A Quinta do Quetzal, no município da Vidigueira, além de ter actividade de produção vinícola e um restaurante, tem também o Centro de Arte Quetzal1, onde se tem desenvolvido uma excelente programação de arte contemporânea com artistas consagrados internacionalmente ou emergentes e de diferentes gerações, assumindo, desde o seu começo, o desejo de querer «pôr à prova a finalidade da arte fora dos circuitos comerciais tradicionais», de atrair a comunidade local para a arte contemporânea e de trazer novos públicos para o interior da região alentejana. O suporte artístico para esta programação é a colecção de arte do casal holandês Cees e Inge de Bruin-Heijn, os donos da Quinta, que é considerada entre uma das 200 maiores colecções privadas do mundo de arte contemporâneai, sendo composta essencialmente por artistas holandeses, belgas e alemães.
Desde a inauguração deste Centro de Arte Contemporânea, em 2016, já se realizaram diversas exposições com artistas internacionais e portugueses, a «exposição inaugural» (2016-2017) que apresentou um diálogo intergeracional entre artistas da cultura da imagem contemporânea: Trisha Baga (1985), que trabalha principalmente em vídeo e performance; Robert Heinecken (1931 -2006), uma artista experimental na montagem de imagens; e Pat O'Neill (1939), um artista e cineasta cujo uso inovador de técnicas ópticas antecipou e influenciou o nosso cenário digital contemporâneo. A segunda exposição, «Colaborações» (2017-2018) focou-se em obras colaborativas da colecção, com os artistas Erick Beltrán e Jorge Satorre, Lucy McKenzie e Lucile Desamory, John Altoon e Ed Ruscha, Thomas Schütte e Richard Deacon, Philippe Parreno e Rirkrit Tiranvanija, Emiliano Perino e Luca Vele, John Baldessari e Matt Mullican, Mika Rottenberg e Jon Kessler, e uma série de projectos colaborativos de quatro curadores e diversos artistas portugueses, como Alexandre Estrela, Orla Barry e Rui Chafes, Igor Jesus e Mariana Silva, e Musa Paradisiaca e António Poppe. A terceira exposição, «Drawing Africa on the Map» (2018-2019), reuniu uma série de obras de artistas africanos, tendo o desenho como meio central, com obras de Marlene Dumas, William Kentridge, Moshekwa Langa, Gareth Nyandoro e Bahia Shehab.
A exposição que está actualmente no Centro de Arte Contemporânea do Quetzal2 tem como título «Mitos da Caverna (Espeleologia Infinita)» e pode ainda ser visitada até 30 de Março. Nesta exposição, com a curadoria de Aveline de Bruin e Xander Karskens, participam os artistas Georges Dorignac, Pauline Curnier Jardin, Mike Kelley, Rachel Khedoori, Alexandra Leykauf, Lee Lozano, Luís Lázaro Matos, Nathaniel Mellors, Paul Thek, Dick Verdult. O texto de apresentação começa por afirmar que «foi nas habitações subterrâneas dos primeiros homens que, nas palavras de Werner Herzog, “a alma humana moderna despertou”, através de rituais sociais e expressões que dão conta da capacidade humana de reflectir, sublimar e criar. No nosso inconsciente colectivo, a história da caverna é a história da invenção estética, da ideação, do lento advir ao ser de uma inteligência complexa e sensível, localizada algures entre o caos primordial e as primeiras estruturas civilizacionais. No seu mais famoso tratamento filosófico a caverna é, claramente, o lugar alegórico das nossas verdades, o lugar de nascimento da nossa emancipação política». Esta exposição inclui obras novas e preexistentes, «obras de artistas modernos e contemporâneos que exploram as possibilidades artísticas da caverna. Um dos núcleos significativos da exposição é constituído por trabalhos da Colecção Bruin-Heijn, apresentando uma abordagem curatorial gerada, em parte, a partir de um conjunto de obras de Mike Kelley», que nos propõe um olhar sobre o berço da civilização humana e que poderá «ensinar-nos algo profundo sobre quem somos e ajudar-nos a imaginar o futuro de uma maneira diferente».
O Centro de Arte Quetzal inaugurou também, em 21 de Novembro de 2019, duas instalações site-specific de Susan Philipsz: Tomorrow’s Sky [O Céu de Amanhã] (2019) e Sleep Close and Fast [Dorme Perto e Profundamente] (2019). Estas obras estão instaladas no topo da colina em frente ao Centro de Arte e dentro da adega na Sala do Barril.
A OSSO - Associação Cultural, criada em 2009, é um colectivo que inclui artistas e investigadores de diferentes áreas (Música, Dança, Artes Plásticas, Literatura, Performance e Cinema). Desde 2012, tem vindo a desenvolver a sua actividade em torno do apoio à criação, programação e investigação predominantemente transdisciplinar. Os seus projectos, de cariz experimental, procuram explorar práticas artísticas em articulação com um pensamento crítico, estético e político que contemple a especificidade dos contextos e territórios nos quais se inserem. Em paralelo com os seus projetos artísticos e de investigação, a OSSO tem uma nova casa na aldeia de São Gregório, no concelho de Caldas da Rainha, onde criou um espaço de residências artísticas. Aqui estabeleceu o centro de desenvolvimento criativo dos seus projectos e promove um conjunto de atividades focadas na relação entre os artistas e comunidade local.
