Pedem-me balanços – tremo sempre. E relativizo invariavelmente o alcance dos balanços anuais feitos por outros, sobretudo em matérias artísticas. Mas, como a sina do ensaísta é ousar, tentar, errar, assumo desde já as debilidades desta reflexão, começando pelos esquecimentos. E, fazendo em parte minhas as palavras de Cervantes, de igual modo assumo a responsabilidade por aqueles autores e obras cujos nomes não quero lembrar.
Não se espere, pois, que refira aqui autores e obras cujas imagens os media dominantes (televisões, Público, Expresso, DN, Visão, JL, Ler…) replicam até à náusea, condicionados que estão pelas agências de comunicação ou departamentos de marketing dos grandes grupos editoriais. Essa circunstância me dispensa, pois, de lhes dar aqui maior relevo, que, em geral, considero imerecido.
1. Utilizadores das bibliotecas, itinerâncias e bolsas
Antes, porém, foquemos algumas questões que condicionam de facto a criação e a fruição literárias e o acesso aos livros.
Comecemos pela má notícia da semana que passou: segundo a LUSA, «as bibliotecas públicas portuguesas tiveram quebras no número de utilizadores inscritos e de visitas ao longo de 2016, embora a despesa tenha aumentado, revelou a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).
De acordo com o relatório estatístico anual divulgado esta semana, em 2016 as bibliotecas tiveram um total de 26,9 milhões de euros de despesa, mais 2,9 milhões de euros do que em 2015.
O relatório, disponível na Internet, tem por base inquéritos feitos a 209 bibliotecas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) e reúne dados estatísticos sobre a actividade e funcionamento em 2016.
Quanto ao acesso às bibliotecas, em 2016 cada biblioteca pública teve em média 6885 utilizadores inscritos, um número ligeiramente inferior à média de 6900 utilizadores em 2015. Também a média de visitas em cada biblioteca desceu de 38 mil para 37 mil.
Do total de 1,4 milhões de utilizadores inscritos em todo o universo das bibliotecas, cerca de 212 mil eram crianças e adolescentes e 808 mil eram adultos.
Com base nas respostas do inquérito nacional, fica-se a saber que cada biblioteca da rede pública tem, em média, 11 trabalhadores e 26 computadores, dos quais 14 com acesso à Internet à disposição dos utilizadores.
Para a aquisição de novos títulos – livros, seriados, livros electrónicos, CD, DVD, audiolivros –, as bibliotecas gastaram cerca de 1,2 milhões de euros. No total, foram adquiridos 219 mil títulos.
Entre as actividades que as bibliotecas promovem estão a hora do conto, apresentação de livros e exposições. Houve menos acções de formação para a promoção da leitura, descendo de 284 para 245 sessões.
Fora de portas, cada biblioteca pública presta ainda serviço comunitário em torno do livro e da leitura sobretudo em escolas (91%), mas também em lares e centros de dia e em prisões.
O programa da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas foi criado em 1987 e reúne actualmente 219 bibliotecas espalhadas pelo país, em parceria com as autarquias, disponibilizando cerca de 6,4 milhões de títulos para leitura pública».
São números que suscitam reflexão. Mas uma realidade se impõe: existe uma diminuição no número de utilizadores das bibliotecas da Rede – que, não haja dúvidas, constitui um dos projectos culturais estruturantes do país desde finais dos anos 80. Por outro lado, quem visita por ano várias bibliotecas públicas, em diferentes regiões do país, e acompanha de forma interessada este projecto desde o seu arranque, sabe que, por razões que lhes são alheias, as bibliotecas (ou muitas delas) perderam dinâmica e atractividade. Motivos: os drásticos cortes orçamentais verificados nos últimos anos, na área da Cultura, tanto no plano nacional como ao nível local. Uma situação que muitos agentes culturais têm lutado para reverter.
Em contracorrente, registe-se, no entanto que o Prémio Boas Práticas em Bibliotecas Públicas Municipais, na sua 3.ª edição, foi atribuído à Biblioteca Municipal de Ílhavo pelo projecto «Ao som das histórias», tendo o júri destacado «a envolvência da biblioteca pública, bibliotecas escolares, educadores, autores e instituições regionais em prol da promoção da leitura, num momento em que as bibliotecas abraçam novas valências e beneficiam das novas tecnologias para potenciar as suas actividades junto da comunidade.» Foram atribuídas duas menções honrosas aos projetos «Padrinhos de leitura», da Biblioteca Municipal Urbano Tavares Rodrigues (Moura), onde se destaca «o apoio continuado das instituições empresariais num projeto de promoção da leitura junto do público mais jovem», e «Pais do avesso», da Biblioteca Municipal de Sever do Vouga, considerando «o papel social da biblioteca na comunidade».
