No âmbito das comemorações do 50.º Aniversário a CGTP organizou a Exposição de Artes Visuais "CGTPexpo50", que decorre na Sala do Risco1 do Pátio da Galé (Praça do Comércio) em Lisboa até 25 de julho. Nesta exposição coletiva estão expostas obras de artistas de várias zonas do país e obras da coleção de arte da CGTP-IN, participando no total 69 artistas, onde podemos encontrar diversas linguagens artísticas, como a instalação, escultura, a pintura, aguarela, fotografia, desenho, litografia e serigrafia, a arte gráfica e arte urbana entre muitas outras técnicas mistas, não deixando alguns deles de se associar às preocupações com a precariedade que hoje atinge a sociedade em geral e como alguns críticos de arte já assinalaram, entre os quais Hal Foster2, como determinante para compreender uma grande parte da arte de hoje, que definiram o termo precário como uma «característica distintiva de parte das práticas artísticas e das obras, tanto do ponto de vista da sua ontologia, como de sua receção»3.
Os artistas ali representados, foram apenas limitados pelo espaço, sendo a única razão para que muitos outros não estivessem presentes, ilustrando «o reconhecimento da importância das lutas travadas pela CGTP, mas é também a afirmação do artista enquanto trabalhador, de um trabalho inventivo e qualificado com um forte valor adicional exposto numa economia de incertezas, o que se acentuou na sociedade pós-moderna com a ascensão de um novo grupo social, os intermediários culturais, correia de transmissão do gosto típico das classes superiores, do seu bom gosto e das oscilações desse gosto…» como assinala o texto de apresentação de Manuel Augusto Araújo.
A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, na inauguração, acerca da atual situação dos trabalhadores da cultura, referiu a necessidade de garantir a liberdade para «criar sem que estejam dependentes do que as chamadas “indústrias culturais” determinam a cada momento, sem estarem sujeitos à precariedade no trabalho que se transforma em precariedade na vida, ainda que agora esta seja balizada por um enquadramento jurídico que continua a reservar a instabilidade como forma generalizada da prestação de trabalho no sector cultural», conforme transcrição em artigo no AbrilAbril.
A exposição está montada em quatro módulos expositivos em forma de cubo, de modo a não interferir na grandiosa arquitetura da Sala do Risco e permitindo aos visitantes percursos e diálogos diferentes entre as obras, tentando assim fugir ao método expositivo mais habitual, também conhecido como «White Cub» (Cubo Branco) com os painéis alinhados à volta da sala.
«Rumble Strip» é o título da exposição de escultura de Andreia Santana que estará patente até 25 de julho na Biblioteca da ESAD.CR-Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha4. Esta exposição é constituída por um conjunto de esculturas elaboradas a partir da interação entre a artista e o ambiente e os materiais disponíveis nos contextos fabris. As obras realizadas em cobre durante a sua residência artística «No entulho», na Artworks no Porto – fábrica onde a artista desenvolveu as suas obras, trabalham e problematizam a relação do desenho tridimensional com o corpo e o espaço.
No texto da exposição o seu curador, Samuel Rama, afirma que «o campo do escultórico esteve e continua em constante transformação de si mesmo via teste dos seus limites. O termo escultura não é definível de modo estático na medida em que só se situa num processo contínuo de transformações, a tal ponto que podemos apelidar como “escultura” uma fotografia, ou uma peça sonora como as que a Andreia Santana produziu. No entanto, três características sobreviveram desde a pré-história, passando pela estatuária, escultura em sentido estrito e escultura no campo expandido, são elas o desenho, o espaço e a ideia de ausência.»
Acerca da proposta expositiva de Andreia, apresentada em «Rumble Strip», Samuel Rama acrescenta que este trabalho «problematiza o espaço e a noção de ausência a partir da disciplina do desenho tridimensional. Um desenho que se encontra numa situação instável, mas por isso produtiva, porque tanto segrega espaço ou parece justificar a sua amplitude ambiental, como aponta para as estratégias da forma, do objeto fechado sobre si próprio, típico da escultura da primeira metade do século XX», afirmando ainda que cada escultura de Andreia Santana é um desenho, e que «cada desenho é uma ideia muito próxima do potencial do corpo. Nenhuma delas parece evocar a gravidade apesar da maioria tocar no chão. A desvalorização expressiva da gravidade coloca a tónica no gesto, na vida, no movimento e na intensidade.»
No Centro Cultural de Lagos5 poderão ser visitadas duas exposições, «Diálogo Interdisciplinar Arte-Espaço-Arquitetura» de Ernst Föll6 , nas Salas 2 e 3 e a Coletiva «PRALAC–LAC» na Sala de Exposições 1, até 23 de julho.
