 15 de novembro. Este Prémio foi criado em 2015, pela Câmara Municipal do Porto, como homenagem ao antigo vereador da cultura Paulo Cunha e Silva, direcionando-se a artistas com menos de 40 anos. O júri analisou os portefólios de 48 artistas, selecionados por um conjunto de 16 curadores, selecionando seis finalistas, Basir Mahmood (Paquistão), Firenze Lai (Hong Kong), Lebohang Kganye (África do Sul), Shaikha Al Mazrou (Emirados Árabes Unidos), Song Ta (China) e Steffani Jemison (EUA), provenientes de diferentes geografias culturais e com práticas artísticas bastante distintas, cujas vozes, na sua opinião, articulam o momento atual e o que está por vir.
O Festival Portas do Sol, na sua primeira edição, depois de ter sido adiado devido à pandemia, estreou-se na Covilhã no primeiro fim de semana de setembro. Além das artes de rua, este festival abriu a sua programação com a instalação «Paradoxo» de Ânia Pais9, na Galeria Prof. António Lopes-Casa dos Magistrados10 e poderá ser visitada até 14 de novembro. É uma instalação artística que olha os objetos como parte de um conjunto e não como objetos individuais, com os seus objetivos materiais distintos. Através de objetos que em si contêm uma antiguidade naquela que foi e é a história da indústria dos lanifícios, a tecelagem e a sua manufatura na Covilhã, Ânia Pais pretende que se olhe para esses objetos em si, dando oportunidade para que se tornem independentes dessa caraterística e objetivo, que lhes é inerente, para que se pense através deles na criação de uma obra.
O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)
- 1. Carpintarias de São Lázaro. Rua de São Lázaro, n.º 72. Horário: quinta-feira a domingo, das 12h às 18h.
- 2. MNAC - Museu Nacional de Arte Contemporânea, Rua Capelo, n.º 13, Lisboa. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
- 3. Reservatório da Mãe D’Água das Amoreiras. Praça Das Amoreiras, n.º 10, 1250-020 Lisboa. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 17h30 (encerra para almoço das 12h30 às 13h30).
- 4. Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico. Rua da Palma, n.º 246, 1100-394 Lisboa. Horário: segunda-feira a sábado, das 10h às 19h.
- 5. Atelier de Lisboa - Centro de Artes Visuais e Escola de Fotografia. Rua João Saraiva, 28A-2.º Alvalade, 1700-250 Lisboa. Horário: por marcação, de segunda a quinta-feira das 15h às 21h.
- 6. House Hunting, Photographs by Todd Hido. Text by A. M. Homes. Nazraeli Press, Tucson, 2001.
- 7. José Gil, O tempo indomado, Relógio D´Água Editora, Lisboa, 2020, p. 107-108.
- 8. Ibidem, p. 91.
- 9. Ânia Pais (n. Ponta Delgada, 1998) cresceu em Teixoso (Covilhã) e atualmente frequenta o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Entre muitas outras exposições já expôs na Contextile-Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, Palácio Vila Flor, Guimarães (2018), Galeria Pintor Fernando de Azevedo, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa (2019) e no «Prémio SGPCM, FBAUL» – Secretaria-geral da Presidência do Conselho de Ministros em Lisboa (2019).
- 10. Galeria Prof. António Lopes - Casa dos Magistrados. R. das Portas do Sol 122, 6200-167 Covilhã. Horário: segunda a sexta feira: 09:00-12:30 e 14:00-17:30; sábado e domingo: 10:00-13:00 e 14:00-18:00. A Casa dos Magistrados foi mandada construir em finais do século XVIII para alojamento dos magistrados do concelho e, posteriormente, para um superintendente dos Têxteis. É um edifício emblemático da Covilhã, testemunho do desenvolvimento que a cidade conheceu durante os séculos XVIII e XIX, tendo sido reabilitado e transformado em espaço cultural.
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