Um dos elementos que projectam positivamente a imagem das bibliotecas, e lhes permitem captar e fidelizar públicos, conferindo-lhes o duplo estatuto de prestadoras de serviço público e de pólos de dinamização cultural são, por um lado, a actualização de fundos (que implica investimento das autarquias) e as itinerâncias. Itinerâncias de formações e de actividades de animação promovidas sobretudo pela DGLAB (Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas). Ora o programa de itinerâncias deixou de existir nos termos em que o conhecíamos há mais de uma década. Importava retomá-lo.
Uma das propostas do grupo parlamentar do PCP ia nesse sentido. O programa consistia numa série de acções. Cito a Proposta de Lei/proposta de aditamento (cap. IX, art. 141.º-D): «Acções de Formação, Ateliês, Espectáculos, Comunidades de Leitores, Cursos Breves de Literatura e Exposições apresentadas à Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (…) ou encomendados por esta direcção geral a especialistas em leitura, realizadas em parceria com as autarquias, através das respectivas bibliotecas municipais. A parte dos custos da acção relativos aos agentes envolvidos era assegurada pela tutela e os custos com transporte, alimentação e estadia eram suportados pela autarquia que acolhia a ação. Na ótica do desenvolvimento de políticas da administração central no sentido de complementar e promover os equipamentos culturais, particularmente as bibliotecas públicas, e de incentivo à itinerância cultural», este programa – que exigia um modestíssimo investimento – era uma importante ferramenta para criar e consolidar hábitos de leitura. Pois bem, em sede de discussão/aprovação do OGE 2018 na especialidade, a proposta foi chumbada pelo PS e pelos partidos de direita. Fica, pois, adiado, a este nível, o projecto de recuperação das bibliotecas públicas.
Diferente sorte conheceu a anterior proposta de criação de Bolsas de Criação Literária apresentada pelo PCP. Aprovada e concretizada, foram fixadas, para o ano de 2017, 12 bolsas. O júri nomeado deliberou atribuir bolsas de Banda Desenhada a Marta Henriques e Nuno Saraiva, de Dramaturgia a Elmano Sancho Esteves Saraiva e Gisela de Cañamero, de Ficção Narrativa a Ana Margarida de Carvalho, Isabel Rio Novo, Margarida Isabel Botelho Falcão Paredes e Patrícia Portela, de Literatura para a Infância e Juventude a Carla Maia de Almeida e Rosário Alçada Araújo, e de Poesia a Raquel Nobre Guerra e Rui Cóias.
Considerando o elevado número de candidaturas, a opinião escrita do júri e várias outras perspectivas, uma coisa parece certa: o número de bolsas é escasso.
2. Promoção da leitura e leitura literária
Outro aspecto que importa considerar neste balanço prende-se com o Plano Nacional de Leitura (PNL) relançado em 2017 e envolvendo a substituição do anterior comissário.
Até ao momento, no entanto, pouco se conhece sobre esse processo de relançamento. Em conferência realizada em Novembro na Gulbenkian, tomaram a palavra ou estiveram presentes pelos menos dois ministros, não sei quantos secretários de estado e ex-ministros, além dos costumeiros moderadores vindos da esfera televisiva (ninguém começa a cansar-se disto?) e de uns especialistas em leitura. Por muito que nos custe a constatação, pouco passou de uma operação mediática de sala cheia mas de escasso impacto. Certo é que, até ao momento, nada se sabe sobre o financiamento do PNL em 2018 e sobre as linhas de trabalho e iniciativas concretas a desenvolver para acudir a problemas detectados, como, entre outros, a diminuição dos utilizadores das bibliotecas públicas, a actualização dos fundos das bibliotecas escolares, a crescente necessidade de formação dos professores e educadores no campo da Educação Literária. (Como se vê, não aludo aqui, propositadamente, nem à questão das novas tecnologias nem à da leitura em outros suportes.)
