O Museu do Aljube Resistência e Liberdade1 é um museu inaugurado em 25 de abril de 2015 e dedicado à história e à memória do combate à ditadura instaurada em Portugal entre 1926 e 1974 e ao reconhecimento da resistência em prol da liberdade e da democracia, onde se poderá visitar a Exposição Permanente do Museu, uma Mostra Arqueológica e um Espaço para Exposições Temporárias.
Para além de muitas outras atividades que evocam o 25 de Abril, o Museu do Aljube apresenta a exposição «8998 Pomar» do artista Júlio Pomar2, que pode ser visitada até 30 de junho.
Cerca de 50 trabalhos de Júlio Pomar integram a exposição, que tem a curadoria de Sara Antónia Matos e Rita Rato e é apresentada como «um feliz encontro entre o Atelier-Museu Júlio Pomar e o Museu do Aljube Resistência e Liberdade… onde se apresenta uma seleção de diferentes núcleos de desenho, gravura e pintura, mas também documentos alusivos a obras e episódios de censura que remetem para o período de clausura, e de perseguição pela PIDE ao pintor Júlio Pomar.»
Na exposição podemos encontrar retratados diversos espaços onde os presos eram vigiados pela polícia, assim como «trabalhos de Pomar apreendidos pela PIDE em rusgas efetuadas a exposições nacionais, como a que apreendeu trabalhos de artistas expostos na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa».
Alguns dos trabalhos de Pomar expostos na 2.ª Exposição Geral de Artes Plásticas na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), em maio de 1947, destacam-se as pinturas Almoço do Trolha (1946-1950), Farrapeira (1947) e Resistência (1946), esta última um dos trabalhos apreendidos a mando da PIDE durante o evento. Destas pinturas, talvez a mais conhecida seja o Almoço do Trolha, considerada pela maioria dos críticos como a obra que marcou o início do movimento neorrealista em Portugal, apresenta uma «acentuação anatómica das mãos e dos pés do operário, já que eles são os seus meios de trabalho, sobrevivência e luta»3.
Quanto às obras Farrapeira e Resistência, obras que foram expostas uma ao lado da outra na referida exposição, embora a primeira fosse considerada como o expoente máximo do realismo, por alguns críticos, é a pintura Resistência que ganha uma maior visibilidade, considerando-se então que foi com esta obra que Pomar melhor provou o seu talento construtivo, apresentando apenas três figuras, uma rapariga prisioneira, entre dois soldados nazis, «onde no plano pictural, apertada entre dois opressores, uma cabeça de mulher resiste ao horror vacui 4 de um conjunto constringente de curvas, de onde parece surgir em relevo»5.
O Museu da Cidade de Aveiro6apresenta a exposição «Um Fotógrafo na Revolução» de Sérgio Valente7, até 2 de maio.
A exposição tem origem na publicação do álbum «Sérgio Valente: Um Fotógrafo na Revolução»8. Com texto de Rui Pereira e prefácio do historiador Manuel Loff, retrata aspetos do processo de desenvolvimento e refluxo revolucionário no Porto, percorrendo os itinerários políticos na cidade desde a atividade oposicionista na cidade do Porto durante os anos 1960, passando pelo Congresso da Oposição Democrática, realizado em 1973, na cidade de Aveiro e o 25 de Abril de 1974, fazendo a cobertura fotográfica até ao ano de 1982 com o 1.º de Maio.
Sobre o trabalho fotográfico de Sérgio Valente, Manuel Loff, escreveu no prefácio do álbum «Sérgio Valente: Um Fotógrafo na Revolução», que «uma vez superada uma ditadura, para que nos recordamos dela? Para enraizar a própria democracia que lhe sucedeu? (…) Os Estados democráticos descrevem habitualmente a sua (re)fundação como resultando da superação e da rejeição da opressão (política, social, étnica, cultural, de género…) que caracterizou as ditaduras que os precederam. Isto significa que há um sentido político, cultural, moral, na recordação de uma ditadura. (...) O legado que Sérgio Valente nos deixa, permitindo fixar uma memória fotográfica dos últimos anos da ditadura e das suas imediatamente posteriores vivências de rejeição e superação, vividos por quem contra ela decidiu resistir, é uma dessas estratégias de memória que, em si mesma, é um trabalho de recuperação da dignidade»9.
O Centro Cultural de Cabeção, um novo equipamento cultural para o concelho de Mora, teve origem em dois edifícios devolutos, foi inaugurado a 28 de abril de 2018 e desde então, tem vindo a desempenhar um papel importante no que se refere ao desenvolvimento cultural local. Neste centro cultural além de estarem sediadas diversas associações locais, tem uma sala polivalente que acolhe exposições, colóquios, entre outras iniciativas, recebendo anualmente diversas mostras de pintura, fotografia, escultura, ou outras, dando sempre preferência aos artistas do concelho de Mora. O Centro Cultural de Cabeção10 apresenta atualmente a exposição «Haver o Sul», com fotografias de Luís Matty, fotógrafo de Mora. Esta exposição pode ser visitada até 30 de abril.
A Casa Pia e a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa apresentam no Centro Cultural Casapiano11 a exposição «Poema de Contornos», dedicada à obra de Martins Correia12, exposição que vai poder ser visitada até 30 de abril.