«Invasor Abstracto» é um programa apresentado pela associação OSSO no Convento São Francisco3, um equipamento municipal adquirido pela Câmara Municipal de Coimbra em Julho de 1986, recebendo obras de requalificação em 2010 de autoria do arquitecto João Luís Carrilho da Graça. Neste espaço estão actualmente duas Instalações que podem ser visitadas até 22 de Março: «Campo próximo», de Diogo Alvim e Matilde Meireles, decorre na Galeria Pedro Olayo (filho)4, é uma «instalação sonora que trabalha a percepção e a construção de lugares, interligando locais remotos com o espaço em que é apresentado» e «Belo Horizonte», de Nuno Torres, Pedro Tropa, Ricardo Jacinto e Rita Thomaz, ocupa as salas do Welcome Center, integrando som, desenhos, fotografias e objectos tridimensionais num aparente labirinto semântico e espacial.
Cidadão Exemplar é projecto colectivo de três artistas, já anteriormente apresentado no nosso artigo «Espaços de Programação para as Artes Plásticas», em Julho de 2019, que organiza exposições e palestras em diversos espaços de Almada.
Com a curadoria do projecto Cidadão Exemplar, o Quarteirão das Artes5, em Almada, apresenta a exposição de Desenho «Correr o Risco» de João Gaspar, que pode ser visitada até 20 de Março. O desenho, já assumida como linguagem autónoma, é para José Gil a ideia de um plano flutuante6, como tentativa ou multiplicidade de tentativas, onde a «a espontaneidade, a leveza, a ubiquidade do acaso, a alegria de flutuar sem peso e sem raízes, fazem do movimento do desenho um movimento dançado»7. Luís Miranda, um dos elementos do Cidadão Exemplar, num texto acerca desta exposição, referiu que o trabalho de João Gaspar é um «exercício repetido de enformar a grafite sobre os suportes, respondendo às questões colocadas por cada desenho com a construção do desenho seguinte, através do que se vai fazendo um discurso formal que salta dos desenhos para as palavras.».
Organizado pelo Teatro Extremo e também com curadoria do Cidadão Exemplar, poderemos visitar a exposição «O Legado» de Luís Miranda, José Julião e Rui Silvares no Teatro Estúdio António Assunção8, até 24 de Abril.
Salientamos ainda que na Casa da Cultura de Setúbal9 poderemos visitar a exposição de Pintura de Henrique Ruivo até 31 de Março. O crítico de arte João Pinharanda sublinhou, recentemente, ser o «trabalho invulgar de Henrique Ruivo, no contexto nacional, marcado por uma dominante vontade narrativa onde impera o humor, o confessionalismo irónico e o comentário crítico ao meio artístico, social e político». Henrique Ruivo (Borba, 1935-2020), estudou Medicina, abandonou o curso para estudar Escultura. Companheiro de geração de Álvaro Lapa e Joaquim Bravo, mudou-se para Roma, só regressando a Portugal depois da revolução de Abril de 1974.
- 1. Segundo uma lista publicada em 2010 pela revista americana Art News.
- 2. Centro de Arte Quetzal. Estrada das Sesmarias, Vidigueira (38º13’26.4”N · 7º49’37.2”W). Horário: Semana: 10h – 18h; Fim-de-Semana: 10h – 23h; fechado à Segunda e Terça.
- 3. Convento São Francisco. Avenida da Guarda Inglesa, nº1A, 3040-193 Santa Clara, Coimbra. Horário: Horário: 15h - 20h (Segunda a Domingo). Em dias de espectáculo: 15h - 22h.
- 4. Sala/Galeria no espaço cultural no Convento de São Francisco, sendo atribuído o nome de Pedro Olaio (Filho), um prestigiado aguarelista de Coimbra, durante as celebrações do Dia da Cidade de Coimbra em 2017.
- 5. Quarteirão das Artes. Rua Conde Ferreira, n.º 3, Almada. Horário: Segunda a Sexta das 9h30 às 18h.
- 6. Um conceito apresentado por José Gil no texto do catálogo da exposição «Transcrições e Orquestrações – Desenhos de Ângelo de Sousa», no CAMJAP da Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
- 7. Ibidem, p. 36
- 8. Teatro Estúdio António Assunção. R. Conde Ferreira, 2800-016 Almada. Horário: Quarta a Sábado 14h30-17h30 e durante as actividades programadas; Domingos durante as actividades programadas.
- 9. Casa da Cultura de Setúbal. Galeria de Exposições - Rua Detrás da Guarda, Setúbal. Horário: Domingo, terça-feira e quarta-feira: 10h-22h; Quinta-feira, sexta-feira e sábado: 10h-01h.
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