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Biden como Trump: delegados estrangeiros com dificuldade em aceder à ONU

A diplomacia russa denunciou a «recusa constante de vistos», por parte dos EUA, para poder aceder à sede da ONU, em Nova Iorque. O Irão, a Venezuela e outros países já passaram pelo mesmo.

Assembleia Geral das Nações Unidas, em Setembro de 2019 
Créditos / Foreign Policy

Enquanto país de acolhimento da sede da Organização das Nações Unidas, os Estados Unidos da América são obrigados a cumprir, ao abrigo do acordo de 1947, uma série de procedimentos que garantam o seu carácter extraterritorial e neutral.

Na sexta-feira passada, a Reuters informou que numa carta enviada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o embaixador da Rússia junto da ONU, Vassily Nebenzia, considerou a situação «alarmante», uma vez que, nos últimos meses, Washington «tem recusado constantemente a emissão de vistos» a diversos diplomatas russos que pretendiam participar em eventos na sede das Nações Unidas.

Mais recentemente, a Rússia pediu 56 vistos para o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e para a delegação que o acompanha, sem que, até ao momento, tenha havido resposta de Washington.

Esta política da administração de Joe Biden, que viola claramente o direito internacional, foi também aplicada pela administração anterior, de Donald Trump, lembra o portal multipolarista.com.

Javad Zarif e Nicolás Maduro impedidos de aceder à ONU, em Nova Iorque

Em Janeiro de 2020, logo após Washington ter assassinado, em Bagdade, o comandante militar iraniano Qassem Soleimani, Donald Trump impediu o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, de abordar a questão no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova Iorque, noticiou a Foreign Policy.

«O governo iraniano estava à espera de notícias sobre o visto na segunda-feira (6 de Janeiro), quando um funcionário da administração de Donald Trump ligou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a informá-lo de que os EUA não permitiriam a entrada de Zarif no país», escreveu a revista.

A Foreign Policy sublinhou então que a política norte-americana viola «os termos do acordo de sede de 1947 que requer que Washington autorize a entrada de representantes estrangeiros no país para tratar de questões das Nações Unidas».

Em Abril do mesmo ano, a administração dos EUA impediu a entrada do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para falar nas Nações Unidas.

Um representante do Departamento de Estado disse à CNN que Maduro seria «detido de imediato» se entrasse em território norte-americano, alegando que os EUA não o reconheciam como chefe de Estado e que a imunidade diplomática não se lhe aplicava.

Disse ainda que, no caso de pisar território norte-americano, «Maduro enfrentaria uma pena mínima de 50 anos de cadeia e máxima de pena perpétua».

Os EUA podiam não reconhecer Maduro e, sim, Juan Guaidó, a marioneta golpista usada por Washington; mas as Nações Unidas – e a grande maioria dos seus estados-membros – nunca deixaram de reconhecer Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela.

Política «oficial e sistemática»

Num artigo publicado em Novembro de 2019, a Foreign Policy abordou esta política ilegal dos EUA de forma clara, sublinhando que é oficial e sistemática.

De acordo com a revista, «se alguém for considerado hostil aos interesses dos Estados Unidos, pode enfrentar restrições de viagem, recusas arbitrárias de vistos, controlos repentinos nos aeroportos e outras formas de acosso, dizem os diplomatas.»

«A decisão de retirar a protecção federal a um alto responsável sírio é apenas uma de um número crescente de afrontas diplomáticas vividas por delegados estrangeiros de um punhado de países com más relações com os Estados Unidos nas suas viagens a Nova Iorque para reuniões nas Nações Unidas», escreve a revista.

Esta forma de actuar reflectiu, segundo a Foreign Policy, a natureza punitiva da política externa norte-americana durante a administração de Trump e reforçou a «percepção entre alguns diplomatas de que os Estados Unidos desprezam as Nações Unidas».

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