A exposição realiza-se no âmbito do 240.º aniversário da Casa Pia e dos 20 anos da morte do artista, tem a curadoria de Eduardo Duarte e Elsa Martins Correia e dela fazem parte um conjunto de obras que oferecem uma panorâmica das várias facetas criativas do artista, que se destacou na escultura, desenho, pintura, azulejaria e poesia. Nesta exposição estão expostas 21 peças, três delas inéditas, como um retrato da filha do artista, Elsa Martins Correia, em bronze policromado (1955), a escultura em cimento pintado «Egípcia» (1934) e um conjunto de medalhas em bronze e bronze policromado (1947-1995).
Recordamos que o Museu Municipal Martins Correia na Golegã13 é um dos espaços onde podemos observar grande parte da sua «obra figurativa de inspiração essencialmente antropomórfica, onde Martins Correia, não obstante a diversidade específica dos meios e das linguagens, soube incutir a sua poética pessoal. O tema que mais frequentemente trabalhou foi o rosto, entre outros como a mulher e o cavalo.»
Neste museu podemos ainda ver obras de outros artistas, amigos e alunos, tais como Bual, António Carmo, Maria Luísa Costa Rosa, Artur Franco, João Duarte, José Coelho e Ana Vidigal, entre muitos outros.
- 1. Museu do Aljube Resistência e Liberdade - Rua Augusto Rosa 42, 1100-059 Lisboa; Horário: Terça-feira a Sexta-feira das 10h às 18h. Fins de semana das 10h às 13h.
- 2. Júlio Pomar (Lisboa, 1926-2018) frequentou a Escola António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto que abandonou depois de uma suspensão disciplinar por envolvimento nas lutas estudantis. Foi um dos maiores pintores portugueses e um artista multifacetado com obras nas áreas da pintura, do desenho, da escultura, cerâmica, gravura, assemblage, cenografia, tapeçaria, ilustração, na literatura e poesia. A Marcha, Resistência ou o Almoço do Trolha são alguns dos seus trabalhos mais vincadamente políticos. Homem de causas, cidadão e resistente, o empenhamento cívico e político pautou não apenas a sua obra, mas também a sua vida. Em 2004 foi criada a Fundação Júlio Pomar e hoje em Lisboa, na Rua do Vale, podemos visitar o Atelier-Museu Júlio Pomar, integrado na EGEAC Cultura em Lisboa.
- 3. Rui Mário Gonçalves, 1999
- 4. Horror Vacui descreve na arte o desejo de preencher todas as superfícies vazias, especialmente na pintura e em relevo, com representações ou ornamentos.
- 5. Marcelin Pleynet, 2004.
- 6. Museu da Cidade Aveiro - Rua João Mendonça n.º 9/11 3800 – 200 Aveiro. Horário: terça a domingo das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h.
- 7. Sérgio Valente (n.1942, Porto) Nasceu no Porto em plena ditadura salazarista, no seio de uma família carenciada e politicamente desperta. Cedo iniciou uma participação social e política que se tornou cada vez mais ativa, marcada por três factos relevantes: a campanha eleitoral do general Humberto Delgado; a tentativa, bem-sucedida, de não ser mobilizado para a Guerra Colonial; e as três prisões a que é sujeito pela PIDE, em 1969, 1971 e 1973.
- 8. O álbum «Sérgio Valente: Um Fotógrafo na Revolução» foi publicado em 2015, após o autor já ter realizado a fotobiografia Sérgio Valente, um fotógrafo na oposição em 2010 e depois de ter ido aos arquivos pesquisar material sobre o 25 de Abril e anos seguintes para compor um novo álbum, cujo título dá nome e mote a esta exposição.
- 9. Manuel Loff, prefácio do livro Sérgio Valente, um fotógrafo na oposição, Editora Afrontamento, 2010.
- 10. Centro Cultural de Cabeção – Rua 5 de Outubro 30, 7490-101 Cabeção. Horário: Segunda a sexta das 9h às 17h30; sábado e domingo das 10h às 12h30 e das 19h às 22h.
- 11. Centro Cultural Casapiano – Rua dos Jerónimos nº7 A 1400-210 – Lisboa. Horário: Segunda a sexta-feira das 9h30h às 17h30.
- 12. Martins Correia (Golegã, 1910 – Lisboa, 1999). Frequentou a Casa Pia de Lisboa e diplomou-se na Escola de Belas Artes de Lisboa. Começou a expor no ano de 1938, destacando algumas exposições coletivas onde participou, Exposição do Mundo Português, Lisboa (1940); Exposições de Arte Moderna do S.P.N./S.N.I.; diversos salões da Sociedade Nacional de Belas Artes; I e na II Exposições de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (1957, 1961). Martins Correia está representado no Museu de Arte Contemporânea de Lisboa, no Museu Soares dos Reis, no Museu de Arte Moderna de Madrid, entre outros. Tem obras públicas na Estação do Metropolitano de Lisboa, no Jardim Botânico de Coimbra, Torre Vasco da Gama, Faculdade de Letras, entre outros.
- 13. Museu Municipal Martins Correia – Edifício Equuspolis Rua D. João IV 1, 2150-169 Golegã. Horário: Terça-feira a sábado das 10h às 16h.
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