O Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra foi criada em 2015, pela parceria entre o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Coimbra. O Círculo de Artes Plásticas de Coimbra é uma associação que tem como objectivos a promoção e sensibilização para a arte contemporânea, foi fundado em 1958 e nele se destacaram muitos dos artistas das vanguardas artísticas portuguesas das décadas 70, 80, 90 até à contemporaneidade, sendo considerado um dos mais importantes pólos de produção e difusão artística do país.
A edição deste ano do Anozero-Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra tem como tema «A Terceira Margem» e a curadoria de Agnaldo Farias, Lígia Afonso e Nuno de Brito Rocha. O nome da bienal assume por empréstimo parte do título do conto «A Terceira Margem do Rio» (1962), de João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, do qual são retiradas cinco frases que irão ser referência para a criação dos curadores, artistas, autores e alunos da Universidade de Coimbra e que nos é proposto como: «silêncio — “nosso pai nada não dizia”; passagem — “longe, no não-encontrável”; marginalidade — “passadores, moradores de beira”; invenção — “executava a invenção”; e, por fim, militância — “chega que um propósito”».
As exposições bienais de arte diferem entre elas, de acordo com o seu propósito e conteúdo, algumas assumem-se num contexto de feiras de arte, outras como espaços de reflexão sobre novos modelos de práticas artísticas, expositivo e curatorial, numa estreita relação entre a arte contemporânea e a esfera pública, este é o caso da Anozero-Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. A terceira Bienal de Coimbra, consolida-se assim como uma das mais importantes do país, assumindo-se como uma bienal da cidade, do rio (Mondego) e de «convergência» e um estímulo ao processo criativo, tendo sido realizados 20 trabalhos artísticos in situ, de propósito para este evento, em que se apresentam exposições de artes plásticas e arquitectura, com instalações, vídeo arte, fotografia, pintura, performance, filmes-documentário, oficinas e palestras.
Nesta bienal não se aposta em grandes «vedetas» da arte contemporânea, afirmou Lígia Afonso, curadora-adjunta da bienal, na conferência de imprensa, muitos dos artistas são jovens e emergentes, alguns sem experiência de grande escala «porque nos interessa uma ideia de produção de conhecimento», no entanto é de assinalar a presença de artistas consagrados de âmbito internacional como da artista egípcio-canadiana Anna Boghiguian, numa linguagem muito crua e com referências à relação entre o colonialismo e o esclavagismo, da americana Susan Hiller, com o vídeo The Last Silent Movie (2008), que vem falar-nos sobre as ameaças à extinção de certas línguas e a resistência cultural por meio das mesmas e de Bouchra Khalili, uma artista de Marrocos que nos faz reflectir sobre situações e contextos histórica e geograficamente marcados por narrativas de violência e repressão, em Foreign Office (2015) «mergulha no passado perdido da era da pós-independência e do internacionalismo da Argélia, que, entre 1962 e 1972, hospedava representações dos movimentos de libertação de todo o mundo».
Refiro ainda a presença dos artistas brasileiros José Bechara, Erika Verzutti, José Spaniol e Ana Vaz, da espanhola Belén Uriel, da turca Meriç Algün e dos portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva, António Olaio, Luís Lázaro de Matos e João Gabriel. Foi sublinhado pelos responsáveis da bienal que «a terceira margem de Guimarães Rosa pode bem referir-se à situação de suspensão generalizada em que vivemos, a instabilidade expressa nas vagas de gente acumuladas nas bordas dos países e dentro das cidades que os compõem, no tenso debate entre aqueles que pressentem catástrofes e aqueles que dão de ombros; na oportunidade aberta nas redefinições identitárias de toda a ordem, faceando os que reagem, agarrando-se com firmeza às bóias da tradição»1, Agnaldo Farias, curador-geral, disse à agência Lusa que aceitou o desafio por se tratar de uma «bienal jovem», defendendo ainda que «toda a arte é política» porque «é importante preservar o espaço da inquietação, da pergunta, sobretudo numa cidade da Ciência».
As exposições da bienal, que poderão ser visitadas até 29 de Dezembro, apresentam trabalhos de 39 artistas de 21 países e ocupam diferentes lugares do património arquitectónico da cidade2: o Convento de Santa Clara-a-Nova, o Edifício Chiado, a Sala da Cidade e Galerias Avenida, os edifícios da Universidade de Coimbra (Colégio das Artes e Museu da Ciência-Laboratório Chimico e Galeria de História Natural) e os espaços do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC Sede e Sereia). Para além dos artistas já citados participam também Alexandra Pirici, Ana María Montenegro, Bruno Zhu, Cadu, Daniel Melim, Daniel Senise, David Claerbout, Eugénia Mussa, Joanna Piotrowska, Julius von Bismarck, Laura Vinci, Luis Felipe Ortega, Lynn Hershman Leeson, Magdalena Jitrik, Maria Condado, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Marilá Dardot, Mattia Denisse, Maya Watanabe, Przemek Pyszczek, Renato Ferrão, Rita Ferreira, Steve McQueen e Tomás Cunha Ferreira. Além da exposição é também realizado um programa convergente e um programa de activação, este último é desenvolvido pelos alunos do Mestrado em Estudos Curatoriais do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra em colaboração com a Esfera CAPC, sendo também editado um livro que reúne ensaios dos artistas participantes e textos de Clara Rowland, Isabel Carvalho, João Paulo Borges Coelho, Peter Pál Pélbart e Samuel Titan. Do programa convergente, que pretende estabelecer diálogos e encontros entre a bienal e toda a comunidade local, destacamos a exposição «SHIU! O diálogo do silêncio» que decorre na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em que serão mostrados ao público pela primeira vez em 50 anos cartazes e panfletos usados pelos estudantes durante a crise académica de 1969, em Coimbra, guardados nos arquivos da Biblioteca Geral, e a exposição «Escape/ The assumption of blue», de Pedro Pascoinho, que se pode visitar no Museu Nacional de Machado de Castro e na Galeria Sete.
