A Fundação Carmona e Costa1, em Lisboa, apresenta uma exposição individual de Pedro Barateiro «É só uma ferida» com desenhos, escultura e um filme de animação inédito, que decorre até 17 de julho. Pedro Barateiro apresenta trabalhos que «remetem para uma ideia de transformação, como se algo neles estivesse inacabado, ou num infindável processo de metamorfose», segundo o texto de apresentação. A curadoria desta exposição está a cargo de João Mourão e Luís Silva.
Uma das figuras que aparece de forma recorrente nos desenhos é uma personagem aparentemente monstruosa, apenas com cabeça e braços, a quem Barateiro se refere como «data monster» (monstro de informação). Esta figura funciona como um dispositivo «a que o artista recorre para pensar sobre si próprio, e sobre outros, como parte da crescente cultura de empreendedorismo, validada e valorizada social, cultural e afetivamente pelas sociedades contemporâneas.»
Para o artista, o empreendedor é a metáfora perfeita para refletir sobre a forma como a narrativa neoliberal fragmenta identidades e dinâmicas de cariz mais comunitário ou social, responsabilizando o indivíduo e separando-o de redes de apoio coletivas. Foi através do trabalho de pesquisa e reflexão desenvolvido nos desenhos, que Pedro Barateiro desmonta esta metáfora, dando corpo ao filme que é apresentado nesta exposição com o título «Monólogo para um Monstro». Aqui Pedro Barateiro «interessa-se pela construção do indivíduo através de uma subjetividade ampliada no quadro do capitalismo tardio. A cultura de empreendedorismo, que tem definido o sistema capitalista em que vivemos, alimenta a ideia dissimulada de que o indivíduo é o único responsável pelo traçar do seu caminho, lutando contra tudo e todos no processo. Neste sistema, a comunidade é feita por antagonismo e conflito e não por união ou solidariedade. (…) A obra de Barateiro reflete assim a necessidade crescente de desconstruir os mecanismos binários e opressivos do ocidente, começando pelo género e pelo poder e violência exercidos sobre os agentes humanos e não humanos, e que passa por todas as formas de colonização do imaginário e dos recursos naturais.»
O projeto «Rua das Gaivotas 6», tem a direção do Teatro Praga e dá continuidade a um projeto com 23 anos de existência, sempre com o objetivo de fomentar a criação artística na cidade de Lisboa. Este projeto tem-se vindo a afirmar como um espaço de experimentação, partilha e convergência, mantém uma forte ligação entre o público e os artistas e acolhe projetos de criação, residência e apresentações nas mais variadas áreas da arte. «Emotional Landscapes» de Bárbara Bulhão2, é a exposição que ocupa agora o espaço «Rua das Gaivotas 6», até 15 de julho.
«Uma lâmpada ilumina a sala intermitentemente, entre o preenchimento lumínico total e a sua ausência. As variações de luminosidade e de cor que vão ocorrendo possibilitam diversas formas de percepção do espaço e das obras expostas, pinturas de paisagens imaginárias. (…) É nos intervalos entre estas duas posições que se desdobra a reflexão fenomenológica do espectador, tanto a partir da observação e reflexão das obras expostas, como na inflexão destas como plataformas de potência à imaginação, mantendo em aberto as ressonâncias entre ambas.»
Esta é a proposta para uma experiência sensorial e espacial que o texto de Pedro Gonçalves nos deixa como ponto de partida para esta exposição de Bárbara Bulhão.
Das diversas exposições coletivas onde Bárbara Bulhão participou, salientamos o projeto Estoutro, que assinalou o Dia Mundial do Refugiado 2019, no Espaço Cultural das Mercês, «propondo uma reflexão acerca do nosso olhar, individual e coletivo, português e europeu, perante a pessoa refugiada e os seus respetivos contextos» e mais recentemente participou também na exposição «pan pan pan demia # 7 gabinetes desconfinados» em 2021 no UM.SA em Sintra, onde se pretendia questionar as muitas faces que os males de uma pandemia pode conter, entre outras, a ameaça «à robustez do pensamento» e «à resiliência do estado de espirito.»
O projeto Anuário, integrado na plataforma municipal Pláka, é uma exposição e uma análise reflexiva sobre as práticas curatoriais e artísticas desenvolvidas no Porto ao longo de um ano. Este projeto foi concebido em 2008 por João Ribas e Guilherme Blanc, os quais convidam anualmente um grupo de curadores para analisar projetos artísticos apresentados em diversos espaços da cidade.