Uma coisa já se percebeu: numa época em que o «literário» se encontra em perda, na sociedade e nas próprias instituições educativas e culturais (não obstante a febre autárquica de festivais literários que nenhum problema de fundo ataca); num tempo em que os jovens evidenciam crescente dificuldade em compreender e interpretar um texto literário ou outros discursos da ordem da complexidade (filosóficos, científicos…), a leitura literária não parece constituir uma prioridade. Neste século XXI, para muitas cabeças pensantes, todas as leituras parecem valer o mesmo (os textos na Internet e noutros suportes electrónicos; as mensagens pessoais; a publicidade; os textos de natureza mais pragmática, não-literários; as obras de literatura…). Ora isto não é verdade, como a investigação comprova.
Detecta-se, por outro lado, em governantes e ex-governantes da área da educação, uma ansiedade não escondida relativamente à necessária – na opinião deles – eliminação das Metas Curriculares do Português e, consequentemente, daquilo que nelas se chama (e a meu ver bem) Educação Literária. Recordo que a este domínio surge associada uma listagem de obras recomendadas (sim, estão lá autores como Sidónio Muralha, Redol, Ilse Losa, Papiniano Carlos, Eugénio de Andrade, Saramago, Pina e vários textos clássicos… – para apenas mencionarmos listas para o ensino básico). A crítica mencionada é feita em nome de uma pretensa falta de liberdade na escolha de obras a ler pelos alunos – como se as Metas não remetessem constantemente para a gigantesca listagem de obras do PNL (e deixo duas perguntas: as Metas têm sido lidas com atenção?; a quem incomoda a existência de uma listagem de obras para a Educação Literária?).
Entretanto, o fim do ano traria uma estranha notícia: o inquérito à fuga de informação no exame nacional de Português de 12.º ano determinou a abertura de um processo disciplinar a uma professora «para apuramento de responsabilidade nesta esfera», afirma o Ministério da Educação – docente que teria sido, antes, presidente da Associação de Professores de Português. Esta é uma das duas associações ligadas a esta disciplina e tem-se manifestado contra as Metas Curriculares de Português e o domínio da Educação Literária, parecendo privilegiar uma abordagem comunicativista e pragmática do ensino da língua que habitualmente tende à desvalorização dos clássicos e do próprio discurso literário.
Mantenho sobre este tema a seguinte posição geral: a escolaridade obrigatória deve permitir a todos (incluindo os filhos da classe operária e dos trabalhadores) o acesso democrático àquilo que é da ordem da complexidade discursiva: literatura, filosofia, obras científicas, historiografia política e económica… Como tal, impõe-se que o ensino obrigatório e as suas práticas de leitura não prescindam dos clássicos e das obras literárias de reconhecida qualidade estética. Impõe-se que seja dada a todos a oportunidade de aprender a ler e desmontar criticamente estes textos mais complexos – caso contrário, favorecer-se-á uma posição elitista, paradoxalmente em nome de uma abordagem alegadamente mais facilitadora e democratizante.
3. Iniciativas válidas de valorização da literatura e da arte da ilustração
É neste contexto que me parece de valorizar o trabalho que, nas universidades e seus centros de investigação (CEC, CLP, CLC, CLEPUL, CLLC…), continua a ser feito em prol do estudo sério da literatura e que resulta em relevantíssimas publicações (revistas, volumes monográficos…), quase sempre ignoradas pelo grande público e de circulação comercial muito limitada.
Destaque-se, neste quadro, o arranque oficial do Arquivo Digital Colaborativo do Livro do Desassossego, plataforma interativa que permite consultar e comparar as quatro principais edições da obra de Bernardo Soares e também criar edições virtuais. A iniciativa é do Centro de Literatura Portuguesa (CLP) da Universidade de Coimbra e tem como coordenador o investigador e professor Manuel Portela.
Muito ligado à qualificada persistência de figuras de peso oriundas da esfera universitária (como João Barrento ou Silvina Rodrigues Lopes), surge também a nova casa do Espaço Llansol (associação que se dedica ao estudo da obra literária de Maria Gabriela Llansol). Chamada «A Casa de Julho e Agosto», situa-se na Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique (Lisboa), e abriu oficialmente no passado dia 24 de Novembro, data de aniversário da escritora, falecida em 2008 (mais adiante veja-se a sugestão de regresso a O Livro das Comunidades, reeditado em 2017).