Ernst Föll iniciou o seu percurso artístico na Academia de Arte de Düsseldorf (Alemanha), em 1970, onde teve aulas com o artista Joseph Beuys, considerado um dos artistas alemães mais influentes da segunda metade do século XX e um dos mais importantes do Movimento Fluxus7, assistindo, assim, de perto a muitos dos eventos desta manifestação artística, aprendendo «a ver a Arte de uma forma mais alargada, sem barreiras e com muita ambição». «… A poesia, a filosofia e a arquitetura têm um papel muito importante nas suas criações. Para si, o pensar “fora da caixa” foi sempre mais fascinante do que ficar enclausurado na “Torre de Marfim”. No entanto, uma questão percorre todos os seus estudos interdisciplinares: “Qual é a medida certa?”. O importante para Ernst não é a quantidade e o tamanho da obra, mas sim o conceito, a harmonia e o que transmite».
A exposição Coletiva «PRALAC–LAC» resulta do Programa de Residências Artística do Laboratório de Atividades Criativas (PRALAC), nas tipologias de projetos de longa e de curta duração realizadas ao longo do ano de 2020, bem como mostra de algumas obras que integram o acervo do LAC. Esta exposição contempla trabalhos no domínio das artes plásticas, arquitetura, pintura, escultura, design, instalações de vídeo e fotografia, onde participam os artistas: António Pedro Correia, Jorge Pereira, Madalena Campos, Raymond Dumas, Rita Pereira (RoMP), Ricardo Lopes e Alexandre Barata (Xana).
O AMAC-Auditório Municipal Augusto Cabrita8, no Piso 1 – Galeria Azul no Barreiro, apresenta a exposição de pintura «Em Trânsito» de Penélope Clarinha9, até 31 julho. Em jeito de confissão, a artista já afirmou que o que a diverte «são as situações do quotidiano, desde inusitadas, com um pouco de travessura aqui, absurdo ali, tudo isto inserido num universo anacrónico, de interiores onde a imagem estática surge como dinâmica, uma cena teatral onde algo está para acontecer…».
No texto da exposição «Em Trânsito», Penélope Clarinha confessa ainda que quando chega a altura de escrever coisas sobre as suas pinturas, «de encontrar um fio condutor para dar união aos trabalhos e a oportunidade perfeita para parecer profunda e inteligente, mas, na verdade, não faço a mínima ideia, não tenho linha nenhuma, tenho isso sim, um emaranhado de ideias com, pelo menos, uma dúzia de meadas de lã de todas as cores e um gato assanhado lá dentro. A minha linha condutora é como aqueles colares fininhos, de pôr ao pescoço, que, qual bruxedo, ficam todos embaraçados e cheios de nós dentro de uma caixa fechada e sem que ninguém lhes toque…».
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Nota: Os horários praticados pelos diversos espaços de exposição estão sujeitos a alterações, atendendo à situação da pandemia de Covid-19 em que as localidades se encontram, pelo qual sugerimos que se informem sobre os mesmos antes da visita.
O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)
- 1. Sala do Risco – Pátio da Galé, Praça do Comércio n.º 29, 1100-038 Lisboa. Horário: de segunda-feira a sábado, das 10h às 19h.
- 2. Foster, H. «Precarious: Hal Foster on the Art of the Decade», Artforum, dez. 2009.
- 3. Gerard Vilar, «El arte contemporáneo y la precariedad», em Vidas dañadas. Precariedad y vulnerabilidad en la era de la austeridad, Sonia Arribas e Antonio Gómez (ed.), Artefakte, Barcelona, 2014, p. 75-95.
- 4. ESAD Caldas da Rainha. Rua Isidoro Inácio Alves de Carvalho, Campus 3, 2500-321 Caldas da Rainha. Horário: segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 18h.
- 5. Centro Cultural de Lagos. Rua Lançarote de Freitas, 7, 8600 Lagos. Tel.: 282 770 450. Horário: terça-feira a sábado, das 10h às 18h.
- 6. Ernst Föll (n. em Hilden, Alemanha, 1949). Em 1970, estudou na Academia de Belas Artes “Freien Kunst” na Kunstakademie Düsseldorf. Em 1990, Ernst trabalhou como designer e continuou a participar em exposições coletivas e em projetos sociais na Alemanha e noutros países. Em 2016 decidiu vir viver para Portugal. Em 2018 participa na exposição coletiva na Casa Álvaro de Campos, em Tavira, e em 2019 na exposição coletiva «O Coração se pudesse pensar, pararia!» (Fernando Pessoa) na galeria de Milreu, em Estói.
- 7. O Movimento Artístico Fluxus (anos 60 e 70), movimento de cunho libertário caracterizado pela mistura de diferentes artes, originalmente nas artes visuais, incluindo pintura, escultura, happening, performance, vídeo e instalação e depois também na música e na literatura.
- 8. Auditório Municipal Augusto Cabrita. Parque da Cidade, Av. Escola de Fuzileiros Navais, 2830-Barreiro. Horário: terça-feira a domingo, das 14h às 20h.
- 9. Penélope Clarinha nasceu em Lisboa em 1972. Licenciada em Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa (1995). Frequência dos Cursos de Pintura e Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa. (1993/2003).
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