Pós-laboral #10

Porque o cheiro do fascismo é pior do que todos os cheiros, é preciso continuar a comemorar, celebrar, relembrar, explicar, ensinar, mostrar, demonstrar o que foi o 25 de Abril e para que serviu.

Créditos / Espalha Factos

Nos palcos: 

Vou hoje à estreia de Migrantes, em Almada, a nova criação da Companhia de Teatro de Almada. Tive o prazer, vamos dizer assim, de já ter lido o texto, escrito pelo romeno Matéi Visniec, e digo-vos que é um daqueles textos que qualquer actor gostaria de ter em mãos. A estrutura é simples, cinco ou seis pequenas histórias que se interrompem umas às outras, e sem qualquer tipo de ligação entre elas. Saltamos de uma para outra e vamos assistindo à sua evolução.

Com personagens-tipo de vários quadrantes, o texto de Visniec aborda o fenómeno das migrações forçadas e das cruas implicações que elas apresentam aos próprios refugiados e migrantes, e a quem os recebe de forma mais ou menos contrariada. Temos um presidente e um fiel spin-doctor a tentarem escrever e treinar o «como dizer» de uma declaração política, um jovem africano que decidiu ir para o Reino Unido à custa de certos sacrifícios, um casal do leste europeu que não percebe bem o que está a acontecer e temos até televendas e etc.

Com ironia q.b. e muito bem medida, o texto de Visniec não podia ser muito mais actual do que é, já que foi terminado em 2016. 

A migração sempre aconteceu desde que o ser humano percebeu que conseguia mover-se para outras áreas do globo em procura de melhores condições ou para fugir de alguns perigos. Que se fuja de dilúvios, terramotos ou vulcões, é normal e aceitável, que os perigos que nos façam fugir sejam criados por Homens-Crianças, nunca foi aceitável, principalmente em 2017, quando as Crianças dentro dos tais Homens, já tiveram mais do que tempo para ter juízo. 

Fica então a sugestão para ver a realidade mostrada num palco de teatro. De 21 a 28 de Abril e de 3 a 14 de Maio no Teatro Municipal Joaquim Benite, a encenação é do Rodrigo Francisco.

Nas ruas: 

Para mim são fotografias, vídeos, testemunhos, sons. Não me imagino vivo antes de 1983, mas imagino-me, muitas vezes, a vsitar situações anteriores a esse ano. 25 de Abril de 1974, quando inventarem uma máquina de viajar no tempo é a primeira data que vou inserir nos comandos.

Não vou fazer nada de extraordinário, para não interferir com o contínuo espaço-temporal, mas vou fazer todos os possíveis para ver chegar os tanques ao Terreiro do Paço e ver, de longe, o Salgueiro Maia a avançar de peito aberto para dialogar com o outro lado. 

Porque o cheiro do fascismo é pior do que todos os cheiros, é preciso continuar a comemorar, celebrar, relembrar, explicar, ensinar, mostrar, demonstrar o que foi o 25 e para que serviu.

Porque voltar atrás não é caminho, encontrem o caminho de Abril na vossa cidade, vila ou aldeia, e se não houver comemorações organizadas, chamem os mais novos, ponham a Grândola a tocar e peçam silêncio, para ouvir bem cada passo da introdução.

Que vivam os cravos. E as azinheiras...

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