Outra iniciativa que muito marcou o ano de 2017 foi, sem dúvida, a comemoração do centenário do nascimento de Óscar Lopes, personalidade fundamental da cultura portuguesa do século XX, ensaísta literário, historiador da literatura e linguista de craveira internacional, além de inesquecível exemplo de resistente e militante comunista. A par de publicações diversas (a principal das quais foi Retrato de Rosto, uma fotobiografia da responsabilidade de Manuela Espírito Santo, escritora e estudiosa que é uma das mais fiéis guardadoras e partilhadoras da memória de Óscar), de participadas sessões evocativas e debates, foi possível ver diversas exposições sobre a vida e a obra do autor da Gramática Simbólica do Português (na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Câmara de Matosinhos, no Clube Fenianos do Porto e na Festa do Avante! – duas iniciativas do PCP –, na União dos Sindicatos do Porto).
De registar ainda os nomes de algumas livrarias que continuam a desenvolver um notável trabalho de dinamização cultural em prol do livro e da leitura, como a Gigões & Anantes (em Aveiro), a UNICEPE e a Poetria (no Porto), a Casa de Chá da Hipopómatos na Lua (em Sintra), a Baobá (em Lisboa, Campo de Ourique), a Menina Moça (no Cais do Sodré, também em Lisboa) e tantas outras. E de mencionar, também, todas aquelas revistas (e apenas conhecemos algumas) que continuam a dedicar-se quer à poesia quer à tradução quer à grande literatura, como a Eufeme, a Telhados de Vidro, a Di-Versos, a Delphica: letras & artes e outras.
Merece um destaque muito especial o notável programa sobre poesia que Ana Luísa Amaral e Luís Caetano mantêm na Antena 2: O som que os versos fazem ao abrir. Imperdível.
São de registar, também, as iniciativas que, respeitando critérios de qualidade, conferem cada vez maior visibilidade à arte da ilustração do livro em Portugal, caso da «BIG – Bienal de Ilustração de Guimarães» (iniciativa da Câmara local, a cuja excelente concepção e óptimo programa estão ligadas figuras como Tiago Manuel, Pedro Moura e Jorge Silva). Outra animada iniciativa neste âmbito, da Câmara de Braga, foi «Braga em Risco», com presença de diversos ilustradores e um programa com interesse, com a marca de Pedro Seromenho.
4. Alguns destaques finais: dominantes
Prescindindo de referências a autores brasileiros ou africanos de língua portuguesa (como Mia Couto, que recentemente viu editado o seu último romance), não resisto porém a sugerir a leitura de uma interessante Antologia da poesia erótica brasileira (Tinta da China), organizada por Eliane Robert Moraes.
Sendo difícil, em pouco espaço e pouco tempo, dar conta de algumas dominantes da produção literária e editorial de 2017, deixarei registo das seguintes:
– A publicação, em 2016-17, de diversos volumes de poesia completa de grandes poetas portugueses contemporâneos, como Alexandre O’Neill, Mário Cesariny, Ruy Cinatti, Ruy Belo, Eugénio de Andrade, Herberto Helder, Fiama Hasse Pais Brandão, Al Berto com a chancela da Assírio & Alvim, do grupo Porto Editora. Trata-se de enormes calhamaços, de capa dura, a preços proibitivos, especialmente úteis a estudiosos e bibliotecas públicas e escolares. Ou seja, aquele tipo de obras que não podemos ler na cama, ao contrário do que sucede com as obras singulares (e não completas) de formato mais pequeno – que prefiro. Seja como for, trata-se de excelentes edições só susceptíveis de, ao ritmo evidenciado, ser produzidas por um grande grupo editorial, como é o caso. A Assírio impõe-se assim, cada vez mais, como o espaço editorial devotado à institucionalidade da poesia em Portugal. Mas, como a poesia nova convive mal com esse establishment institucional, as novas experiências temos de as ir procurar em pequenas e micro-chancelas editoriais.
Mesmo assim, destaque-se igualmente o trabalho da E-Primatur e da Antígona na reedição, enriquecida, das obras completas de Mário-Henrique Leiria (ficção) e de António José Forte (sobretudo poesia), respectivamente.
Outra reedição especialmente relevante, na poesia, foi a de Poemas quotidianos, de António Reis, pela Tinta da China.
– Quer no domínio da criação poética, quer no da criação ficcional (narrativa), as obras que abaixo sugiro são bem representativas de uma enorme diversidade de estilos, com a coexistência de autores de diferentes gerações e grupos que aqui não cabe caracterizar.
No domínio da poesia, não quero, todavia, deixar passar a celebração dos 150 anos do extraordinário simbolista que foi Camilo Pessanha, chamando a atenção para as publicações associadas ao aniversário e que não refiro na listagem que apresento.