Para a última quinzena do ano poderemos ainda destacar algumas exposições de artes plásticas em diversos locais do país, referindo Arte FAVO em Alhos Vedros, Museu das Artes de Sintra, Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro em Angra do Heroísmo, Armazém 8 em Évora e Galeria Biblioteca Municipal de Palmela.
Em 2018 o município da Moita inaugurou o Espaço FAVO - Fábrica de Artes Visuais e Ofícios3, em Alhos Vedros, criando um novo equipamento colectivo destinado a acolher residências artísticas, exposições, feiras e eventos relacionados com as artes e ofícios. O Arte no FAVO é uma iniciativa organizada em parceria com o Grupo de Trabalho de Autores Locais, que permite conhecer o trabalho dos artistas plásticos do município da Moita, possibilitando uma maior proximidade da comunidade às artes plásticas através da fruição e da prática artística. No âmbito da segunda edição do Arte no FAVO foi organizada uma exposição de artes plásticas, que pode ser visitada até 15 de Dezembro. Nesta exposição participam os artistas: Dores Nascimento, Pedro Miranda, Baltazar Morgado, Ricardo Coxixo, Deodato Fernandes Jesus, Ilda Coelho, António Sá, Paula Celeste, Luiz Mendonça, Celeste Cantante e António Dias.
No MU.SA – Museu das Artes de Sintra4, decorre a exposição «O espaço ilimitado da pintura» obras da colecção de Nadir Afonso, patente até 5 de Janeiro de 2020. O crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida referiu ter centrado, para esta exposição, uma abordagem à última fase da obra de Nadir Afonso, a partir de meados da década de setenta, evidenciada através de múltiplos trabalhos, quer em guache quer em tela.
Exposição de Pintura «Paisagem transversal» de Rui Melo, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro5 em Angra do Heroísmo, até 31 de Dezembro. Rui Melo é natural da Terceira e licenciado em Artes Plásticas, Pintura, pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e tem exposto com bastante regularidade, tanto individualmente como em colectivas.
No Armazém 86, espaço da associação cultural Associ´Arte em Évora, decorre a Exposição/Instalação «Escada» de Elisabete Barradas, até 31 de Dezembro. Esta exposição é uma mostra de arte que inclui os trabalhos da performance «A Casa Que Habito» inserida na programação do «Artes À Rua». Este evento é organizado pelo CARVÃO estúdio.
«Exposição Colectiva de Artistas Locais» na Galeria Biblioteca Municipal de Palmela7, pode ser visitada até 5 de Janeiro. Esta exposição apresenta obras de Ana Lima Neto, David Amaral, Fátima Madruga, Kim Prisu, Madalena Slagueiro, Pedro Fortuna, Samina e São Nunes nas áreas da pintura, cerâmica, desenho e instalações.
- 1. Citação da revista online Visão, artigo «Anozero’19 – Bienal de Coimbra: Marginalizados do mundo, estamos a olhar para vós», de Sílvia Souto Cunha.
- 2. Ver mais informações sobre os espaços onde decorrem actividades da Anozero - Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra aqui.
- 3. Espaço FAVO - Fábrica de Artes Visuais e Ofícios, Rua Dom Afonso de Albuquerque, Alhos Vedros. Horário: segunda a quinta-feira, das 17h às 19h; sexta-feira, das 19h às 21h; sábado e domingo, das 15h às 19h. Visitas guiadas para a comunidade educativa, mediante inscrição prévia.
- 4. MU.SA, Av. Heliodoro Salgado 102, 2710-720 Sintra. Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 18h; sábado e domingo, das 12h às 18h.
- 5. Biblioteca Pública e Arquivo Regional - Rua do Morrão, 42, Angra do Heroísmo. Horário: segunda a sexta-feira, das 9h das 19h; sábado, das 14h às 19h.
- 6. Armazém 8, Rua do Electricista 8-1º, Parque Industrial e Tecnológico de Évora (PITE), Évora. Horário: das 12h às 21h.
- 7. Galeria Biblioteca Municipal de Palmela, Largo de São João, 2950-204 Palmela. Horário: terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e ao sábado, das 14h às 19h.
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