Os curadores convidados foram Ana Resende (investigadora e designer), Andreia Garcia (curadora e arquiteta), Melissa Rodrigues (performer e arte-educadora), Pedro Augusto (artista e músico) e Pedro Magalhães (artista plástico) e a escolha dos artistas que desenvolveram projectos artísticos no ano de 2020 recaiu em Ani Schulze, Beatriz Blasi, Bruno Duarte, Bruno Silva, Daniela Krtsch, David Lindert, Dori Nigro, Carlos Pinheiro, Clarice Cunha, Coletivo Lab.25, Gunnhildur Hauksdóttir, Jiôn Kiim, João Marçal, Maria Lino, Maurício Igor, Nikolai Nekh, Pamina Sebastião, Pedro Ruiz, Radu Sticlea & Bianca Stanea, Rita Senra, Rosana Antolí, Salomé Lamas, Sara Graça, Sofia Duchovny, Svenja Tiger, Tiago Madaleno e Xu Moru & Leon Billerbeck. As obras destes 35 artistas poderão ser visitadas nas exposições «Projeto Satélite: Anuário 20»3 em sete locais do Porto: A Sede; AL859; Armazém do Fundo; Atelier Logicofobista; Clube de Desenho; Espaço Birra e Ócio. Estas exposições decorrem até 18 de julho.
O Museu da Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, foi inaugurado em 1972, é uma instituição cultural ao serviço da comunidade e tem como objetivo promover o conhecimento da Arte Surrealista portuguesa. Nas instalações do Museu da Fundação Cupertino de Miranda4, em Famalicão, podemos agora visitar a exposição «Selva de Objetos fragmentados» de Philip West até dia 2 de outubro. Nesta exposição podemos ver 82 trabalhos deste artista da coleção da Fundação Eugénio Granell, de Santiago de Compostela. Philip West nasceu York, Inglaterra, em 1949, e cedo passou a viver em Saragoça, Espanha. Os seus trabalhos recriam «objetos do quotidiano no seu mundo imaginário, num universo fantástico e irreal, assumindo a máxima do Surrealismo nas suas obras: Liberdade, Amor e Poesia. No início da sua produção artística, em meados da década de 60, encontramos na pintura um estilo figurativo e surrealista, interessando-se mais pelo lado erótico da Pop Art. (…) A sua obra expõe um misto entre realidade e sonho, vida e morte, céu e terra, homem e anjo, num ciclo iconográfico e de poesia visual, resumindo a vida, o amor e a morte. Grande parte dos trabalhos aqui apresentados remontam aos inícios da década de 90, numa altura em que o artista refere «Para mi, ahora, el surrealismo es vivir la vida como si fuera un poema». A exposição é comissariada por Marlene Oliveira e Perfecto Cuadrado.
A Fundação Cupertino de Miranda em parceria com a Câmara Municipal de Aveiro apresenta a exposição «Armadilha de Sombra» da artista Isabel Meyrelles na Galeria da Antiga Capitania5, em Aveiro, até 4 de julho. Esta exposição inclui 20 obras da obra escultórica desta artista de forte cariz surrealista. Isabel Meyrelles nasceu em Matosinhos em 1929, estudou Escultura no Porto e mais tarde em Lisboa. Em Lisboa privou com Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas e Natália Correia, entre outros e em 1950 partiu para Paris onde continuou os estudos em Literatura e Belas Artes, na Universidade Paris-Sorbonne.
- 1. A Fundação Carmona e Costa (FCC) foi criada em 1997 no intuito de desenvolver e dinamizar projetos na área da Arte Contemporânea Portuguesa. Desde 2003 realiza projetos no âmbito do seu programa Apoio à Arte Contemporânea em Portugal em parceria com outras instituições e / ou especialistas, centrados na área de desenho. Morada: Rua Soeiro Pereira Gomes, Lote 1- 6º A e D, 1600-196 Lisboa. Horário exposições: quarta-feira a sábado, das 15h às 20h.
- 2. Bárbara Bulhão (Évora, 1992). Vive e trabalha em Lisboa. Concluiu a licenciatura em Escultura na Universidade de Évora (2013), o mestrado em Estudos de Escultura, na FBAUL (2015). Frequentou o Independent Study Programme Maumaus – Escola de Artes Visuais, em Lisboa (2016). Expôs em diversos espaços, nacional e internacionalmente, entre os quais: Galeria Valbom (Lisboa); Tomaz Hipólito Studio (Lisboa); Museu das Artes (Sintra); Zaratan (Lisboa); Kolder (Gant); Budapest Galéria (Budapeste).
- 3. Locais do Anuário 20; A Sede (Rua São Roque da Lameira 1435, Porto); AL859 (Rua da Alegria 859, Porto); Armazém do Fundo (Largo de Mompilher 5, Porto); Atelier Logicofobista (Rua Anselmo Braancamp 345, Porto); Clube de Desenho (Rua da Alegria 970, Porto); Espaço Birra (Rua de Ferreira Cardoso 49, Porto) e Ócio (Rua do Duque da Terceira 370, Porto). Horário de abertura: quarta-feira a sexta-feira, das 14h às 19h; sábado e domingo, das 11h às 19h.
- 4. Museu da Fundação Cupertino de Miranda. Praça D. Maria II, 4760-111 Vila Nova de Famalicão. Horário: segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 12h30 e das 14h às 18h; e sábado das 14h às 18h.
- 5. Galeria da Antiga Capitania de Aveiro. Avenida Dr. Lourenço Peixinho n.º 4, 3800–159 Aveiro. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h.
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