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«Sadismo global»: actriz britânica critica inacção ocidental sobre massacre em Gaza

A actriz Juliet Stevenson, conhecida pelas críticas às acções da ocupação na Palestina e à cumplicidade ocidental, referiu-se ao massacre em Gaza como «o desastre humanitário mais extremo do nosso tempo».

Créditos / Anadolu

No entender da actriz britânica, que integra a organização Artists for Palestine, aquilo que se passa na Faixa de Gaza e o modo como o mundo reage são o reflexo de «uma espécie de sadismo global».

Em declarações à agência turca Anadolu, em Londres, Stevenson disse que a dimensão do sofrimento humano infligido aos palestinianos por Israel está «para lá de tudo» o que já testemunhou.

«É catastrófico», disse Stevenson, referindo-se aos ​​ataques incessantes da ocupação, que provocaram mais de 51 mil mortos e 116 340 feridos entre os palestinianos desde Outubro de 2023.

«O grau de sofrimento humano está para além de tudo o que já testemunhei… Nunca vi nada assim», sublinhou.

Referindo-se ao falhanço do mundo em intervir para travar o massacre em curso, a actriz acrescentou: «Há uma espécie de sadismo global a acontecer. As pessoas estão a assistir aos bombardeamentos, incêndios, fogos, bombas, fome, doenças, ataques a hospitais e a todas as infra-estruturas, e à retenção de ajuda.»

«O mundo, em geral... o Reino Unido, os EUA, grande parte da Europa está apenas a assistir a isto e a olhar para o lado», denunciou.

Stevenson mostrou-se particularmente crítica em relação ao posicionamento do governo britânico sobre a exportação de armas para Israel, apontando o dedo ao fornecimento contínuo de peças para caças F-35 utilizados nos ataques a Gaza.

«Nada parece ser capaz de persuadir o nosso primeiro-ministro [Keir Starmer] a parar de o fazer», disse.

Embora o Reino Unido tenha suspendido 30 das suas 350 licenças de exportação para Israel em Setembro de 2024, esta decisão excluiu componentes relacionadas com o programa F-35.

As licenças suspensas incluíam peças para drones, helicópteros e sistemas de aviões militares. No entanto, tal como vários grupos de defesa dos direitos humanos têm salientado, os jactos F-35 de Israel – muitos dos quais parcialmente montados com recurso a componentes do Reino Unido – desempenharam um papel central no bombardeamento de Gaza.

«Como muitas pessoas, sinto-me desesperada com isto… 20 mil crianças mortas, e isto sem contar com as que serão encontradas debaixo dos escombros», disse.

«O que é que tem de acontecer antes que as pessoas vejam isto como o desastre humanitário mais extremo do nosso tempo e se levantem e peçam que isto pare?», perguntou.

«Estou a ver este país mudar»

Stevenson manifestou também preocupação quanto às liberdades e garantias no Reino Unido, particularmente no que toca à liberdade de expressão e à repressão sobre os activistas a favor da Palestina.

Contou que participou numa manifestação pacífica em Londres, a 18 de Janeiro último, no decorrer da qual muitos manifestantes foram detidos e em que personalidades conhecidas – incluindo o sobrevivente do Holocausto Stephen Kapos, o actor Khalid Abdalla e a própria Stevenson – foram interrogadas pela Polícia.

«Naquele dia soube… que este país tinha mudado», disse a actriz nascida em Inglaterra há 68 anos.

O protesto foi inteiramente pacífico, mas, ainda assim, «violentamente policiado», disse, tendo-se referido à «detenção de Chris Nineham [vice-presidente da Stop the War Coalition], que foi atirado para o chão e ficou com os óculos partidos».

A actriz explicou que estava entre aqueles que foram contactados pela Polícia ao abrigo da Lei da Ordem Pública, uma experiência que, disse, a deixou «muito preocupada» com o futuro da liberdade de expressão no Reino Unido.

«Estou a ver este país mudar. Passa-se qualquer coisa realmente assustadora aqui», alertou Stevenson, com vasta carreira no teatro, no cinema e na TV.

Apesar da pressão, continua determinada a exprimir o seu ponto de vista.

«Não quero ir para a prisão, mas não vou parar. Não vou deixar de ir às manifestações. Não vou parar de falar de Gaza ou da Palestina por causa disto [repressão dos activistas que defendem a Palestina]», afirmou.

«Tenho de acreditar que… ainda temos o direito à liberdade de expressão neste país. Tenho de continuar a acreditar nisso», insistiu.

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