– Já no domínio da ficção, parece-me justo salientar o registo inovador e muito trabalhado da escrita de Ana Margarida de Carvalho ou a publicação do primeiro romance de Agustina (inédito até agora e escrito aos 19 anos), bem como a bela antologia do mestre Raul Brandão a que a E-primatur meteu ombros.
– No campo da crónica e da reportagem, um livro belíssimo de Augusto Baptista, Gente do Porto (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto), chama a atenção. Adquira-o, pedindo-o directamente para a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, instituição que mantém uma louvável actividade editorial. Um livro graficamente muito cuidado que nos surpreende pela qualidade e precisão da escrita, pelo poder de observação e pela vida-ao-virar-da-esquina de cada crónica/reportagem de Baptista, centrada sempre na cidade do Porto e em tipos humanos (e lugares) absolutamente inesquecíveis.
– Se tivesse de destacar um livro ilustrado (para adultos), optaria pelo terrível Cancer, de Tilda Markström (na verdade Tiago Manuel), e pelo modo como alguém consegue lidar gráfica e visualmente com uma memória íntima terrível, uma história pessoal marcada pela perda. Não deixe de conhecer este livro, de indesmentível qualidade estética e humana.
– Finalmente, um destaque, na área do infantil e juvenil: se quer dar a conhecer a um jovem a biografia e a obra de um poeta inesquecível, Teixeira de Pascoaes, opte (e pode lê-lo também com vantagem) por Luísa Ducla Soares e pelo seu Teixeira de Pascoaes. A página de um livro é terra semeada, com ilustrações de António Santiagu. Graça e humor, rigor de conteúdos e respeito pela figura retratada, fluência e vivacidade da escrita são os traços que caracterizam este pequeno livro que nos dá vontade de ir à estante buscar a obra de Pascoaes, relê-la e visitar o seu torrão natal: a Serra do Marão e o extraordinário solar de S. João de Gatão. Uma iniciação essencial.
E termino com uma sugestão de obras, muitas obras, editadas ao longo de 2017, para diferentes gostos e de diferentes géneros. É a minha (grande) selecção. Um traço comum: todas estas obras são merecedoras de atenção e leitura (umas mais do que outras, claro). Boas leituras, então.
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Narrativa portuguesa
A. M. Pires Cabral – Singularidades (Cotovia)
Afonso Cruz – Jalan Jalan (Companhia das Letras)
Agustina Bessa-Luís – Deuses de barro (Relógio d’Água)
Ana Margarida de Carvalho – Pequenos delírios domésticos (Relógio d’Água)
António Lobo Antunes – Até que as pedras se tornem mais leves que a água (Dom Quixote)
António Modesto Navarro – A capital do Império (Nova Vega)
António Tavares – Todos os dias morrem deuses (Dom Quixote)
Gonçalo M. Tavares – A Mulher-sem-cabeça e o Homem-do-mau-olhado (Bertrand)
Bruno Vieira de Almeida – Hoje estarás comigo no Paraíso (Quetzal)
João Pinto Coelho – Os Loucos da Rua Mazur (Leya)
José Vultos Sequeira – Das estradas e das estrelas (Página a Página)
Joseia Matos Mira – Tantas histórias!... (Estêva)
Leandro Ceia – Contar em resposta (Autor)
Leandro Ceia – Três linhas (Autor)
Maria Teresa Horta – Ema (Dom Quixote)
Mário Cláudio – Os naufrágios de Camões (Dom Quixote)
Mário-Henrique Leiria – Obras completas de Mário-Henrique Leiria: ficção (E-Primatur)
Nuno Corvacho – Kafka na casa de banho (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto)
Patrícia Portela – Dias úteis (Caminho)
Raul Brandão – A vida e o sonho: inéditos, antologia e guia de leitura (org. Vasco Rosa (E-Primatur)
Sandro William Junqueira – Quando as girafas baixam o pescoço (Caminho)
Vergílio Alberto Vieira – Nunca direi quem sou (Companhia das Ilhas)
Poesia portuguesa
Albano Martins – Pequeno dicionário privativo (Afrontamento)
Alberto de Lacerda – A luz que se escondeu no escuro (Crescente Branco)
Ana Luísa Amaral – What’s in a name (Assírio & Alvim)
António Barahona – Só o som por si só (Alambique)
António José Forte – Uma faca nos dentes e outros textos (Antígona)
António Ramos Rosa e Gisela Gracias Ramos Rosa – Vasos comunicantes (Poética, 2.ª ed., agora bilingue, português e castelhano)
Armando Silva Carvalho – A sombra do mar (Assírio & Alvim)
Casimiro de Brito – Flor interior (Eufeme)
Daniel Jonas – Oblívio (Assírio & Alvim)
Emanuel Jorge Botelho – Os ossos dentro da cinza (Averno)Fernando Guimarães – A terra se é leve (Afrontamento)
Fernando Miguel Bernardes – O catálogo das naus (Página a Página)
Flor Campino – Elogio do efémero (Afrontamento)
Francisco José Craveiro de Carvalho – Quatro garrafas de água (Companhia das Ilhas)
Gastão Cruz – Existência (Assírio & Alvim)
José Efe – Tempo suspenso: 37 haikus (Seda)
Manuel de Freitas – Game over (Alambique)
Maria João Cantinho – Do ínfimo (Coisas de Ler)
Maria Teresa Horta – Poesis (Dom Quixote)
Nuno Higino – O vazio do mundo (Letras & Coisas)
Nuno Júdice – O mito de Europa (Dom Quixote)
Paulo da Costa Domingos – A céu aberto (Averno)
Raquel Serejo Martins – Subúrbios de Veneza (Poética Edições)
Rosa Maria Martelo – Siringe (Averno, reedição, num volume, de livros anteriores)
Rosa Oliveira – Tardio (Tinta da China)Rui Costa – Mike Tyson para principiantes (Assírio & Alvim)
Rui Knopfli – Nada tem já encanto (poemas escolhidos) (Tinta da China)
Sérgio Ninguém – As ruínas são lobos que choram (Eufeme)
Vergílio Alberto Vieira – Porto de honra e outras cascatas (Crescente Branco)
Virgínia do Carmo – Poemas simples para corações inteiros (Poética Edições)
Sem classificação de género
Maria Gabriela Llansol – O Livro das Comunidades: Geografia de rebeldes I (Assírio & Alvim) – reedição de obra de 1977 com imagens de Pedro Proença e posfácio de Silvina Rodrigues Lopes
Correspondência, textos (auto)biográficos
José Saramago e Jorge Amado – Com o mar por meio – Uma amizade em cartas (Companhia das Letras, org. de Paloma Jorge Amado, Bete Capinan, Ricardo Viel)
Luís Amorim de Sousa – Apesar de tudo: Em memória de Alberto de Lacerda (Labirinto de Letras)
Mário Cesariny de Vasconcelos – Um rio à beira do rio: cartas para Frida e Laurent Vancrevel (Documenta e Fund. Cupertino de Miranda)
Crónica, reportagem
Alice Vieira – Só duas coisas que, entre tantas, me afligiram (Casa das Letras)
Augusto Baptista – Gente do Porto (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto)
Fernando Assis Pacheco – Tenho cinco minutos para contar uma história (Tinta da China)
Antologias
José Viale Moutinho (org.) – Livro português das fábulas: uma antologia (Temas e Debates)
José Viale Moutinho (org.) – Literatura de cordel: uma antologia (Temas e Debates)
Ensaio literário, biografia, vária
Ana Cristina Vasconcelos de Macedo; Marta Neira Rodríguez; Sara Reis da Silva (coords.) – Primeiros livros, primeiras leituras (Tropelias & Companhia)
Ana Luísa Amaral – Arder a palavra e outros incêndios (Relógio d’Água)Ana Margarida Ramos; Diana Navas – Literatura juvenil dos dois lados do Atlântico (Tropelias & Companhia)
Ana Margarida Ramos (org.) – Aproximações ao livro-objeto: das potencialidades criativas às propostas de leitura (Tropelias & Companhia)
Ana Paula Arnaut – O ano da morte de Ricardo Reis de José Saramago (ASA, col. Para ler)
Carlos Pittela e Jerónimo Pizarro – Como Fernando Pessoa pode mudar a sua vida – primeiras lições (Tinta da China)
Carlos Reis – O ano da morte de Ricardo Reis, José Saramago (Porto Editora, col. Educação Literária – leituras orientadas)
Helder Godinho – O essencial sobre Vergílio Ferreira (INCM)
Helder Macedo – Camões e Outros Contemporâneos (Presença)
José António Gomes – A música das palavras: Sidónio Muralha, Matilde R. Araújo, Eugénio de Andrade, Luísa Ducla Soares, M. A. Pina, J. P. Mésseder (Tropelias & Companhia)
Manuela Espírito Santo – Retrato de rosto, uma fotobiografia de Óscar Lopes (Câmara Municipal de Matosinhos)
Maria Filomena Molder – Dia alegre, dia pensante, dias fatais (Relógio d’Água)
Maria João Reynaud – Margens: Ensaios de literatura (Afrontamento)Mário Cláudio – A alma vagueante: 25 autores que conheci (Minotauro)
Miguel Real – Traços fundamentais da cultura portuguesa (Planeta)
Rui Pina Coelho – António Pedro (INCM, col. Biografias do Teatro Português)
Sara Reis da Silva; João Manuel Ribeiro (org.) – Contar de novo. A escrita para a infância de António Torrado (Tropelias & Companhia)
Livro português ilustrado
José de Almada Negreiros – Três histórias desenhadas (Assírio & Alvim)
Tiago Albuquerque, Nádia Albuquerque & Chico Buarque de Hollanda – A Banda (Alfaguara)
Tilda Markström (heterónimo de Tiago Manuel) – Cancer (Ed. MMMNNNRRRG / Marcos Farrajola)
Livros portugueses para a infância e a juventude
Alexandre Lobão – A verdadeira história do Pai Natal (Horizonte), ilustrações de Rachel Caiano
Álvaro Magalhães – O Estranhão – Quem vê likes não vê corações! (Porto Editora) e outros livros da série
Álvaro Magalhães – Os Indomáveis F. C. – O mundo é uma bola (Porto Editora) e outros livros da série
Ana Isabel Marques – Um drama de coelhos e galinhas (Afrontamento, ilustrações de Ana Bossa
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada – Quem é esta gente nos painéis de São Vicente? (INCM), ilustrações de Ana Seixas e design e direcção de arte da Pato Lógico
António Mota – A casa da janela azul (ASA), ilustração: Sebastião Peixoto
António Torrado – A incrível história dos bacalhaus voadores (Câmara Municipal de Lousada), ilustrações de António Pilar
António Torrado – Fábulas fabulosas (ASA), ilustrações de Cristina Malaquias
Bernardette Capelo – Escrito a roxo (Letras & Coisas), ilustrações de José Emídio
Isabel Minhós Martins – Cem sementes que voaram (Planeta Tangerina), ilustrações de Yara Kono
Ivone Gonçalves – Maria Trigueira (Kalandraka)Joana Bértholo – O Museu do Pensamento (Caminho)
Joana Estrela – A rainha do norte (Planeta Tangerina)
João Lóio – Basta imaginar (Afrontamento), ilustrações de Maria João Castro
João Manuel Ribeiro – Palavras-chave (Trinta por Uma Linha), ilustrações de Constança Araújo Amador
João Manuel Ribeiro – E para o poeta outro modo de olhar (Trinta por Uma Linha), ilustrações: vários (antologia org. por Sara Reis da Silva)
José António Franco – Caderno tolo de versos sem miolo (Livros do Corvo)
José Fanha – Cartas à minha terra (Câmara Municipal de Lousada), ilustrações de Rachel Caiano
José Jorge Letria – Uma vida de papel (Oficina Canto das Cores), ilustrações de João Vaz de Carvalho, música de Daniel Completo
José Viale Moutinho – O livrinho dos versos para rir 2 (Afrontamento) ilustrações de Fedra Santos
José Viale Moutinho – Giraldo sem Pavor – Nos tempos de D. Afonso Henriques, de Coimbra e até Évora (Lápis de Memórias)
Lídia Borges – Coisas boas de contar (Poética)
Luísa Ducla Soares – João Pestana (Porto Editora), ilustrações de Ana Camila Silva
Luísa Ducla Soares – Teixeira de Pascoaes. A página de um livro é terra semeada (Opera Omnia / Câmara Municipal de Amarante), ilustração: António Santiagu
Madalena Matoso – Não é nada difícil – O livro dos labirintos (Planeta Tangerina)
Manuela Castro Neves – Um fantasminha no jardim (Máquina de Voar), ilustrações de Maria Bouza
Manuela Castro Neves – Um cavalinho entre papoilas (Caminho), ilustrações de Madalena Matoso
Manuela Barros Ferreira – Contos de querer e poder (Afrontamento), ilustrações de Manuela Bacelar
Margarida Fonseca Santos – Há dias assim (Fábula), ilustrações de Carla Nazareth
Margarida Fonseca Santos – Ser quem sou (Booksmile), ilustrações de Carla Nazareth
Margarida Fonseca Santos – Um salto de gafanhoto (Clube do Autor)
Nuno Higino – A trote e a galope: Poesia para a infância (Letras & Coisas), gravuras de Alberto Péssimo
Rosário Alçada Araújo – Num tempo que já lá vai (Gailivro), ilustrações de Patrícia Furtado
Literatura estrangeira de relevo / tradução
Bíblia, vol. III – Antigo Testamento: Os Livros Proféticos, tradução de Frederico Lourenço (Quetzal)
Chuang Tse, trad. de António Miguel de Campos (Relógio d’Água)
Alejandra Pizarnik – Árvore de Diana (poesia), trad. de João Paulo Esteves da Silva (sem indicação de editor)
Aloysius Bertrand – Gaspar da Noite (poesia), trad. de Aníbal Fernandes
Anne Carson – Autobiografia do vermelho, trad. de João Concha e Ricardo Marques, ((não) edições)
Aram Saroyan – Outono (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
Arvind Krishna Mehrotra – Antes de o tigre se abrigar (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
David Lehman – Uma echarpe no banco da frente (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
Eduardo Galeano – Caçador de histórias, trad. de José Colaço Barreiros (Antígona)
Eduardo Galeano – Mulheres, trad. de José Colaço Barreiros (Antígona)e. e. cummings – O quarto enorme, trad. de José Lima (Livros do Brasil)
Ernest Renan – O Cântico dos Cânticos, trad. de Aníbal Fernandes (Sistema Solar)
Federico García Lorca – Mariana Pineda: romance popular em três quadros, tradução de Miguel Martins ((não) edições, col. Cénica)
Gary Snyder – Nada natural (poesia), tradução de Nuno Marques e Margarida Vale de Gato (Douda Correria)
George Swede – Um mosquito no meu braço (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
George Steiner – George Steiner em The New Yorker, trad. de Joana Pedroso Correia e Miguel Serras Pereira (Relógio d’Água)
Gertrude Stein – O mundo é redondo, trad. de Luísa Costa Gomes (Ponto de Fuga), ilustrações de Rachel Caiano
Giuseppe Tomasi di Lampedusa – Os contos, trad. de Maria do Carmo Abreu (Dom Quixote)
Jacques Roubaud – Alguma coisa negro (poesia), trad. de José Mário Silva (Tinta da China)
John Donne – Poemas, trad. de M.ª de Lourdes Guimarães e Fernando Guimarães (Relógio d’Água)
Jane Hirshfield – A mulher do casaco vermelho (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
Karl Kraus – Pro domo et mundo. Aforismos, trad. de Bruno Monteiro (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto)
Neil Curry – Companhia a Mrs Woolf (poesia), trad. de Francisco José Craveiro de Carvalho (Eufeme)
Ovídio – Poemas do desterro (poesia), trad. de Albano Martins (Afrontamento)
Píndaro – Odes Olímpicas (poesia), trad. de António de Castro Caeiro (Abysmo)
Octavio Paz – Vislumbres da Índia, tradução de José Colaço Barreiros (Relógio d’Água)
Poetas alemães e portugueses – Às vezes são precisas rimas destas. Poesia política portuguesa e de expressão alemã (1914-2014), trad. e selecção de João Barrento, Helena Topa, Fernando J. B. Martinho, Joachim Sartorius (Tinta da China)
Rabindranath Tagore – A voz da mãe dava sentido às estrelas, trad. de Joaquim M. Palma (Assírio & Alvim)
Rainer Maria Rilke – Ao largo da vida: novelas e esboços, trad. de Isabel Castro Silva (Ítaca)
Rimbaud e Verlaine – O estranho casal, trad. de Aníbal Fernandes (Sistema Solar)
S. T. Coleridge – A balada do velho marinheiro, trad. de Alberto Pimenta (Edições do Saguão)
T. S. Eliot – Poemas escolhidos, trad. de João Almeida Flor, Gualter Cunha e Rui Knopfli (Relógio d’Água)
W. B. Yeats – Poemas escolhidos, trad. de Frederico Pedreira (Eufeme)
William Faulkner – A árvore dos desejos, trad. de Vladimiro Nunes e Fátima Fonseca (Ponto de Fuga)
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